O barulho de alguém descendo as escadas correndo faz meu coração disparar e eu tentar me recompor. Não quero que pensem que eu sou doida.
— Tinha alguém aqui com você? — Leah me pergunta urgente. Ela veste apenas uma camiseta larga e seus cabelos curtos estão desgranhados.
— O quê? — seco as lágrimas rapidamente, confusa.
— Você viu alguém? — ela procura pela sala e olha as janelas — que cheiro horrível!
— Eu... — fungo — não estou sentindo nada.
Ela finalmente para e me olha bem, levantando as sobrancelhas.
— Claro que não, seu nariz deve estar entupido de tanto chorar — ela põe as mãos na cintura — o que foi?
— Lembrando de um amigo que faleceu — sou honesta. Alucinações é uma forma de lembrança, certo?
Isso parece desmontar sua face durona.
— Sue me ensinou a fazer um chá que pode ajuda-la a dormir — ela começa a pegar algumas plantas e esquentar água — quando terminei com Sam precisei muito dele por muito tempo.
— Sam da Emilly? — não gosto do jeito que falei, mas quando percebi já tinha escapado. Me bato mentalmente por isso.
— Antes dele ser Sam da Emilly, ele era Sam da Leah — ela ri amarga — e então ela veio... Você sabe, foi amor a primeira vista. E então o meu amor já não era suficiente.
— As vezes amor não é o suficiente. — comento, sentindo as lágrimas brotando novamente. Me frusto, batendo o punho na mesa — eu odeio isso!
— Bem-vinda ao clube — ela diz, pegando uma xícara e despejando o líquido verde e quente. Ela me entrega e quando nossos dedos se tocam percebo que ela está quente. Quero perguntar se está bem, mas Leah não parece doente.
— E você e Jacob? — ela pergunta, parecendo contrariada.
— Você gosta dele? — pergunto, confusa com sua expressão.
— Aquele pirralho? Não me ofenda — ela bufa.
— Vamos lá, Leah — sorrio maliciosa — você é a única mulher naquele mar de homens seminus — me inclino um pouco — tem certeza que nunca rolou uma coisinha com um outro... Ou todos? Eu mesma não resistiria. Sem julgamentos aqui, irmã!
— Credo, garota! — ela me olha horrizada, mas depois ri — quando eles ouvirem isso... Há! Ficarão metidos por uma semana.
— Eles não vou ouvir sobre isso porque você não vai contar nada — bebo um gole do chá — é sigilo de conversa entre garotas. Tem leis sobre isso, Leah.
Ela revira os olhos, apoiando sua cabeça na mão preguiçosamente.
— Infelizmente não há lei que me proíba de compartilhar coisas com aqueles idiotas — ela diz, sua face com uma mistura de raiva e tristeza — é como se estivéssemos na cabeça um dos outros, sempre acabamos descobrindo as coisas. Mesmo quando não queremos.
— Que droga — comento — eu não estou entendendo nada, mas garota, você é a única mulher entre eles. Isso já mostra o quanto você é foda.
— Eu sou só uma fagulha no meio deles, por mais que eu odeie admitir — ela suspira.
— Só é preciso uma fagulha para começar um incêndio — comento com sabedoria de biscoito da sorte e bebo o último gole de chá e me levanto, já sentindo meu corpo todo pesar — esse chá é bom mesmo.
Ela assente e vai até a sala, pegando o telefone fixo e discando.
— Boa noite, Leah — desejo, subindo as escadas. Ela apenas acena.
Enquanto subo as escadas, consigo ouvir sua voz baixa.
— Algum sanguessuga veio aqui e Sarah estava acordada. Não sei se ela viu algo, mas estava perigosamente perto — ela faz uma pausa — vou ficar. Ok.
Sigo em frente, tentando não prestar mais atenção. Mas a parte do "sanguessuga" me intriga novamente. Entro no quarto de Seth o mais silenciosamente possível e me deito, caindo no sono quase automaticamente.
Quando meu celular desperta as cinco, eu já estou pronta para caminhar. Acordei mais cedo e tive uma ótima noite de sono. Vou até a cozinha e Sue está fazendo o café da manhã. Percebo Leah dormindo no sofá da sala e Seth dormindo sentado na cozinha. Me surpreendo ao ver Jacob sentado na poltrona ao lado do sofá, ele parece cansado, mas alerta.
— Bom dia — aceno para ele, que sorri e se levanta, a expressão cansada sumindo — Bom dia, Sue. Como posso ajuda-la?
— Não precisa ajudar em nada, querida — ela sorri gentilmente — só vou fritar os ovos e estará tudo pronto.
— Ok — me sento ao lado de Seth e coloco a mão em seu ombro. Automaticamente ele acorda assustado — é melhor você voltar para cama.
— Não, eu...
— Pode ir, garoto — Jacob o interrompe, se sentando do meu outro lado — eu estou aqui.
Com isso, Seth assente e se arrasta escada acima.
— Ele estava dormindo feito um anjo ontem — comento — por que está tão cansado? E Leah?
— Quando acordei Leah já estava aqui e disse que ela e Seth ficaram sem sono algumas horas antes — explica Sue — mas me diz, querida, e sua mãe? Ela trabalha com o quê?
— Alguma coisa com imóveis — respondo, já comendo o meu café da manhã — nunca prestei muita atenção nisso.
— Traga ela aqui um dia — Sue sorri — vou adorar conhece-la.
— Ah, não — faço uma careta — ela vai passar metade do tempo falando sobre como eu sou um prodígio.
— Sem problemas, eu passo metade do meu elogiando Seth — ela ri.
— Obrigada, mãe — Leah resmunga no sofá, mau humorada.
Termino o café com pressa e me despeço para correr. Sou surpreendida por Jacob sair da casa comigo.
— Quer correr? — pergunta enquanto me alongo.
— Claro — ele se alonga também, mas parece desajeitado — eu adoro correr.
— Então vamos lá — sorrio — me guie.
Ele paralisa por alguns segundos, enquanto eu o encaro. Finalmente ele começa a correr e no começo quase não acompanho seu ritmo. Ele é rápido demais e nem se da conta. Quando finalmente percebe que estou ficando para trás, diminui o ritmo e sorri envergonhado.
— Desculpe por isso, eu as vezes perco a noção de velocidade — sinto um pouco de orgulho em sua voz.
— Sem problemas, acontece o tempo todo comigo também — brinco.
Ele ri e continuamos correndo. Ele estrategicamente passa pela casa de todos os garotos, me mostrando.
— Aquela é a casa do Quil. — ele aponta para uma casa simples como todas as outras daqui. Mas o que me surpreende é ver Quil chegando em casa agora.
— Quil! — grito, acenando para ele — bom dia!
Ele me olha assustado, mas logo depois volta a sua expressão cansada, acenando de volta. Continuo a correr.
— Ele trabalha a noite? — pergunto, curiosa.
— Não — responde Jacob — as vezes trabalha na loja da mãe, mas só a tarde.
— Ele é um festeiro, então?
— O quê? — o moreno ri — é um nerd, isso sim. Mas bem que queria ser festeiro.
— Então por que ele estava tão cansado? — estranho.
— Não sei — ele responde, me ultrapassando. Que tipo de melhor amigo ele é?
— Sério? Seu amigo chega em casa a essa hora e você não se preocupa?
— Ele podia estar com uma garota, ok? Quem sabe? — ele diz, meio nervoso — por que está tão curiosa, afinal de contas?
— Eu não sei — viro-me para frente, me sentindo envergonhada — só sou assim. Muito curiosa.
— Sabe o que aconteceu com o gato por ser assim, não é? — ele diz, sombrio. Como uma ameaça velada. Mas ele não parece realmente querer me assustar, eu não sei explicar, mas sinto que Jacob só quer o meu bem.
As palavras dele pairam no ar e eu corro mais rápido, o som do mar me fazendo sorrir por um momento.
La Push é a melhor coisa que me aconteceu até agora, apesar de tudo.
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