09:00.
Nova York.
12 de Fevereiro de 2026.
O barulho inconfundível das buzinas de trânsito era o mesmo que o galo para os moradores dos apartamentos a rodarem a maior selva de pedra dos Estados Unidos. Ou pelo menos, a mais conhecida. Mesmo que fosse chamada Cidade que Nunca Dorme, havia momentos em que a vida parecia ter uma certa rotina, principalmente se você trabalha dentro da área mais concentrada da cidade.
Foi com esse som que os olhos de Peter Parker se abriram. Tornou lentamente a ficar de pé, ainda molenga para conseguir sequer ficar sentado na cama. O edredom todo desarrumado e toda a bagunça no apartamento indicavam que a limpeza não estava em dia, mas ele pouco se importou enquanto levava as mãos ao rosto e esfregava. Respirou fundo. Outro pesadelo o afligiu naquela noite. Algo que ele não fazia questão de lembrar. Se levantou num pulo com isso, e foi-se ao banheiro. Era segunda-feira e teria um importante compromisso a partir dali.
Chegando ao banheiro, o jovem jogou um pouco de água no rosto. Por incrível que parecesse, a pia em condições precárias ainda tinha um sistema hidráulico bom o suficiente para captar a água da caixa. Era o mínimo, e Peter estava vivendo com aquilo.
Ele se olhou no espelho brevemente. A face de um jovem passando enfim para a idade adulta, mas também de um garoto com todos os sonhos destruídos, agarrado ao único e puro desejo de salvar outras pessoas. O seu rosto não mentia sobre a alma quebrada. O rosto meio sujo, cabelo desarrumado, olheiras visíveis e alguns cortes nos braços. Quem o olhasse naquele estado nunca pensaria que ele tinha seus vinte anos de idade – ou vinte e cinco, se contar o tempo que ele ficou morto durante o Blip. Mas Peter entendia bem aquilo tudo. O suficiente para saber que precisava parar de focar em si mesmo e voltar ao que realmente importava.
Voltou ao quarto e ligou o celular, juntamente do app desenvolvido por ele para analisar as frequências dos rádios da polícia. Deixou no armário e se sentou na cama, observando de lá a paisagem ao redor. Manhattan em toda a sua essência. Os pingos de neve derretida ainda caiam do topo de sua janela enquanto ele esbanjava um leve sorriso. Aquela época do ano o lembrava de bons momentos. Tempos em que Peter era alguém normal, com amigos normais. E quando, ao menos, alguém o conhecia por completo.
Não mais.
O sorriso se transformou numa expressão triste, fazendo ele se levantar e apoiar-se na janela. Observou o Sol raiando, em meio aos arranha céus próximos de Midtown. O apartamento ficava em Chinatown, mas ainda proporcionava grandes vistas a depender da hora do dia. Não que isso importasse no momento para Parker.
O aplicativo soltou um alarme silencioso. Um que Peter percebeu na mesma hora e o puxou com uma feia do lançador.
“Roubo de Banco próximo à Sexta Avenida, Greenwich. Todas as unidades próximas sendo requisitadas.”
- O clássico do dia, então. – Jogou o app para dentro da gaveta na cabeceira da cama, depois de ativar algumas configurações. – Vamos trabalhar.
Olhando para o uniforme jogado na máquina de costura, Peter o pegou e o vestiu rapidamente. Em poucos segundos, o Homem-Aranha estava de volta à cena, colocando um pé para fora do apartamento e dando uma última olhada para a mesa próxima. Um boneco LEGO de Darth Sidious e um copo de café de um ano antes. Lembranças estranhas, mas que Peter carregou para o coração diante do que houve. E mais uma vez, o lembravam do porquê fazer aquilo. Do porquê sair para combater o crime mais uma vez.
Com um suspiro de insatisfação e tristeza, porém, o Homem-Aranha saiu do apartamento, se balançando pelos arranha céus.
Era hora de mais um dia em Nova York.
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