História Holy Crap - Raiva

-Por que ficou com medo de me beijar?- arregalei os olhos

-Q-que? Co-como assim?- fiquei mais nervosa ainda

-Ficou com medo, Tainá... Não reagiu, não fez nada- cruzou os braços

-Não tava preparada!- baixei a cabeça

-Me poupe, era pra ter sido um beijão!- se aproximou- To muito, mas muito frustrada!- vociferou-  Achei que estivéssemos juntas nessa... Achei que você não ligasse pra isso de “homem” e “mulher”- ela estava realmente alterada- Mas tá bem claro que você é uma medrosa- despejou

A raiva já me possuía por inteira... Ela não tinha esse direito! Ela não podia dizer que eu era medrosa... Dizer que eu sou preconceituosa ou algo do tipo... E, principalmente de duvidar das minhas palavras, duvidar do “estamos juntas nessa”.

-Não vai falar nada?

Deixei a razão de lado e agarrei seus lábios. De início ela estava resistente e passiva, mas logo pude sentir a raiva de ambas se misturando num beijo ardente e desesperado. Uma mão coloquei em sua nuca, agarrando seus cabelos, enquanto a outra puxava fortemente seu corpo pra mais perto do meu. Desci as mãos por seus braços até encontrar seus pulsos e colocá-los ao redor do meu pescoço. O clima estava realmente quente, e eu não conseguia me segurar... E parece que ela também não! Nossas línguas exploravam cada espaço do território ainda desconhecido. O ar faltava para ambas, mas nenhuma ousaria em interromper. Meus lábios logo encontraram a sua orelha.

-Quem é a medrosa agora?- sussurrei

-Tai...- sussurrou ofegante

-Shhh! Você está pensando demais...

Pude sentir seu corpo estremecer quando mordi levemente o lóbulo de sua orelha.

-Isso! Vamos descobrir o que estamos sentindo- ela assentiu com a cabeça e agarrou meus lábios novamente

...

Eu esperava tanto por esse momento! Só não esperava que fosse assim...fora do set, dentro do camarim. Concentrei toda minha força, atenção e energia em seus lábios, aqueles lábios rosados cheios de desejo... Não sabia o que estava acontecendo, não entendi por que ela tinha me agarrado daquele jeito, só conseguia sentir, não sei bem o que, mas naquele momento precisava explorar sua boca. Todas as emoções mais fortes do mundo estavam ali, concentradas em nós duas...

Eu não podia, ela não podia, era errado... Sabíamos disso... Mas tudo parecia tão surreal que eu simplesmente não conseguia me sentir culpada, não naquele momento em que sua boca explorava meu pescoço, sua língua deslizava pelo lóbulo da minha orelha até minha clavícula, causando diversos arrepios no meu corpo. Aquilo parecia tão errado. Mas, ao mesmo tempo parecia tão certo.

-Tai- tentei dizer- Tai, olha pra mim- segurei seu maxilar

Seus olhos estavam completamente cheios de desejo. Sua respiração estava falha e seus lábios permaneciam avermelhados. Não parecia aquela mulher de minutos atrás, aquela mulher que me deixou frustrada por não reagir ao meu beijo nas gravações.

-Tai, isso tá errado- disse tentando desviar meu olhar de sua boca- Não podemos

-Eu sei- sussurrou- eu sei, Gio!

Ela suspirou e fechou os olhos. Aproximou sua boca da minha e senti meus pelos da nuca se arrepiarem. Juntou seus lábios nos meus, apenas um selinho, e saiu. Me deixou sozinha, sozinha com milhões de pensamentos. Ainda tínhamos algumas cenas pra gravar e, sinceramente, não sei como conseguiria.

FLASHBACK

-Ação

Fizemos e refizemos a cena do pedido de casamento umas três vezes, e a culpa era toda minha. As falas não saiam, estava toda confusa. E quando conseguíamos chegar ao selinho, eu tremia, minha respiração falhava, e a Tai percebia...

-Podemos dar uma pausa? Beber uma água talvez?!- perguntou pro Léo

-Podem sim. Vocês têm 5 minutos.

Eu já tinha saído dali, toda nervosa, desesperada por um copo de água. E ela caminhava apressadamente atrás de mim até entrarmos juntas no camarim.

-Gio...

-Ai, Tai, desculpa por isso... Eu não sei por que não to conseguindo fazer a cena- tomei um gole de água- Eu sempre fiz tudo com tanta naturalidade...

-Eu sei, eu sei. Mas eu to vendo que você tá nervosa- tirou o copo da minha mão- Confia em mim! Estamos juntas nessa.- Olhou nos meus olhos e segurou firme em minhas mãos

-Claro- estremeci- claro que confio...

- Vem aqui- me abraçou- É fácil, vou te mostrar

Delicadamente segurou em meu queixo e juntou nossos lábios. Fiquei surpresa, mas me deixei levar... Devagar ela se afastou.

FIM DO FLASHBACK

Dois dias, Giovanna, só mais dois dias pra acabarem as gravações.

Sim, é errado. Você não pode agir como uma adolescente.

...

Eu não tive escolha. Tinha que sair de lá o mais rápido possível. Se ficasse um segundo a mais, eu não sei se teria conseguido me controlar. Eu sabia, eu sabia que era errado. Mas foi só um beijo, um beijo que podíamos ter dado antes, não?!

FLASHBACK

“Eu amo você”

“Eu amo você. Pra sempre”

Meu coração acelerou, minha respiração cessou e meu corpo... bom, ele simplesmente travou, fiquei imóvel enquanto Gio aproximava seus lábios dos meus. Íamos dar um beijão, um BEIJÃO! Só me dei conta do que estava acontecendo quando senti seu hálito em contraste com o meu. “Porra Giovanna” era tudo o que eu conseguia pensar... Nos ensaios fizemos apenas um encostar de bocas bem demorado, mas, dessa vez, quando estava gravando, quando estava valendo de verdade, ela me surpreendeu... Com os lábios entreabertos deslizava delicadamente sua língua sobre os meus... Mas como disse, eu tava travada... TRA-VA-DA, não conseguia abrir os meus, por mais que eu quisesse... E ela ainda apertava sua boca contra a minha cada vez mais... “Porra Giovanna”.  Demorou, mas eu relaxei...então puxei seu corpo pra mais perto do meu e afundei meus dedos em seus cabelos, mas quando finalmente me entreguei, tivemos que nos soltar... Ela me encarava profundamente com um sorriso maravilhoso preso a sua face. Não pude deixar de fazer o mesmo, sorri e ela me puxou para um abraço um tanto quanto maravilhoso enquanto todos nos aplaudiam... “Porra Giovanna”

FIM DO FLASHBACK

Oh, Tainá, mas você é tão burra.

...

Os dias se passaram e já estávamos no último dia de gravação. Depois daquele beijo no camarim, eu e Tainá permanecemos um tanto quanto distantes uma da outra. O contato máximo entre nós duas era gravação, era Clarina, era atuação. Não tínhamos conversado depois do ocorrido, mas não combinamos em momento algum de nos afastarmos, simplesmente aconteceu. Eu sabia que se tentasse conversar sobre o beijo, muito provavelmente eu não conseguiria me controlar. Nos sets trocávamos olhares, nada mais, olhares apelativos, pedindo perdão. Ambas entendíamos a nossa falta de controle.

....

Eu não aguentava mais. Eu não conseguia mais lidar com a ausência da Giovanna. Éramos amigas, não éramos?! Eu não sei bem o motivo do afastamento, mas eu sei que precisamos conversar, precisamos entender o que aconteceu. Só que eu também sei que se entrarmos naquele camarim de novo... Eu não sei se consigo me controlar. Uma vez, apenas uma vez que minha língua entrou em contato com a dela, só foi preciso uma vez para que eu quisesse mais. O Henrique não merece isso, o Léo também não, mas como eu vou controlar isso? Eu não sei. Talvez eu esteja agindo como uma adolescente sim.

Último dia de gravação. Comemoração hoje na Barra. E segunda-feira, Espanha. Eu preciso falar com ela.

...

Camarim, o único lugar em que ficávamos sozinhas.

-Gio- abri a porta- posso?

-Claro que pode- disse quase em um sussurro- ele é seu também

Apenas sentei e encarei seus olhos. Podia ver seu medo, sua confusão, e seu desejo. Permanecemos assim por um bom tempo, apenas trocando olhares. Num impulso, corri pros seus braços e a segurei firme.

-Desculpa- sussurrou- eu não devia ter me afastado

-Shhh- coloquei o dedo sobre os seus lábios- Nós duas nos afastamos...

Ali, de novo, no mesmo lugar. Estávamos tão próximas. Ela queria, eu podia ver, eu podia sentir. Precisávamos conversar sobre o beijo do outro dia, mas pra que conversar se podíamos repetir?!