Impaciente, Stênio tenta dormir e desiste. O advogado ajeita-se mais uma vez na cama e respira fundo, soltando o ar de forma afobada. Apesar do quarto estar mergulhado na escuridão, a delegada consegue ver a silhueta do amado quando ele senta na beirada cama.
– Algum problema? – a chefe de polícia pergunta, preocupada.
– Não – ele resmunga.
– Está sentindo dor na cirurgua, Stênio?
– Não!
– Stênio...
– Não precisa se preocupar comigo, Heloísa. – ele dispara de forma rude.
– Não estou me preocupando, apenas fiz uma pergunta e se você não quer responder tudo bem. Só não vem ser grosso comigo.
– Ué, não é de grosseria que você falou que gosta?
– O quê? – ela não entende.
– Homens da caverna são estúpidos, não são?
Ao ouvi-lo, a delegada consegue entender o que estava acontecendo.
– Você ouviu minha conversa com a Creusa?
Ele não responde o que ela interpreta como um sim.
– Claro que ouviu.
– Estava indo na sala e ouvi, ainda bem. Agora sei que você preferia ter casado com um homem diferente de mim.
– Stênio, eu não disse isso.
– Disse, eu entendi muito bem Heloísa.
– Para de me chamar de Heloísa. – ela esbraveja ao pedir.
– Eu não quero discutir com você essa hora da noite, ok Doutora?
– Stênio, não estou discutindo. Você ouviu uma brincadeira e...
– Existe um ditado que diz: É nas brincadeiras que são ditas as maiores verdades.
– Ah para, deixa de ser bobo.
– Sou bobo sim. Bobo, idiota, imbecil, carente e burro.
– É um burro sim, tenho que concordar. Burro em ficar chateado porque me ouviu dizendo uma bobagem da boca pra fora.
– Será que é da boca pra fora mesmo?
– Claro que é, meu filho. – ela sorrir ao responder.
– Uhm! Sei!
– Até porque se quisesse exxxtar casada com outro tipo de homem, eu estaria. Acontece que tenho um fraco por um certo chato e manhoso, sabe? Não sei, não sei que feitiço foi esse, mas têm uns vinte seis anos que amo um carente.
– Ama nada.
– Meu querido, pra aguentar tua manha toda... só amando mermo.
– Tudo bem se não quiser aguentar, você pode correr atrás do homem das cavernas.
– Não se preocupa que não faço a linha Bianca, apesar de ter dito isso pra Creusa... foi brincadeira, eu prefiro mil vezes um dramático.
– Não sou dramático. Posso ser carente sim, mas não faço drama.
– Não, não faz. – ela liga o abajur e também senta na cama.
– Você está sendo debochada.
– Sim, estou. – ela dispara e de repente fica seria – Stênio, desculpa ter dito esse tipo de brincadeira. Não queria que tu tivesse ouvido e se magoado, desculpa. Sinceramente? Acho um saco esse clima pesado entre nós dois, pow. Sei que tenho minha parcela de culpa, fui um pouco impaciente esses dias, mas não é nada contigo. Esse caso realmente vem me tirando o sono. Amanhã tomarei depoimento do principal suspeito, eu passei o dia montando um esquema de coisas que preciso questionar ao cara e tudo mais. É um deputado, é uma pessoa pública e são crimes muito graves. Fui grossa contigo? Fui! Peço desculpas mais uma vez. Cabe a você desculpar ou não. Por favor, não leva a sério o que falei pra Creusa e não leva a sério meu estresse dos últimos dias.
– Você ficaria chateada se eu dissesse que preferia ter casado com uma mulher mais doce e mais romântica?
– Dou na tua cara se tu ousar dizer isso.
– Eu jamais diria, até porque amo sua voz de comando e ... – ele baixa o olhar antes de voltar a falar – Desculpa ter sido infantil, fui muito. Eu estou apavorado e apreensivo com o resultado dessa cirurgia, me sinto impotente, me sinto... sei lá explicar.
– Você não é menos homem só porque fez essa cirurgia, Stênio.
– Sinto um desconforto e medo de não conseguir ter o... – ele envergonha-se e não conclui a frase.
– Medo de não ter o mesmo desempenho sexual, é isso?
– É! – o advogado confessa.
– Que bobagem, cara Tenho certeza que assim que essa recuperação passar, tu voltará a ser aquele monstro na cama. – ela cochicha para ele e tenta roubar um selinho.
– Ah Helô! – ele foge do contato.
– Está me negando um beijo, Dr. Carente?
– Uhm! – ele resmunga.
– Xxxtênio, não banca o durão que eu sei... tenho certeza que no fundo tu tá maluco pra ganhar muito beijo, muito carinho.
– Não quero beijo.
– Quer sim! Sei que quer.
De joelhos na cama, a delegada o abraça por trás. O advogado continua sentado na beirada da cama e acaba se rendendo quando ela inclina-se e espalha vários beijinhos por seu rosto.
– Vamos ficar bem, vamos? Stênio... não processa o que falei, não absorve porque foi só uma brincadeira. Vamos zerar aqui e agora? Podemos voltar ao nosso climinha de amor de antes.
– Você que quebrou nosso climinha ficando chata e impaciente comigo.
– Tá bom, aceito que fui a carrasca. Agora posso ou não me redimir? Uhm?
– Não sei. – ele faz charme, mas abre um largo sorriso que é coberto pelos lábios dela que avançam em um beijo cheio de amor.
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