Seras Victoria estava cansada, após mais de trinta anos ela finalmente havia voltado a se sentir como naquela noite, quando Zorin invadiu a Hellsing, massacrou os soldados e... Levou Pip para os braços da morte, completamente inútil. Todas aquelas décadas na Hellsing haviam lhe dado certa segurança sobre si mesma e seus poderes, ao ponto de pensar de que talvez, nunca mais se veria numa situação de “vitima” novamente, mas vejam só, Quincey havia provado que ela estava errada, duas vezes, uma vez em vida quando a quase assassinou e agora em morte, ela olhava para as algemas grossas em seus pulsos, desviou o olhar vermelho seguindo-a até seu outro extremo, os pulsos de Quincey Harker, o vampiro estava em pé na frente dela, apreciando a vista do mar sombrio, ele parecia num tipo estranho de meditação, fumando seu charuto, olhando pro horizonte, ás vezes em pé, outras vezes sentado a seu lado na areia fina daquela praia fictícia que só existia em sua mente.
Sua mente... Estava uma confusão, é evidente que ela havia perdido o controle agora que o fantasma de Quincey havia tido poder o bastante para mantê-la presa em seu subconsciente, mas além disso, o desespero profundo de não saber o que ocorria lá fora era assustador, embora o que acabará de ouvir de Elizabeth tivesse sido... Bem claro. Ergueu o olhar para Quincey, que estava de costas para ela, o vampiro parecia suspirar lentamente, quando se virou novamente para ela e a encarou por cima, parecia ser um gigante.
- Quantos mais precisarão te lembrar de quem é Alucard? – ele perguntou enquanto seu olhar tinto a julgava.
- Eu... Não... Preciso de lembretes – Ela disse enquanto tentava escapar das correntes, usando todas forças possíveis para isso, mas seu braço não se fragmentava, não na sua mente ao menos.
- Ora... Considerando o quanto tudo isso te abalou, está claro que é o contrário.
- Eu só preciso sair daqui – Ela disse enquanto o encarava com ódio – Se ele está realmente... Ele... – Ela engoliu em seco.
- Está assassinando a sangue frio o exército inimigo e o próprio? Aqueles que juraram sua lealdade a ele? Aqueles que confiaram nele? – Quincey deu um meio sorriso expondo as presas.
Seras Victoria fez uma careta, ouvir aquilo novamente em voz alta ela como uma adaga sendo enfiada em seu coração.
- Sim – Disse após alguns minutos – Se ele realmente está fazendo isso, não acha que é mais um motivo para me libertar? Eu sou a única que pode impedi-lo.
Repentinamente a vampira ergueu as sobrancelhas enquanto aquela risada suave e constante ecoava trazendo-lhe lembranças de quando a escutava com certa frequência há mais de um ano atrás, quando convivia com Quincey na casa dos Harker. Por fim ele se agachou, ficando próximo ao rosto dela, a vampira pode vislumbrar a menos de um palmo enquanto seu rosto se aproximava tão perto do dela, as maçãs sobressalentes, o maxilar extremamente quadrado, os olhos pequenos e profundos, os cabelos longos prateados caíram por seus ombros definidos.
- Seras... Eu nunca paro de me surpreender com sua inocência – Disse enquanto erguia a mão tocando-lhe a bochecha com o dedo indicador, acariciando-a – Você realmente acredita que pode impedir Alucard de algo?
- Sim – A vampira disse com convicção, embora parte dela ainda duvidasse daquilo – Eu sou a única que ele...
- Ama? – Ele sorriu abertamente enquanto voltava a rir alto – Ahahahaha! – ele segurou o queixo dela com força enquanto aproximava os lábios dos dela – Você não ouviu nada do que Elizabeth falou? Você foi só uma, Seras... Uma das milhares de mulheres que ele testava como rato em laboratório para gerar um filho dele.
Repentinamente Seras Avançou sobre Quincey, levando as duas mãos acorrentadas ao pescoço dele, projetando toda força do seu corpo sobre o dele que se desequilibrou e caiu para trás, a vampira montou sobre o peitoral do vampiro, enquanto as mãos firmes pressionavam sua traqueia com força, os olhos começaram a lacrimejar e não demorou para ela notar que chorava, se viu perguntando se era por novamente estar tendo que “matar” Quincey Harker, seu filho de outra vida, ou se era... Por todo ódio que nutria por Alucard.
Repentinamente sentiu uma forte dor nas costas, era Quincey projetando uma joelhada certeira que a fez se desestabilizar e cair para frente, aproveitando do alivio, o vampiro rolou pelo outro lado, ficou de joelhos, enquanto respirava com dificuldade.
- É... Isso... Então? – ele disse enquanto o ar retornava pouco a pouco – Vai me matar de novo, mãe? – Perguntou de forma irônica enquanto a encarava com os olhos em chamas.
Seras apoiou as mãos no chão, sentindo a areia fina afundar seus dedos, e com dificuldade pela pancada nas costas, se ergueu, não sentia sua força plena, não como era antes ao menos. Era como os poderes que tinha quando era recém transformada na Hellsing. A vampira reuniu toda força que podia no momento e se levantou, observou as correntes nos braços, a ligando a Quincey e perguntou-se se era possível mata-lo novamente, era possível matar aquilo que já estava morto? Não importava a resposta, se fazer aquilo era a única coisa que a prendia dentro do seu próprio subconsciente, se era a única coisa que a impedia de acordar, ela precisava tentar. A vampira segurou as próprias correntes como armas e avançou em direção a Quincey, que apenas abria os braços para recebe-la, de uma forma estranhamente suicida, a vampira avançou sobre ele, enrolando as correntes de metal em seu pescoço grosso mais uma vez, enquanto fazia força em suas costas para asfixia-lo. Os olhos se enchiam de lagrimas enquanto percebia que Quincey sequer lutava, sequer levava as mãos ao pescoço, ele estava de joelhos com os olhos esbugalhados olhando no horizonte daquela praia, ele então ergueu o olhar em direção a Seras, encarando-a enquanto lagrimas de sangue escorriam de seus olhos vermelhos e esbugalhados.
Repentinamente a visão de mata-lo novamente fora demais para Seras, ela estava disposta a fazer de tudo para retornar a aquele mundo em que tanto amara, mesmo que tudo que acreditara que vivera ali tenha se provado apenas uma grande mentira arquitetada por seu mestre, o ser que ela gerava dentro de si naquele momento era filho de Alucard, era seu trunfo, e ela faria de tudo pela criança que ainda não nasceu... Menos... Assassinar novamente seu filho do passado. Matar Quincey uma vez já tinha sido demais para si mesma, para a alma que dividia com Mina Harker, ela não faria aquilo novamente. Não conseguiria.
A vampira largou as correntes enquanto seu olhar se fixava no horizonte da praia que pouco a pouco começava a clarear, lá longe, o sol nascia outra vez, como nunca antes havia acontecido desde que ela chegara, ouviu ao longe o som de Quincey tossindo, provavelmente tentando se recuperar de sua quase morte, se é que aquilo fosse possível.
- Por que... Parou? – ouviu a voz grossa do Quincey ecoar ao longe – Essa era sua chance.
- Você sabe porque – ela disse com o olhar vago na imensidão daquele mar azul.
Um silêncio extremamente longo se seguiu, até a vampira ouvir passos a sua direita, era Quincey arrastando os pés enquanto parava ao seu lado.
- A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. – Ele falou pausadamente, como se dissesse aquilo para si mesmo – Albert Einstein disse isso, sabia?
A Vampira balançou a cabeça negativamente.
- Você podia ter me matado, só para saber. Foi assim que Alucard retornou para você e Integra quando Schondinger contaminou seu sangue, ele matou todas as almas dentro dele.
- Hum...
- Mas não matou – ele falou – Mesmo após essa minha atitude desesperada de ter sua companhia, mesmo com essa nova vida crescendo dentro de si precisando de você... – repentinamente a mão pálida de Quincey surgiu diante do olhar de Seras, fazendo-a desviar o olhar do mar e erguer para ele, por fim, ela aceitou, depositando sua mão feminina sobre a dele, que a ajudou a se erguer novamente, quando ela encarou-o novamente, suas sobrancelhas cinzas estavam retas e seus olhos vermelhos estavam tão claros que pareciam rosados – Você me escolheu – ele disse por fim, dando um sorriso sutil que ela nunca havia visto antes – ele repentinamente levou a mão dela a seus lábios e a beijou, fora nesse momento apenas que Seras notava que as algemas que os ligavam havia desaparecido de seus pulsos.
- Está... Me libertando? – Ela perguntou desconfiada.
- Estamos na sua mente – Quincey respondeu – Aqui tudo é uma ilusão, a praia, esse nascer do sol... As algemas não eram diferentes.
- Mas então...
- As algemas eram suas, Seras – Ele disse com sinceridade – não fui eu que as criei, eu apenas usei sua culpa para materializa-las, apenas isso.
- Está me dizendo que eu mesma me acorrentei?
- De certa forma, sim, mas não tiro minha culpa nisso – Ele disse enquanto segurava sua mão – Eu as invoquei, porém elas eram uma ilusão, assim como tudo que está aqui, você podia ter saído a qualquer momento, mas...
- Minha culpa me mantinha presa a você. – Ela completou a frase dele enquanto sua mente se abria para as revelações.
- E agora está livre dessa culpa – ele falou enquanto observava seus dedos femininos tocando-as com cuidado – Acredite Seras... – Quincey a encarou profundamente – Você também me libertou.
Havia algum tipo de emoção em seu olhar que Seras não conseguiu reconhecer no momento, mas pela primeira vez ela olhava para Quincey Harker e não havia mais culpa, remorso, medo, desprezo, raiva... Naquele momento, ele era apenas seu filho de uma outra vida.
Inesperadamente suas pernas vacilaram enquanto a visão do belo rosto quadrado de Quincey ficava turva, uma dor forte em seu ventre a fez vacilar e quase cair, sendo amparada pelos braços dele por um momento, o céu iluminado se escureceu completamente, desaparecendo junto com toda aquela praia, tudo a volta de ambos ficou escuro, completamente negro, não havia distinção entre céu ou terra, era apenas um grande vácuo negro, não que Seras Victoria conseguisse notar, a dor dentro de si era alucinante demais para prestar atenção na inexistente paisagem, ela gemeu alto enquanto segurava o braço musculoso de Quincey.
- O que... Está acontecendo? – Ela falou com dificuldade enquanto outra onda de dor a invadia como uma onda.
- Me parece... – Quincey falou enquanto segurava sua cintura, tentando-a manter em pé – Que essa criança vai nascer.
- Eu... Não! – Ela gritou alto enquanto a dor se tornava cada vez maior – Não pode! Não agora... Mestre... Ele...
- Acho que não é você quem decide isso, Seras – Quincey falou próximo a seu ouvido – Está na hora de acordar, finalmente.
- Não posso... Eu... Não consigo... – Disse enquanto lagrimas se formavam em seu rosto junto com o medo crescente do desconhecido que estava prestes a encarar dando à luz ao primeiro ser vampiro da história.
Repentinamente sentiu as duas mãos grandes de Quincey em cada lado de seu rosto, forçando-a a encara-lo.
- Me escuta Seras, eu estarei com você – Ele disse firmemente.
- Me responda uma coisa... – A vampira disse com dificuldade enquanto havia alguns segundos de sanidade até a próxima dor da contração – Essa criança... Tem algo a ver com o fato de eu ter bebido todo seu sangue? De eu ter te matado?
- Eu não sei – Ele disse rapidamente enquanto balançava a cabeça negativamente – Talvez o fato de ter absorvido a alma de seu filho da sua vida passada pôde ter sido capaz de ter causado esse bizarro milagre. Mas... São tudo suposições.
- Sim... Argh! – A vampira fez uma careta enquanto apoiava ambas mãos nos ombros largos de Quincey, segurando-o com tamanha força que ela achava que seria capaz de quebrar seus ossos, com sorte, o vampiro era resistente o bastante.
- A verdade é que nada disso importa, Seras – Ele falou por fim enquanto a observava sofrer de dor – Eu estou aqui e faremos isso juntos. Olhe para mim.
Seras o obedeceu, encarando-o profundamente enquanto a dor em seu ventre era tão forte que sentia que seria rasgada por dentro.
- Está na hora de você retornar, essa criança precisa da mãe agora. Então... Acorde.
AGORA!
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