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História Hold me Tight - Fique bem logo - História escrita por KiitaT - Spirit Fanfics e Histórias
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História Hold me Tight - Fique bem logo


Escrita por: KiitaT

Notas do Autor


Olá! Como vão? :3
Mil desculpas pelo atraso. ;; Mas eu tenho dois bons motivos pra tal. Primeiro: eu tava escrevendo essa joça desde segunda, mas como sou uma pessoa que se distrai com facilidade, acabei demorando mais tempo que o necessário; segundo: amanhã irei viajar, e só volto na segunda. Ou seja, se eu postasse ontem e sexta, não teria como escrever o capítulo de segunda. D: Enfim, de qualquer maneira... olha só o tamanho dessa criança! @@ Juro que eu não aguentava mais olhar pra cara desse capítulo. UHASHUASUHA Agora fiquem ai com esse monstro disfarçado de fanfic.
P.S.: May, escrevi isso pensando em você. Espero que goste. <33
Boa leitura~!

Capítulo 30 - Fique bem logo


Fanfic / Fanfiction Hold me Tight - Fique bem logo

- Jimin POV -

Tudo que eu sentia no momento era medo. Eu estava de volta ao armazém abandonado, pendurado pelos pulsos como um pedaço de carne e completamente aterrorizado. Zelo me rodeava como um predador rodeia sua presa, umedecendo os lábios com a ponta da língua como um faminto que se preparava para o banquete. Após dar uma volta completa, Zelo parou diante de mim com um sorriso estranho e quase diabólico nas feições joviais. Seu punho chocou-se contra meu estômago num golpe certeiro, arrancando todo o ar de meus pulmões com o impacto, mas um segundo tarde demais percebi que suas mãos não estavam vazias. Senti algo cortar minha pele e perfurar minha carne com uma dor aguda, ensopando minha roupa com algum líquido morno. Desviei o olhar para assistir uma lâmina pontuda e afiada ser enterrada na minha barriga uma, duas, inúmeras vezes. Zelo esfaqueava-me com movimentos repetitivos e mecânicos enquanto sua risada maníaca ecoava pelas paredes. Exceto que, quando ergui o olhar novamente, não fora o rosto de Zelo que me saudara, mas sim o de Yoongi.

Acordei com um grito entalado na garganta e o coração martelando nos ouvidos. Assim que meus olhos frenéticos inspecionaram melhor o teto branco acima de minha cabeça e a realização de que tudo não passara de um terrível pesadelo caiu sobre mim, um suspiro aliviado escapara de meus lábios ao mesmo tempo que algumas lágrimas acumulavam-se no canto dos olhos. Fora apenas um pesadelo. Eu estava bem, estava à salvo. Yoongi estava comigo.

Com esses pensamentos em mente, tateei a cama em busca de calor humano quando só encontrei lençóis frios. Franzi o cenho e virei a cabeça na direção que deveria ter um garoto dormindo sonoramente, mas meus olhos não encontraram o menor sinal de Yoongi. Ele não estava ao meu lado na cama, nem em nenhuma outra parte do quarto, muito menos no banheiro – que tinha a porta aberta e nenhum barulho que indicasse sua presença ali. O sentimento de abandono me atingira de tal maneira que mal pude conter as lágrimas; havia uma fisgada forte no meu peito e eu sentia frio mesmo que estivéssemos no começo do verão. Yoongi havia me deixado. Mesmo prometendo que nunca o faria, ele acabara me deixando do mesmo jeito. Machucado, assustado e abandonado. Sozinho.

Fui despertado de meus devaneios auto piedosos por um barulho na cozinha; dava pra ouvir claramente o abrir e fechar das portas do armário em cima da bancada. Um pouco aliviado por saber que não estava completamente sozinho em casa, fiz menção de levantar e ver quem era, mesmo que eu não tivesse esperanças de que fosse Yoongi; provavelmente era Taehyung ou Jungkook. Porém, o que eu não esperava era que o simples ato de erguer-me sobre o cotovelo fosse uma tortura; assim que apoiei o peso sobre o mesmo, os músculos do meu braço retesaram-se com uma dor lacerante que se espalhou por toda a extensão do meu corpo. Fiquei tonto por um instante, e soltando um grunhido de dor entredentes, deixei meu corpo sem forças cair sobre o travesseiro. Eu ainda tinha os olhos fechados e os dentes cerrados numa careta sofrida e lamurias escapando dos lábios quando ouvi alguém abrir a porta.

- Jimin... Jimin! – chamou uma voz rouca, uma voz que definitivamente não era de Taehyung e muito menos de Jungkook. Mal registrei a adição de um leve peso no colchão aos meus pés e logo um par de mãos tocava meu rosto, cabelos e ombros, como se quisesse encontrar a fonte do problema. – O que aconteceu? Onde dói? – quando abri os olhos novamente, encontrei um par de orbes negras escondidas atrás de fios loiros me encarando de volta. Yoongi.

- Aonde você foi? – ignorei suas perguntas e estremeci com o tom carente que minha voz tomou, mordendo meu lábio inferior para impedir que um bico se formasse e conseguindo me machucar no processo. Yoongi ainda me olhava com uma expressão cômica que estava entre o preocupado e o confuso; quando não o respondi, desviou seu olhar para o pé da cama, e só então eu notei a bandeja de café da manhã posta ali, com uma tigela de canja de galinha fumegante no centro. O cheiro estava simplesmente divino, e me espantei por não tê-lo percebido antes. Não consegui conter a surpresa quando voltei-me para encará-lo novamente. – Eu não sabia que você cozinhava.

- Não cozinho. Liguei pra um restaurante e pedi pra entregar em domicílio. – admitiu um pouco constrangido, coçando a nuca nervosamente. Vendo que meu acesso de dor já havia passado, ajudou-me a ficar numa posição mais ereta enquanto ajeitava o travesseiro nas minhas costas. Trouxe a bandeja pra mais perto de mim em seguida, e quando não consegui expressar outra reação além de um “oh” completamente embasbacado e idiota, tossiu um pouco para desobstruir a garganta. – Eu não sabia que tipo de comida era aconselhável pra alguém que foi... hm... – fez uma pausa, tendo dificuldades para encontrar uma palavra adequada, ou nesse caso, menos ofensiva. – Agredido, mas eu acho que uma canja é melhor do que nada, certo?

- Oh, sim! – respondi com um sobressalto, encontrando meus bons modos escondidos em algum lugar da minha mente estupefata e pondo-me a comer. – A canja é perfeita. – sorri, pegando uma porção com a colher que estava disposta ao lado da tigela e soprando-a antes de colocá-la na boca. A comida estava surpreendentemente apetitosa, e sem querer emiti um gemido de satisfação, arrancando uma risada baixa do loiro no processo.

Com a colher ainda enfiada na boca, encarei-o com olhos arregalados e bochechas vermelhas; Yoongi havia colocado a cadeira da escrivaninha ao lado da cama e sentado nela, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo no punho, enquanto observava atentamente cada gesto meu. Ele tinha um meio sorriso estampado nos lábios, e a intensidade de seu olhar me fez corar ainda mais, trazendo-me uma sensação desagradável de auto consciência – de certo eu não era a visão mais atraente do mundo, não coberto de hematomas desse jeito. Franzi o cenho com tal pensamento; eu devia parecer muito patético, corando dessa maneira quando nem me recuperei dos ferimentos ainda. Yoongi deve achar que sou uma piada, pensei, antes que minha mente fosse apagada completamente por ninguém menos que o próprio. Ele havia estendido sua mão livre até que seu indicador tocasse minha testa, exatamente na ruguinha que se formava entre minhas sobrancelhas.

- Pare de pensar tanto e coma. – ordenou numa voz severa, mas seus olhos eram gentis. – Você precisa recuperar suas forças.

Assenti com a cabeça, tirando a colher da boca um pouco constrangido e fazendo como fora ordenado. Apesar de ser um pouco difícil movimentar o braço, eu tinha que admitir que estava faminto. A canja estava deliciosa, e apenas a ideia de que Yoongi pensara em mim ao comprá-la já fazia meu coração palpitar e minhas palmas suarem de nervosismo. Comi em silêncio por algum tempo, sobrecarregado com as mais diversas emoções, e pelo canto do olho eu podia ver que Yoongi não tirava os olhos de mim. De repente um pensamento atravessou minha mente, como se eu me desse conta do silêncio no apartamento só agora. – Onde estão Tae e Jungkookie?

- Já foram pra faculdade. – respondeu indiferente, encolhendo os ombros e endireitando-se na cadeira. – Taehyung queria ficar, mas Jungkook se recusava à ir pra aula caso ele ficasse. Então Taehyung saiu resmungando algo sobre crianças mimadas e como ele não permitiria que Jungkook faltasse mais uma aula sequer. Claro, não sem antes me fazer prometer que cuidaria de você.

- Você não precisava. – tentei assegurar-lhe, me sentindo um estorvo e um empecilho na vida de Yoongi. Por que Taehyung fazia esse tipo de coisa? Certamente o mais velho tinha assuntos mais importantes pra resolver do que ficar de babá de um inválido como eu.

- Você tem razão. Eu não precisava. – concordou, e por mais que eu não gostasse de admitir, minha expressão caiu ao ouvir suas palavras. – Mas eu queria. Ainda quero. – acrescentou, me pegando de surpresa e fazendo com que eu deixasse a colher escapar da minha mão, batendo na tigela com o som característico de metal chocando-se contra porcelana e caindo na bandeja fazendo uma tremenda bagunça. Yoongi apenas riu da minha falta de jeito, pegando a colher e pondo-se ele mesmo a me dar comida na boca. Eu não sabia se morria de vergonha ou de felicidade, mas aceitei a colher oferecida de qualquer jeito. Em pouco tempo a tigela estava vazia e minha barriga maravilhosamente cheia; o loiro retirara a bandeja de cima da cama e a colocara no chão ao seu lado, voltando-se para mim com preocupação nos olhos. – Preciso te levar à um hospital, Jimin. Seus ferimentos são sérios, talvez você tenha quebrado alguma coisa.

- Não precisa, estou bem. – recusei a oferta com um aceno negativo da cabeça e um pequeno sorriso nos lábios. Antes que Yoongi pudesse protestar, acrescentei. – Além do mais, se os médicos me vissem desse jeito, com certeza fariam muitas perguntas. E o que eu poderia dizer à eles? Que caí da escada? Se eu contasse a verdade, sem dúvida a polícia seria envolvida. Então você também estaria em apuros. – concluí, sorrindo apologeticamente diante da carranca que estampava o rosto do loiro. – Agora você entende? Não podemos ir ao hospital.

- Eu sinto que preciso fazer alguma coisa. – disse, estendendo a mão para tirar a franja dos meus olhos. – Você está machucado por minha causa.

- Você também se machucou. – retruquei, segurando sua mão na minha e acariciando seus dedos feridos. Aquela não era a primeira vez que eu reparava nos cortes em suas juntas, mas decidira que ontem à noite não era o melhor momento para discutir aquilo. – E eu sei que esse sangue na sua camisa não é meu.

- E-eu... – balbuciou, de repente se vendo sem palavras. Eu odiava tirar conclusões precipitadas, mas também não era idiota; sabia que Yoongi fizera algo ruim. – Eu precisava encontrar você.

Assenti com a cabeça, entendo suas motivações mas não concordando com suas atitudes. Meu coração estava apertado dentro do peito, pois eu temia a resposta para a pergunta que faria a seguir. – Você o matou?

- Não. – respondeu simplista e decisivo. Eu sabia que falava a verdade, pois suas orbes negras não me escondiam nada. Respirei aliviado e assenti com a cabeça novamente, satisfeito com a sua resposta.

- Se você quiser, – comecei, um pouco inseguro e incerto de estar ultrapassando algum limite imaginário, mas continuei mesmo assim. – pode tomar um banho e trocar de roupa. O meu lado do armário é o esquerdo, pode pegar qualquer coisa que quiser. – ofereci, brincando com a bainha da camisa e com os olhos grudados no meu colo, envergonhado demais até para encará-lo. Porém, não consegui conter a curiosidade quando não recebi resposta nenhuma, e assim que elevei o olhar, encontrei um sorriso estampando seu rosto.

- Ok, eu aceito a oferta. – anunciou inclinando-se sobre mim, trazendo seu rosto pra perto do meu e me fazendo corar profusamente no processo. – Com uma condição. Você tem que deixar Seokjin dar uma olhada nos seus ferimentos.

- Tudo b-bem. – gaguejei, sentindo minhas bochechas entrarem em combustão pela proximidade. Yoongi não fez menção alguma de se afastar, demorando seu olhar sobre meus lábios de forma intensa. Quando vasculhei seus olhos em busca de respostas para tal comportamento, suas orbes negras foram trazidas de volta às minhas num instante, e o sorriso que adornava seus lábios parecia maior.

- Você disse lado esquerdo? – perguntou ao se dirigir até o armário de madeira escura que eu dividia com Jungkook, abrindo as portas pertencentes à minha metade e vasculhando seu conteúdo. Observei com um pouco de auto consciência Yoongi analisar todas as minhas roupas com olhos críticos, como se não pudesse encontrar nada que o agradasse.

Com a voz fraca, indiquei-lhe onde poderia encontrar toalhas limpas e o assisti entrar no banheiro conectado ao quarto com uma muda de roupas escuras na mão e toalha pendurada no ombro. Ouvi a porta ser trancada e não pude evitar me se sentir um pouco ofendido; não é como se eu estivesse em condições de me levantar e espiá-lo no banho como um completo tarado, mesmo se eu quisesse – o que eu definitivamente não queria. Não, não mesmo. Eu só fiquei um pouco decepcionado por saber que ele não confiava em mim o bastante. Sim, era apenas isso. Eu definitivamente não queria espiá-lo no banho, de jeito nenhum.

O som da água correndo me despertou de um devaneio e me colocou em outro. Ali, na solidão do meu quarto, peguei-me pensando na noite anterior. Ao ser jogado pra fora da van, eu estava desnorteado demais para assimilar o ambiente ao meu redor, e mesmo que pudesse ouvir uma voz familiar chamando por meu nome, minha mente debilitada não conseguira manter a consciência. Quando abri os olhos novamente, sem saber ao certo quanto tempo havia passado desacordado, fui saudado pelos rostos cheios de preocupação dos meus dois melhores amigos. Taehyung apresentava uma trilha úmida de lágrimas marcando suas bochechas, já Jungkook tinha as sobrancelhas juntas e o cenho franzido de concentração. Eu estava deitado sobre a minha cama – assim como ficara a maior parte do tempo – e completamente livre de amarras. Taehyung deixou escapar um riso misturado com soluço quando lancei um sorriso fraco em sua direção, esticando a mão para afagar meus cabelos como estava acostumado a fazer, enquanto Jungkook alcançava minha mão e a envolvia nas suas. Nenhum dos dois precisavam de nenhuma desculpa, nenhuma explicação; ambos sabiam muito bem o que havia acontecido.

Nenhum de nós três proferiu uma palavra sequer quando fui conduzido até o banheiro, onde os dois me banharam de forma semelhante àquela que banhei Jungkook. A água quente sobre meu corpo era uma maldição e ao mesmo tempo uma bênção; deixei-a lavar todos os ferimentos e cortes, deixei-a relaxar meus músculos e amenizar a dor. Nesse estado vulnerável e quebrado que eu me encontrava, talvez eu tenha deixado escapar algumas lágrimas enquanto chamava pelo nome de Yoongi, mas ninguém comentou sobre o assunto. Permiti que me colocassem de volta na cama com os cabelos lavados e a roupa trocada, me sentindo mais leve depois do primeiro banho em sabe-se lá quantos dias. Antes que eu me arrependesse e mudasse de ideia, pedi para que me contassem o que aconteceu na minha ausência, como se eu não tivesse sido sequestrado, mas sim saído numa viagem.

Um pouco relutante, Jungkook me contara tudo sobre os três dias que eu havia desaparecido. Logo na primeira noite que eu não voltara pra casa, eles decidiram notificar Yoongi sobre a situação. Imediatamente eu soube que o mais velho não pouparia esforços para descobrir meu paradeiro, por isso nem me espantei quando vi sangue manchando sua camisa cerca de uma hora depois. Porém, mesmo quase não fazendo progresso nenhum, os dois nunca pararam de procurar por mim. Na verdade, mais cedo naquela mesma noite, Jungkook voltava pra casa depois de uma longa busca pelo bairro universitário, e a sorte sorrira para ele ao me colocar em seu caminho. Talvez alguém dentro da van – muito provavelmente Zelo – tivesse o reconhecido ao passar por ele na rua, fazendo-me o favor de me deixar aos cuidados de alguém familiar, por mais que isso não combinasse com as atitudes hostis de momentos atrás. Mas, talvez, Zelo tivesse falado a verdade: aquilo não era pessoal. Eles eram apenas membros de uma gangue rival fazendo seu trabalho – que já estava completo –, e não havia a necessidade de demonstrar ainda mais crueldade para com seu prisioneiro. Seja como for, aqui estava eu, em segurança e rodeado por pessoas que se preocupavam comigo. Entretanto, ainda faltava uma coisa. Yoongi.

Perdido em pensamentos, não notei a porta do banheiro sendo aberta; apenas quando ouço um pigarro é que desvio os olhos que antes estavam fixos no nada para a figura de Yoongi parada no meio do quarto. Ele vestia uma de minhas bermudas esportivas que parecia alguns números maior que o seu e estava fortemente amarrada para impedir que caísse – e de quebra mostrava-me suas pernas brancas e tornozelos incrivelmente finos – e uma camiseta simples e preta que parecia engoli-lo, de tão larga que era sobre seu corpo franzino. Não consegui reprimir uma risada quando percebi que a peça na verdade era de Jungkook; o mais novo era o único que comprava camisetas tão grandes, já que possuía certo fascínio por elas. Talvez suas roupas tenham se misturado às minhas por engano, por isso Yoongi a encontrara no meu lado do armário. Ri ainda mais com a expressão confusa e levemente irritada do loiro, mas logo lamurias fracas de dor se misturavam às risadas – os músculos da minha barriga ainda estava bem sensíveis, o que tornava o mero ato de gargalhar uma tortura.

- O que foi? Por que está rindo como um idiota? – rosnou o outro, mas dessa vez lhe faltava a habitual hostilidade; dessa vez ele parecia estar apenas levemente irritado, e talvez um pouco constrangido.

- Nada. É só engraçado te ver nas minhas roupas. – eu me senti um pouco mal por mentir, mas ele ficara realmente fofo naquela camiseta. Certamente o maknae não ligaria de emprestar suas roupas um pouco, certo?

- Sei. Espere um pouco, eu já volto. – Yoongi ainda parecia desconfiado, mas não insistiu no assunto. Ao invés disso, recolheu a bandeja de café da manhã que ainda estava no chão ao lado da cama e saiu do quarto, provavelmente indo levá-la até a cozinha. Demorara-se um pouco lá, ao ponto de me deixar intrigado sobre o que estaria ocupando-o no cômodo. Porém, antes que eu pudesse chamá-lo ou tentar sair da cama pela segunda vez, Yoongi estava de volta ao quarto com o celular em mãos.

- Seokjin disse que estará aqui em vinte minutos. – anunciou, me trazendo uma dúvida repentina.

- Que horas são? Não tenho nenhum relógio no meu quarto.

- É quase uma da tarde. – respondeu e logo franziu o cenho, como se desse falta de alguma coisa. – Onde está seu celular?

- Não sei. – admiti. – Não o tinha comigo quando voltei pra casa. – observei o rosto delicado de Yoongi se contorcer numa careta, como se estivesse imerso em pensamento profundo.

Não pude deixar de admirar suas feições que, apesar do cenho franzido e lábios puxados para baixo, ainda eram extremamente belas. Seus lábios eram finos, mas eram rosados e bem desenhados, tão beijáveis; seu nariz era redondinho e apresentava uma adorável ruga toda vez que ele o franzia; seus olhos, tão pequenos e felinos, e seus cílios, tão longos e escuros, formavam a moldura perfeita para suas orbes magnéticas. Ver seus cabelos loiros molhados e grudando na testa era uma novidade pra mim, mas logo eu descobri que gostava do ar sexy que lhe dava. Yoongi era o tipo de pessoa que escondia sua real beleza atrás de carrancas e olhares cheios de veneno, mas ontem quando acordei brevemente durante a noite e pude observar a serenidade de sua face enquanto dormia, eu não tive dúvidas de que estava diante de um rosto esculpido por anjos.

- Você pode tirar uma foto, se quiser. Vai durar mais. – zombou ao notar que eu o encarava por mais tempo do que o necessário. Imediatamente pisquei os olhos de maneira frenética e fechei a boca – que havia entreaberto sem a minha permissão, diga-se de passagem – procurando não fazer um papel de idiota maior do que já estava fazendo. Yoongi pareceu divertir-se com a minha reação, abafando um riso enquanto se acomodava na cadeira ao meu lado. – O que você quer fazer enquanto Seokjin não chega?

Sua pergunta era inocente, mas o modo como sua voz saiu extremamente sugestiva trouxe rubor às minhas bochechas. Na tentativa de respondê-lo, tudo que eu fazia era balbuciar e tropeçar nas palavras, o que parecia divertir muito o mais velho; ele mordia os lábios para conter as gargalhadas, mas seus ombros sacudiam com o riso. Franzi o cenho. – Pare de tirar sarro de mim. Isso não tem graça.

- Eu discordo. – retrucou, mudando de lugar – da cadeira pra minha cama. O loiro sentou-se na beirada no colchão e apoiou uma das mãos do outro lado do meu quadril, dessa forma me prendendo entre o seu corpo e o seu braço. Inclinou-se para colocar o rosto bem próximo ao meu, de forma semelhante à que fizera momentos atrás. – Pra mim tem muita graça.

- O que você quer? – indaguei, sem conseguir esconder o bico que se formava nos meus lábios e a ruga entre minhas sobrancelhas.

Yoongi não respondeu. Ao invés, desviou o olhar para meus lábios e umedeceu os seus próprios com a ponta da língua. Não pude deixar de notar a forma como seu rosto se aproximava milimetricamente, ou como sua mão livre percorria a extensão do meu braço até meus ombros e pescoço com a ponta dos dedos, provocando-me arrepios na pele. Esta mesma mão enterrou-se nos fios da minha nuca, arrancando de mim um silvo que não era de dor, mas sim de puro prazer. Assisti impotente Yoongi me devorar com os olhos enquanto passava a língua pelos lábios uma segunda vez. Meu coração à essa altura já martelava dentro do peito, e eu não me surpreenderia nenhum pouco se o loiro pudesse escutá-lo. Quando chegou perto o suficiente, encostou o nariz sobre meu queixo, percorrendo a ponta do mesmo por toda a extensão da minha mandíbula sem tentar esconder o fato de que estava inalando minha essência. Ao alcançar meu ouvido, esfregou o nariz contra o lóbulo de minha orelha antes de encostar a boca sobre a mesma, soltando pesadamente o ar dentro da minha cavidade auricular. Se eu não estava excitado o bastante com suas provocações até então, certamente ficara com as palavras ditas em tom rouco a seguir.

- Eu quero você.

O soar da campainha pelo apartamento nos despertou com um sobressalto, arrancando um rosnado baixo de Yoongi. – Maldito Seokjin e seu dom pra aparecer em horas impróprias. – resmungou, indicando-me que o sentimento de ter levado um balde de água fria na cabeça era mútuo e levantando-se da cama pra ir até a sala atendê-lo. Dentro de instantes o moreno passava pela porta do meu quarto como um furacão, parando próximo à mim e me tomando num abraço apertado. Yoongi tentara alertá-lo com um “yah!”, mas fora tarde demais.

- Jiminie! Eu estava tão preocupado. – quando sibilei de dor por ter sido envolvido num aperto brusco, Seokjin imediatamente me largou e tentou me deixar o mais confortável possível, com mãos voando para todos os lados e olhos cheios de remorso. – Oh, céus. Me desculpe! Que falha a minha, esqueci que estava machucado. Me perdoe.

- Tudo bem, Jin-hyung. Você só se descuidou. – tentei assegurar-lhe com um sorriso, mas acho que minha cara estava muito sôfrega pra passar qualquer tipo de segurança.

- Eu te chamei aqui pra cuidar dele, não pra terminar de matá-lo. – Yoongi observou cheio de veneno na voz, recostando-se contra o armário com os braços cruzados.

- Fique quieto, Suga. – retrucou o mais velho, lançando um olhar mortal para o menor. – Eu já pedi desculpas.

- Você podia se desculpar menos e trabalhar mais, o que acha? – o loiro rebateu.

- Quer saber? – frustrado, Jin dirigiu-se até minha escrivaninha, onde encontrou um papel em branco e uma caneta para rabiscá-lo furiosamente, estendendo-o para Yoongi em seguida. – Por que não faz uma coisa de útil e vai na farmácia comprar isso pra mim?

- Por favor, não briguem... – tentei intervir, mas acabei atraindo os olhares irritados de ambos.

- O quê? Não me diga que vai tentar defender o namorado? – escarneceu Seokjin.

- Não! – tentei corrigi-lo com acenos negativos tanto das mãos quanto da cabeça. – Ele não... nós não somos... não é nada disso que você está pensando. – assegurei-lhe, o que levou Yoongi a soltar uma risada curta e seca.

- Cala essa boca, Jin. Você só fala merda. – resmungou, arrancando o papel da mão do mais velho e dirigindo-se à saída sem proferir mais uma palavra. Jin o observou sair com indignação, e apenas quando ouvimos a porta da frente bater ele se voltou pra mim, suspirando de contentamento.

- Não se sente muito melhor agora que aquele estorvo saiu do caminho? – questionou, mas pelo tom de sua voz, a pergunta era retórica. – Finalmente posso trabalhar em paz. – disse, sentando-se na cadeira deixada ao lado da cama e pondo-se a observar meus ferimentos mais atentamente.

- Você não precisava ter sido tão duro com ele, hyung. – comentei enquanto assistia-o liberar espaço no criado-mudo para apoiar uma pequena maleta médica, de onde tirara luvas de borracha e agora as colocava.

- Acha que fui duro? Você ainda não viu nada, criança. – brincou, pondo-se a examinar meu olho direito, de longe o pior machucado que eu tinha. – Isso somos nós sendo amigáveis um com o outro. Suga está de bom humor. – sorriu, lançando-me um olhar sabido.

- Vo-você acha? – gaguejei, falhando em manter escondido o nervosismo que eu sentia.

Seokjin não respondeu, optando por apenas alargar mais o sorriso e examinar meu nariz, procurando saber se estava quebrado ou não. Ele apalpou o local e imediatamente senti um incômodo muito forte; quando segurou meu nariz com firmeza, fechei os olhos e segurei os lençóis nos punhos com força, preparando-me para o que viria a seguir. Com um movimento rápido e preciso, Jin colocou meu nariz no lugar, causando-me uma dor tão aguda que chegava a me deixar cego por alguns segundos. Não consegui segurar os palavrões baixos e sujos que escapavam de meus lábios, tão desnorteado que eu nem conseguia raciocinar direito. – Prontinho. Agora esse inchaço no seu nariz deve diminuir. Tire a camisa, por favor.

- O quê? – arregalei os olhos, dor no nariz esquecida. Eu havia escutado direito?

- Não se faça de garotinha virgem, Jiminie. – revirou os olhos, me fazendo corar com a sua insinuação. – Eu sou seu médico, preciso examinar seus ferimentos. Todos eles. – disse, dando ênfase no “todos” enquanto fazia gestos com as mãos para que eu me apressasse.

- Hm, é que... meus braços... – comecei, sem querer entrar em detalhes de como eu ficara pendurado pelos pulsos por mais de quarenta e oito horas, de forma que levantá-los seria uma tarefa praticamente impossível.

- Você consegue esticá-los pra frente? – indagou, e prontamente eu tentei fazer o que fora pedido. Estiquei meus braços e inclinei-me sobre minhas pernas como se quisesse tocar meus pés. Jin então ajudou-me a tirar a camisa naquela posição estranha, enquanto eu cerrava os dentes tentando não chiar de dor ao ter os músculos alongados.

Jin apertou levemente alguns hematomas nas minhas costas, arrancando-me um silvo baixo pelo desconforto, mas eu sabia que eles não eram os piores. Assim que me recostei contra o travesseiro novamente, suas feições fecharam-se numa expressão indecifrável. – Que cara é essa, hyung? – indaguei, preocupado com a possibilidade de meus ferimentos serem mais graves do que eu imaginava.

- Eu queria fazer um comentário sobre seu corpo ser perfeitamente tonificado, mas devido à gravidade da situação, eu temo que qualquer tentativa minha de elevar o humor acabe se transformando numa piadinha de muito mal gosto. – anunciou, seu rosto sombrio dando ainda mais graça ao momento. Não resisti e cai em gargalhadas infantis, que logo se transformaram em ganidos pela dor infligida em meu estômago judiado. De qualquer forma, notei os lábios de Jin serem puxados num pequeno sorriso. – Mas fico feliz que tenha conseguido te fazer rir.

- É tão grave assim, Jin-hyung? – indaguei, captando o tom preocupado no seu olhar ao inspecionar meu abdômen.

- Ainda não sei, Jiminie. Preciso examinar você primeiro. Consegue ficar de pé? – assenti, e com muito esforço e um pouco de sua ajuda, finalmente livrei-me dos lençóis e fiquei sobre as duas pernas. Nunca pensei que ficar deitado fosse uma tarefa tão cansativa.

Não consegui conter a vontade de me cobrir quando sem aviso prévio Jin puxou minha bermuda e deixou que ela se amontoasse no chão aos meus pés, pegando-me de surpresa por ser despido até me restar apenas a cueca. O médico rodeava-me inspecionando meus hematomas com olhos críticos, e pareceu satisfeito por não encontrar grandes danos às minhas pernas fora as marcas negras onde a corda envolvera meus tornozelos, mas seu rosto fechou-se novamente ao encarar o verdadeiro problema: meu abdome. Meu tronco estava todo tingido com os mais variados tons de roxo, como se fosse a tela para alguma pintura grotesca. Com mãos delicadas, porém firmes, Jin apalpava as laterais do meu corpo à procura de qualquer fratura nas costelas. Onde seus dedos encontravam algum hematoma, meu rosto contorcia-se de dor, mas não senti nada excruciantemente insuportável. 

- Você tem realmente muita sorte. – anunciou, pressionando alguns hematomas na minha clavícula e estômago. – Não quebrou nenhum osso, fora o nariz. Mas eu mal posso chamar aquilo de fratura. Com os analgésicos e pomadas que eu vou te passar, você estará novo em folha em pouco tempo. – sorriu de forma materna, passando-me segurança com sua atitude positiva.

- Eu nem sei como te agradecer, hyung. Só... obrigado. Por tudo. – disse um pouco sem jeito, sem saber como expressar minha gratidão e deixando-me faltar as palavras.

- Jimin, poupe-me. Não há coisa nesse mundo que eu não faria pelo meu segundo dongsaeng preferido.

- Eu sou o seu segundo dongsaeng preferido? – indaguei, sentindo-me incrivelmente surpreso e honrado com o posto, até que uma dúvida me assolou. – Quem é o primeiro?

- Namjoonie, é claro. – rolou os olhos, como se a resposta fosse bastante óbvia. E na verdade era mesmo, se eu parasse pra pensar. De qualquer maneira, ficar logo atrás de seu namorado e companheiro ainda se mostrava ser uma honra tremenda. Sorri abertamente para Jin, que retribuiu o sorriso da mesma maneira, bagunçando-me os cabelos. – Você é muito fofo, Jiminie. O que acha de aproveitar que Suga ainda não voltou e tomar um banho quente antes que eu comece a fazer seus curativos, hm?

Concordei e permiti que o mais velho me conduzisse até o banheiro, mesmo que estivesse nervoso e envergonhado com a ideia de Seokjin assistir-me no banho. Uma vez que já estava despido o suficiente – tomar banho de cueca acabaria se tornando um hábito – fiz caminho até o chuveiro, passando por uma pilha de roupas sujas largadas no chão e tendo que ouvir Jin resmungar algo sobre falta de organização e limpeza. Banhei-me o mais rápida e independentemente que consegui; fora alguns lugares que eu não alcançava ou requeria muito esforço dos meus músculos magoados, eu fizera praticamente tudo sozinho, e tomava orgulho nesse feito. Enquanto me secava na toalha usada na noite anterior e dirigia-me até o armário a fim de escolher uma muda de roupas, peguei-me pensando no quanto Yoongi demorava pra retornar. Sem dúvida Jin escrevera naquele pedaço de papel mais do que uma simples lista de remédios para comprar. De alguma forma parecia que o médico queria um tempo à sós comigo, longe de olhos curiosos e distrações desnecessárias.

Vesti as roupas limpas na melhor das minhas capacidades, com Seokjin me dando o mínimo de privacidade necessária para que eu trocasse minha roupa íntima por uma mais seca. Deixei a peça de roupa molhada no banheiro juntamente com a toalha, retornando ao quarto para acomodar-me novamente sobre a cama e deixando um espaço vazio ao meu lado num convite silencioso – um que Jin fora mais do que ligeiro em aceitar. O mais velho ajeitou o travesseiro de modo que amparasse a parte inferior de nossas costas, passando um braço ao redor dos meus ombros enquanto permitia que eu descansasse a cabeça em seu peito.

- Onde você aprendeu tudo isso, hyung? – perguntei, incapaz de conter a curiosidade. Jin parecia saber muito bem o que estava fazendo, e eu não podia deixar de questionar-me sobre o que seria de sua vida se ele não fosse membro de uma gangue.

- Eu cursava medicina numa das três maiores universidades de Seoul antes de conhecer Namjoon. Na verdade, eu já tinha passado da metade do curso. – sorriu, seus olhos perdidos em boas lembranças. – Sabe, eu venho de uma família muito conhecida e renomada de médicos. Eu tenho três irmãs mais velhas, todas formadas em medicina. Mesmo antes de entrar na faculdade, eu já sabia tudo sobre o corpo humano e seu males. Eu nasci de pais médicos, cresci aprendendo sobre anatomia e a como utilizar um bisturi. Mesmo que eu não tenha concluído o curso, a medicina já faz parte do meu ser. Pode-se dizer que eu tenho um dom natural pra coisa.

- Por que você largou a faculdade? – insisti, ansioso para ouvir mais da história.

- Por que um belo dia eu encontrei esse rapaz de moicano preto e um sorriso encantador acompanhado pelas mais belas covinhas, e não tive outra escolha a não ser me apaixonar por ele. – brincou, mas seu sorriso era sincero e seu olhar, nostálgico. Comovido pelo modo como ele descrevera Namjoon, preparei-me para bombardeá-lo de perguntas e descobrir mais sobre esse hyung que eu mal conhecia e tanto me fascinava. Na minha ansiedade e euforia, falhei em notar o som que anunciava a abertura da porta da frente, até que um pigarro nos sobressaltou.

- Parece que vocês ficaram bem confortáveis durante minha ausência. – Yoongi comentou com uma voz que indicava claramente seu descontentamento perante a situação, arrancando uma risada alta de Jin.

- Não seja tão ciumento. Você sabe muito bem que sou um homem tomado. – provocou, levantando-se da cama a fim de inspecionar a sacola nas mãos do loiro. – Trouxe tudo que pedi?

- Quem você pensa que eu sou? – retrucou Yoongi, deixando-a aos cuidados do mais velho e aproximando-se para tomar seu lugar na cadeira. – Tá se sentindo melhor? – perguntou-me num tom suave, o que me deixou incrédulo e atônito ao mesmo tempo. Era visível a diferença de tratamento que ele tinha comigo e com Seokjin. Com o outro ele era a mesma pessoa rude de língua afiada que estava acostumado a ver, já comigo... confesso que a súbita mudança chegava a me assustar um pouco.

 - Você é tão óbvio que chega a ser patético, sabia? – zombou Jin de seu lugar perto da porta, aparentemente satisfeito com o conteúdo do saco plástico. O comentário rendeu-lhe um olhar mortal da parte de Yoongi, mas o loiro nada disse. – Agora sai daqui e me deixar trabalhar. – ordenou, porém o comando caiu em ouvidos surdos. Soltando um suspiro irritado, Jin puxou o mais novo pelo braço e começou a empurrá-lo porta afora. – Você está me atrapalhando. Anda, some da minha frente. Xô! – enxotou com um gesto de mão, antes empurrá-lo para o corredor e fechar a porta atrás de si.

- Hyung. – choraminguei, referindo-me ao modo como o loiro fora rudemente expulso do quarto.

- Você é protetor assim com todo mundo ou só com ele? – brincou o mais velho, tomando o lugar previamente ocupado por Yoongi e gesticulando para que eu me aproximasse. Sentei-me na beirada da cama com os pés tocando o chão, de frente pra ele. Jin havia separado alguns curativos e gazes, que agora estavam dispostos sobre o criado-mudo ao lado da pomada recém comprada. – Não se preocupe, Jimin. Ele já está acostumado com as minhas demonstrações de afeto. – sorriu, pondo-se a aplicar a pomada sobre os hematomas em minha maçã do rosto e mandíbula, cobrindo-os com curativos adesivos em seguida.

- Qual a posição que Suga ocupa na sua lista de dongsaeng preferido? – indaguei, genuinamente curioso.

- É tão baixa que seria indelicado da minha parte revelar. – riu, piscando um olho e mostrando a ponta da língua de brincadeira.

Não pude deixar de rir com ele, apreciando a facilidade com a qual nos aproximamos. Seokjin tinha um coração grande e bom, como o de uma mãe. Seus toques e cuidados eram reconfortantes, e em pouco tempo caímos num silêncio agradável. Assistia-o me remendar com curativos e bandagens, cobrindo todos os cortes e marcas sem deixar escapar nenhum – inclusive aqueles espalhados por meu tronco –, com grande admiração. Meus pulsos e tornozelos foram envolvidos com gazes que escondiam as faixas negras que os marcavam. Apenas quando voltou sua atenção para o último ferimento, e também o mais feio de todos, foi que ele falou de novo.

- Você devia contar pra ele. – anunciou ao aplicar um pouco da pomada sobre meu olho inchado, sua voz mesmo suave me pegando de surpresa. Franzi o cenho.

- Contar o quê, hyung? – indaguei.

- Quem fez isso com você. – esclareceu-me, arrancando de mim nada mais do que um suspiro. Jin colocou um pedaço de gaze sobre meu olho e, percebendo meu silêncio, tomou a deixa para continuar. – Eu sei que essa pessoa fingiu ser seu amigo, Jimin. Não consigo imaginar que traição horrível deve ter sido pra você. Mas alguém como ele não merece ser protegido.

- Não estou fazendo isso pra proteger ele, mas sim Yoongi. – afirmei, cansado dos outros assumindo que eu mantinha silêncio pelo bem do meu agressor. – Eles fizeram isso comigo porque queriam que vocês fossem atrás de vingança. Sinto muito, mas eu me recuso a participar do plano diabólico deles.

- Oh. – Jin soltou, pasmo, parecendo olhar-me sob uma nova luz. Todavia, a perplexidade durou pouco, uma vez que seu rosto adquirira uma tonalidade sombria novamente. – Eu entendo suas motivações, Jimin. E, acredite, o admiro muito por isso. Porém, manter silêncio de nada adiantará. Yoongi vai acabar descobrindo, seja do jeito mais fácil ou do mais difícil. Ele seria capaz de revirar Seoul inteira atrás desse cara, nunca duvide disso.

- Isso já é uma coisa que eu não posso controlar. – admiti, observando o mais velho envolver meu olho e minha cabeça com uma bandagem. – Ele pode até descobrir quem foi por outros meios, mas não serei eu a enviá-lo para uma emboscada.

- Bom, já que você parece determinado... eu consigo respeitar sua decisão. – assentiu, dando um nó atrás da minha cabeça para manter o curativo no lugar. – Pronto. Agora você parece um pirata. – sorriu.

 - Muito obrigado, hyung. – sorri de volta, me referindo não só aos curativos mas também à sua compreensão. Ri da imagem mental que eu tinha de mim mesmo; eu deveria parecer ridículo, cheio de bandagens e curativos como uma múmia. Uma múmia pirata.

- Não há de quê. – disse, dirigindo-se até a porta para abri-la e colocar a cabeça pra fora. – Min Yoongi! Traga essa bunda branca pra cá com um copo d’água, por favor. – ordenou o mais velho, e imediatamente pude ouvir resmungos e xingamentos em algum lugar da sala, acompanhados por passos arrastados. Em pouco tempo o loiro entrava no quarto com um copo de água gelada em mãos, parecendo extremamente irritado por estar recebendo ordens, mas sem coragem pra recusá-las.

- Toma. – resmungou, oferecendo-me o copo enquanto Jin colocava três comprimidos diferentes na minha palma livre.

- Tudo isso, hyung? – indaguei com olhos arregalados.

- Você quer melhorar logo ou não? – questionou, ao passo que eu acenei de forma positiva com a cabeça. – Então sim, é tudo isso. Os remédios vão te deixar um pouco sonolento, mas quanto mais você dormir, melhor. Você precisa de muito repouso.

- Entendido. – assenti, empurrando cada pílula garganta abaixo com a ajuda de um gole d’água. Assim que ingeri todas elas, Yoongi tomou o copo vazio da minha mão e voltou para a cozinha, me deixando sozinho com Jin novamente. O médico me ajudara a ficar relaxado e confortável entre os lençóis, ajeitando o travesseiro sob minha cabeça e afagando meus cabelos. Despediu-se com um sorriso e um desejo de melhoras, recolhendo suas coisas e indo se juntar ao loiro na sala, fechando cuidadosamente a porta atrás de si.

Já era final de tarde quando Seokjin terminara seus serviços. Enquanto eu esperava os remédios fazerem efeito e observava os mais variados tons de laranja preencherem as paredes do meu quarto, pude ouvir os dois trocando algumas palavras na sala. Não consegui distingui-las pois eles falavam entre sussurros abafados, mas algo me dizia que era eu o tópico da conversa. Pensei ter ouvido algo como “ele precisa de você agora, Yoongi”, mas atribuí tal falha ao sono que finalmente começara a me alcançar. Mal registrei o som da porta da frente batendo e passos lentos fazendo caminho até meu quarto. Já estava começando a mergulhar no mundo dos sonhos quando senti o fantasma de uma mão nos meus cabelos e uma pressão quente e macia contra meus lábios.

- Fique bem logo, Jimin. – foi a última coisa que ouvi antes de deixar-me levar para um sono profundo – com sorte, sem pesadelos –, cansado demais pra responder. Não se preocupe, Yoongi. Não vou te decepcionar.


Notas Finais


Jin empata-foda: sim ou claro?


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