A casa de Jongin se encontraria em puro silêncio, se não fossem pelos ruídos da TV e os fungos de choro dos quatro rapazes. The Dirt era um filme que contava a história de uma louca banda de rock, mas não significava que não arranca-se lágrimas.
— Bicho, a filha dele morreu… — Kyungsoo tinha os olhos cheios de lágrimas.
— Mano, eu odeio a porra do ciclo da vida. — Sehun também não estava muito diferente, com o nariz todo vermelho por causa do choro recente.
Mas com mais alguns minutos de filme, Kyungsoo começou a ficar ansioso com o final do filme:
— A banda acabou, bicho?
Mas Jongin logo o mandou calar a boca.
— Bicho, por favor, fala que eles não vão acabar… — insistiu novamente, mas desta vez quem o mandou ficar quieto foi Sehun.
O moreno ainda tentando conseguir respostas perguntou mais uma vez, mas Baekhyun explodiu antes mesmo do moreno dizer qualquer palavra:
— Kyungsoo, só cala a boca e vê o filme!
E assim, sem mais interrupções, o filme continuou, e para a felicidade de Kyungsoo o fim do filme revelou que o Motley Crue não acabou, e que estavam na ativa até hoje. Tinha se amarrado muito nas músicas, com certeza quando estivesse em 75, esperaria até o surgimento da banda e acompanharia eles junto com Lay (pelo que conhecia do amigo, aquela banda era muito o estilo de música que ele gostava, adrenalina pura).
— Agora vamos ver o filme dos meus queridinhos. — Baekhyun falou já selecionando o filme, Detroit: a Cidade do Rock — E aí, Kyungsoo, gosta de KISS?
— Então… — Kyungsoo até tentou falar, mas Baekhyun foi mais rápido.
— Melhor, nem me fale. Não estou afim de te dar um socão.
— Ele é um fã meio fanático, não liga não. — Jongin sussurrou para Kyungsoo quando os dois amigos começaram a discutir por ser a milésima vez que iriam assistir aquele filme no mês.
— Deu para perceber, bicho. — Kyungsoo sorriu para o loiro, Baekhyun realmente parecia ser meio fora das ideias.
E lá se foram mais algumas horas na frente da televisão, obviamente com muita paciência por parte de Jongin, Kyungsoo e Sehun, porque Baekhyun — que já tinha decorado o filme de cór, a todo minuto fazia algum comentário com curiosidades do KISS, que era sua banda favorita. Foi difícil, muito difícil, mas com muita música e gritaria, a tarde passou na velocidade de um raio.
Ao anoitecer, Sehun e Baekhyun foram embora, levando todo o caos que eles tinham trazido quando chegaram fazendo algazarra.
O silêncio que ficou até poderia ser um pouco deprimente, mas o sentimento de alívio predominava nas duas pessoas restantes no apartamento. Podia até ser verdade o ditado que mentira sempre tinha perna curta, porém Kyungsoo e Jongin iriam aproveitar cada segundo antes de um possível desastre. Mesmo com o problemático primeiro encontro, Kyungsoo tinha gostado dos amigos do loiro. Eles lembravam muito Junmyeon e Lay, e isso lhe dava um pouco de conforto.
Jongin não poderia estar mais tranquilo, já que Sehun e Baekhyun se deram super bem com o novato. Adorou a tarde que passou com seus amigos, fazia tempo que não assistia um filme com eles, e a presença de Kyungsoo deu uma graça a mais. Parecia que eles três já estavam acostumados com a presença do cantor. Tudo fluiu de um jeito tão natural, já até imaginava como o mesmo faria falta quando fosse embora. Era uma pessoa que se apegava muito fácil, assumia.
Por ser tarde da noite a fome bateu nos dois rapazes, já que a única coisa que comeram foram as pipocas que Sehun inventou querer no meio do filme. E como Jongin não imaginava que iria dividir o apartamento com alguém, não tinha nada de útil nos armários que dessem para duas pessoas comerem. Por isso, após o banho resolveu pedir uma pizza.
— Kyungsoo, vou pedir uma pizza. Beleza? — o loiro gritou, já indo em busca do seu celular que estava esquecido desde manhã com todos os acontecimentos.
O cantor, que estava distraído com seu violão, olhando as estrelas pela vidraça da sala, saiu do seu transe:
— Beleza, bicho. Só não me peça pizza de atum, aquilo é ruim para caramba. Junmyeon é viciado nesse negócio, eu e Lay sempre fomos obrigados a pedir, mas, bicho, aquilo é horrível.
— O QUE? Não ouse falar mal de pizza de atum dentro da minha casa! Você e o seu amigo que não sabem apreciar a alta gastronomia! — Jongin reclamou quando apareceu na frente de Kyungsoo com o celular desaparecido. — Mas pra sua sorte, hoje estou a fim de uma pizza de calabresa. Quer escolher outro sabor?
— Pode ser de queijo. Não tenho muita preferência — deu de ombros voltando a dedilhar seu violão. — Aliás, eu posso tomar um banho?
O loiro riu da pergunta do outro. Kyungsoo às vezes parecia ser um garotinho envergonhado, com medo de tudo. Era até um pouco fofo.
— Nem precisa perguntar, mano. Aqui também vai ser sua casa por um tempo, fique à vontade para fazer qualquer coisa. E se quiser pode guardar suas roupas no meu armário, lá em cima.
— Vou querer sim. Obrigado, bicho.
Jongin sorriu com uma piscadela antes de começar a falar com o atendente da pizzaria. E enquanto isso Kyungsoo pegou sua mochila, que tinha deixado em cima do sofá, e subiu para o segundo andar.
Tinha gostado muito do jeito que o lugar era. Quando terminava de subir a escada já se encontrava no quarto de Jongin, podia ter a vista da sala inteira, já que não tinha nenhuma parede separando o cômodo, somente uma sacada de ferro. O moreno reparou em cada detalhe do quarto, alguns posters de bandas colados na parede de tijolos atrás da cama de casal. Do lado esquerdo havia uma pequena mesinha ao lado da cama, e mais ao lado, uma grande janela, continuação da vidraça que começava no andar de baixo. Já no lado direito, tinha uma mesa de canto, que tinha uma vitrola, e ao seu lado uma pequena poltrona preta. E por último, o guarda-roupa do loiro.
Kyungsoo colocou as suas poucas roupas no armário, separando, é claro, as peças que iria vestir. Se dirigiu ao banheiro, e já dentro dele, se encarou no espelho, sem rumo. O medo de não conseguir voltar para casa o consumia, e se ficasse em 2021 para sempre, o que faria? Ficar na casa de Jongin sua vida inteira não era uma opção, odiava ser um fardo na vida das pessoas, amava sua liberdade e independência, saiu da casa dos seus pais por conta disso. Sabia que era uma pessoa de personalidade forte, e só de pensar em começar sua vida do zero lhe dava calafrios. Além de nem saber se Jongin iria ficar ao seu lado o tempo todo, ou muito menos se seu emprego, mesmo que por hora fixo, iria durar muito tempo. Sempre foi uma pessoa tão centrada e responsável, mas daquela vez tinha feito uma loucura gigante por um simples emprego.
O que tinha dado na sua cabeça naquela hora no bar?
Depois de muita reflexão, preferiu ir tomar um banho gelado para melhorar os ânimos, mas não quis ficar muito tempo no chuveiro para não abusar da paciência de Jongin.
Ao sair, já vestido, estranhou não encontrar Jongin em nenhum lugar, mas logo viu a porta do apartamento se abrir, revelando a figura do loiro com uma caixa de pizza.
— Enquanto você estava no banho, a pizza chegou, aí eu fui lá embaixo buscar. Pode me ajudar a arrumar a mesa?
— Claro, bicho. — Kyungsoo secou mais um pouco os cabelos molhados pelo banho, e seguiu Jongin até a cozinha.
Colocando os pratos e talheres na mesa, em seguida a pizza, os dois já foram ao ataque de garfo e faca. E ao ver Kyungsoo comer a primeira fatia, Jongin não conseguiu segurar o sorriso bobo:
— O que achou da pizza de 2021, caro viajante do tempo?
— Muito melhor do que as de 1975, com certeza! — o moreno falou de boca cheia, comprovando sua tese.
— Deu pra ver! — Jongin fez com os dois caíssem na risada.
Era estranho explicar como aqueles momentos, que deveriam ser constrangedores por terem se conhecido há poucas horas, acabavam sendo tão naturais. Fluía tão agradavelmente que os dois nem percebiam estar cercados por aquela bolha.
No fundo, Kyungsoo sentia que algo estava faltando:
— Mas e aí, bicho, me conta mais sobre você. Ainda sinto que estou falando com um desconhecido.
— Deve ser porque nós ainda somos desconhecidos, seu doido. Mas, bem, vou me apresentar direito, então. Meu nome é Kim Jongin, tenho 23 anos, sou do signo de capricórnio, estudante de Administração, filho único. E principalmente, fã de Eagles! — acabou rindo com sua última e principal característica, de acordo com a sua família e amigos. — Mas e você? Quem é Kyungsoo, o cantor que não conhece Hotel California?
— Prazer, Do Kyungsoo. Tenho 24 anos, não sei essas paradas de signos, sou mecânico e cantor nas horas vagas. Também sou filho único, odeio hippies e só tenho dois amigos. — o moreno não se achava a pessoa mais interessante do mundo, por isso não perdeu tempo e já partiu para outro pedaço de pizza.
— Por que você odeia hippies, cara? — Jongin não conseguiu segurar a risada depois da informação aleatória que recebeu. Parecia que Kyungsoo sempre o surpreenderia, ele era uma figura
— Meus pais são, ou eram… — parou por um segundo tentando raciocinar de acordo com o ano que estava, mas ficou ainda mais confuso. — Dane-se! Eles fazem parte de um movimento hippie, mas não sabiam nem fazer a merda do papel de pais na minha vida, só queriam curtir e me largavam sozinho em casa. Cresci sozinho praticamente, por isso me emancipei, afinal eu já vivia sem eles. Resumindo, que vá para o inferno o movimento hippie — seu tom era irritado, só de lembrar dos irresponsáveis que tinha que chamar de pais, mas com um toque de ironia levantou a pizza em sinal de comemoração.
— Ah, tá… Situação complicada — o loiro comentou, mesmo sem saber muito o que dizer. Sempre foi um bom ouvinte, mas péssimo conselheiro.
— Nem me fale, bicho… Mas relaxa, já superei. Agora me fale sobre os seus. Você tem pais, não é? — os olhos de Kyungsoo saltaram quando pensou na possibilidade de ter ofendido o outro. A vida é meio louca, vai saber o que o loiro já passou.
— Sim, tenho sim — Jongin gargalhou com o pânico do outro.
— Ufa!
— Meus velhos são totalmente ao contrário, são muito protetores. Nem sei como consegui me mudar para esse apartamento, minha mãe chorou horrores quando falei que queria morar sozinho. Era muita pressão em mim lá na casa deles, por ser filho único e ser herdeiro da companhia da família. Amo eles, mas precisava do meu espaço. Meu pai super me entendeu, porque ele já tinha passado por isso, então acabei vindo pra cá.
— Que bacana. Você tem sorte por ter pais tão parceiros.
— Tenho mesmo…
Jongin até pensou que no fundo tinha deixado Kyungsoo triste com suas palavras, mas o cantor estava mais entretido em tentar comer o enorme fio de queijo que tinha na sua pizza do que qualquer coisa. Quis até rir do jeito desastrado que o outro tinha tentando lutar com um simples pedaço de queijo.
— Bem, agora não somos mais tão desconhecidos assim! — Jongin brincou depois de terminar de comer e assistir o UFC de Kyungsoo com a pizza.
Ficaram em silêncio por mais algum tempo, mas o forte suspiro de Kyungsoo ligou um alerta no loiro.
— O que foi?
— Bicho, tudo isso é tão maluco. Até horas atrás eu pensava que estava no máximo alguns quilômetros de casa, mas estou não sei quantos anos no futuro. Nem dá para acreditar que estou dizendo isso. — Kyungsoo abaixou a cabeça meio desconsertado, em um misto de vergonha e incredulidade.
— Isso eu vou ter que concordar com você. Imagina se eu dissesse para alguém que tem um viajante do tempo na minha casa? Nem eu mesmo acredito nisso ainda, é muita loucura, até mesmo para mim. E olha que eu estou falando de mim mesmo! — os dois riram com comentário. — A única coisa a se fazer agora é aceitar os fatos, para depois a gente pensar no que fazer, mas não se preocupe, agora você não está mais sozinho nessa. E além do mais, se depender de mim e dos meninos, o tempo que você ficar aqui em 2021 vai ser divertido, mesmo que eles não saibam de toda a verdade.
Kyungsoo sabia que Jongin estava tentando o deixar confortável. Estava feliz de ter encontrado alguém tão legal quanto o loiro, mesmo que no fundo, não quisesse colocar ele em toda essa bagunça que estava. Odiava quando outras pessoas tinham que lidar com os seus problemas.
— Obrigado pela ajuda, bicho. — agradeceu gentilmente, mas como não queria levar a conversa para um lado mais triste resolveu mudar de assunto logo. — Sehun e Baekhyun são gente boa, só são um pouco doidos, eu diria. A amizade de vocês parece bem divertida, foi legal ver os filmes com vocês. Felizmente eles foram a minha cara.
— Aqueles dois vão com a cara de todo mundo, só são um pouco protetores comigo, eles falam que eu sou muito manipulável pelas pessoas.
— Falando nisso, seja sincero, se aquela história que você contou para eles fosse verdade, você realmente iria botar um desconhecido dentro da sua casa a pedido dos outros? — Kyungsoo não pode deixar a oportunidade passar. Desde que viu como Sehun e Baekhyun acreditaram e souberam aceitar sua presença tão facilmente, começou a desconfiar o tão irresponsável poderia ser Jongin.
— Sinceridade? — Jongin sorriu com a confirmação de Kyungsoo. — Dependendo de quem pedisse, eu aceitaria ajudar sim. Eu sou assim por natureza, sempre gosto de ajudar a todos, ainda mais por acreditar que se um problema chega até a mim é porque o Universo tem um propósito. Temos que sempre aceitar tudo de bom que a vida nos trás, porque tudo pode ser um ensinamento valioso. E por isso eles são sempre extremamente protetores, porque eles conhecem meu coração mole.
— E eles tem toda razão! — Kyungsoo gargalhou ao olhar o loiro.
— Hey! Se não fosse o meu coração mole você não estaria aqui! — Jongin deu um leve empurrão — E não pense que eles vão aliviar se você aprontar alguma coisa para o meu lado, aqueles dois conseguem serem sádicos quando querem.
— Okay… — a risada de Kyungsoo começou a morrer ao notar o tom de ameaça, mas Jongin não se aguentou de tanto rir, arrancando uma nova gargalhada do cantor.
— Enfim, tive medo da reação deles, não minto, mas não era como se eu fosse te deixar na mão, eu só não queria discutir com eles. No final deu tudo certo.
— E eu achando que você ia me expulsar por causa deles…
— Claro que não! Não poderia te deixar sozinho com essa bomba toda, estou sendo sincero quando falo que vou te ajudar. Já pode me considerar um amigo.
E ali começou uma grande amizade, somente com uma pizza e uma boa conversa. Eles não sabiam, mas logo aquela relação seria testada de uma maneira nada convencional.
Depois de terminarem de jantar, Kyungsoo se voluntariou para lavar a louça. Jongin, por odiar fazer isso, nem reclamou, mas ajudou a secar e guardar. Quando terminaram, Kyungsoo esperou o Jongin trazer as coisas para arrumar o sofá, onde iria dormir.
— Aqui estão as coisas. Já vou pra cama, qualquer coisa grita. Pode ligar a TV se quiser, e boa noite. — Jongin sorriu, se despedindo. Não queria enrolar muito, o dia havia sido bem cansativo, e imaginava ter sido o dobro para o moreno
— Boa noite e muito obrigado, Jongin, eu não sei o que faria sem a sua ajuda. — Kyungsoo falou antes que o outro se afastasse, e recebeu mais um sorriso sincero do loiro em sua frente.
Os dois rapazes foram dormir pensando em como seria o próximo dia e todos os dias após ele.
[...]
É o terror de saber
O que realmente é esse mundo
[...]
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.