Carol era minha amiga de infância. A garota morava dois andares acima do meu, desde sempre. Íamos para a escola e voltávamos juntas todo santo dia. Depois que ingressamos na faculdade nos afastamos consideravelmente. Carol era do tipo que não tinha papas na língua. Só não arrumava briga por onde passava porque tinha tantos amigos que até Deus duvidava. Andar com ela era como andar com algum político, ou com mamãe. Ela cumprimentava um ser a cada meio metro de caminhada. De certo modo nos dávamos bem por sermos basicamente o oposto uma da outra.
Durante a tarde Cecília foi trabalhar. Avisou que chegaria novamente pela madrugada e baixou o aviso "se eu te ligar, atenda!".
Arrumei-me depressa num vestido preto e um vans oldschool básico, preto. Escondi um pouco das olheiras com pó e máscara de cílios e estava pronta.
A campainha tocou. Era Carol. Ela chacoalhou as chaves do carro nas mãos empolgadas.
Descemos pelo elevador…
-Como vai o curso? - Perguntei, curiosa, já que há quase um mês não tive notícias de Carol.
Carol terminava de passar seu gloss no espelho do elevador. Ela bufou e revirou os olhos assim que ouviu minha pergunta.
-Ai sabe, Direito é um saco… - Ela disse, com seu jeito paty girl de ser, me fazendo rir.
-Se formará quando? - Perguntei
-Daqui um ano - Ela completou - Vou fazer uma festa gigante, escuta só Ju…
A porta do elevador abriu-se antes que chegássemos no térreo.
Marcos e Heitor adentraram ali. Eram conhecidos do condomínio. Quando eram crianças costumavam brincar pelos arredores do condomínio, nós quatro. Conversamos até a garagem do prédio, quando eles despediram-se com um beijo e um abraço.
Carol dirigiu até a casa de Tiago, na região de Guarulhos, especificamente no bairro dos Pimentas, bem perto do shopping Bonsucesso. Carol era agitada demais para pilotar um carro, passou duas vezes pelo farol vermelho, de tanto que conversava e não prestava atenção na direção. Agradeci assim que ela estacionou na garagem da casa de Tiago.
-Finalmente ilesas - Resmunguei, ao sair do carro.
-Engraçadinha - Carol disse, teimosa.
Ouviram um som alto vindo de dentro da casa de Tiago. Carol pegou o celular e certamente passou uma mensagem a Tiago, que logo apareceu ali.
Ele tinha um copo em uma mão e um vape na outra. Cumprimentou-me e depois beijou Carol nos lábios.
Tomei meu rumo adentrando a casa dele. O ambiente estava escuro e barulhento. Havia pelo menos 15 pessoas ali. Eu reconhecia algumas justamente por ser conhecidos de Carol. Cumprimentei um a um, alguns com mais cautela, pois os conhecia melhor.
Tiago logo ocupou minha mão e a de Carol com um copo de gummy, que apressei-me em beber. Logo envolvemo-nos em uma rodinha de pessoas que passavam um baseado um tanto quanto grande. Dei o equivalente a uns dois tragos.
Tiago era o cara mais chato da roda. Eu não entendia o que Carol via nele. Só sabia falar de futebol, que sequer era brasileiro; e a cada 20 palavras que ele falava, 5 eram "quebrada". Eu não sabia exatamente o que me dava aversão a ele, já que todos pareciam achá-lo muito engraçado.
Sentei-me ao lado de alguns desconhecidos no sofá da sala, bebericando aquela bebida doce e aparentemente inofensiva.
Tiago e seus comparsas aproximaram-se de cada ser que habitava a sala de estar, dando shots de tequila a quem ali estivesse. Inclusive para mim, para a vibração de Carol.
Não demorou para que eu me sentisse zonza. Parti para o segundo copo de gummy. A música foi trocada para funk, e Carol, desinibida, foi quem começou a dançar, abrindo uma região de dança no centro da sala, onde mais duas garotas a acompanharam remexendo o corpo e fazendo coreografias do tiktok. Eu, careta, fiquei observando, mas só até o quarto shot de tequila.
Guilherme, um garoto que não desgrudava-se de Tiago, aproximou-se sorrateiramente enquanto eu dançava com Carol. Aproveitou-se da minha condição alcoolizada e só precisou de uma cantada sem graça e uma boa pegada, para que tirasse de mim um beijo.
Cecília ligou por volta das 2h30 da madrugada.
-Sim… Vou dormir na Carol - Respondi, tentando não parecer muito bêbada
-Você não está bebendo está?
-Só tequila, mamãe - Brinquei, esperando que mamãe entendesse que "sim, mas estava tudo bem"
Cecília resmungou - Me avise quando chegar, Julie… - E desligou o celular em seguida.
Segui para a cozinha, preparada para encher meu próximo copo.
Guilherme, com seus quase 1,80 de altura, magro e muito branco, me seguia. Ele usava um boné, que escondia, talvez, a parte mais bonita do seu corpo, seu cabelo encaracolado louro. Encarei as tatuagens que cobriam seu braço. Era todas estilo sketch, coisa que eu achava um pouco brega. Eu tinha apenas quatro tatuagens pelo corpo, todas elas bem discretas, estilo old school, exceto por uma grande rosa vermelha no antebraço direito.
Fiquei intrigada ao notar que uma das tatuagens de Guilherme era do Rick e o Morty, uma das minhas série favoritas.
-Tattoos legais - Falei, enquanto ele enchia novamente seu copo de gummy.
Ele sorriu.
-Olha essa… - Ele disse, virando-se de costas e erguendo a camiseta.
Deixou as costas largas à mostra.
Suas costas estava sendo coberta por um grande dragão. Achei ainda mais brega, mas ainda sim o traço era muito bonito. E sua pele branca realçava muito bem a tinta preta.
Toquei levemente meus dedos pelas costas dele e o vi arrepiar. Ele virou-se num riso.
Pegou a garrafa de tequila na pia e sussurrou…
-Vamos lá… shot de tequila pra todos - Ele foi animado para a sala, onde as luzes estavam apagadas e o som tocava alto.
Passou de boca em boca, forçando todos ali a beber. Eu o acompanhei, me divertindo com a farra.
Após passar por todos ele virou-se para mim.
-E… falta você - Ele disse sacana.
Virou o líquido amargo em minha boca, despejando uma quantidade consideravelmente maior do que havia feito com as outras pessoas. Depois disso beijou-me antes mesmo de me deixar terminar de engolir o álcool. Ele queria, como nunca, me arrastar para o quarto de Tiago. Mas neguei algumas vezes. Aquele era um dos motivos pela qual eu não gostava de sair com garotos de idade semelhante. Eles eram apressados demais, e geralmente fazia o trabalho bem porcamente.
Carol passou-me o baseado que ela segurava. Baseado este que fiquei em posse por quase meia hora.
Misturar coisas não era o meu forte.
Eu já me sentia muito fora do controle quando finalmente Guilherme me arrastou para o último quarto da casa. Nos esbarramos em alguns objetos pelo caminho, como a cadeira gamer de Tiago, e seu guarda-roupa, antes de cairmos na cama.
Senti minha cabeça girar. Não consegui me concentrar em Guilherme, que apressadamente tirava-me a calcinha e posicionava-se entre minhas pernas.
Ele ficou ali alguns instantes.
Senti o enjoo muito forte me acometer.
Porque beber tanto Julie? Perguntei-me.
Minha visão ficou turva.
Vi o vulto de Guilherme, notei que ele tirou suas próprias roupas com pressa e apenas se preocupou em levantar meu vestido na altura da cintura antes de me foder.
Eu me sentia muito desconfortável. Estava muito chapada, e impossibilitada de fazer aquilo.
-Guilherme… - Tentei desenvolver uma frase decente - Devagar…
Ele arqueou-se para o lado e pegou seu próprio celular. Senti um flash no meu rosto.
-Pare! - Murmurei, colocando a mão na frente daquela luz horrenda, que me ardia os olhos.
Ele continuou alguns segundos, viajando aquela luz pra cima e pra baixo enquanto metia. Depois a apagou.
-Pare, Guilher… - Pedi mais uma vez, tentando o empurrar para longe de mim com as pernas.
-O que? - Ele questionou provavelmente ao ver que eu me movimentava de forma estranha…
-Quero que saia - Falei com muita dificuldade.
Depois senti minha consciência esvair-se, como se pegasse num sono pesado.
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