Percebendo o marido muito quieto enquanto assiste o jornal, a delegada senta ao lado dele, tendo o cuidado para retirar os óculos de grau que ele usava, e só então passa a espalhar beijinhos por todo rosto dele.
— Uhm! — Ele resmunga, sorrindo ao receber aquele chamego.
— Que foi meu velhinho? Estou te achando muito quieto.
— Nada amor.
— Como nada, Stenio?
— Ficou triste porque não será pai de novo?
— Não é isso.
— O que é, então? Fala para sua Helosinha.
— Se eu te chamo de Helosinha, você reclama.
— Reclamo mexxxmo, estou falando assim para tentar te animar. Diz, conta porque está todo silencioso.
— Dor na coluna. — Ele confessa.
— Dor? Assim? Do nada, Stenio?
— É que... quando você me chamou para dizer que não estava grávida, acabei escorregando no tapete.
— Não acredito. — Ela acaba gargalhando.
— Fiquei tão atordoado com a notícia que você deu, que não quis falar sobre o tombo.
— Agora entendi o porquê tu estar andando estranho agora a pouco.
— Deu para perceber? — O advogado pergunta manhoso.
— Claro que deu, meu amor. — Carinhosa, a chefe de polícia esfrega o nariz ao dele. — Podia ter dito antes, tinha pedido para o Pepeu ir na farmácia comprar alguma coisa para você tomar. Ou pedido para entregarem aqui.
— Creusa já me deu um relaxante muscular.
— Aham, aham.
— Acho que daqui a pouco faz efeito.
— Quer uma massagem? — Ela pergunta
— Não precisa, amor. Fica comigo assistindo o noticiário.
— Não se fala em outra coisa que não seja o vírus.
— Drica hoje estava falando em voltar para casa.
— Ah Stenio, eu não acho uma boa ideia. Aqui a Alice brinca com o Miguel, Drica e Creusa se divertem cozinhando lá no blog dela. Pepeu está conseguindo trabalhar de casa. Está tudo tão bom do jeito que está.
— Ela acha que está incomodando. — O advogado fala.
— Até parece. — Helô revira os olhos. — Não vão embora de jeito nenhum. Quem vai continuar nos acordando ao pular na cama se não for a Alice?
— Helô, poderíamos ter uma casa bem grande e todos morando juntos.
— Não conseguiria desapegar desse apartamento, Stenio.
— Tem muita casa linda em condomínios seguros, amor.
— Eu sei, mas não gosto de pensar em sair daqui. — Ela confessa. — Esse apartamento tem muita história para contar.
— Muitas histórias mesmo. Quantas vezes fui expulso daqui?
— Quantas vezes tu invadiu e acabamos desfrutando de noites e noites de amor?
— Foram tantas coisas que já passamos.
— Pois é! — Ela suspira.
— Que foi, Helô? Esse suspiro foi alguma lembrança ruim?
— Só pensei que... enquanto estamos aqui conversando, relembrando o passado, e com a família toda em segurança... tem tanta gente sofrendo. Em casa, sozinho, com parentes no hospital.
— Você está falando do seu amigo?
— Também, Stenio. O Otávio faz parte dessas pessoas que estão em situação difícil. Desejo muito que tudo isso passe logo. É bom trabalhar de casa e ficar perto de quem amamos o tempo todo, mas muito melhor é ter a vida correndo normalmente.
— Tudo passa, amor. Logo isso tudo acaba e voltamos a vida normal. — Ele conforta a esposa, aconchegando-a em seus braços.
— Enfim, 9 papo está ótimo, o chamego também, mas preciso colocar ordem naquele quarto. Pepeu tá bagunçando tudo com Alice e Miguel. Já está tarde, melhor fazer essas crianças dormirem.
— Queria te ajudar, mas... A coluna não está boa pra isso.
— Fica aqui, Stenio. Assim que as crianças dormirem, volto para namorar um pouco.
— Namorar hoje? — Ele faz careta e ela o presenteia com um selinho.
— Bobo! Não é o que você está pensando. Podemos namorar só de beijinho, sabia?
— Relembrar o tempo que você me torturava e não íamos até o fim?
— Eu era uma menina inocente naquela época. — Ela se defende, levantando e fazendo charme antes de sumir em direção ao quarto do filho.
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