O gosto metálico de sangue invadia os lábios de Seras Victoria, a ardência deixava claro que havia cortado seu lábio inferior, Park a sua frente parecia satisfeito com a cena embora aquilo fosse demonstrado mais em seu olhar azul piscina do que em seus lábios inexpressivos, há duas semanas estava treinando com ele, e de fato, por mais que Elizabeth e ela não se dessem bem, não podia negar que não haveria uma escolha melhor de tutor do que aquele que estava na sua frente, o coreano de cerca de um metro e oitenta deslizava pelo ar como se fosse parte dela, em todos esses dias de treinamento Seras só foi capaz de agarra-lo duas vezes, o que considerando sua descendência sanguínea era algo impressionante, deslizou a língua pelo corte labial, permitindo-lhe que o vigor do sangue fresco lhe desse ânimo, a camisa branca de Park estava entreaberta, o peito pálido e sem pelos a mostra, em sua mão apenas um Bokken, uma espada japonesa totalmente de madeira que Seras amargamente admitia que conhecia bem demais, a vampira desfigurou novamente o braço direito em sombras enquanto voava pra cima de seu inimigo, para perceber apenas o óbvio, ele havia desaparecido de sua frente, rapidamente usou o pé contra a parede para evitar o encontro doloroso com o muro de pedras, e aproveitou para impulsionar seu corpo para trás afim de pega-lo desprevenido enquanto desviava, mas não adiantou, sentiu a madeira pesada rapidamente afundar em seu estomago projetando o corpo dela de volta ao chão.
- Duas correções, Victoria – ele falou suavemente enquanto a olhava por cima – Primeiro, ao projetar seu corpo pra trás você apenas supôs que me pegaria as suas costas quando obviamente eu estava a seu lado, portanto... Não deixe seu ego tentar te fazer acreditar que conhece seu inimigo.
A vampira bufou, irritada consigo mesmo enquanto colocava a mão materializada no próprio estomago, aquela dor havia sido muito mais forte do que ela pensava o que estava lhe dando uma forte ânsia de vômito, mas se conteve, já bastava as inúmeras humilhações dos últimos dias.
- Segundo – Park prosseguiu, agora se agachando próxima a ela – Você tem menos de 1,70 de altura, não deve pular sobre seu inimigo, você perde tempo com isso e acaba se expondo demais, deve aproveitar para ataca-lo por baixo.
- Sim... – Ela sussurrou enquanto observava a palma da mão dele estendida pra ela, ajudando-a a se erguer.
- O que falta em você é... Controle. – Ele falou de forma tranquila enquanto se colocava em posição de luta novamente.
Determinada, se curvou, fazendo o braço expandir suas sombras negras o maior possível, não sabia se foram as repetidas falhas, ou o estomago que estava doendo mais do que ela esperava, mas sua determinação em vencê-lo tinha ultrapassado a barreira do natural naquele momento.
Utilizando de sua recente lição ela se inclinou, correndo em altíssima velocidade em direção a Park, com o braço expandido em sombras ela o distraiu por um momento, fazendo-o erguer a arma em direção as fissuras que lhe atacavam, assim que ela se aproximou na altura de seu estomago ele reagiu imediatamente direcionando a espada de madeira em direção a sua cabeça, fora nessa hora que Seras deslizou pelo chão, aproveitando a guarda aberta do Coreano e passando por debaixo e suas pernas, num movimento rápido seu braço lhe retirou a Bokken das mãos, aproveitando-se do momento em que ele parecia querer recuperar a arma rapidamente, a vampira lhe deu um chute nas costas, com tamanha força que o corpo de Park foi projetado há cerca de 5 metros de distância.
Observando-o no chão com uma bela marca do coturno de Seras na camisa branca, a vampira parou ao lado dele arremessando a bokken próximo a sua cabeça, em direção ao chão.
- Acho que... Aprendo rápido – Ela comentou triunfante.
- De fato – Ele riu enquanto se levantava num movimento – Sabe... É curioso como as vezes você...
- Atenção, problemas! – Um dos soldados de Elizabeth apareceu na porta do jardim, encarando os dois – Avistamentos suspeitos há 200 metros do castelo.
Park rapidamente mexeu no próprio pescoço, como se o endireitasse de alguma fratura que Seras havia cometido durante o chute, mas antes que o coreano pudesse se virar pra encarar sua pupila, ela já havia desaparecido.
- Quais as informações? – Seras questionou surgindo atrás de Alucard no telhado do seu castelo, o vampiro estava com as mãos nos bolsos da calça preta, foi só então que Seras percebera que ele usava o traje vermelho da época que estavam na Hellsing, aquilo definitivamente lhe trazia lembranças.
- Vampiros, cerca de cento e vinte estão cercando o castelo – ele fez uma pausa estreitando os olhos vermelhos, há alguns interessantes naqueles três pontos - O vampiro ergueu o dedo indicador, apontando em direção a três locais distintos da floresta Hoia Baciu.
- Interessantes? – Ela repetiu, estreitando o olhar.
- Quando digo interessantes quero dizer mais fortes, Vampira.
- Deixa comigo então – Ela disse indo em direção ao parapeito do castelo, desfazendo o próprio braço em sombras enquanto se preparava para alçar voo em direção ao lado sul da onde ele apontara.
O vampiro deu um meio sorriso.
- Estarei indo pro Leste, mandarei Elizabeth e outros averiguarem o terceiro ponto.
Ela retribuiu o sorriso enquanto projetava seu corpo em direção a noite sombria da Transilvânia, fazendo seu corpo assumir uma alta velocidade deixando um rastro vermelho no céu.
A Vampira pousou sobre uma das arvores da floresta mais mal assombrada da Transilvânia, Hoia Baciu, as lendas dos desparecimentos constantes fizeram-na receber a alcunha de “Triangulo das Bermudas da Romênia”, o que era altamente cômodo para ela e Alucard, visto que tamanha fama impedia turistas, e a maioria das mortes ali eram arquivadas pelas autoridades rapidamente, mas havia uma coisa que ela precisava admitir que não apreciava naquela floresta, e era essa maldita névoa densa que a preenchia, nem com seu olhar vampírico era capaz de captar com precisão quem estava próximo, tudo que ela sentia era uma movimentação suspeita a cerca de 1km dela, percebendo que a figura parecia vir em sua direção, se permitiu ficar sobre um dos galhos firmes da árvore, afim de pegar o invasor de surpresa por cima assim que ele passasse, foi quanto sentiu o corpo caindo pra trás junto com o estrondo de uma arma, “Sério mesmo?” Pensou enquanto sentia as costas baterem firmes no chão de lama de floresta, mesmo com toda aquela névoa alguém não apenas conseguiu vê-la, como acertar um tiro na sua cabeça, de fato... Talvez a escolha do Uniforme da Hellsing vermelho não fosse muito inteligente no meio de um floresta, a vampira rapidamente se levantou sentindo a testa arder como a chama do próprio inferno, a sua frente, seu inimigo andava em passos largos em sua direção, era definitivamente um homem alto, com mais de 1,80, usava um sapato social preto, assim como uma calça e um termo igualmente escuros, a única coisa que parecia de destacar ali era a gravata roxa de cetim, ele parou a sua frente e um sorriso satisfatório surgiu em seus lábios.
- Olha só quem eu encontrei... – Sua voz carregada de sotaque italiano preencheu o ambiente com sutileza.
A Vampira franziu a testa enquanto o encarava, ele usava um óculos de visão noturna do exército, o que claramente deixava claro pra si como ele a localizou apesar da neblina, os cabelos eram negros, curtos, mas algumas mechas um pouco longas insistiam na face do vampiro, em sua mão direita, uma arma de fogo que Seras logo reconheceu como a Beretta M9.
- Quem é você? – Ela começou enquanto se erguia, o sangue fluía de sua testa livremente em direção a seu rosto, desviando do nariz e descendo em direção as laterais do lábio pequeno.
O vampiro se inclinou pra frente e começou a rir alto, de uma forma claramente forçada para causar desconforto.
- Não me reconheceu!? – Ele disse, ainda entre a risada fina – Acho que é culpa dos óculos.
Ele levou a mão esquerda em direção a peça grande com lentes verdes que cobria mais da metade do seu rosto, retirando-o, foi só nesse momento que Seras se permitiu arregalar os olhos vermelhos em direção a ele.
- Dante. – Aquela bala ainda alojada em seu cérebro com certeza deixava seu raciocínio mais lento, mas não ao ponto de não reconhecer ali um dos homens do clã de Quincey, o Italiano Dante, o belo amante de Camille, a vampira no qual ela humilhou perante todo o clã naquele show que o Quincey planejou há meses atrás. Era evidente, ele estava diferente, seu rosto quadrado evidenciava o maxilar definido dele, seu corpo também parecia muito maior e mais musculoso que antes, claramente ele se preparou para esse reencontro.
- Essa bala... – Ela começou enquanto sentia a visão turva – Não é... Normal...
Ele deu uma gargalhada alta levando o cano pequeno da pistola a seus lábios e dando um beijo com os lábios carnudos.
- Digamos que tenho alguns amigos no Vaticano – Ele falou com um meio sorriso – Não se engane, essa bala é definitivamente muito mais poderosa do que aquela que fora projetada pelos Iscariots anteriormente... Dói né? Ela é feita de uma prata altamente refinada de uma qualidade tão pura que só uma região do mundo se extrai, enfim... – Ele deu um passo pra frente, erguendo o queixo da vampira com a mão, forçando-a a encarar os olhos castanhos avermelhados de seu algoz – Veja isso como um presente meu pelo que fez com Quincey Harker e pela humilhação que causou a Camille, sua cadela dos Hellsing’s.
A vampira deu um passo pra trás, enquanto retirava rapidamente a mão dele de seu contato, enojada, ela fechou os olhos por um momento.
- Se me permite... – Ela começou a falar atraindo a atenção dele, rapidamente abriu a boca pequena fazendo a bala de prata aparecer no meio da sua língua úmida, escorrendo saliva er sangue, assombrado o vampiro ergueu as sobrancelhas dando alguns passos pra trás – Eu quero devolver o seu “presente” – Seras finalizou enquanto cuspia a bala na lama, e sua testa fechava completamente a ferida como se nunca tivesse acontecido antes.
- Não... Não é possível... – Ele repetiu, vacilante – Essa bala... Você não podia ser capaz de fazer isso.
- Eu escuto isso com bastante frequência – Ela disse enquanto andava em direção a ele de forma sombria.
Desesperado, Dante apontou a Beretta M9 em direção a ela, antes que pudesse racionalizar o braço direito da vampira se fragmentou em sombras negras fazendo um escudo sobre seu corpo, não permitindo que as balas lhe alcançasse, apesar disso, Seras percebeu que seu corpo pequeno estava sendo arrastado pela força do disparo, colocou a perna esquerda para trás, mantendo-a em pé enquanto Dante continuava atirando nela.
- Cai caralho! – Ele gritava enquanto descarregava o pente da arma - Por que você não cai!?
Com a cabeça baixa, enquanto ainda se mantinha de pé, Seras por um minuto se permitiu apreciar toda a dor causada pelos mais de dez disparos feito contra o braço dela num espaço de tempo menor que um minuto, a prata queimava dentro de sua carne, a dor era maior do que esperava, seja como for, ela conseguia lidar com aquelas balas dos Iscariots, mas não com a dor alucinante que elas lhe causavam agora, mesmo estando repelidas em sua força sombria do braço. Percebeu a visão ficando turva novamente, não era a noite que a chamava, era o vermelho que invadia seus olhos como se tivesse sendo mergulhada numa piscina de sangue, após isso...
Nada mais.
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