História Heart of the Queen - .prince.

Narrado por Barry Allen

A música. A música é um refúgio onde sempre consegui me abrigar. Após brigas ou dias difíceis, bastava me afundar em uma das sonatas de Beethoven ou tocar meu piano sozinho que era como se os problemas fossem levados pelos acordes. Eu não era guerrreiro, não era herdeiro. Não era nada além de um amante da música erudita. Minha mãe me ensinou o piano, e isso me mantinha mais perto dela.

Naquele instante estava fazendo justamente isso. Deslizava meus dedos pelas teclas. Spring Waltz, Chopin. Uma de minhas favoritas, todos diziam que havia sido tocada enquanto minha mãe era levada ao altar. Meus olhos estavam fechados e tudo que eu sentia era a mesma energia percorrer meu corpo enquanto a música saia naturalmente.

Eu podia sentir uma brisa entrar pela janela aberta, o cheiro das flores do jardim. Era um dia perfeito e teria sido assim por um bom tempo, se não fosse pelo estrondo da porta da sala de música se abrindo. Abri os olhos subitamente parando a música. Olhei na direção do meu irmão que adentrava a sala num misto de raiva e nervosismo.

– Barry! – ele gritou como se eu ainda não houvesse notado sua presença.

– Henrick – eu transparecendo o incomodo com sua presença.

– Eu o convoquei a mais de duas horas! – disse Henrick.

– E eu não estava nem um pouco afim de aparecer – eu disse me levantando e me voltando para ele – O rei é você, por que insiste em querer me passar suas responsabilidades?

– Não estou passando minhas responsabilidades – disse ele ríspido – Você nem ao menos se esforça para cumprir suas responsabilidades como príncipe.

Eu ri cruzando os braços.

– Que responsabilidades, Henrick? – perguntei realmente curioso.

– Me ajudar a cuidar do nosso país, acha que essa coroa aí é só um enfeite? – ele apontou para minha cabeça. Revirei os olhos – E agora temos que fazer algo a respeito do que está acontecendo em Winterhill.

Franzi a testa.

– O que está acontecendo em Winterhill? – perguntei.

Ele massageou as têmporas. Para Henrick, desde que nossos pais morreram quando eu tinha onze anos e ele quinze, ele teve de assumir papel de “pai” em minha vida. Jamais pedi ou gostei de vê-lo dessa forma. Acho que nossa relação seria melhor se ele fosse apenas meu irmão.

– Você ao menos assiste os noticiários, Barry? – perguntou ele.

– Na verdade não – eu disse com desdém.

Ele respirou fundo.

– Venha comigo – ele disse. Apenas deu as costas e saiu. Odiava ter de obedecê-lo, porque além de ser meu irmão mais velho era meu rei, isso era detestável. O segui. Caminhamos pelo primeiro andar até chegar a escadaria do palácio. Quando chegamos ao segundo andar, nos dirigimos ao escritório dele. Ao entrarmos, lá estava nossos generais, Ray e Sara Palmer. Eram cachorrinhos comendo na mão do meu irmão, sob fortes ameaças da parte de Henrick, o fato era que ninguém, nem mesmo Sara, era corajoso suficiente para enfrentá-lo.

– Majestade, alteza – disseram em uma reverência quando entramos.

– Ray, ligue a televisão – pediu meu irmão. Me joguei na cadeira diante da mesa dele, levantando meus pés e apoiando os mesmos sobre a mesa. Henrick bufou empurrando meus pés e apontando para a tv. Revirei os olhos e me forcei a olhar o noticiário.

– Uma transmissão ao vivo da princesa herdeira de Winterhill está acontecendo agora, e confirma de vez os rumores sobre a possível seleção de Caitlin Snow. A notícia chocou o país que eliminou a antiga tradição a mais de cem anos – disse a repórter. Inflei as bochechas e soltei o ar – Mais informações no jornal da noite.

A televisão foi desligada e eu olhei para os três que me encaravam tentando decifrar suas intenções.

– Tá legal só porque não temos relação de paz com Winterhill, a princesa não pode se casar? – eu disse – Deixa ela ser feliz, vocês são amargurados demais.

– Esse não é o problema Barry! – disse Henrick – É o seguinte, atualmente Winterhill está em crise. Os reis morreram, por ataques de nossos homens.

Simplesmente abri a boca. Não podia ser possível, jamais imaginei que ele fosse capaz de algo tão covarde. Mesmo em uma guerra, sempre acreditei que existem regras a serem seguidas, em respeito a vida. Se deixarmos elas de lado, o mundo se torna uma carnificina.

– Como é? – perguntei.

– Não existem rebeldes – disse Ray – Enfraquecemos as fronteiras marítimas de Winterhill e conseguimos nos infiltrar no país. Existem pessoas sofrendo lá, alteza. Tudo por conta de um terrível sistema que os obriga a se dividirem em castas. Os das mais baixas querem derrubar a família Snow, e por isso estão nos ajudando de dentro. Agora com o país fragilizado por protestos que os distraem, temos pessoas infiltradas até mesmo no palácio prontas para agir assim que você der a ordem.

Franzi a testa.

– Como assim...quando eu der a ordem?

Henrick se sentou em sua cadeira.

– Liguei para Winterhill e avisei que você está a caminho – ele sorriu cínico. Como tinha vontade de arrancar a cabeça dele.

– Espera? Está me mandando pra lá? Não, nem pensar!

Eu me recusava. Sabia o quanto meu irmão e eu éramos odiados lá, jamais me lançaria aos leões famintos.

– Você é detestado aqui em Brusque, Barry – Henrick disse. Vai começar o típico showzinho, vamos lá – O nosso povo não acredita que você seja capaz de fazer algo por eles.

– Por que não sou – respondi.

– Você é – ele afirmou – E vai ser aclamado por nosso povo, como um herói, se você matar a princesa de Winterhill.

Me levantei batendo na mesa com toda a força. Ray e Sara observavam de olhos arregalados no fundo da sala. Olhei para Henrick. Era verdade que o povo de Brusque jamais demonstrou gostar de mim. Talvez pelo fato de eu ser recluso e detestar aparecer em público, estar em evidência. Mas eu jamais precisei disso, afinal o rei é meu irmão. Mas não seria capaz de matar sequer uma mosca.

– Tá maluco, Henrick! Eu não sou um homicida! – berrei.

– Senta, Barry! – ele ordenou. Bufei me jogando novamente na cadeira – Ouça, você tem o mesmo coração bondoso da nossa mãe. Que Deus a tenha. Bem, sei que jamais admitiu atos de crueldade. Então apenas veja com seus próprios olhos o que os Snow tem feito com aquele povo Barry. Existem crianças passando fome e a família real jamais se dignou a sair daquele castelo para ver. Então me diga Barry, as contas não são difíceis, a vida de quatro princesas ou a de milhares de pessoas?

Me silenciei. Me lembrava de ter contato com as princesas Snow apenas uma vez, quando a mais nova delas tinha poucos dias de vida. Visitamos o palácio. Caitlin era fechada e mantinha aquela pose esnobe. Eu não gostava dela, e se ela fazia realmente parte da barbárie que Henrick dizia, eu estava disposto a fazer justiça. Olhei para ele e ele entendeu que eu estava amolecendo.

– Vou explicar o que você vai fazer, Barry – disse ele – É tudo muito simples.

X×X

Eu estava no avião. Viajar não era algo que fazia com frequência, mas naquele dia estava sendo obrigado a isso. As palavras de meu irmão ainda ficavam rondando minha mente.

“Vai buscar se aproximar dela, tente ganhar sua confiança”

Nunca fui bom com mentiras, mas segundo todos existe uma primeira vez para tudo. Estava prestes a me aproximar de alguém com o único intuito de matá-la, isso era uma coisa horrível. Eu não me sentia bem, mas sabia que se o fizesse, Brusque poderia invadir e assumir o poder de Winterhill e isso era o que Henrick buscava desde que assumiu o trono.

O avião pousou e eu desci no aeroporto. O clima estava agradável, bem mais que da última vez que estive em Winterhill.

O local estava mais que repleto de repórteres. Haviam seguranças para me guiar entre a multidão que estava apenas querendo o ver o circo pegar fogo. Imagino que todos quisessem que fosse gravado ao vivo, a bagunça que seria quando me encontrasse com a princesa. Levantei a cabeça sorrindo. Hora de ativar o modo galã sem escrúpulos e completamente inconveniente.

Passei de cabeça erguida, com um sorriso que sabia que estaria irritando qualquer um do palácio que devia estar vendo a cena. Acenava e seguia os segurança até a limusine diante do aeroporto. Entrei na mesma e respirei fundo.

– Direto para o palácio, alteza? – o motorista disse. Assenti.

– Sim.

X×X

Era realmente fabuloso, e completamente encantador o palácio de Winterhill. A limusine estacionou bem diante da gigantesca porta principal. Majestoso. Eu respirei fundo enquanto carregavam minhas malas. Subi as escadarias, dois mordomos já me esperavam ao lado de fora, ele fizeram uma reverência enquanto eu apenas segui adiante. Abriram a porta, respirei fundo antes de finalmente adentrar o hall de entrada do palácio. Ao mesmo tempo que coloquei meu pé para dentro, levantei os olhos para a gigantesca escadaria e vi descendo a princesa. Usando um vestido longo, de tule azul claro com algumas flores na parte de cima. Ela parou no meio da escadaria. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo e uma tiara simples de joias em formas de flores. Me olhou como se pudesse arrancar meu coração apenas com seus olhos.

Apenas para provocar eu sorri, de forma provocadora e ergui uma sobrancelha. Ela desceu o restante dos degraus. Seus saltos batendo no chão enquanto vinha em minha direção.

– Sempre olha assim para suas visitas, alteza? – perguntei enquanto ela descia do último degrau caminhando os poucos metros que nos separavam.

– Sempre vem ser ser convidado? – ela disse dando um último passo. Estávamos a menos de meio metro um do outro. Ela cruzou os braços visivelmente irritada – Alteza.

– Vou fingir que não me ofendeu, princesa – eu disse seguindo com ar de brincadeira.

– O que está fazendo aqui? – ela perguntou ríspida. Não evitei a gargalhada que saiu da minha garganta – Eu disse algo engraçado?

– Calma princesinha...

– Alteza! – ela disse entredentes.

Revirei os olhos. Ela está me irritando.

– Tudo bem, alteza – eu disse – Nossos países não se dão muito bem caso não tenha notado. E tratar o príncipe assim, não é bem uma forma de trazer paz.

Ela suspirou levando a mão a cabeça.

– Agora querem paz? – perguntou ela com sarcasmo.

– Talvez possamos ter, se você ser esforçar um pouco mais alteza – ele disse. Ela levantou a cabeça. Os olhos dela. Parei olhando no fundo deles. Então soube que seria fácil. Ela estava fragilizada e sobrecarregada. Bastava me aproximar, estava sensível e cairia na minha rápido. Suavizei a expressão. As palavras de Henrick voltaram a minha cabeça “Quando ela estiver em suas mãos você vai pegar esta adaga que vai matá-la. Depois damos um jeito nas irmãs” – Olha, vou ficar aqui até o fim da sua seleção.

Ela riu.

– Não vai mesmo – disse.

Ela já estava me irritando com essa teimosia.

– Você não tem muitas opções princesa – eu disse – Como seu humilde povo reagiria sabendo que recusou um oferta de paz de Brusque?

Agora ela definitivamente quer me matar. Pensei, mantive meu sorriso provocador.

– Tudo bem – disse ela dando de ombros - Vou mandar arrumarem o quarto de hóspedes pra você no andar real, fique a vontade. Nem terei tempo de vê-lo.

Eu ri.

– Você não entendeu, princesinha – eu disse levando a mão a bochecha dela. Rapidamente ela impediu, segurando meu pulso com uma força que jamais imaginei que um princesa teria. Não pude evitar rir de novo enquanto ela me fuzilava com um olhar mortal – O que foi? Você é arisca demais, mas logo todo esse gelo vai derreter.

– Tenta me tocar de novo – ela empurrou minha mão com força – E eu mando sua cabeça em uma caixa para Brusque. Alteza.

– Tenho até pena do seu noivo, quero rir muito no seu casamento – retruquei.

– Acredite, quando eu me casar você não vai estar na lista de convidados – ela disse ríspida.

Tá legal já odeio essa garota, matá-la vai ser um favor a humanidade.

– Nem faço questão de estar, princesa – eu disse sorrindo.

Deu as costas e subiu as escadas sem olhar para trás. Eu revirei os olhos respirando fundo. Essa tarefa não vai ser nada agradável. Uma criada se aproximou e fez uma reverência.

– Alteza, vou levá-lo ao seu quarto.

Longo trabalho pela frente, Barry.