A música clássica que coloquei para dormir ainda tocava quando despertei. Respiro fundo, afastando os pensamentos ruins. Beber água ajudaria a me acordar, apesar d'eu me sentir extremamente cansada. O que me irrita bastante... Eu já não havia dormido o suficiente? Ando me arrastando pelo pequeno corredor até o topo das escadas. Vozes exaltadas me fazem parar.
— E se ela nunca se lembrar do que aconteceu? — Embry pergunta. Estão falando de mim?
— E importa? Realmente? — Jacob parece exasperado — vamos pegar esse desgraçado e destrui-lo.
— Tem algo errado nisso — Leah se pronuncia e eu engulo em seco — não se encaixa. Por que Sarah? Por que agora? Ele já conhecia ela? Não pareceu querer machuca-la.
— Ele capotou a droga do carro em que ela estava — Paul diz, sua voz raivosa. Não me surpreende, ele está sempre com raiva.
— Mas não a matou — Leah aumenta a voz — ele teve a chance, mas não a matou. Nem permitiu que ela se machucasse.
— Ela deve pelo menos ter batido a cabeça no processo — Jacob se pronuncia novamente — foi o que o Dr. Presas disse, afinal. E ela mesma.
Por que diabos ele chamou o Dr. Cullen assim?
— Ou o sanguessuga apagou a memória dela — sugere Seth.
Sanguessuga. Novamente essa palavra. Não haviam animais lá além dos lobos.
— Ou ela está escondendo algo de nós — Sam diz, fazendo um silêncio incômodo pairar sobre a sala. Prendo a respiração e ando suavemente até o quarto de Seth, onde a música ainda toca suavemente, abafando meus sons.
Deito novamente e viro-me para a parede, incapaz de fechar os olhos. Pesadelos me assombrariam, eu tenho certeza.
O jeito que eles falaram... Como se conhecessem Riley. Mas não exatamente ele. Como se... Se ele fosse parte de uma gangue, ou algo do tipo. Sanguessuga. Essa palavra parecia ser dita em várias ocasiões, mas claramente não se trata do animal.
Eu quero poder conversar com eles sobre Riley, conversar sobre a morte dele e todo esse tempo em que ele tem me... Assombrado. Mas não consigo. Como poderia? Achariam que eu sou louca. Como meu melhor amigo morto poderia falar comigo?
— Sarah? — pulo sobressaltada, não esperando a companhia de Jacob — desculpe, não queria assusta-la... Ei, por que está chorando?
Ele se aproxima, sentando-se no final da cama.
— O quê? — passo a mão pelo meu rosto, secando as lágrimas espalhadas. Eu não havia sequer reparado.
Me sento, encolhendo as pernas e apoiando o queixo entre meus joelhos.
— O que foi?
— Só estou assustada com tudo que está acontecendo — confesso — aquele homem quase morreu. Na minha frente — balanço a cabeça, fechando os olhos por um momento — tudo está acontecendo rápido demais e eu... Eu acho que esteja enlouquecendo com tudo isso.
— Eu estou aqui com você — ele se aproxima ainda mais, tocando meu rosto. Sua mão é quente, mas não me incomoda. Me conforta — sempre vou estar. E preciso que confie em mim.
— Então me diga, eu preciso saber — falo, determinada — o que são sanguessugas? E eu não estou falando do animal.
Ele parece surpreso com a minha pergunta. Analisa meu rosto, parecendo querer gravar cada parte dele.
— Você lembra quando falei que as lendas explicam tudo? — ele sussurra. Assinto — havia uma fogueira marcada, mas decidimos antecipa-la. No meio da semana, é a data que conseguimos. Sinto muito por não ser antes.
— Então tudo vai se explicar? — sussurro.
— Sim — ele beija minha testa gentilmente — agora descanse. Mais tarde nos vemos.
Assinto apenas, deitando-me novamente. Mas não fecho os olhos, tenho medo. Felizmente logo Sue chega com uma xícara de chá. Não sei que tipo de erva ela usou, mas me fez dormir tranquilamente.
Acordo com Seth cantarolando baixinho. Suspiro, agarrando preguiçosamente o cobertor.
— Que horas são? — pergunto, minha voz um pouco rouca.
— Ah, oi — ele se vira para mim, sorrindo como só Seth sabe — está quase na hora do jantar. Os Black estão lá em baixo, já. Embry e Quil estão vindo.
— Nossa — sorrio um pouco — estamos comemorando algo?
— Não — ele ri — mas se fosse, seria por você estar bem.
— Não foi nada, Seth — me sento, jogando as cobertas de lado. Meu instinto de não preocupa-lo é maior que minha vontade de chorar ao lembrar de tudo.
— Foi sim e foi assustador — ele se senta ao meu lado — quando vi aqueles paramédicos levando você...
E então ele para bruscamente.
— Espera ai, como assim viu os paramédicos me levando? Você estava lá? — me viro para ele.
— O quê? — ele se faz de confuso. Mas seu olhar denuncia que havia falado demais e se arrependeu.
— O quê? — repito com ironia — me explique, Seth.
— Estou feliz que esteja bem — ele me pega desprevenida, me abraçando forte. Apesar de ser mais jovem, Seth é uns poucos centímetros mais alto que eu e muito mais musculoso, apesar de magro. Ele é quente, assim como Jacob e Leah. Me pergunto se todos de La Push são assim... Não. Abracei Emily no primeiro dia e ela estava normal.
— Tentando roubar a garota do Jacob, Seth? — Embry ri, nos separando. Ele não entra no quarto, apenas nos espera no corredor — Sue pediu para chama-los.
— Boa! — e então Seth corre escada abaixo. E com ele, minhas explicações.
— Vamos? — Embry pergunta.
— Pareço uma morta viva? — pego meu celular, me olhando no reflexo. Ajeito o cabelo rapidamente.
— Nah — ele sorri — bom, nem tanto.
Agradeço debochada e descemos. A humilde cada dos Clearwater está cheia. Leah, Sue e Billy na cozinha. Quil e Seth no sofá, assistindo algo. Embry logo se junta a eles. Jacob espera por mim na varanda. Sorrio e vou até ele.
— Tudo bem? — pergunto. A brisa noturna é bem-vinda e eu fecho os olhos por momento, aproveitando.
— Eu que deveria perguntar isso — ele sorri. Suspiro, olhando para as árvores que nos cercavam. Vagalumes iluminam alguns pontos e o cheiro de terra molhada me fez um bem que eu nem mesmo esperava.
— Estou bem — digo e não estou mentindo — mais calma.
— Fico feliz — ele se aproxima. Percebo que o barulho dentro da casa diminue. Olho para o lado e percebo Embry e Quil espiando.
— Quanto será que eles apostaram? — sussurro para Jacob.
— O quê? — ele desvia os olhos da minha boca, confuso.
— Nosso beijo, oras — rio, apontando com o polegar para dentro da casa — eles parecem estar vibrando em expectativa. Não me surpreenderia se Billy estivesse olhando pela janela.
Dou alguns passos para frente, meu corpo quase tocando o de Jacob. Se eu respirasse um pouco mais fundo... Me inclino para o lado, tocando um pouco o corpo do moreno, que estremece. Sei que não é de frio. Vejo Billy observando por uma pequena fresta da cortina. Aceno para ele, que da um sorriso sem graça.
— Viu? — sorrio, voltando ao meu lugar inicial, três passos de distância — são uns curiosos.
— Eu também estou — ele sorri e da de ombros — não posso culpa-los.
— Jacob... — desfaço meu sorriso, olhando para o chão — nós nem nos conhecemos direito. Eu não sei nada além do seu nome.
— Mas mesmo assim aceitou vir comigo. Conhecer minha família — ele se aproxima um passo — sabe que temos uma conexão.
— Eu gosto de você — olho em seus olhos escuros — realmente. Mas preciso saber mais para...
— Me amar? — ele completa, dando mais um passo. Meu coração dispara e as palavras de Riley me vem em mente. Eles são perigosos. Fique longe deles.
— É melhor entrarmos — me viro bruscamente para a porta, entrando e indo direto para cozinha. Eles nem tem chance de disfarçar — o jantar está pronto?
— Sim, querida — Sue se recupera do choque, me dando um prato — sirva-se. Precisa ficar forte.
E então eu afoguei as dúvidas na comida maravilhosa de Sue, sentando sozinha na varanda e observando as estrelas.
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