Narrado por Kara Snow
Haviam mais coisas na vida que me tranquilizavam. Mas o principal era ver as cores se misturando na tela branca, e formando uma imagem nova, representando algo que existe no mundo ou na imaginação. Era como me perder dentro de mim mesma, aquilo era incrível. Sempre fui completamente apaixonada pela arte. Mas enquanto minhas irmãs preferiam a música, ou bordado e costura e dança eu era a princesa sempre suja de tinta.
Não era uma rebelde, apenas alguém que não gostava de obrigações, uma das razões por estar odiando a tal seleção. Desde quando uma mulher é incapaz de governar sozinha? Estamos em que século, dezoito? Isso era deplorável e inaceitável. Caitlin era disciplinada e responsável, duvido que um homem escroto seja necessário para que ela seja uma boa rainha.
Por ser a segunda na linha de sucessão eu jamais teria que me casar, e eu jamais o faria. Homens, fala sério! São aberrações da evolução, monstros que sugam nosso tempo e nossa razão de viver, se apaixonar é um droga.
Jamais senti isso. Meu primeiro beijo foi diferente de todos os beijos das garotas de treze anos, eu havia feito um acordo com a princesa italiana, Lena, já que ambas compartilhávamos o mesmo pensamento sobre os homens, portanto ninguém jamais soube que o primeiro beijo da princesa Kara de Winterhill foi com uma garota. Jamais tocamos novamente no assunto, até porque foi apenas uma brincadeira infantil.
Mas Lena se casou. Ela rompeu nosso trato, que traição! A mais ou menos um ano fomos ao casamento da princesa com o príncipe russo, ela olhava para ele de uma forma boba e idiota, coisa de gente “apaixonada” e naquele instante tive tantas náuseas que jurei a mim mesma que jamais me casaria, isso acaba com o cérebro.
E agora, minha irmã mais velha estava sendo condenada eternamente a viver com um plebeu desconhecido. Machismo total.
Limpei o pincel no copo de água e sorri com o resultado. Mais uma representação do jardim de rosas no castelo de Brusque. Eu sonhava com aquele lugar dia e noite, me lembrava de visitá-lo uma vez apenas quando criança, mas era o mais belo jardim que já tinha visto, foi cultivado pela rainha Nora, e seguiu sendo cuidado após sua morte.
Havia um caramanchão bem no centro, onde luzes o rodeavam e se misturavam com rosas. Minha pintura retratava isso.
– Alteza – respirei fundo ao ouvir minha criada, Imra, chamar – O príncipe de Brusque chegou, sua irmã pediu para descerem e se juntarem a eles em um chá no jardim.
Soltei o pincel na mesinha e me levantei. Me virei para Imra e sorri. O demônio está na nossa casa, que maravilha!
Eu podia imaginar o quanto Caitlin estava com vontade de cometer seu primeiro homicídio, por isso ela precisava de mim.
– Arrume um vestido curto e simples, Imra – eu disse – E a tiara que ganhei da mamãe no Natal.
Ela assentiu e se afastou indo até meu closet, me sentei na penteadeira para retocar a maquiagem. Algo suave, para o dia ao ar livre, na forte e extravagante. Era o que mamãe sempre dizia. Imagem é tudo.
Imra trouxe-me um vestido azul claro, com tiras entrelaçadas nas costas, um dos meus favoritos. Coloquei uma sapatilha simples já que ia ao jardim, e trancei meu cabelo, por fim coloquei minha tiara. Sempre mais baixa que a de Caity, e mais alta que a de Felicity, um costume estranho.
Então eu saí do meu quarto, andando imponente no corredor. Desci as escadas degrau por degrau. O palácio estava a mil, já que nesta noite seriam sorteados os selecionados. Todos ansiosos, menos Caitlin e eu.
Passei pelas portas do jardim, enxergando ao longe a mesa posta abaixo da cerejeira. Bufei ao ver a cara de deboche do príncipe. Minhas irmãs já estavam irritadas, podia ver em seus olhares. Alva mais ainda, sendo obrigada a abandonar seus ensaios de balé.
Caminhei pelo gramado, ao ver eu me aproximando, Barry abriu um largo sorriso. Ele fez o gesto de se levantar, mas eu o impedi.
– Pode tirar o cavalinho da chuva – eu disse ríspida puxando a cadeira e me sentando. Ele arqueou a sobrancelha olhando a cara emburrada de cada uma de nós – O que diabos você quer aqui?
– As princesas de Winterhill precisam aprender mais sobre educação e etiqueta – disse ele em deboche.
– Olha aqui seu babaca – disse Felicity – Quer educação procure um professor, porque não somos obrigadas a te receber bem!
– Porque toda essa raiva contida? – ele perguntou com a mão no peito em sinal de ofensa.
– Porque vocês querem matar a gente! – disse Alva apontando seu dedinho para ele.
– É feio apontar pirralhinha – ele disse com uma careta.
– Só pega toda essa sua tentativa de paz e enfia no meio do...
– Kara! – Caitlin repreendeu antes que eu terminasse a frase. Bufei e cruzei os braços.
– Agora todas sorriam – disse Caitlin o fazendo – Tem fotógrafos nas moitas, querem saber se sua visita é pacífica.
Barry gargalhou jogando a cabeça para trás. Vou enfiar essa xícara na garganta dele.
– Que falsidade, senhoritas – disse ele.
– Vamos apenas terminar isso de uma vez para que voltemos a nos ignorar – disse Caitlin levando a xícara a boca. Assentimos. Barry parecia se divertir com aquilo, e o mais impressionante foi que ele e Caitlin passaram vinte e quatro minutos inteiros se encarando sem desviar o olhar por um segundo. Aquilo foi assustador.
X×X
Eu cheguei a sala do jornal antes de minhas irmãs. Naquele dia tudo estava mais agitado que o comum. Me sentei em uma cadeira as esperando, enquanto observava trinta e cinco recipientes redondos de vidro, repletos até a borda de papéis com nomes. Um deles seria meu cunhado. Bufei abrindo minha garrafa de água e bebendo um gole.
– Kara – ouvi a voz doce de Alva e me virei. Sorri ao vê-la ali, tinha um olhar cansado e estava pálida. Me assustei e levantei indo até ela.
– Alva, o que aconteceu? – perguntei levando a mão ao rosto dela. Estava fervendo em febre.
– Eu não me sinto bem – ela disse. Olhei em volta buscando a criada dela, a avistei ao longe.
– Lisa! – chamei e a mulher se aproximou correndo com uma reverência desajeitada – Vamos levá-la ao quarto. Chame o médico.
Ela assentiu e saiu. Peguei Alva no colo e ela apoiou a cabeça em meu ombro. Estava tremendo. Cheguei perto do soldado Queen, já que em breve ele escoltaria Caitlin para o sorteio
– Oliver, avise Caitlin que Alva está doente e a levei ao quarto.
– Sim alteza – ele respondeu – Precisa de ajuda?
– Não, obrigado – agradeci com um sorriso e ele assentiu. Sai do estúdio com Alva gemendo, e caminhei o mais rápido possível até o quarto dela. Entrei e fui até a cama colocando ela deitada e tirei seus sapatinho os deixando ao lado da cama. Em seguida me sentei ao lado dela.
– Kara – ela gemeu.
– Shh – tirei uma mecha de cabelo da testa dela – Fique quieta, o médico vai vir.
Ela se moveu.
– Não quero levar injeção – disse ela choramingando. Eu ri.
– Não vou deixar te darem injeção – eu sussurrei. No mesmo instante, Alva se sentou na cama e jogou para fora tudo que havia almoçado, nos meus sapatos. Eca!
X×X
Alva estava deitada, assistindo TV enquanto o médico juntava suas coisas. A criada havia limpado tudo e trocado os lençóis sem falar dos meus sapatos que havia mandado jogar na primeira lareira que visse. Eu já usava meu roupão sobre o pijama, apenas esperando o veredito do médico.
Ele se aproximou de mim.
– Alteza – susurrou – Alva teve uma intoxicação alimentar, mas o mal estar também pode ser ocasionado por estresse excessivo e depressão.
– Depressão? – repeti incrédula – Ela só tem seis anos!
– Ela passou por muito nos últimos dias, alteza – disse ele – Sugiro que contratem um psicólogo, para evitar maiores problemas.
Suspirei e concordei olhando para ela. O médico saiu e fechou a porta. Fui até a cama e me deitei ao lado dela, Alva imediatamente aumentou o volume da TV.
– Caitlin está sorteando os últimos – disse ela num sussurro. Sua curiosidade atiçou a minha e mirei a televisão enquanto acariciava os cabelos ruivos dela.
– Ralph Dibny – Caitlin disse tirando mais um papel. Uma foto dele apareceu na tela, era bonito e sorridente. Tinha uma boa pose de realeza. Caity passou para o próximo recipiente tirando um outro papel, respirou fundo antes de ler – Ronnie Raymonds.
Ele também era bonito, as fotos eram realmente muito boas. Mas nenhuma que me fizesse desejar ter um namorado.
– Tommy Merlyn – Caitlin disse e finalmente passou para o último. Parecia aliviada por estar acabando – E por último, Mon-El Matthew.
A imagem dele surgiu na tela. Ele era bonito, mas diferente dos demais. Seus olhos traziam algo profundo. Seu sorriso. Uau! Ele realmente era de tirar o fôlego. Me peguei com a respirações ofegante, quando Alva me despertou do transe.
– Que sorriso é esse? – ela perguntou – Eu sei, ele é bonito!
Sorri.
– É mesmo – concordei – Mas agora hora de dormir!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.