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História Haunted -Fillie - 86 From heaven to hell - História escrita por MabelSousa - Spirit Fanfics e Histórias
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História Haunted -Fillie - 86 From heaven to hell


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Boa leitura ♥️

Capítulo 87 - 86 From heaven to hell



Millie. 

Cinco horas.

Apenas cinco horas são o bastante para a vida dar uma virada tão grande ao ponto de fazer tudo se perder.

Adormeci exultante de felicidade em saber que Finn está livre de todas as acusações e acordei sabendo que ele está em um hospital.

Foi dessa forma, que no curso rápido de cinco horas, eu fui do céu ao inferno.

Não me lembro de quase nada que aconteceu depois que desliguei a chamada com Sadie, onde ela sequer soube me explicar o que estava acontecendo. Só sei que não tive como ficar parada esperando novas informações. Eu tinha que ir. Eu tinha que correr de vez para dentro do pesadelo.

Entre as muitas horas de estradas e paradas obrigatórias em pedágios, minha mente me castigou com todos os piores pensamentos possíveis. Finn machucado. Finn morto. E depois de ter tido os melhores sonhos e feito os maiores planos para nosso futuro, eu praticamente morri ao pensar na possibilidade de tudo isso ser arrancado de mim tão brutalmente e tão rápido.

A falta de sinal de telefone também não me ajudou a manter a calma. É muito ruim saber que em determinadas situações cada segundo conta e não poder fazer nada estando em um lugar tão longe, além de tentar correr contra o tempo.

E eu corri.

Meu celular só voltou a apresentar algum sinal quando finalmente passei alguns quilômetros da placa de SunnyVale, mas eu não perdi tempo tentando fazer ligações e vim direto até o hospital municipal, o único da cidade, e onde estava pronta para brigar com quem quer que quisesse me impedir de entrar, caso Sadie não estivesse na recepção e fosse o primeiro rosto com o qual me deparei assim que cruzei as portas.

Não sei quem corre mais depressa. Se sou eu até ela ou ela até mim, mas nos encontramos bem no meio do saguão. Ela não me deixa falar uma só palavra e me arrasta na direção dos bancos na área de espera, longe dos olhos do segurança que me seguiu desde o momento em que entrei.

Assim que me força a sentar, com uma mão em meu ombro, ela diz:

-Você chegou tão rápido. Achei que fosse ligar quando tivesse sinal.

Apesar de tê-la acompanhado, eu não me sinto menos acelerada. Pelo contrário. Mexo minha cabeça para todos os lados na recepção meio vazia, até não encontrar sinal algum de Finn.

-Eu só vim... O que aconteceu, Sadie, pelo amor de Deus?

-Calma, ele está bem. -Ela me assegura, mas me imita quando olha por cima do próprio ombro para trás. Tão agitada quanto eu. -Já vai receber alta, eu acho, mas está lá dentro falando com a polícia.

A pequena onda de alívio que começou a se formar em mim, ao saber que ele está bem e vai receber alta, se desmancha quando escuto suas últimas palavras.

-O que? A polícia? Do que você está falando?

Ela mantém a mão firme sobre meu ombro, como se prevesse que estou muito perto de levantar, e me faz encara-la. Via de regra, Sadie nunca parece prestes a dar uma boa notícia.

-Eu não sei direito o que aconteceu ainda. Eu entrei lá dentro, mas ele não me deu muitos detalhes... Por isso eu liguei para o Noah e pedi que ele desse uma olhada no chamado que abriram na delegacia, quando vi um policial chegando lá dentro. Parece que aconteceu um incêndio, Finn e outras duas pessoas estavam envolvidas.

De tudo, novamente só sou capaz de entender suas últimas palavras. Ou melhor, não entender.

Um incêndio. Impossível.

-O que mais? É só isso que você sabe?

Ela balança a cabeça, de repente parecendo incerta sobre continuar ou não.

-Não sei se é verdade, Millie... Mas o que Noah me falou foi que um rapaz encontrou Finn em um depósito com a namorada dele. Houve uma briga, eu acho, o incêndio começou sem querer e os três se machucaram, mas não foi nada grave.

Engulo em seco. Dividida entre não ter entendido absolutamente nada ou ter entendido tudo errado. De todas as razões que pensei para Finn estar em um hospital, nenhuma delas envolvia nada do que Sadie acabou de me falar.

-Finn... Estava com outra mulher... ? -Murmuro, com a respiração sobressaltada.

-Eu não sei se é verdade. -Ela se apressa em falar. -Como eu te falei, foi isso que o cara falou na delegacia. Mandaram um agente para confirmar com ele e com a garota lá dentro. Só não sei porque estão demorando tanto.

Estou exagerando. Claro que estou. Deve existir uma explicação perfeitamente lógica para tudo isso porque de maneira alguma Finn poderia estar me traindo.

Algo que Sadie falou volta rapidamente em minha cabeça como um estalo.

-Você disse que estavam em um depósito? Onde fica esse depósito? Quem é a garota?

Ela maneia a cabeça, confusa.

-Não sei onde fica, talvez perto da saída da cidade? E a garota... Bem, é aquela do restaurante.

Iris. Constato no ato. E o depósito do qual ela fala, com toda certeza é o galpão. A ideia dos dois juntos lá dentro não é nenhum um pouco agradável, especialmente quando penso no que aconteceu entre eles para acabarem em um incêndio com uma terceira pessoa que não faço idéia de quem é.

Finn queria destruir aquele lugar. Ele prometeu que faria, mas não disse nada sobre como ou quando isso aconteceria. Também não disse o que faria em relação a ela quando perguntei.

Não disse nada além de que daria um jeito.

-Você não acha que ele estava mesmo ficando com essa garota, acha? E que por ciúmes esse outro cara começou o incêndio -Sadie pergunta, sua voz é uma mistura de incômodo e real preocupação comigo.

Nego sutilmente com a cabeça, porque agora, simplesmente sei que não era isso. Só tenho medo de que seja algo ainda pior.

-Vou lá dentro falar com ele.

-Não dá. -Sadie volta a agarrar meu braço quando levanto. -Você não ouviu o que eu disse? Tem um policial lá dentro. Até eu tive que sair e olha que eu trabalho aqui. Melhor a gente esperar aqui fora, ele já sabe que você está...

De repente, ela não precisa mais me segurar, nem falar mais nada. Nós duas olhamos na mesma direção, para as grandes portas atrás do balcão da recepção, recém abertas, e vemos a mesma coisa.

Finn saindo acompanhado de um policial. Por um vago instante que dura uma eternidade, eu revivo a pior lembrança que tenho. Aquela de quando o vi sendo trazido algemado por um policial até mim na cadeia pela primeira vez. E é igualzinho àquele dia.

Exceto que agora, quando os dois se afastam mais da porta, vejo que Finn não está algemado e que a razão pela qual suas mãos estão abaixadas é porque ele está empurrando uma cadeia de rodas na sua frente que só fica visível depois que se distanciam da curva formada pelo balcão.

Iris está sentada nessa cadeira. A cabeça meio inclinada na direção do braço dele, parecendo fraca demais para manter os olhos abertos enquanto ele a empurra devegar. Tem um curativo pequeno acima de sua orelha, um ponto onde o cabelo loiro ao redor está tingido de sangue seco.

Os dois estão detonados e sujos. A roupa dele, chamuscada e manchada de cinza com pontos específicos rasgados onde dá para ver a vermelhidão de prováveis queimaduras em sua pele clara onde não existe tatuagens. As roupas dela, ou melhor, um pedaço da roupa, porque ela está praticamente nua em um vestido ridículo de tão curto, também está queimado, mas não exibe nenhum outro machucado em nenhum outro lugar do corpo.

Finn não levanta a cabeça, escutando algo que o policial diz, por isso nem mesmo me percebe. Nem nota que estou a alguns metros de distância, petrificada sem saber se sinto alívio por vê-lo bem ao ponto de estar de pé ou qualquer outra coisa que racionalmente eu sei que não deveria sentir. Raiva, ciúmes, tristeza.

Sadie continua tocando meu braço, agora suavemente como se quisesse me fazer um carinho enquanto assistimos a pior das cenas.

Tiro os olhos de Finn por um momento quando eles param no meio do caminho e o policial tira o telefone do bolso. Não estamos muito longe, então dá para ouvir baixinho o que ele diz quando verifica a tela.

-O táxi que chamei para vocês já está lá fora. Vamos lá?

Finn assente e é justo quando precisa levantar a cabeça para voltar a andar que parece ter a intuição de olhar para o lado e então ele me vê. Ele larga o puxador da cadeira de rodas no mesmo instante que seu olhar cruza com o meu. Não parece assustado, mas ansioso, um pouco feliz, eu acho, como se não existisse mais nada além de mim.

Nós dois nos movemos na mesma direção no mesmo segundo, no automático, e estou prestes a correr para ele quando o policial volta a tocar em seu ombro e o faz parar. Sadie faz o mesmo comigo, segurando a manga da minha camisa.

-Vamos lá? O táxi está lá fora. -O policial lembra Finn.

-Acho melhor você ficar aqui, Millie. -Sadie cochicha para mim ao meu lado.

Por um momento eu penso em ignora-la, em ir até ele mesmo assim, mas então vejo Finn me lançando um olhar de desculpas e assentir para o policial. Ele volta a empurrar a cadeira de Iris para fora do hospital junto com o policial e isso me faz perder a coragem de sair do lugar. Isso e o que vejo depois através da parede de vidro.

O policial abre a porta traseira de um táxi parado bem no meio-fio e Finn, mesmo com as palmas das mãos enfaixadas e claramente exausto, pega Iris no colo para acomoda-la no banco e logo depois entra com ela.

Estou exagerando de novo. Está tudo bem.

Repito esse mantra infinitas vezes, mesmo que meu coração me mate a cada batida ao ver os dois juntos. Porque se ele não falou comigo e a levou, tem de haver uma razão muito boa para isso. Ele quase veio até mim, só não veio por causa do policial, então deve ser por isso.

-Millie, você está bem? -Sadie murmura, esfregando meu ombro quando vemos o carro partir e o policial lá fora acompanhar com o olhar até vê-lo desaparecer.

Respiro fundo e limpo a umidade que não consegui evitar se acumular nos meus olhos.

-Estou bem. -Eu afirmo. -Finn deve ter ficado com medo de vir até mim.

Olho para Sadie, vendo que ela tenta concordar comigo de um jeito convincente, mas não consegue tirar o incômodo de sua voz.

-Sim, claro. -Ela olha para fora. -O policial não o seguiu, então Finn deve ter sido liberado para voltar para casa. -Sadie olha para mim. -Eu... Bem, eu sei onde ele mora. Você quer ir até lá?

Ir até lá para ver os dois juntos depois de ter sido ignorada? Entendo que talvez tenha sido necessário, mas isso já me parece ser demais.

-Ele vai vir até mim. Eu sei que vai.

Ela assente, me abraçando de lado e eu deito a cabeça em seu ombro, esperando muito não estar errada.

--

Finn.

-É impressão minha... Ou aquela que estava lá fora na recepção era... Millie?

O sussurro fraco de Iris me faz parar de olhar para trás no carro e me voltar para frente. Ela está com a cabeça apoiada no meu ombro, os olhos se mantendo abertos com dificuldade depois de todos os remédios que tomou para a dor de cabeça, mas ainda bem o bastante para ter notado o que acabou de acontecer pelo visto.

-Achei que você estivesse dormindo. -Tento expulsar a raiva constante da minha voz, mas ainda assim não consigo.

Ela pisca pesadamente, se enrolando ainda mais perto de mim devido o balanço do carro.

-E eu... Achei que você... Fosse atrás dela.

Uma suposição lógica, é claro. Que me faz soltar uma risada fria e sem humor, mas eu reprimo tudo o que gostaria de falar porque não tenho direito de estar irritado com Iris agora, pelo contrário. Ela foi excelente no depoimento que prestamos. Mentiu tão descaradamente que foi impossível o agente da polícia não acreditar na balela que contamos, mas ao passo que a mentira de alguma forma soou convincente, tive que assumir a pose do bonzinho injustiçado, que quase morreu vítima de um tremendo mal-entendido, como se a culpa de tudo no final não fosse apenas minha.

Quando vi Millie, isso quase foi por água abaixo. Se eu tivesse simplesmente corrido até ela, teria deixado claro que tudo o que contei no depoimento foi mentira. Por que estou apaixonado por Iris e ela tem um namorado temperamental que acabou provocando um incêndio por nos flagrar juntos.

De todas as mentiras que contei, essa com certeza foi a mais ridícula. A mais difícil de manter.

Eu só espero que a essa altura, Millie não tenha ficado sabendo disso. E pior, que não acredite.

Iris se mexe ao meu lado quando não escuta uma resposta.

-Você... Salvou minha vida, Finn. Ela... Vai entender isso, não vai?

Eu baixo o olhar na direção dela e juro que tento ver qualquer sinceridade em seus olhos. Qualquer preocupação genuína que ela possa sentir em relação a isso. Ainda não conversamos sobre o que realmente aconteceu lá no galpão, ainda não perguntei porque diabos ela entrou lá dentro de novo quando eu já tinha começado o incêndio, mas sinceramente, eu não sei se quero ouvir uma explicação.

-Ela vai entender.

Com isso, ela volta a fechar os olhos permanentemente até o final da viagem e eu tento só aceitar o fato de que tudo terminou de um jeito pior do que poderia.

Com o nosso depoimento, a confissão de Caleb e a sorte de ninguém ter ficado muito machucado, duvido que irão tentar levantar qualquer coisa sobre o que realmente existia no galpão. Iris e eu não quisemos abrir nenhuma queixa e Caleb só precisou pagar uma grana para ficar totalmente livre. Pelo menos para isso a porcaria do dinheiro que dei para Iris serviu, embora eu duvide que ela aceite ficar com o restante. Ou com a casa.

É ao pensar nisso que peço para o motorista do táxi mudar o curso da viagem, passando para ele outro endereço em vez do que ele prontamente estava seguindo.

Iris só acorda quando o carro finalmente para e eu tenho que mexer nela para tirar o cinto de segurança. Ainda que tome muito cuidado, ela pestaneja com a claridade do sol batendo contra seu rosto quando a levo bem devagar para fora do carro, fazendo-a ficar de pé novamente, mas com o braço bem apoiado em sua cintura.

-Finn... -Ela engole em seco, olhando para o lugar que a trouxe. -Porque?

Eu pago a corrida do taxista, ignorando sua pergunta de propósito. Quando volto a segura-la para guia-la até a calçada, ela enrijece as pernas, se recusando a andar.

-Iris, por favor, apenas colabore comigo. -Peço fazendo de tudo para manter a paciência.

Ela sacode a cabeça. O movimento parece deixa-la ainda mais zonza e ela se agarra em mim com mais força.

-Porque não me levou para casa? Eu... Não quero ficar aqui... Quero ir para casa.

Mantenho a firmeza no braço, enquanto sem forças, ela não pode lutar contra mim e dá pequenos passos me acompanhando até a porta.

-Não passo te levar para casa. -Eu digo a verdade, assim que consigo faze-la subir o pequeno degrau até a porta. -Eu contei a verdade para Nicolle.

Seu rosto que já estava pálido, fica ainda mais branco. Os lábios secos se afastando quando ela tenta dizer alguma coisa e não consegue.

Não queria ter que fazer isso. A casa, como falei, é dela e não pretendo voltar atrás no que prometi, mas nesse momento preciso pensar mais em Nicolle e sei que ela não quer ver Iris. Deixar as duas no mesmo lugar, enquanto tudo ainda parece recente e sensível, só pioraria a situação para todos os lados.

-Ela me.. odeia... Não é? -Pergunta, já com as lágrimas escorrendo pelo rosto, que embora tenha sido limpo pela equipe do hospital, ainda tem pontos escuros com respingos do sangue de sua cabeça.

-Ela está magoada. Com nós dois. -Deixo claro, usando a mão livre para tocar a campainha. -Ela vai precisar de um tempo.

-Eu... Quero conversar com ela... Explicar. Por favor, você tem... Que me deixar fazer isso. -Iris agarra minha mão, me impedindo de continuar a apertar a campainha.

-Agora não é o momento, Iris.

-Quando vai ser? Quando... Você levá-la daqui... Para longe de mim?

Antes que eu responda qualquer coisa, que provavelmente seria mais alguma mentira, a porta se abre e Caleb aparece. Iris se desespera, tentando se afastar quando tento empurra-la para dentro.

-Iris, vamos entrar. Eu vou cuidar de você. -Ele pede a ela, ignorando-me por completo.

Ela balança a cabeça novamente, praticamente se fundindo em mim para escapar dele.

-O que foi agora? -Caleb finalmente se volta para mim, exigindo uma explicação.

Parece que o altruísmo que o fez assumir algo que não fez, junto com sua paciência se esgotaram depois de todo estresse com a polícia. Não posso julga-lo, sei bem como é essa merda.

-Vamos, Iris. Entre. -Eu tento afasta-la de mim. -Podemos conversar quando você estiver melhor e descansar.

-Não. -Ela ofega, enfiando os dedos ainda mais em minha camisa. Cansada ou não, não parece disposta a ceder. -Não vou... Entrar. Vou... Com você.

Caleb me encara como se pudesse me matar, mas seu olhar muda quando vai na direção dela.

-Ele não quer ficar com você, Iris. Não está vendo? Já não basta tudo o que aconteceu? Você não precisa se sujeitar a isso.

Iris me encara, soltando suavemente o agarre em minha camisa, certamente esperando que eu diga que isso não é verdade. Que eu diga que ele está errado.

Solto uma bufada de irritação.

-Você está me colocando em uma situação complicada. -Rosno para Caleb, que parece não dar a mínima.

Ele ri, conseguindo distração o suficiente para pegar Iris e praticamente a colocar embaixo do braço. Ela não luta mais.

-Acho melhor a gente não entrar no mérito de quem colocou quem em uma situação complicada aqui.

-Foi idéia sua assumir a culpa! -Quase perco a cabeça, dando um passo a frente.

Caleb põe o braço entre mim e a porta. Iris me encara assustada, agora trás dele.

-Eu sei, mas depois você me agradece, não precisa ser agora. Se me der licença, eu estou muito ocupado.

Com isso, não me resta nada a dizer. Ele está certo, por mais babaca que seja passar isso na minha cara, devo uma a ele por ter salvado minha pele. Mesmo que eu não tenha pedido por nada disso.

Me afasto da porta, tendo que me dar por vencido.

-Depois conversamos Iris. -Eu aviso, pouco antes de Caleb fechar a porta na minha cara.

Que se foda. Eu tenho mesmo que parar de tentar agradar todo mundo quando é óbvio que quanto mais faço isso, mais estou ferrando com tudo, principalmente comigo mesmo.

Volto para a rua e começo a correr, furioso e com muita pressa. Entro no primeiro táxi que encontro e pela última vez, finjo que não estou deixando nada para trás.

--

Millie.

Sadie está esquisita. E não acho que seja apenas por causa de tudo o que aconteceu hoje. Digo isso porque já fazem pelo menos meia hora que estamos em uma cafeteria perto do hospital e ela não consegue ficar quieta na cadeira, como se algo a cutucasse a cada segundo.

Era eu que deveria estar nervosa. Sei que Finn vai voltar para me procurar e estou realmente preocupada com tudo o que vi e com o que não vi, mas estou conseguindo manter a calma. Acho que depois de tê-lo visto carregando Iris no colo até o carro e me ignorando, mesmo que não fosse de propósito, me deixou preparada. Tudo o que vem acontecendo desde que nos reencontramos me deixou preparada para qualquer coisa.

Só não sei porque motivo Sadie está tão ansiosa dessa maneira. Para ser honesta, apesar de ainda não ter tocado no assunto, ainda não entendo por que ela está aqui. Porque veio antes de mim e não está sendo tão crítica com Finn como sempre foi.

Ela é minha amiga, é natural que fique ao meu lado nessa situação esquisita, mas sinto que não sou a única razão para ela estar aqui. Parece até que ela realmente se importa com Finn. Ou então não teria vindo, não teria ficado até me ver chegar e não estaria esperando comigo.

Quando ela sai para ir ao banheiro do estabelecimento e volta alguns minutos depois trazendo mais dois copos de frappuccinos, eu ignoro o clima esquisito e finalmente pergunto:

-O que está havendo com você?

Ela está com o copo na boca quando franze o cenho.

-Comigo? Nada. -Diz, afastando o copo e lambendo o chantilly que ficou grudado nos lábios. -Porque está perguntando isso?

No mesmo instante, o celular que ela deixou sobre a mesa, vibra e ela quase derruba a bebida para conseguir pegá-lo a tempo de responder a mensagem, como se fosse questão de vida ou morte.

Mas ela está bem demais para ser algo grave. Bem demais para sorrir enquanto digita.

-Você mente muito mal. -Eu debocho, balançando a cabeça para sua cara de pau. -Está saindo com alguém?

Mesmo que seja óbvio, não deixa de ser uma surpresa. Sadie é uma pessoa de lances. Nunca namora sério e poucas vezes a vi levando esses lances para a manhã seguinte, muito menos a vi apaixonada, com sorrisos bobos no rosto e corada.

-Não é nada demais. -Ela volta a deixar o celular sobre a mesa, dessa vez com a tela virada para baixo. -Será que Finn vai demorar muito?

Eu não sei. Já faz algum tempo que ele saiu, mas não posso começar a pensar nisso agora. Não quero exagerar nem lembrar que ele não deu garantia nenhuma de que voltaria e que estamos esperando aqui apenas por que eu acredito que é o que ele fará.

-Ele já deve estar vindo. Você não vai mesmo me contar quem é o cara? -Insisto.

Ela me olha por cima da borda do copo por um longo tempo, depois revira os olhos, batendo a base do copo sobre a mesa.

-Está bem. Ontem a noite eu saí com o Noah.

Solto um chiado de desdém, provando o frappuccino.

-Estou falando sério, Sadie.

-É sério. -Ela reitera, com precisão.

-Você sai com Noah todos os dias.

-Eu sei. Mas ontem foi diferente.

Sadie inclina o pescoço para o lado, abrindo bem os olhos como se faz quando quer que a outra pessoa perceba algo que já está mais do que explícito.

Um pedacinho da raspa do chocolate fica preso em minha garganta e eu começo a tossir.

-Ai, meu Deus!

-Sim. Ai meu Deus mesmo... -Ela vira quase todo o conteúdo do copo em um gole só como se fosse álcool.

-Você... Ele... Como foi que isso aconteceu? Por que não me contou?!

Não sei porque realmente estou tão surpresa assim. Sempre tive a impressão de que rolava mais do que uma simples amizade rolando entre os dois, mas, caramba, também nunca achei que isso fosse acontecer algum dia.

Ela olha para os lados com minha demonstração de animação nada sutil, tenta ficar séria, mas é impossível tirar o sorriso do rosto.

-Foi tudo muito rápido... Eu ia te contar, mas a gente saiu ontem e hoje tudo isso aconteceu, então achei melhor deixar pra depois. -Explica e eu concordo com a cabeça.

Não seria a primeira vez que isso acontece, o que só me faz pensar no quanto às vezes nossa amizade acaba sendo um pouco injusta para o lado dela.

-Bom, mas agora você pode dizer o que aconteceu. E eu quero detalhes!

Em poucas palavras, Sadie me explica a loucura que foram as últimas semanas, conta que ela decidiu se afastar quando começou a perceber os "sentimentos estranhos", mas confessa que ficar longe dele acabou sendo a pior decisão. Noite passada ela chegou em casa e encontrou flores, junto com um bilhete a convidando para jantar em seu restaurante preferido.

Não precisa nem dizer o quanto isso a deixou feliz, porque sinto a felicidade irradiando em cada palavra, junto com um pouquinho de frio na barriga por pensar no quanto eu mesma sei exatamente como é isso. O medo de dar um passo tão grande e estragar a amizade, medo de não ser correspondida e acabar perdendo tudo, mas nem preciso perguntar se Noah disse que estava apaixonado. Ele pode nunca ter falado abertamente, e ter se esforçando muito para não deixar a coisa muito óbvia, mas é só pensar em tudo o que ele já fez por ela desde que os conheço. A mudança de cidade só porque era aqui que ela queria morar, o apoio que deu a ela quando a Sra. Sink morreu mesmo tendo razões para estar magoado. Absolutamente tudo.

-Deus... E eu achei que você não fosse do tipo que gosta de romance. -Brinco, assim que ela termina de dizer como foi o jantar entre os dois.

-É com isso que você está surpresa? E tudo o que acabei de dizer? Qual é.. Isso estava tão na cara assim?

Nós duas rimos, mas eu rio mais porque é realmente muito bom saber como é estar de outro lado de uma situação como essa.

-Um pouquinho. -Ironizo. -É que dele eu poderia imaginar algo assim, já de você...

-Eu sei. -Ela suspira, de repente não parecendo mais tão feliz. -Fiquei com medo disso também. Não fui muito fácil, sei que já até exagerei, já fui desagradável e insensível com ele diversas vezes... Acho que era só uma forma de esconder que gostava dele. Você é a psiquiatra aqui, me diga você se isso faz sentido.

-Tratar mal alguém que você ama só para se convencer do contrário? Vai por mim, faz todo sentido. Não é legal, mas faz sentido.

Ela ri, tendo que concordar comigo.

-Eu pedi desculpas. Quer dizer, eu tentei. Noah falou que eu não precisava me desculpar por nada e eu o odiei por ser tão doce comigo... -Sadie chega com a cadeira mais para frente. Suas bochechas ficam tão coradas, que de repente, parecem fluorescentes. -A gente transou.

-O-o que?

-A gente... Transou. -Ela repete, baixinho. -Foi isso.

-Como assim foi isso? Você não vai me dizer como foi? -Eu berro, e ela arregala os olhos me lembrando que ainda estamos em um lugar movimentado.

Sadie junta os lábios reprimindo um sorriso que escapa assim que ela volta a abrir a boca.

-Foi maravilhoso. A melhor da minha vida! Me lembre de ir pessoalmente agradecer ao chefe do batalhão da polícia por ter feito Noah treinar desde que entrou, porque, nossa, que corpo!

Não conseguimos nos controlar e acabamos rindo alto demais, mas dessa vez, nem mesmo Sadie se importa de estarmos chamando atenção.

-É sério, se você estivesse solteira eu com certeza indicaria que fosse atrás de um policial.

Eu assinto, mesmo não conseguindo imaginar uma coisa dessas.

-Acho que estou mais inclinada a gostar de quem fica do outro lado das grades.

Sadie vira a cabeça para trás, gargalhando verdadeiramente alto agora. Não sei quando a minha situação com Finn se tornou engraçada, mas é bom finalmente poder rir de algo que até agora só machucou.

-Isso é maldoso. Ainda bem que foi você quem disse. -Ela ri, limpando a umidade dos olhos. -Eu até esqueci que fugi da cama do Noah assim que o dia amanheceu.

Eu paro de rir, chocada com o que ela disse.

-Você não fez isso...

-Pois é. Eu fiz. -Ela confessa, dando um longo suspiro. -O sexo foi ótimo, como eu disse, mas ontem nós dois estávamos meio altos por causa do vinho, a coisa rolou muito bem. Hoje de manhã quando acordei nua na cama dele foi que tudo ficou estranho demais. Pra ser sincera, ter visto o nome do Finn no sistema do hospital foi a desculpa perfeita pra sair correndo, por isso estou um lixo. Só passei em casa, troquei de roupa e vim.

Agora sim as coisas fazem mais sentido.

-E Noah não falou nada sobre você ter simplesmente sumido?

Ela inclina a cabeça, ponderando.

-Não deu tempo. Acho que ele também ficou meio esquisito quando acordamos, soube disfarçar muito melhor que eu, é claro, mas ficou estranho. Acho que essa é a pior parte, não é? Você e Finn não estranharam depois que dormiram juntos?

Eu nego, sem nenhuma dúvida.

-Finn e eu esperamos por dez anos. Não sobrou espaço pra estranheza quando finalmente aconteceu. Eu só me arrependo de não ter deixado acontecer antes, quando ele ainda morava aqui. Nem sei porque eu evitei, sempre soube que era com ele que eu queria transar pela primeira vez.

Ela dá um sorriso e limpa qualquer coisa que estava no meu cabelo.

-As vezes esqueço que vocês esperaram tanto tempo. É muito estranho saber que pode existir um tipo de sentimento desse tamanho. Quer dizer, sei que gosto do Noah, que o amo, eu acho, mas não sei se depois de dez anos sem vê-lo seria a mesma coisa.

Eu sorrio também, mas é um pouco mais triste do que feliz. Sempre fico assim quando penso na quantidade de tempo que perdemos.

-Eu espero que vocês não precisem de dez anos para se entenderem. Pode parecer assustador, mas não acho que exista sorte maior do que se apaixonar pelo seu melhor amigo. Vocês já conhecem o pior e o melhor do outro.

Sadie abaixa a cabeça, concordando suavemente.

-Finn disse quase a mesma coisa para mim. -Ela ergue o rosto para mim. -Ele te ama mesmo. Agora eu tenho mais do que certeza disso.

Antes que eu pergunte como diabos Finn chegou a falar isso para ela, Sadie levanta, dando com a mão de forma agitada para um ponto atrás de mim.

Eu levanto no mesmo segundo e olho para trás. Tinha absoluta certeza de que ele voltaria e mesmo assim não consigo medir o tamanho do alívio que sinto quando o vejo descendo de um táxi na porta do hospital e depois correndo em nossa direção, alertado pelos gritos de Sadie.

Ele deve ter realmente ido para casa, pois claramente tomou banho e trocou a roupa detonada de antes, mas sequer tenho tempo para reparar muito bem, pois em muito pouco tempo, Finn cruza a avenida e está bem na minha frente, pegando meu rosto nas mãos e me beijando.


 É o que basta para estar no céu de novo. 


Notas Finais


Vou fazer vocês esperarem mais um pouco por Fillie 🥺 mas não vão se arrepender, garanto!



Até breve ♥️


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