Se a vida fosse um tabuleiro de xadrez, Jeongguk seria um rei encurralado, pronto para o xeque-mate. Ele nunca havia cogitado assumir a própria sexualidade, visto que encobrir isso nunca foi um problema, mas agora estava prestes a pedir para que escrevessem em sua testa com letras coloridas um nítido "gay".
Após a cerimônia, os dois saíram felizes – Jeongguk por ter acabado com aquela tortura, e Yewon pelo aclopamento – do salão. Entraram na limousine branca alugada pelo Sr.Choi e embarcaram numa viagem cheia de carícias e falsas juras de amor. A casa dos dois ainda estava em construção, e de acordo com a esposa, ficaria pronta entre dois meses ou mais.
Ela também falava da futura visita à África que pretendia fazer e como estava animada pra aprender um novo idioma. Planejaram como ficaria o horário dos dois, já que Jeongguk cursava enfermagem no turno matutino e Yewon, relações internacionais no noturno, além das reuniões em que precisava comparecer para assumir parte dos hotéis. Apesar de ter o irmão mais velho para assumir a hotelaria, não cedeu sua parte após uma provocação por parte do mesmo.
Admirava a inteligência e beleza da garota e, se fosse hétero, ele certamente não veria problema em casar-se. Yewon era incrível.
Um choque de realidade pareceu atingir Jeongguk quando pararam na frente de um dos hotéis da família Choi: Eles teriam sua lua de mel.
Por instinto, pensou em abrir a porta do automóvel e sair correndo para o beco mais próximo que encontrasse porém após notar que a idéia era ridícula, aceitou que teria que lidar com as futuras relações heterossexuais que lhe aguardavam. Desceu do carro e foi até a recepção, efetuando o check-in enquanto a esposa conversava com um conhecido no hall de entrada.
A julgar pelo saguão, o hotel parecia ser luxuoso. A arquitetura moderna predominava por todo estabelecimento; o ambiente aparentava ser agradável e ter uma equipe de funcionários invejável; um lustre extravagante iluminava o local e as paredes em tons de branco e dourado, impecáveis assim como o mármore em que pisava. Havia poutronas e um sofá distribuidos no centro e uma escada enorme que levava até o andar de cima. Os trabalhadores trajavam uniformes de acordo com a função que cada um exercia, todos de cores neutras.
Terminava de fazer o cadastro com a ajuda do belo repecionista, que carregava um broche dourado com o nome "Bogum" no colete quando ouviu um barulho de vidro quebrando e a atenção de todos presentes ali se voltar para um único ponto.
Um garoto de fios claros, que vestia um uniforme assim como o resto dos funcionários tinha sangue escorrendo pela bochecha esquerda, enquanto outro com o olho roxo cambaleava até o chão, onde tinha cacos de vidros espalhado. Entre eles, uma menina de vestido vermelho parecia tremer. Provavelmente a responsável pelo copo quebrado.
Viu o loiro avançar no outro, segurando-o pela gola da camisa social e desferindo socos em seu rosto enquanto pronunciava alguns palavrões. As pessoas em volta gritavam pedindo para que parasse, entretanto, ninguém ousava se aproximar do garoto.
— O QUE ESTÁ HAVENDO AQUI?! – uma mulher de fios castanhos e aparentemente mais velha surgiu no saguão.
O de pele acobreada parou imediatamente, murmurando um "fodeu" antes de se levantar e largar o outro corpo no chão.
— Tiffany, ele estava assediando uma hóspede! – se defendeu, apontando para o de olho roxo.
A morena mantinha as mãos massageando suas têmporas, denunciando irritação com tudo aquilo — Kim Taehyung, volte ao seu trabalho, hm? Eu cuidarei dele. — disse indo em direção ao corpo ainda abandonado no chão e à garota.
— QUEM VOCÊ ACHA QUE É PRA ATACAR UM HÓSPEDE, MOLEQUE?! EU VOU PROCESSAR ESSE HOTEL. — o desconhecido que foi atacado gritou quando retomou o ar.
O outro já se virava novamente, provavelmente para o golpea-lo de novo mas foi impedido pela mulher.
Jeongguk encarava a cena assustado, temendo que a briga se tornasse ainda mais violenta.
O clima que se instalava era tenso e sentiu o corpo todo estremecer quando o olhar felino do loiro encontrou o seu. Só então percebeu o piercing prata que enfeitava a boca vermelha e carnuda, carregada com um sorriso ladino e perverso. Ele estava visivelmente alterado e isso fez com que um medo lhe invadisse.
A figura de pele trigueira caminhava em sua direção, limpando o sangue com a manga da blusa branca e arregaçando-a em seguida, expondo o início de uma tatuagem.
Não sabia descrever se estava presenciando a existência de um Deus grego ou a personificação de Lúcifer.
Engoliu seco quando viu a língua umedecer os lábios sem desfazer o contato visual.
O clima se tornou ainda mais pesado e, sem perceber, recuou um passo. As orbes voltadas pra si eram carregadas de magnificência, completamente lascívias. E, ao se aproximarem o suficiente, desviaram...
Quase grunhiu em desapontamento.
— Pra onde levo a bagagem? – o loiro perguntou para o recepcionista, ignorando totalmente a presença do Jeon.
– Pra cobertura. — entregou um papel em sua mão – Depois desça pra cá... E pare de arranjar brigas, Tae – Bogum respondeu.
— O cara mereceu, cala a boca. – voltou o olhar para Jeongguk mais uma vez e deixou um riso pequeno escapar antes de ir até as malas.
Sem entender o que havia acabado de acontecer, apenas virou-se e foi até à esposa. O ambiente já voltava ao normal, ainda assim sem cessar os comentários sobre o funcionário briguento.
˗ˏˋ ♡ ˎˊ˗
Agradecer. Tudo que Jeongguk queria fazer era agradecer à qualquer divindade superior que tivesse ouvido suas preces desesperadoras.
Os dois estavam deveras cansados depois de arrumar tudo o que trouxeram para terem qualquer tentativa de relações sexuais naquela noite. Por ora, ele havia escapado.
Deitaram-se na grande cama de casal e conversaram até Yewon pegar no sono, pedindo para o esposo acordá-la quando desse o horário de ir para seu curso, entretando, o garoto adormeceu também e por sorte não falhou em sua missão, graças ao alarme do celular que anunciou 18:00 com Twenty Three da IU.
Os ruídos dos móveis provocados pela Choi o impediram de continuar o sono, obrigando-o a levantar e temendo qualquer carícia vinda dela. Teria que dividir a cama pelo resto da vida com um cônjuge não amado e ele jamais se acostumaria com isso.
Estava fadado à infelicidade.
Tudo o que queria fazer era chorar. Mesmo que já tivesse se acostumado com a idéia de ser um tremendo mentiroso e babaca para uma menina tão boa quanto Yewon, algo ali ainda o incomodava. Talvez por ser tão injusto, por saber que jamais teria um amor como o dos livros que leu, por jamais ter se apaixonado de verdade! Ele se encontrava em um labirinto sem saída, arrependido por ter se arriscado tão pouco amorosamente.
Na época, parecia uma ótima idéia, já que sabia do casamento e se apaixonar tornaria tudo mais difícil, entretanto, agora que o pesadelo virou realidade ele percebe que ter vivenciado um grande amor poderia ter sido ótimo, poderia ter se apaixonado pela pessoa certa. No final, ele só estragou a vida dos dois.
Encarou a ereção entre as pernas e viu que precisava urgentemente urinar. Levantou e foi até o banheiro, se frustrando ao ver a porta trancada e imaginando que Yewon estivesse se arrumando pro curso lá dentro.
Deu duas leves batidas na porta — Princesa, vai demorar?
— Vou sim, você tá muito apertado? – gritou em resposta – Ainda tenho que secar o cabelo quando sair do banho.
— Um pouco... Tudo bem, eu vou no do saguão – pegou a calça de moletom cinza jogada em um canto qualquer e vestiu. Mesmo que o hotel aparentasse não ter muitos hóspedes naquela época do ano, não poderia sair por ai apenas de samba canção.
Saiu do quarto e foi em direção ao elevador. Acompanhado de uma criança e sua mãe – o que o fez agradecer pela blusa comprida branca que batia próximo às coxas e escondia a leve ereção –, chegou até o saguão e foi correndo para o banheiro, abaixando as calças e urinando.
Quando finalizou o ato, ouviu a porta ser escancarada junto à gemidos. A situação era bem evidente e tudo o que conseguiu fazer foi correr e se esconder em um dos boxes, torcendo para – seja lá quem estivesse ali – que não demorassem.
Merda.
Os sons dos corpos se pressando na parede e esbarrando nos objetos se misturavam com os gemidos baixos. Era evidente que se tratava de dois homens e Jeongguk não podia negar que era fácil ficar excitado com os ruídos, visto que já fazia um tempo desde que teve relações sexuais.
Ousou olhar pela brecha da porta e ficou surpreso ao ver o funcionário de fios claros ali, atacando o pescoço do repecionista que lhe atendeu mais cedo, esse que ele lembrou estar identificado como Bogum. Passou a mão pelos cabelos, as bochechas já se encontravam ruborizadas e ele suava frio diante da cena que presenciara. Estava incrédulo.
Deleitava-se com as expressões de prazer dos rapazes, mordendo o lábio ao ter uma visão um pouco mais privilegiada do piercing do loiro, que ora batia contra a boca do recepcionista e ora era lambido pela língua do dono.
Vários minutos de tortura se passaram, com Jeongguk acariciando o membro por cima da calça de moletom mas parando ao lembrar do mísero respeito por Yewon, tentando preservar o mínimo de bom senso que ainda tinha. Saiu atrás dos dois poucos segundos depois, com os cabelos totalmente bagunçados e as bochecas rubras. Até parecia que quem estava aprontando no banheiro era ele.
Ignorou todos os presentes no saguão que lhe encaravam como se fosse um louco. O que poderia fazer? Havia recentemente conhecido seu pesadelo em forma humana e pelo que recordava, se chamava Kim Taehyung.
É claro que ele não evitou pensar sobre o acontecimento do saguão pelo resto tarde, principalmente no olhar do outro, mas jamais admitiria em voz alta.
E, falando nele, não supreendeu-se ao entrar no elevador e dar de cara com o mesmo. Receoso se deveria entrar no elevador ou não – visto que ele não confiava no próprio corpo, ainda mais com tantos hormônios acumulados –, uma hora ou outra iria se esbarrar com o funcionário, então não tinha porque adiar, certo?
Certo.
Entrou no elevador com o rabinho entre as pernas, fingindo normalidade como se não soubesse o que o mais alto estava fazendo segundo atrás. Desviou o olhar para o painel do elevador, achando aquilo a coisa mais interessante do mundo.
Incrível como simples botõezinhos nos fazem ir às alturas em segundos, não?
— Sabe, acho que espiar um amasso entre dois homens não é o propósito da sua lua de mel... Mas até entendo sua parte, se eu estivesse no seu lugar preferiria isso também. – o Kim falou encarando um ponto qualquer como se fizesse pouco caso. Jeongguk não sabia onde enfiar a cara, sentia-se confuso com a informação do garoto ter lhe visto e envergonhado por ter tocado em um assunto tão delicado como sua preferência.
— Não acho que o banheiro do hotel foi feito pra dar amassos, principalmente entre os funcionários, e outra, não lembro de ter te perguntado sobre sua preferência se estivesse no meu lugar. – respondeu indignado com a fala do outro. Oras, ele nunca foi de ouvir as coisas calado, principalmente se estivesse com a razão e não mudaria isso só por um rostinho bonito.
Talvez uma voz bonita também... Com um corpo deveras bonito, assim como os olhos e o piercing na maldita boca. É, o garoto era um conjunto de perdição.
— Nunca deu uns amassos no banheiro, Jeongguk? Que triste – estranhou o fato do loiro saber seu nome mesmo sem nunca ter dito, no entanto, antes que pudesse questioná-lo sobre isso, sentiu a respiração quente bater contra sua orelha, causando um arrepio por todo seu corpo —. Qualquer dia eu te mostro como é gostoso – um sorriso perverso brotou nos lábios grossos e Jeongguk podia desmaiar ali mesmo só com o timbre aveludado.
Fechou os olhos quando sentiu a ponta do nariz roçar em sua nuca, soltando um suspiro sôfrego com a sensação. Já impetuoso pelo contato, não conseguiu protestar quando sentiu as mãos irem até sua cintura, apertando-as com vontade.
Se perguntava que diabos o Kim estava fazendo. Ele sabia muito bem que Jeongguk era casado e, além disso, estava em lua de mel!
Mas Jeongguk sabia disso também, e não cessou o contato.
— Sabe, se eu não tivesse tanto autocontrole te foderia aqui mesmo... – a voz saiu mais grossa que o normal — Essa sua atuação de hétero é tão ruim, Jeon.
O moreno sequer entendia o que saia da boca do outro, apenas aproveitava os estímulos que recebia, entregando-se sem hesitar. Jurou que explodiria quando a mão quente apertou a ereção que se formava em sua calça, deixando um gemido manhoso escapar.
Não conseguia impedir um movimento sequer, e nem queria. Entretanto, ouviu um "plin" que o fez abrir os olhos e logo em seguida a porta metálica foi aberta. Taehyung ajeitou a postura e seguiu para o andar, não se importando em deixar um Jeongguk duro e necessitado pra trás.
O moreno, incrédulo com o que havia acabado de acontecer, apenas queria xingar o funcionário. Questionava a si mesmo sobre o porquê de ter permitido o mais alto tocar-lhe dessa forma, entretanto, achou mais conveniente deixar para refletir em outra hora, de preferência sem uma ereção entre as pernas. Subiu desesperado para a cobertura, agradecendo mentalmente por Yewon não se encontrar mais no cômodo e concluindo que passou muitos minutos naquele banheiro, este no qual não pretendia voltar tão cedo.
— Que louco dá em cima do genro do próprio chefe? – bagunçava o cabelo em desespero.
Definitivamente, o rapaz não parecia se importar muito com as normas do bom empregado, mas fazer tal coisa era o cúmulo. Num único dia, ele presenciou um conjunto de atos nada profissionais pela parte do garoto: uma confusão no saguão envolvendo um hóspede, relações com amigos de trabalho e o recém-acontecimento do elevador. Jogou-se na cama e se esforçou pra digerir os últimos minutos da sua vida, não se conformando em apenas esquecer.
E se Taehyung fosse um agente secreto contratado pelo Sr.Choi para testar Jeongguk e confirmar os genes homoafetivos presentes em si?
Repetia a cena em sua cabeça várias vezes, procurando pelo momento em que impediu algum ato do outro. Não achou nada. Sentia-se humilhado por ter sido abandonado no elevador e ele certamente não aceitaria isso facilmente.
Iria se vingar do funcionário abusado assim que pudesse.
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