Taehyung estava agachado, amarrando os cadarços do All Star encardido enquanto Yoongi pegava seus materiais no armário — aparentemente iria usá-los para estudar durante o final de semana ou alguma coisa assim. Os dois conversavam animadamente sobre o festival de cinema do dia seguinte.
O evento tinha como tema naquele ano a mente humana, e havia sido liberada uma lista dos filmes que seriam passados, todos focados nessa temática um tanto peculiar. Yoongi estava animado para Un Chien Andalou — o filme de Luis Buñuel e Salvador Dalí que era exatamente o tipo de coisa esquisita pela qual Min Yoongi se interessaria — e A Origem, enquanto os únicos pelos quais Tae se interessara na lista eram Clube da Luta e Donnie Darko, os dois filmes que estavam exatamente no topo de sua lista de favoritos.
— Nós podemos passar no Namjin’s antes de ir para o centro cultural, sabe — Yoongi sugeriu, fechando o armário com força. — Domingo é dia de waffles.
Ele estava de bom humor naquele dia, o que era um tanto surpreendente. Havia sorrido uma porção de vezes e finalmente trocara o suéter rasgado por um mais decente — mesmo que fosse por um azul-escuro grande demais para seu corpo magro, que Taehyung tinha certeza de que ele havia roubado de Hoseok.
Mas Tae preferiu apenas aceitar o entusiasmo do amigo em vez de questioná-lo. Contanto que ele estivesse feliz, estava tudo bem.
— Por mim tudo bem — Tae deu de ombros, pondo-se de pé. — Ah, isso me lembra. Eu não vou precisar de carona hoje.
Yoongi arqueou uma sobrancelha.
— Por que não? Não acha mesmo que eu e Hoseok vamos deixar você perambulando sozinho por aí, não é?
Taehyung revirou os olhos. Às vezes Hoseok e Yoongi ainda agiam como se Tae fosse o pré-adolescente irresponsável de treze anos que conseguia entrar em apuros a cada passo que dava, precisando de vigilância constante. Ele tentava não se irritar, é claro. Se fosse seu próprio amigo, também ficaria preocupado. Mas Tae havia amadurecido nos últimos quatro anos. Principalmente nos últimos meses. Será que ele não merecia nem um pouquinho de crédito?
Só que ele resolveu relevar, apenas pra não arruinar o bom humor de Yoongi.
— Não vou estar perambulando sozinho — respondeu, enfiando as mãos nos bolsos do moletom que vestia. Havia dormido com aquele mesmo casaco, preguiçoso demais durante a manhã para trocá-lo por uma roupa mais apresentável. Agora, prestes a encontrar Jeon Jeongguk, ele desejava ter escolhido algo menos desleixado. — Vou ter companhia.
O sorrisinho no rosto de Yoongi aumentou drasticamente, tornando-se um daqueles sorrisos em que suas gengivas ficavam amostras. E, apesar de ser fofo, não era um sorriso amigável.
— Ah. Já entendi.
Taehyung estreitou os olhos. É claro que Yoongi já sabia que se tratava de Jeon Jeongguk. Ele vinha arrumando uma porção de motivos para azucrinar Tae sempre que ele estava conversando com o garoto por mensagem ou coisa parecida, como um tio irritante.
— Não entendeu nada. Nós só vamos almoçar.
— Uh-huh — Yoongi riu, dando uma cotovelada nas costelas de Taehyung, mexendo as sobrancelhas sugestivamente. — E qual é a sobremesa?
Taehyung empurrou Yoongi com o ombro, as bochechas pegando fogo imediatamente. O de cabelos descoloridos, apesar de ter ido de encontro a parede do corredor e quase caído enquanto andava, apenas gargalhou em resposta enquanto empurrava Tae de volta, surpreendentemente forte, fazendo o mais alto se desequilibrar. Yoongi tinha muita força contida para um corpo tão pequeno.
Os dois riam numa competição nada madura de empurrões enquanto corriam pelos corredores em direção à saída. Tae foi lançado contra as paredes uma porção de vezes e quase chegou a cair dentro de uma lixeira. Yoongi pouco saía do lugar com as investidas do outro, mas ria sempre que Taehyung tropeçava sobre as próprias pernas desengonçadas.
— Ora, façam-me um favor.
Tae e Yoongi pararam e viraram o rosto ao mesmo tempo para ver Hoseok, parado atrás dos dois com uma das mãos na cintura enquanto balançava a cabeça.
— Quantos anos vocês têm? — ele continuou, rolando os olhos de um jeito irritado. — Dez?
Taehyung olhou para Yoongi, temendo que a repreensão de Hoseok fosse imediatamente acabar com o raro bom humor de seu amigo.
Mas não.
Yoongi riu do jeito mais sarcástico possível e correu até Hoseok, que arregalou os olhos, surpreso.
Taehyung concluiu que, definitivamente, o garoto de cabelos loiros estava maluco. Ou havia misturado cerveja ao café preto naquela manhã.
Yoongi empurrou Hoseok. Simples assim. O moreno acabou se desequilibrando, soltando um alto grunhido de irritação quando atingiu o chão com tudo.
— Quantos anos você tem? — Yoongi imitou o tom e a pose de Hoseok, as mãos na cintura. — Oitenta?
Taehyung apenas encarava a cena com as sobrancelhas franzidas, sem saber o que esperar ou fazer. Ele tinha certeza de que era só uma questão de tempo até que Hoseok voasse no pescoço do mais baixo, gritando de seu jeito escandaloso.
Só que, mais uma vez, ele estava errado. Hoseok abriu um sorriso um tanto selvagem enquanto se levantava.
— Você vai se ver comigo, Min Yoongi!
E então, simples assim, Hoseok estava perseguindo Yoongi, que gargalhava enquanto corria, deixando Taehyung para trás.
Tae piscou.
Tá bom, pensou, incerto. Depois de um tempo encarando enquanto as risadas de Yoongi e Hoseok sumiam pelo corredor a sua frente, ele finalmente se mexeu e começou a correr atrás dos amigos, balançando os braços enquanto gritava:
— Esperem por mim, seus idiotas!
Ele encontrou Hoseok e Yoongi numa competição de ombros, rindo e trocando empurrões — pareciam verdadeiros lutadores de sumô, só que magricelos e com mais roupas. Era a vez de Taehyung revirar os olhos, mesmo que com um sorriso alegre no rosto.
O que havia com aqueles dois?
Quando notou Taehyung, Yoongi deu um último empurrão em Hoseok, afastando-o contra a parede com um sorriso divertido no rosto que fez o coração de Tae se aquecer. Hoseok resmungou uma porção de palavrões enquanto arfava, cansado, mas ainda assim sorrindo.
— Nós temos que ir — Yoongi comentou. — Tae não pode se atrasar pro encontro dele.
Taehyung congelou, seus olhos parados sobre Hoseok, cujo sorriso foi automaticamente substituído por uma expressão de pura confusão.
— Encontro? — ele repetiu, as sobrancelhas franzidas. Ele olhou rapidamente para Tae, confuso. — Com quem?
As bochechas do garoto de cabelos castanhos queimaram imediatamente. Ele tentou fingir que aquela situação não era estranha — porque, por mais que ele não fosse ter um encontro propriamente dito com Jeon Jeongguk, ainda era esquisito brincar sobre isso quando Hoseok estava por perto.
Yoongi pareceu perceber a situação desconfortável em que havia colocado o amigo, e arregalou os olhos para Taehyung como que se desculpando.
Tae pigarreou, passando as mãos pela testa para disfarçar as bochechas avermelhadas.
— Não é nada disso — explicou, a voz um pouco apressada demais para parecer confiável. — Só vou almoçar com Jeon Jeongguk. Nós somos amigos. Eu acho.
Ele não achava, não. Não sabia muito bem o que era de Jeon Jeongguk. Eles só haviam se visto duas vezes, embora estivessem conversando vinte e quatro horas por dia pela internet ultimamente. Quando Taehyung estava com o garoto, não era a mesma coisa que estar com Yoongi, por exemplo. Era, no mínimo, completamente o oposto.
Eles até haviam se beijado aquela vez. Mas Taehyung já havia beijado Hoseok também, e eles eram amigos. Então ele não sabia do que chamar Jeon Jeongguk.
— Quem é esse cara e por que eu não o conheço? — Hoseok questionou, cruzando os braços sobre o peito. — Aliás, quem te deu a permissão de fazer novos amigos?
— Ele vem aos ensaios na sala de música — Yoongi explicou, tentando ajudar Taehyung. — É um cara legal.
O olhar de Hoseok foi para Yoongi, uma sobrancelha arqueada.
— Quero conhecê-lo — falou, e voltou a olhar para Taehyung. — Onde vocês vão almoçar?
— No Namjin’s, mas... — Tae respondeu, mordendo o interior da bochecha.
— Ah, qual é, Hobi, não seja tão estraga prazeres — Yoongi interrompeu, rolando os olhos. — Nós vamos para casa e deixaremos o Tae em paz, tá bem?
A expressão de Hoseok mudou de exigente para impassível.
— Você já o conhece, Minie. Por que eu não posso conhecê-lo também? É do Taehyung que estamos falando. E se esse Jeon Jeongguk for um psicopata aproveitador?
Tae limitou-se a olhar enquanto a discussão dos dois começava. Ele sempre se sentia impotente quando se tratava de acalmar os nervos de seus amigos, e não via opção além da de simplesmente ficar parado, observando e esperando que a briga não fosse muito feia.
— Tae não é estúpido, Hoseok, ele sabe cuidar de si mesmo — a expressão animada de Yoongi havia desaparecido.
— Eu nunca disse que ele é estúpido, Yoongi.
Taehyung sentia-se uma criança culpada de novo. Como quando ele era pequeno e seus pais brigavam por conta de algo que ele fizera. Mas, antes que ele pudesse tentar parar aquilo de qualquer maneira que fosse, Yoongi já estava rebatendo, num tom sarcástico, e ao mesmo tempo decepcionado:
— Tem razão. Não é nada disso, não é? Você não está preocupado com o Taehyung, Hoseok. Só está com ciúmes.
O queixo de Tae caiu sem que ele percebesse. Ele encarou Hoseok, esperando por uma resposta, uma reação. Esperando que ele negasse com uma risada irônica ou... Ou não.
Hoseok, porém, sequer olhou para ele. Como se aquilo não fosse mais sobre Taehyung. O garoto balançou a cabeça lentamente para Yoongi enquanto bufava. Numa voz sem emoção alguma, ele anunciou:
— Vou embora de ônibus.
E então, girou nos tornozelos e andou lentamente para a saída, sem olhar para trás enquanto Taehyung e Yoongi encaravam suas costas, ambos completamente estáticos, incapazes de reagir. Hoseok desapareceu sem mais uma palavra sequer.
Yoongi foi o primeiro a se mover. Ele olhou para Taehyung com uma expressão culpada:
— Sinto muito por isso.
— Juro que nunca vou entender vocês dois — Taehyung balançou a cabeça, se esforçando para não resmungar. Ele sentia raiva de Hoseok por ter reagido daquele jeito. E sentia raiva de Yoongi por ter causado tudo aquilo com uma piada idiota. Mas, principalmente, sentia-se frustrado consigo mesmo por ter sido tão facilmente afetado por tal coisa.
Ele já deveria estar acostumado. Mas tudo parecia estar indo tão bem e ele acreditara que seria assim por pelo menos mais que um dia.
— Eu sei que sou um idiota — Yoongi continuou, esfregando a nuca e suspirando. — Não deveria ter falado nada. Eu sei que as coisas entre vocês dois ainda não se resolveram, eu só... Só imaginei que ele...
Yoongi hesitou. Seus olhos estavam colados no teto enquanto ele se apoiava na parede.
— Que ele o quê? — Taehyung insistiu, querendo saber.
O loiro sorriu de um jeito triste.
— Deixa pra lá — falou, desencostando-se da parede e indo enrolar seu braço no de Taehyung, encaminhando-o para fora. — Eu vou fazer um bom papel de pai e levar vocês dois ao Namjin's, ok? Os ônibus sempre ficam muito cheios no final de semana.
Taehyung não queria mudar de assunto. Ele quis insistir, bater na mesma tecla. Mas Yoongi parecia tão triste de repente. Provavelmente mais do que ele próprio se sentia.
— Você não é meu pai — ele falou, ao invés de tudo o que queria dizer. — Além de ser só três meses mais velho que eu, mal consegue cuidar de si mesmo.
— Seja um bom filho e cale a boca.
Taehyung sorriu, prestes a protestar quando o celular vibrou em seu bolso.
Seu coração deu um pulo. Ele tateou a calça freneticamente, já sabendo que era uma mensagem de Jeon Jeongguk.
— Uau, Tae, vai com calma — Yoongi comentou.
Taehyung o ignorou.
Jeon Jeongguk: Já estou aqui fora.
— Ele já chegou! — ele deu um pulinho despropositado enquanto os dois emergiam no pátio da escola. — Rápido, Min Yoongi.
E então ele começou a puxar um Yoongi muito irritado pelo pulso, sequer tentando esconder sua animação diante dos resmungos do outro. Estivera esperando ansiosamente para ver o garoto desde quarta-feira, quando eles haviam se despedido com um patético aceno das mãos. E vê-lo fora da escola já seria um avanço.
Jeon Jeongguk esperava em frente aos portões do colégio, sentado na calçada com as pernas esticadas, parecendo um verdadeiro delinquente com uma garrafa de refrigerante nas mãos e a touca cobrindo parcialmente os cabelos bagunçados.
A visão fez o pobre coração de Tae se contrair. De um jeito bom.
Jeongguk ergueu os olhos para ele logo assim que os dois apareceram. Ele saltou de pé, ainda segurando a garrafa de refrigerante.
— Oi.
Seu olhar ia desconfortavelmente de Tae para Yoongi.
— Olá — Taehyung respondeu, desvencilhando-se de Yoongi para ir até Jeongguk. — Que bom que você veio. O Yoongi vai dar uma carona pra gente.
— Na verdade — Yoongi deu um passo a frente antes que Jeongguk pudesse responder. — Você dirige, Tae. Podem ficar com o carro. Não pretendo sair, mesmo.
— Vocês têm um carro? — Jeongguk perguntou, depois de um gole em seu refrigerante.
— Dividimos um — Taehyung respondeu, pegando as chaves que Yoongi o oferecia. — Venha.
Ele entrelaçou o braço no de Jeongguk, que não hesitou com o toque. Tae sorriu enquanto os três atravessavam a rua em direção ao estacionamento. Jeongguk havia se mostrado tão receoso apenas alguns dias antes, se afastando rapidamente quando Taehyung o oferecia a mão e encolhendo-se com os constantes toques do garoto.
Mas agora ele parecia mais confortável, mesmo com Yoongi ali.
— Carro legal — Jeongguk comentou.
Eles haviam chegado ao estacionamento, parados em frente ao Jeep azul que Hoseok, Yoongi e Tae dividiam.
— É, bem legal — Yoongi disse, balançando a cabeça em concordância. — Agora... Shotgun! Eu vou na frente, sinto muito.
Jeongguk olhou para Taehyung, que encolheu os ombros, tentando dizer “Sinto muito por ele”. Mas, como um shotgun não pode ser revertido depois de reclamado, Jeongguk obedientemente foi até os bancos de trás e se sentou lá.
Melhor assim. Agora Taehyung poderia olhar para ele pelo espelho retrovisor sem ser pego no flagra.
* * *
— Divirtam-se — Min Yoongi desejou enquanto saltava do carro, batendo a porta com certa força.
Jeongguk olhou, um tanto embasbacado enquanto o garoto de cabelos claros se afastava em direção a uma mansão delicadamente desenhada, obviamente rica, com três andares e um jardim enorme protegido por um portão de grades prateadas. Ele encolheu-se de leve, sentindo-se muito pobre repentinamente, com seu simples apartamento duplex que dividia com um vizinho mal-humorado longe do centro. Nada comparado àquela rua de edifícios de luxo e mansões desenhadas num estilo artificialmente ocidental.
Ele não imaginaria que Min Yoongi, com suas roupas desbotadas e óculos remendados, seria de uma família rica.
Será que Kim Taehyung também tinha tanto dinheiro?
— Certo, agora sim vamos ao lugar que eu prometi — o garoto de cabelos castanhos sorriu para Jeongguk pelo retrovisor, fazendo o coração deste pular uma ou duas batidas.
Ele retribuiu um pequeno sorriso.
Kim Taehyung estava bonito naquele dia. O rosto sonolento, somado ao cabelo bagunçado e o casaco largo, parecia atribuir a ele o tipo de aparência que pessoas absolutamente perfeitas têm durante a manhã: natural, mas ainda assim fascinante. Ele se perguntou se haveria algum modo, um ângulo — ou talvez um universo paralelo — onde Taehyung não era lindo. Porque ele não havia visto nenhum desses até agora.
— E que lugar é esse? — Jeongguk questionou, inclinando-se entre os bancos da frente.
Taehyung sorriu sem virar o rosto, os olhos focados na estrada a frente deles.
— Um lugar especial.
Eles estacionaram atrás de uma pequena construção de tijolos vermelhos. O lugar estava literalmente vazio, sem resquício de carro algum além do Jeep de Taehyung. O vento batia forte nos cabelos e no rosto de Jeongguk quando ele pulou do carro, pousando no chão cimentado com um olhar confuso.
— O lugar está vazio — Jeongguk comentou quando Taehyung parou ao lado dele, entrelaçando seu braço no dele imediatamente. Jeongguk mordeu os lábios para evitar um sorriso que insistia em sair sempre que Kim Taehyung o tocava.
Ele odiava o sentimento de estar se entregando muito rápido, espreitando em sua mente a todo o momento, apontando seus erros estúpidos. Mas sempre havia se retesado tanto. Engolindo tudo a seco e fingindo que conseguiria fazer aquele tipo de coisa desaparecer. E esse método nunca havia dado certo.
Talvez ele precisasse fazer diferente dessa vez. Ou talvez ele precisasse parar de pensar sobre isso e simplesmente aproveitar enquanto ainda não havia ferrado com tudo.
— Eu sei — Taehyung respondeu, os olhos estreitos enquanto observava Jeongguk. Ele mordeu o lábio inferior de leve. — Por isso é especial.
Os olhos de Jeongguk foram imediatamente drenados para os lábios de Kim Taehyung, sem conseguir evitar. Ele engoliu em seco, lembrando-se de como eles eram leves e macios. E mornos.
— Vamos entrar — Taehyung desviou os olhos, começando a puxar Jeongguk, tirando o garoto de seu breve transe. — Jin hyung deve estar lá dentro, cozinhando.
Jeongguk não perguntou quem era Jin, embora quisesse saber. Taehyung, sorrindo de orelha a orelha, não deu tempo para que ele sequer abrisse a boca enquanto corria para a frente do estabelecimento, puxando-o consigo.
Como esperado, o lugar estava fechado. A fachada dizia, em grandes letras vermelhas e retrô: NAMJIN’S. Duas vitrines transparentes enfeitavam a frente do lugar, mas estas estavam vazias agora. A porta de vidro tinha uma placa que dizia “Fechado” com uma carinha triste desenhada ao lado da palavra.
— Bem-vindo ao Namjin’s! — Taehyung exclamou, estendendo os braços na direção do restaurante e balançando as mãos para enfatizar o gesto. — O melhor restaurante de toda a Ásia!
Jeongguk sorriu.
— Está fechado, Taehyung.
O outro não pareceu se importar com isso. Ele deu de ombros e puxou um pequeno molho de chaves do bolso.
— Isso não é problema algum para o magnífico Houdini Taehyung — o garoto vociferou, fingindo um tom exibicionista. — O mágico dos mágicos que abre qualquer porta.
— Claro, contanto que ele tenha uma chave... — Jeongguk riu, inclinando a cabeça enquanto o outro remexia na fechadura da porta.
Taehyung virou o rosto para ele, um sorriso presunçoso no rosto.
— Não se revela os truques de um mágico, Jeon Jeongguk. É golpe baixo.
E então a porta se abriu com um clique, revelando um interior iluminado por lâmpadas amarelas muito baixas que mal clareavam o lugar o suficiente para que Jeongguk enxergasse alguma coisa. Taehyung, porém, não se incomodou com a luz precária e simplesmente puxou o outro para dentro. Ele fechou a porta com o pé atrás de si enquanto gritava:
— Seokjin hyung! Você está aí? Jin!
Eles pararam no meio do salão, esperando no escuro parcial. Um cheiro agridoce de comida envolvia a atmosfera, fazendo Jeongguk suspirar o aroma. O lugar estava confortavelmente quente em comparação ao lado de fora, e ele sentiu vontade de simplesmente ficar ali, de braços dados com Kim Taehyung no meio do escuro, sem ter que fazer nada além disso.
Mas uma voz atrapalhou sua imaginação.
— Taehyung! O que você está fazendo aqui?
Jeongguk supôs que o homem que apareceu atrás do balcão nos fundos — cabelos tingidos de loiro, grandes olhos simpáticos e usando um suéter rosa-claro —, acendendo as luzes num interruptor e estragando a atmosfera misteriosa do lugar, era Seokjin. Quando o viu, Taehyung soltou-se de Jeongguk e correu para abraçar Seokjin, que o recebeu com um sorriso.
Apesar de sentir-se desconfortável, Jeongguk deixou um sorriso escapar, porque Kim Taehyung era adorável demais e ele não sabia como lidar com isso.
— Ah, Jin! — o garoto de cabelos castanhos soltou-se do abraço do mais velho e gesticulou para que Jeongguk se aproximasse. Ele o fez, dando passos quase tímidos na direção dos dois. O sorriso de Taehyung se alargou quando ele disse: — Jeon Jeongguk, esse é Kim Seokjin hyung. Jin hyung, esse é Jeon Jeongguk.
Jeongguk fez uma breve reverência que o tal Jin ignorou. Ele puxou Jeongguk para o mesmo abraço caloroso que dera em Taehyung enquanto dizia:
— Taehyung fez um novo amigo! — e, segurando um Jeongguk confuso e constrangido pelos ombros, virou-se para Taehyung: — Hoseok e Yoongi não ficaram com ciúmes?
Taehyung riu e balançou a cabeça negativamente.
— Bom — Jin disse para Jeongguk. — Porque esses garotos nunca tiveram um amigo além de si mesmos desde que eu os conheço. E eu os conheço já faz muito tempo.
Jeongguk sorriu forçadamente, porque ele sentiu que era o que deveria fazer. Pessoas que transbordavam simpatia — como Kim Seokjin — o assustavam, como se a doçura delas fosse refletir sua antipatia.
Mas ele obrigou-se a relaxar.
— Hoseok e Yoongi estão bem — Taehyung pigarreou, interrompendo o silêncio. — Onde está o Namjoon?
— Em casa — Jin respondeu. — Na verdade, eu estava indo embora também, já que terminei de fazer tudo o que precisava. Não esperava que você fosse aparecer. Já fazia um tempo que você não aparecia aos sábados, então eu assumi que... Bem, assumi que você não viria.
Taehyung abriu um sorriso cheio de melancolia disfarçada..
— Eu entendo.
— Eu tenho que ir, mas vocês podem ficar se quiserem — o loiro se apressou em dizer. — Eu posso preparar alguma coisa rápida antes de ir...
— Nós podemos nos virar — Taehyung negou, balançando a cabeça e gesticulando com as mãos. — Sei onde fica a comida e juro que limpo tudo antes de sair.
— Ah, tudo bem, então — Seokjin estendeu os braços e abraçou Jeongguk e Taehyung ao mesmo tempo, balançando-os um pouco antes de soltá-los, ainda sorrindo solicitamente. — Espero ver você amanhã, TaeTae. E foi ótimo conhecer você, Jeon Jeongguk! Eu vou indo agora, comportem-se!
Ele afastava-se pelos fundos enquanto falava, e, ao pronunciar as últimas palavras, sumiu por uma porta qualquer, deixando Jeongguk e Taehyung no ambiente agora iluminado.
Os dois se entreolharam. Um sorriso se espalhou pelo rosto moreno de Taehyung.
— Vamos atacar a cozinha — ele falou, já puxando Jeongguk.
O garoto de cabelos pretos deixou-se levar. Não havia nada do que reclamar. Ele estava gostando de ser arrastado por Kim Taehyung de um lado para o outro.
Cozinhar havia sido um belo desastre.
Jeongguk não sabia como, mas eles acabaram daquele jeito: jogados sobre o chão, com Taehyung rindo freneticamente com a cabeça apoiada em seu colo, os ombros balançando. Jeongguk também ria sonoramente, as bochechas doloridas de tanto que havia sorrido. Ambos estavam imundos: seus sapatos manchados de farinha, gotas de chocolate respingadas em seus casacos e os cabelos e rostos uma bagunça. Jeongguk sequer se lembrava de por que estava rindo, mas a risada de Taehyung era tão contagiante que ele não conseguiu evitar.
— Eu estou falando sério — Taehyung insistiu, ainda rindo.
Jeongguk limpou uma lágrima que escorria de seu olho. Sua barriga doía.
— Eu nem me lembro do que estávamos falando — ele comentou, suspirando numa tentativa de parar de rir.
— Nem eu — Taehyung deu uma risada alta. — Só lembro que eu estava falando sério.
Antes que Jeongguk pudesse responder, o forno apitou e os dois olharam para lá ao mesmo tempo.
— Os biscoitos estão prontos! — Taehyung saltou de pé, e Jeongguk o seguiu. — Espero que tenham ficado comestíveis. Não fizemos essa bagunça toda a toa.
Jeongguk concordou com um aceno da cabeça, parado atrás de Taehyung enquanto este abria o forno lentamente, usando luvas coloridas que encontrara sobre o balcão da copa.
— O cheiro é bom — ele comentou, sentindo o aroma familiar. — Ainda acho que biscoitos com pingos de chocolate não são a melhor opção de almoço.
— Mas é aí que está a graça — Taehyung falou, puxando a bandeja. Os biscoitos pareciam meio fora de forma, alguns até meio quadrados. Mas pareciam até mais que comestíveis. Pareciam realmente bons. — Comer doce no almoço é o sonho de qualquer criança. Então, cá estamos nós, realizando um sonho de infância. Eu disse que seria especial, não disse?
Jeongguk sorriu. Ele ajudou Taehyung a colocar os biscoitos num pote de porcelana, e os dois voltaram para o mesmo lugar no chão para comê-los, um encostado no ombro do outro confortavelmente.
— Não têm gosto de vômito — o de cabelos castanhos surpreendeu-se ao dar a primeira mordida. — Ah, nunca estive tão orgulhoso de mim mesmo.
Jeongguk riu, provando ele mesmo um dos biscoitos. É. Não estavam ruins. Estavam até bons, na verdade. Ele fez um barulho de aprovação com a garganta e fechou os olhos para aproveitar o gosto, recebendo uma risada de Taehyung como resposta.
Haviam poucos biscoitos, e, famintos, eles devoraram todos em menos de dez minutos, sequer se incomodando em falar qualquer coisa — porque estava ótimo daquele jeito. Apenas quando a comida se transformou em farelos foi que Jeongguk se deu o trabalho de comentar:
— Deveríamos vendê-los. E então ganharíamos uma fortuna.
Taehyung balançou a cabeça veemente.
— Não. Devemos manter isso em segredo. Os outros seres humanos não seriam capazes de apreciar esses biscoitos do jeito correto.
Jeongguk sorriu. Taehyung arrastou-se para a mesma posição de antes, pousando sua cabeça no colo de Jeongguk sem quebrar o contato visual. Ele estava ainda mais adorável com o nariz sujo de farinha e o cabelo despenteado.
Jeongguk não se impediu de estender uma mão para limpar o rosto do outro.
— Eu tenho uma sugestão — Taehyung falou, piscando.
— Sou todo ouvidos — Jeongguk apoiou o rosto no punho fechado, feliz por poder encarar Kim Taehyung sem parecer idiota ou psicopata.
— Acho que, mesmo que pareça que eu conheço você há tempos, a verdade é que não sei quase nada sobre você — Taehyung falou. — Minha sugestão é um jogo. Vamos fazer assim: cada um faz uma pergunta e você tem que responder a verdade. Querendo ou não. Mas só valem perguntas rápidas.
Alguma coisa hesitou dentro de Jeongguk, mas ele empurrou isso de lado.
— Por que não? — deu de ombros, concordando.
O rosto de Taehyung iluminou-se.
— Certo, eu começo! Hm... Qual sua cor preferida?
— Eu não tenho uma. Gosto de todas elas, se são usadas da maneira certa.
O outro franziu o nariz diante da resposta.
— Tem certeza de que não é vermelho?
Jeongguk arqueou uma sobrancelha.
— Uma pergunta de cada vez, Kim Taehyung. É a minha rodada agora.
— Ah, certo, certo — Taehyung descartou o comentário com um gesticular das mãos. — Vá em frente.
Jeongguk pensou por um segundo antes de formular a pergunta.
— Qual é o seu lugar favorito no mundo?
— Fácil — Taehyung abriu os braços, indicando o local em que eles estavam. — Bem aqui, no Namjin’s. O meu lugar favorito, onde estão todas as minhas pessoas favoritas. Eu poderia passar o resto da minha vida aqui, e foi por isso que eu te trouxe.
— Porque queria me mostrar o seu lugar especial?
O sorriso de Taehyung abrandou para um simples retorcer gentil de seus lábios. Ele corrigiu:
— Não. Porque queria te incluir nele.
Ele esticou um braço e pegou a mão de Jeongguk, entrelaçando seus próprios dedos nos do garoto de cabelos negros, que apenas observou, sem realmente ter algo para responder. Jeongguk mordeu o lábio, deixando que Taehyung brincasse com sua mão, passando os dedos por seu pulso com um olhar distante no rosto.
— Dá pra sentir o seu coração daqui — ele sorriu de repente, pressionando o pulso de Jeongguk com dois dedos. — Está batendo forte.
Jeongguk engoliu em seco.
— Sua vez de perguntar.
Taehyung desviou sua atenção da mão de Jeongguk para seu rosto e mordeu o lábio. Num tom tão baixo que Jeongguk quase não o escutou, disse:
— Por que você está tão triste?
Jeongguk piscou.
Não era aquela pergunta que ele esperava, e o afetou mais do que ele quis demonstrar. Desviou os olhos para a parede branca a sua frente, quebrando o contato visual. Não conseguiu olhar para Kim Taehyung quando mentiu:
— Não estou triste.
O outro demorou longos segundos para responder.
— Não vale mentir nesse jogo, Jeon Jeongguk.
O garoto de cabelos pretos voltou a olhar para Taehyung. Havia empatia em seus olhos, quase solidariedade. Seus lábios apertados de leve pareciam dizer “Eu entendo”.
Ele pensou em Jimin, mesmo que não quisesse. Será que ele estava se divertindo tanto quanto Jeongguk estava? Será que Chanri estava fazendo comentários maldosos sobre Jeongguk? E será que Jimin estava tão bonito em sua roupa formal quanto Kim Taehyung estava em seu moletom e jeans rasgados?
Jeongguk não queria expressar nenhuma dessas dúvidas em palavras, então ele fez o mais óbvio.
Baixou o rosto e beijou Kim Taehyung.
Na bochecha. Um beijo simples que dizia “Eu sinto muito por estar quebrado”.
Taehyung soltou um suspiro frustrado quando Jeongguk se afastou, mas havia um sorriso gentil em seu rosto. Ele acariciou a maçã do rosto de Jeongguk enquanto murmurava:
— Nós devíamos arrumar essa bagunça.
Jeongguk concordou. Eles se levantaram e, em silêncio, ajudaram-se a limpar a cozinha. Limparam o balcão, lavaram a louça, secaram e colocaram tudo no lugar sem dizer uma palavra, mal se tocando enquanto o faziam. Jeongguk não sabia o que se passava pela cabeça de Taehyung, já que seu rosto estava vazio. Tampouco sabia o que ele próprio deveria pensar. Concentrou-se em arrumar a cozinha, até que tivessem acabado.
— Vamos — Taehyung gesticulou, chamando-o enquanto se direcionava para fora da cozinha.
O peito de Jeongguk afundou.
— Para casa?
Taehyung abriu o primeiro sorriso que dera em vários minutos enquanto dizia:
— Não. Ainda temos uma coisa para fazer.
Eles emergiram para fora. O sol já estava começando a abaixar, e o vento havia ficado mais frio enquanto ele estavam lá dentro. Enquanto seguia Taehyung até o estacionamento nos fundos, sequer reparou que ainda estava uma bagunça, sujo de massa e chocolate por toda parte. Com as mãos juntas no bolso do casaco, ele acompanhou Kim Taehyung até o Jeep.
Chegando lá, o outro encostou-se à porta do carro de um jeito tranquilo, a cabeça inclinada enquanto ele encarava Jeongguk com um olhar tão fulminante que fez seu rosto corar e os pelos de sua nuca se eriçarem de imediato. Como se fosse o próprio Taehyung ali, acariciando seu pescoço muito sutilmente, e não um simples olhar.
— Venha cá — Taehyung chamou, sem tirar os olhos de Jeongguk.
Obviamente, ele obedeceu.
Foi até Kim Taehyung esperando, por força do hábito, que a urgência que inflamava em seu peito não estivesse tão transparente em sua expressão. Só que, na verdade, não se importava mais. E daí se Taehyung soubesse o quanto Jeongguk queria estar com ele? Quando ele estendeu os braços, segurando a nuca de Taehyung e pressionando-o contra o carro com o próprio corpo, estava tudo muito claro para ambos. E estava tudo bem.
O encontro de seus lábios não foi gentil ou delicado. Foi urgente, grave, imperativo e confuso. Mas, principalmente, doloroso. As mãos de Taehyung puxavam Jeongguk pela gola do casaco, mantendo-o tão perto quanto era humanamente possível. Seus lábios moviam-se fora de sincronia, descompassados, com dentes colidindo aqui e ali e línguas desesperadas por algo mais. Mãos cientes do corpo do outro tão perto e pulmões em chamas enquanto eles lutavam para ultrapassar todas as barreiras que pareciam separá-los: a mínima distância entre os dois, suas malditas roupas e as próprias dores, que pareciam ser a única coisa em sincronia ali.
Jeongguk desgrudou seus lábios inferiores apenas para que os dois pudessem respirar. Com as testas coladas, ele olhou para Kim Taehyung. Realmente olhou.
Tentou decifrar o que havia por trás de seus olhos profundamente castanhos, mas não precisou, porque Taehyung estava disposto a dizer.
— Eu quero me apaixonar por você, Jeon Jeongguk.
Jeongguk piscou, muito ciente da ansiedade que ameaçou transbordar nele. O garotou apertou os lábios, esperando.
— Mas eu consigo reconhecer a dor de um amor que não é recíproco a quilômetros de distância, porque é assim que eu me sinto todos os dias — Taehyung inclinou a cabeça para trás, afastando o rosto do de Jeongguk para apoiá-la no carro atrás de si. Ainda assim, não quebrou o contato visual, os olhos estreitos enquanto encarava o outro. — E você também, não é?
Os joelhos de Jeongguk ameaçaram fraquejar. Normalmente, ele se sentiria violado por ter sido desvendado com tanta facilidade. Logo ele, que era tão bom em esconder a dor constante. Logo ele, que considerava suas barreiras as mais inquebráveis.
E ali estava Kim Taehyung, adivinhando tudo sem sequer fazer esforço. Atravessando as paredes como se fosse feito para quebrar obstáculos.
Mas Jeongguk não se sentia ofendido. Surpreso consigo mesmo, percebeu que estava, na verdade, aliviado. Aliviado por finalmente ter tido os muros que construíra com tanto esforço, ultrapassados daquele jeito, sem grandes manobras.
— Como você adivinhou? — ele limitou-se a murmurar, acariciando com a ponta do dedo a cicatriz sob o queixo de Taehyung num instinto que não conseguiu conter.
— Yoongi diz que um fodido reconhece o outro — Taehyung sorriu tristemente. Suas mãos estavam entrelaçadas na nuca de Jeongguk, e ele não tirou-as de lá. — Então eu reconheci você. E talvez seja por isso que nos demos tão bem.
O pensamento deixava Jeongguk melancólico. Ele não queria estar ligado a Kim Taehyung apenas por aquela maldita linha. E, mesmo embora uma vozinha racional em seu cérebro alegasse que essa era a possibilidade mais provável, ele negou-se a admitir para si mesmo. Negou-se a admitir que sua atração pelo garoto de cabelos castanhos tinha algo a ver com solidariedade.
— Mas... — Taehyung suspirou, encarando o céu. — Eu estou cansado de receber migalhas, sabe? Eu quero ter e ser de alguém por completo. Do início ao fim. E eu quero ter certeza disso com todas as minhas forças.
Jeongguk quis beijá-lo de novo. Mais gentil dessa vez, quase confortante. Quis abraçar Taehyung e dizer que ele estava disposto a estar ali por completo. Que ficaria tudo bem, e que ele estaria ali por completo e sem exceções.
Mas por mais que quisesse — por mais que seu corpo gritasse que sim —, é óbvio que seria mentira. Porque ainda havia aquela parte de Jeon Jeongguk que amava o blazer azul-escuro de Park Jimin e o modo como ele penteava o cabelo. Amava seu rosto sorridente e como ele ficava ridiculamente pequeno no uniforme de Educação Física.
E essa era a parte de si mesmo que Jeongguk queria aniquilar, mas nunca conseguia. Era como um câncer que resistia a todos os remédios e quimioterapias. Crescendo de um modo perigoso, ameaçando se espalhar. Algo que ele mesmo ajudara a crescer, e que havia fugido de seu controle.
Ele não só ponderava, como também sabia que Kim Taehyung era a cura milagrosa que o salvaria. Mas sua parte doente por Park Jimin era teimosa, fascinada e insistente. Dolorida. Uma enxaqueca que você nunca consegue realmente esquecer, porque está sempre no fundo de sua cabeça, martelando e lembrando-o o quanto sua vida é miserável.
— Eu concordo plenamente — Jeongguk piscou. — Mas como sugere que façamos isso?
Taehyung pendeu a cabeça, pensando enquanto mordia um dos lábios vermelhos e parcialmente inchados.
— Eu não sei. Não faço a mínima ideia — encolheu os ombros. — Mas talvez seja isso. Talvez tenhamos que arranjar um jeito nós mesmos. E, quem sabe... Talvez, até lá, sejamos tudo o que o outro precisa.
Jeongguk não conseguia tirar os olhos dos de Taehyung. Suas mãos o seguravam de leve pelo quadril quando ele disse:
— Mas eu não quero ir devagar, Kim Taehyung.
O outro arqueou a cabeça para frente, colando as testas dos dois novamente com um sorriso no rosto.
— E você não precisa. Eu só não quero que nos tornemos a distração um do outro. Não quero que você seja um remédio momentâneo, Jeon Jeongguk, porque um de nós vai acabar se machucando feio. Quero ser capaz de te olhar e não pensar em nada além de você. Não ter dúvida alguma.
Jeongguk riu. Seu tom saiu mais triste do que ele pretendia.
— Você deveria dar palestras motivacionais. Foi um belo discurso.
Taehyung sorriu.
— Eu sei.
Jeongguk não impediu-se de dar um último beijo em Taehyung antes de se afastar. Ele pressionou os lábios macios do garoto por longos segundos e então quebrou o contato repentinamente, desvencilhando também seus corpos.
— Fechado — ele estendeu a mão para Taehyung, que a apertou veemente.
E era isso. Eles tinham um acordo.
E Jeongguk, enquanto seguia Taehyung para dentro do carro e só conseguia pensar em segurá-lo pelo rosto e beijá-lo — e então continuar o beijando até que seus pulmões não tivessem mais ar e sua existência fosse resumida a um grande nada —, não tinha certeza se queria que ele desse certo.
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