História Her soulmate - Capítulo sessenta e seis

Me despedir de Axl naquela madrugada foi certamente uma das piores coisas que eu já tive que fazer. Notei isso assim que voltei para a cama para tentar dormir o restante daquela noite e não consegui pregar os olhos. Tudo que consegui foi me remexer por umas 3hrs pelos lençóis, lutando contra minha inquietude.

-Ei, porque demorou? - Perguntei quase instantaneamente quando me aproximei do carro de Kat naquela tarde.

Ela olhou às horas na tela do celular.

-Não demorei, na realidade... nunca estive tão pontual! - Kat murmurou num risinho fraco.

Olhei para a tela do meu celular. Era 11h08. Realmente, pensei. Eu não sabia o que eu estava dizendo. Adentrei o automóvel me sentindo nada empolgada com aquilo tudo. Kat, pelo contrário, falou sobre aquilo até chegarmos no referido estúdio em que encontraríamos LaChappelle. Eu tinha uma pequena GoPro comigo que logo decidi ligar e começar a registrar tudo que eu podia. Eu realmente não sabia o que fazer com aquilo de fato, mas eu sabia que eu tinha que elaborar uma cobertura de todo o trabalho de Chappelle, então quem sabe parte daquilo ficasse minimamente bom para fazer parte de alguns registros.

Assim que saímos do carro, já dentro do estacionamento de um prédio de pouco menos de cinco andares, caminhamos para dentro dele. Tudo ali estava calmo demais. E só deixei de acreditar que estávamos no lugar errado quando Kisha apareceu no pequeno saguão de entrada. Ela nos cumprimentou risonha e praticamente nos puxou para o último andar do edifício. Kisha pareceu um tanto curiosa para saber da vida de Kat, e eu não entendi o real motivo daquilo.

-Ele está num momento que ele chama de Momento Lume...

Kisha encarou minha GoPro na altura do peito e gesticulou com a cabeça me dando a entender que era pra eu guardá-la.

-Estou colhendo material para a cobertura - Expliquei ríspida.

-Me desculpe, Julie, é que LaChappelle prefere lidar tudo isso de uma for...

E a porta foi escancarada por David.

-Porque estão conversando aqui fora? Entrem! Vamos - Chappelle nos apressou para dentro.

-Mas... - Kisha interrompeu-nos - A câmera!

Mas nada valeu a pena. Eu já estava dentro e Kat também. Adentramos então aquele apartamento enegrecido pela ausência de luz.

Forcei os olhos para conseguir entender o ambiente ao meu redor. Vi bem na ponta do apartamento uma poltrona redonda e grande que talvez tivesse a cor preta, ou marrom. A luz do sol estava praticamente imperceptível. Tudo que iluminava o ambiente era uma grande luminária de fotografia profissional apontada para o fundo preto do estúdio, ao lado das duas grandes câmeras fotográficas profissionais num tripé. Meu nariz ardeu assim que dei alguns passos adentro. Tudo cheirava uma mistura de vela e álcool.

Vi a silhueta de Chappelle caminhar até a poltrona. Sua mão chacoalhava um copo raso de uísque e um charuto pendia em sua boca. Kat vibrou ao meu lado escondendo-se parcialmente atrás de mim, como se ficasse intimidada.

-Posso deixar minha câmera aqui? - Falei, colocando-a ao lado do tripé de fotografia.

-Sim... Certamente - David murmurou - Pode ir tirando suas roupas... O seu tapa-sexo está junto do roupão, bem ali - Chappelle disse apontando para outra apontrona á vista.

-David, essa é Kat, ela está aqui para me ajudar e também para te conhecer...

-Sou sua fã, sou obcecada no seu trabalho! - Katarina disse interrompendo-me e logo esticando-se para chacoalhar a mão de LaChappelle.

-Ok... Ótimo... Ótimo - David disse sem expressar muitas emoções.

-Vou me preparar... - Falei indo rumo ao roupão.

-Julie... Apenas não passe nenhuma maquiagem, ok? E também não mexa nos seus cabelos, eu é quem vou mexer, certo? - Chappelle disse, bebendo numa última golada o restante da sua bebida em seguida.

Vi ele tragar seu fumo e senti o cheiro de fumaça amadeirada adentrar meu nariz me deixando levemente enojada. Por mais que eu achasse aquilo tudo muito sexy, todo aquele cheiro me causavam náuseas.

Tirei as roupas devagar observando Kat conversar bem próxima de LaChappelle. Era parecia mesmo empolgada. Eu sabia que precisaria ficar quase totalmente nua naquele ensaio por isso não poupei dinheiro numa depilação bem feita, brasileira, como conhecem aqui nos Estados Unidos. Ri ao sentir meu rosto arder de timidez quando fiquei completamente pelada frente à todos. Kisha, prestativa como sempre, ajudou-me com o tapa-sexo, mas ainda sim, eu estava desconfortável. Cobri-me depressa com o roupão em seguida.

Sentei frente a uma penteadeira escura e Kisha penteou meus cabelos deixando-os um tanto armados. Depois senti Chappelle e Kat se aproximarem. Fiquei em devido silêncio, apenas me atentando ao que eles conversavam entre eles, entretando Chappele parecia um tanto ríspido com a loira, respondendo secamente e me causando uma leve irritação que tentei conter a todo custo.

Permaneci em silêncio enquanto Chappelle passava algo parecido com pó de arroz no meu rosto e também no meu corpo.

-Você está linda, Julie - David murmurou após afastar-se de mim, observando-me com seu olhar clínico, como quem me avaliasse - Vamos começar!

Chacoalhei positivamente, ardendo envergonhada.

Levantei depressa.

A presença de Katarina ali fez uma diferença tremenda. Além de me tranquilizar ela se dispôs a tomar as rédeas da minha GoPro e filmar tudo que conseguia.

Por mais que eu fosse uma pessoa tímida e não me considerasse uma modelo, eu era boa em seguir comandos. Tudo o que Chappelle dizia eu ia lá e fazia. Certamente, para ele, trabalhar comigo tinha sido um tanto fácil. Eu sabia que meu senso estético não era dos piores, eu tinha certeza disso, mas estar à frente das câmeras me enchia de dúvidas e incertezas, por isso decidi confiar em David.

Terminamos tudo em quase 2 horas. Chappelle, apesar de um pouco embriagado, era rápido e decidido. Depois que terminamos ele disse que assim que tudo ficasse pronto eu seria a primeira a saber. A empolgação de David me deixou levemente curiosa e empolgada para ver o resultado daquilo tudo.

-Kat, que caminho é esse? - Questionei, após notar que Kat dirigia em direção ao centro da cidade de Los Angeles e não para Santa Mônica.

-Me desculpa, Axl insistiu - Kat murmurou entre os dentes.

-O que?

-Ele pediu que eu te trouxesse ao terapeuta que ele marcou, ele disse que sabia que você não ia desmarcar as fotos e que por isso eu estava incubida a te trazer - Kat explicou-se.

-Que fofo - Eu ri. Era óbvio que ele faria algo assim, pensei.

-Fofo? Tá mais para doentio! - Katarina murmurou bufante.

Eu a encarei sem compreender. E Kat continuou a falar...

-Quer dizer... Ele está trilhando seus passos?! Como se você fosse responsabilidade dele ou algo do tipo... Você acha isso normal?!

Eu dei os ombros me sentindo um pouco envergonhada de respondê-la com um inpensado "sim".

Kat pareceu inquieta com aquilo. Pareceu tentar continuar dizendo o que dizia, mas desistiu logo e engoliu algumas palavras não ditas.

-O que quer dizer com isso, Kat? - Perguntei, me sentindo perdida naquilo tudo que a loura dizia.

-Não importa, Julie...

-Kat!!! - Murmurei insistente, sentindo-me inquieta.

E ela chacoalhou como se também tivesse irritada com aquele assunto, o que me causou mais fervor ainda.

Kat abriu a porta do carro, vi ela tirar um cigarro da sua cartela de cigarros e enfiar um bem no canto da boca, encostando-se completamente a frente do automóvel. Saí atrás dela seguindo seus passos de forma quase que mimética. Também acendi um cigarro bem ao seu lado e a cutuquei.

-Fale! - Pedi firmemente.

-Julie... Sua mãe está com alguns problemas na gravidez. Ela pediu que não falassemos a você... Mas não posso te esconder isso... Por mais que você tenha seus problemas com ansiedade, eu sei que você é uma mulher adulta, e eu te vejo assim...

-O que mamãe tem? Porque ela não quis me contar? Axl sabe? - Perguntei tudo rapidamente, sentindo toda a extensão do meu corpo extasiar-se.

-A posição do bebê esta errada, ela terá de fazer uma cesárea, provavelmente... E sim, Axl sabe! - Kat disse encarando-me no fundo dos olhos.

Depois a loura continuou...

-Não acho justo que te controlem assim! - Kat murmurou - Não acho justo ter que te trazer aqui, nesse consultório que você sequer conhece! Vai se abrir com um terapeuta que é da confiança de Axl?! Não concordo...

Chacoalhei compreendendo.

-Ele disse que saberia caso você não viesse a consulta... - Kat murmurou.

Olhei para a entrada do consultório. Era requintado. Um tanto grande e logo notei que talvez Katarina estivesse certa.

Atirei o cigarro para longe com a absoluta certeza do que eu tinha que fazer.

-Pode ir para casa Kat... Peço um Uber depois que eu sair...

Kat não relutou. Fez exatamente o que eu havia pedido sem questionar.

Adentrei com passos longos aquele consultório gélido e claro.

Para mim era óbvio o que eu tinha que fazer para saber se Axl realmente tinha planos para além dos que eu conseguia observar. Era claro que eu já tinha notado que o ruivo era alguém bastante vigilante, mas até então eu não havia notado qualquer traço tóxico advindo daquilo. Pensar no que Kat havia dito também me preocupou. Quer dizer... Ela não falaria nada daquilo se realmente não tivesse refletindo sobre aquelas coisas todos, e isso me afligiu muito.