No dia seguinte, assim que desembarcamos no Rio de Janeiro, entregamos toda a nossa documentação para a atendente do checkin, que estava disposta a fazer tudo aquilo com agilidade.
Obrigada… obrigada... Eu repetia eu a ela.
Mas o trabalho rápido e eficiente dela foi interrompido por uma súbita queda de energia no aeroporto. Caralho... resmunguei no mesmo instante, sem querer.
Olhamos ao redor, todos ali olhavam para o alto, esperando que aquele ato gerasse algum efeito.
-Qual é mesmo o protocolo? - Perguntou a atendente, num cochicho, para uma segunda atendente, do guichê ao lado.
Ela deu os ombros, bufando.
As luzes de emergência se acenderam, tornando o ambiente todo amarelado e em seguida uma voz alta, masculina, foi emitida pelos alto-falantes:
"Senhores e senhoras, estamos aguardando orientações para dar continuidade aos processos."
Para meu desassossego, permanecemos ali por mais de meia hora até que tudo fosse retomado cautelosamente.
-Nunca levou tanto tempo assim... - Disse a atendente a mim.
-Jura? - Resmunguei - Que merda…
Demos entrada no hotel por volta do meio dia. Era o hotel mais bonito da Barra da Tijuca, e bastante próximo do local do evento. Adentrar aquele ambiente me fez ficar ainda mais ansiosa com aquilo tudo.
Aquela era a primeira noite de evento, mas o clima geral era tenso, devido ao problema dos cortes repentinos de energia. Mesmo com o governador aparecendo em rede nacional e confirmando que nada de errado aconteceria com o evento, ninguém conseguia digerir bem aquilo.
Assim que chegamos nas coxias do Palco Mundo fomos recepcionados por alguns seguranças e organizadores que corriam de um lado para o outro, comunicando-se através de walkie-talkies.
-TV Gazeta, certo? - Um deles perguntou, ao nos ver ali, um pouco perdidos entre tamanha grandiosidade.
-Sim… - Guto respondeu prontamente, ansioso para encontrar o nosso espaço e arrumar todo aquele equipamento que carregávamos.
-Sou Julie… Julie Schultz… - Falei, o cumprimentando.
-Sou Julio, estou guiando as redes por aqui… - O rapaz disse, prestativo - Sigam-me, por favor!
Seguimos por um longo corredor, com muitas portas na cor branca. O corredor estava um caos havia caixas de som e amplificadores em cada canto.
Adentramos uma das portas que tinha o nome "TV Gazeta" impresso, em fontes garrafais. Nossa porta estava entre a porta com o logo da TV Globo e outra da MTV.
Julio tirou algumas pulseiras do bolso e as colocou em nosso punho. Nas pulseiras tinham as palavras "Gazeta - acesso A".
-Não percam essas belezinhas… - Ele completou sorrindo a nós.
Balancei num sim e o entreguei o cronograma de nossas entrevistas a ele.
Nosso local da trabalho já estava parcialmente arrumado. Havia um quê de rock n' roll aesthetics naquele ambiente, o que me deixava muito confortável. Guto começou a ligar e posicionar nosso equipamento de filmagem frente a uma parede branca, que tinha uma grande letreiro vermelho neon com o nome "rock in rio". Havia muitos puffs vermelhos e fofos ali, que me apressei em ajeitá-los.
Em seguida nos apressamos em ajeitar ali alguns aperitivos como amendoins, salgadinhos e azeitonas. Paola enchia o frigobar com cerveja, água, energético, e para a minha surpresa, duas garrafas de tequila.
Os dias sucederam-se bem. Eu adorei notar as peculiaridades de cada artista que adentrava ali. Alguns bebiam cerveja e até se arriscavam na tequila, e outros, mal olhava-nos verdadeiramente nos olhos. Apesar de tudo, a maconha de Paola foi bastante útil após o expediente. Eu não sabia como conseguiria dormir sem a droga que ela sempre compartilhava comigo.
(...)
No antepenúltimo dia de evento, numa quarta-feira, Carol enviou-me algumas mensagens por whatsapp...
-Você não acredita, Ju…
Carol✨ está digitando…
-Tem como nos encontrarmos amanhã? Vou ir ver a Rihanna ��
-Não brinca?! Claro, vou te passar o endereço do hotel. Que horas você chega? - Perguntei
Carol✨ está digitando…
-Ao meio dia…
-Combinado
(...)
No outro dia desci até o saguão assim que Carol avisou que o Uber já se aproximava do hotel.
Carol vestia um vestido justo, rosa choque. Tinha uma bolsinha de brilhante chacoalhando no punho e uns óculos escuros no rosto.
Beijou-me com seus lábios gosmentos, devido ao gloss, na minha bochecha.
-CAROL! - Resmunguei… Limpando-me imediatamente.
Ela olhou ao redor.
-Você está hospedada aqui? - Ela perguntou, um pouco boquiaberta.
-Vamos… - A puxei para dentro.
Carol só desfez sua mala para vestir-se num biquíni bem pequeno e aproveitar a piscina do hotel. O dia estava quente, por isso, Carol não precisou insistir muito para que eu fosse acompanhá-la.
-Você está mesmo precisando de um sol, ein, Julie - Disse Carol assim que me despi na beira da piscina.
Encarei minha pele branca e ri da forma como ela falou, sem tirar a razão dela.
Permanecemos ali por quase meia hora quando o sol foi encoberto por nuvens um tanto quanto suspeitas.
Subíamos com o elevador quando fomos atingidas pela realidade.
O elevador parou abruptamente, dando um chacoalhão estranho.
As luzes dele se apagaram.
-Ops - Resmungou Carol… - É a energia, certo?
-Deve ser - Falei de volta.
-Vai voltar depressa - Carol falou, otimista.
Carol voltou-se para seu reflexo e ficou ali espremendo cravos e espinhas.
Comecei a levar aquilo a sério quando 25 minutos depois não tínhamos sequer sinal de que algo estava sendo feito para resolver aquilo.
Apertei todos os botões do elevador, num ato desesperado de tentar sair dali.
-Ei, calma Julie - Carol falou ao me ver num ataque de nervos.
-EI, ESTAMOS PRESAS - Eu gritei entre a fresta da porta do elevador.
Mas nada aconteceu.
Peguei meu celular e…
-Sem sinal… o seu tem sinal? - Perguntei a Carol
Carol puxou o aparelho dela e depois balançou num negativo.
Não havia sequer jeito de andar de um lado para o outro naquele cubículo 3x3. Tive que sustentar minha irritação em pé e imóvel. Começando até a me sentir claustrofóbica, se é que era possível;
Olhei ao redor, minuciosamente, para ver se encontrava algum botão de emergência ou alguma saída.
-Não está procurando alguma saída de emergência no elevador, está? - Carol disse num riso, zombando-me.
Bufei, escolhendo não respondê-la.
Para minha irritação, só conseguimos escapar daquele elevador meia hora depois, quando tudo foi reestabelecido.
Naquela noite Carol acompanhou-me para o local do evento. Ela estava empolgada para ver o show da Rihanna e mais entusiasmada ainda para conhecê-la.
Infelizmente meu tempo era muito curto e eu quase não conseguia apreciar os shows como era devido. Em todos os shows, desde o início do evento, eu consegui acompanhar poucas músicas, o que me deixava, em parte, um tanto quanto triste.
Assim que Rihanna saiu dos palcos, a aguardamos por meia hora no local de gravação. Bebíamos cerveja como loucos. Paola já estava bastante bêbada quando Carol apareceu para acompanhá-la na bebedeira.
Por volta das 4 da madrugada Rihanna deu dois passos para dentro da nossa pequena sala. Ela havia tirado os sapatos e usava apenas meias. Fumava um baseado muito grande e muito cheiroso. Mesmo aparentando cansaço, ela cumprimentou todos e foi muito simpática.
-Vocês aceitam? - Ofereceu-nos ela, aquele baseado gigante.
Quem não aceitaria?, pensei comigo.
Tive que me conter e me concentrar para não ceder aos efeitos que a maconha me causava, que em síntese era fome, tesão e vontade de rir.
-Olá, boa noite telespectadores… Estamos com Rihanna, nossa heroína nacional, nossa princesa do pop, como está? Como foi o show? - Perguntei, sorrindo a ela.
Rihanna olhou-me com os olhinhos bem cerrados e vermelhos…
-Foi espetacular, os meus fãs brasileiros são os melhores… o Brasil é o melhor…
-Estamos hoje trazendo à tona a memória do nosso queridíssimo Michael Jackson… Que era um cara que eu considero muito parecido com você… Rei, forte, negro, talentoso…
-Obrigada, querida - Ela interrompeu, com um sorriso frouxo.
-...Você acha que o Michael estaria fazendo feat. com quem hoje? Você consegue imaginar, por exemplo, Michael feat. Anitta?
Rihanna riu. Deu um trago e depois um gole na cerveja.
-Eu não sei… Já imaginou, Michael feat. Billie Eilish?
Rihanna riu, eu a acompanhei, chapada.
Ela retomou o fôlego.
-Michael estaria fazendo feat. com qualquer pessoa, ele era um músico flexível. Isso fazia dele quem ele era, sabe?!
Ao fim daquela noite Carol voltou para o hotel maravilhada. Anestesiada e fascinada. Não parava de relembrar os últimos acontecimentos e de repetir a palavra "surreal" seguida de um suspiro longo.
-E amanhã? Com quem vai se encontrar? - Perguntou Carol, antes de aquietar-se para dormir
-Guns n' Roses...
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