— Caralho… — Jongin sempre se admirava pelo jeito emocionante que seus avós contavam a história.
— Olha esse linguajar, menino! — sua avó o repreendeu.
— Mas vó, não existe outra palavra que represente melhor o sentimento que eu sinto nesse momento — tentou se explicar para a mais velha, que estava com uma expressão nada boa.
— Bicho, é só falar catapimbas — o loiro fuzilou o amigo com o comentário, fazendo Kyungsoo se encolher.
— Você é meu amigo ou não?
— Mas então, jovens, ajudamos vocês? — Sr. Park interviu antes que seu neto brigasse com o amigo. Tinha gostado de Kyungsoo, ele era diferente dos jovens de hoje em dia, conseguia sentir o desejo de liberdade do garoto. Ele o fazia lembrar dos seus tempos de jovem.
Após uma rápida troca de olhares dos dois amigos, Kyungsoo tomou à frente:
— Sim, senhor. A história do senhor e da sua esposa foi algo especial e único, nunca ouvi falar de um amor tão sincero e bonito. Nunca acreditei muito em amor verdadeiro, por isso precisei de inspiração para escrever a música. Mas depois de toda essa história, meu coração ficou até mais leve, estou até achando que um dia vou conseguir amar alguém de verdade. Obrigado por isso.
O idoso até estranhou o jeito emotivo que o garoto havia agradecido, parecia que a ajuda que deram a ele tinha salvado sua vida. Mas nem deu muita atenção, deveria ser coisa da sua cabeça, era uma pessoa de idade e eles jovens da nova geração. Mundos totalmente distintos.
Como ainda estava no meio da tarde, a família e seu convidado tomaram um chá enquanto falavam sobre a infância de Jongin. Claro que aquilo não o agradou muito, já que teve até a exposição dos álbuns de fotos antigas envolvida, mas logo começou a achar divertido relembrar a infância.
E como dizia o ditado: tudo que é bom, acaba logo, quando perceberam já precisavam irem embora. Na hora de se despedirem, como Kyungsoo ainda tinha vergonha, agradeceu mais uma vez os donos da casa e foi em direção ao seu carro. Diferente de Jongin, que ainda ficou conversando com sua avó.
Enquanto esperava o amigo encostado ao seu Impala, percebeu o Sr. Park vindo em sua direção.
— Seu carro é realmente muito bonito. Amo todas as gerações de Impalas, mas para mim o de 67 é o melhor. Posso dar uma olhada no motor dessa belezinha? — o homem passava a mão na lataria preta.
— Claro! Deixo ele sempre bem conservado. Seu neto brinca, mas esse carro é como fosse minha vida.
— Não o julgo. Não comente com ninguém, mas eu seria igual a você. — o senhor de idade arrancou uma gargalhada do rapaz.
Quando Kyungsoo abriu o capô do Impala, se surpreendeu com a reação exagerada do idoso.
— Minha nossa… Você o deixou com o motor original! Difícil ver um jovem como você, com um carro desse porte, que não encheu ele com essas tecnologias de hoje em dia. Meus sinceros parabéns, de verdade. — Seongsu inspecionava os mínimos detalhes, como um verdadeiro especialista — Fazia tempo que não via um motor V8 de 425 cavalos, que beleza. Quando terminei a faculdade de mecânica e criei a minha oficina, consertei alguns desses.
— O senhor criou uma oficina? Que incrível, bicho, eu também trabalho em uma oficina. Trabalhava no caso… — Kyungsoo estava muito animado com a conversa, amava carros, e com toda a experiência que tinha conseguido com a oficina, podia opinar sobre muitas coisas com confiança.
— Vejo que você realmente fez um bom trabalho com ele, tem talento para isso. Mas me diga, o que fez você querer ser cantor? Porque você parece gostar bastante de carros. — com a pergunta inesperada, Seongsu fechou o capô do Impala.
— Ah… Na verdade eu sempre deixei esses dois lados interligados, nunca pensei em me tornar só cantor ou só mecânico. Mas aconteceu algumas situações que me fizeram vir aqui, e tentar achar sentido no amor para uma música.
Geralmente não era uma pessoa boa com palavras, mas ficava ainda pior quando Kyungsoo queria ser sincero e não podia. Tinha gostado do senhor Park, mas a última coisa que queria era ser chamado de doido, odiava o fato da viagem no tempo ser considerada uma loucura.
— Sei como é, quando o destino traça seu caminho não tem como negar o seu rumo. Achei bem diferente você querer saber o sentido no amor com a história de dois velhos — o senhor Park deu mais uma de suas risadas ásperas com o comentário.
— É que eu nunca me apaixonei ou namorei, então pode se deduzir que sou bem leigo no assunto amor. Como Jongin falou que a história dos senhores era de amor verdadeiro, não teve como não ser perfeito para a minha situação. O amor contado por duas pessoas que realmente se amam, isso é melhor do que qualquer livro.
— Ora, meu jovem, mas amor não é só romântico, e você deve saber muito bem disso… — quando o idoso sorriu cúmplice, Kyungsoo se sentiu perdido.
Como assim, ele sabia bem? Acabou de explicar que não tinha nenhuma experiência. Quando se atreveu a perguntar do que Seongsu estava falando, notou em que direção o homem olhava.
Jongin.
— Sabe, às vezes o amor de um amigo é muito mais precioso do que muitos namorados. Meu neto gosta muito de você, mesmo sendo meio bruto às vezes, eu consigo sentir o grande carinho que ele tem por você.
— O Jongin é realmente um grande amigo. Sem ele não sei o que seria de mim hoje, nós dois nos conhecemos há pouco tempo, mas já tenho um grande apreço por ele. — Kyungsoo não conseguiu segurar o sorriso enquanto olhava o amigo conversar com sua mãe e avó de forma animada.
— Também percebi isso, você faz bem para ele. Quando Jongin ligou para nós e falou sobre você, consegui perceber o modo feliz que ele te descrevia. E geralmente eu sei como esses tipos de amizade terminam…
— Como assim, Sr. Park? — mas antes que Kyungsoo tivesse uma resposta do mais velho, Jongin veio em sua direção.
— Vambora? Já tá ficando tarde e eu não quero te ouvir reclamar que não gosta de dirigir à noite. — o loiro deixou algumas batidinhas em suas costas.
— Eu não reclamo, bicho…
— Imagina se reclamasse então… — sorriu debochado e se dirigiu em direção ao senhor, deixando um pequeno abraço de despedida. — E vô, estou de olho no senhor me trocando pelo Kyungsoo.
— Eu não fiz nada. Só estávamos falando sobre carros e motores. E você sabe que no coração deste velho aqui só tem você.
— E a vovó! — Jongin respondeu travesso.
— E ela, obviamente — Seongsu deu um pequeno sorriso, olhando para a esposa na varanda — Mas vocês tem que ir senão vai anoitecer. Pelo tempo que ficou com sua avó tenho certeza que já se despediu, não é mesmo, Jongin? Então, não vou mais atrasar vocês. Foi muito bom te conhecer, Kyungsoo, espero que consiga escrever a música.
Ele deu um aperto de mão com o moreno.
— Se cuidem na estrada, mocinhos! — a senhora Park gritou da varanda.
— Pode deixar, vó!
Com mais alguns abraços e despedidas, os dois garotos entraram no Impala e seguiram para a estrada. No meio do caminho, quando já tinham conversado sobre a tarde que passaram e a história dos idosos, os dois acreditavam que tudo estava resolvido. Kyungsoo, agora conseguia dizer que realmente acreditava e sentia que o amor realmente existe.
Enquanto trocava de música, Jongin não pôde evitar brincar com a situação:
— Kyungsoo, preparado para a sua última noite em 2021?
[...]
Eu já fui, e estou me sentindo forte
Eu vou cantar essa música de vitória, porque eu já fui
[...]
— Bom dia, 1975, eu voltei! — Kyungsoo, antes mesmo que abrisse seus olhos, não aguentou segurar seu grito de vitória.
— Kyungsoo? — uma voz confusa chamou pelo moreno, que infelizmente, logo reconheceu.
— Jongin?
Assustado, Kyungsoo sentou no sofá que tinha como cama temporária e sentiu o peito doer quando encarou o amigo, que carregava um semblante triste por motivos óbvios. A realidade estava muito mais distante do que o planejado dos dois, o fio de esperança do cantor estava começando a se desfazer.
— O que está acontecendo, bicho? Eu deveria estar na minha casa…
Jongin não sabia como reagir, ver Kyungsoo desolado como se há horas atrás eles não tivessem comemorado a missão concluída não era para qualquer psicológico. Mas ele era o guia, deveria dar suporte, não?
— Calma… Hum… Deve ser um atraso, vamos esperar mais uns dias.
— Sei não, bicho. Esse tipo de coisa deveria ser instantâneo.
— Relaxa, vai dar tudo certo, é só esperar. Você vai ver, quando menos esperar, já vai estar em casa. — Jongin sorriu, o tranquilizando.
2 dias…
5 dias…
1 semana…
2 semanas...
Depois de se passarem duas semanas, até mesmo Jongin, com todo o seu otimismo, já acreditava que algo tinha dado errado. Kyungsoo deveria ter voltado no tempo, era óbvio. O amigo realmente tinha começado a acreditar no amor, mas os dois rapazes não sabiam dizer o que aconteceu.
Ao longo dos dias que se passaram, os dois amigos já tinham discutido várias vezes. Digamos que Kyungsoo não estava com o melhor humor devido ao plano que falhou, mas Jongin não queria perder as esperanças. Não sabia quantas vezes impediu o moreno de ir atrás de Chanyeol, mesmo que, no fundo, soubesse que era o platinado que deveria ir até ele. Estava difícil lidar com toda aquela situação com sentimentos à flor da pele.
E como havia se tornado costume, os dois amigos se encontravam discutindo novamente.
— Aceite, Jongin, eu vou ficar aqui para sempre! — o moreno esbravejou.
— Para de pensar nessas merdas, caralho! A gente vai arranjar um jeito. — não ficando para trás, Jongin também aumentou seu tom de voz.
— ESSA MERDA É A PORRA DA REALIDADE! — Kyungsoo não gostava de gritar com o amigo, mas não conseguia entender como ele ainda achava que havia uma maneira de resolver as coisas..
— Chega, não vou mais discutir com uma mula empacada como você — Jongin, oficialmente rendido, foi em direção à cozinha. Não iria se estressar ou até mesmo piorar a situação para, no fim, acabar com um Kyungsoo fugindo do seu apartamento sem rumo.
— Não acredito que você me chamou de mula — o moreno não conseguiu segurar o tom irritado e começou a rir.
Notando a risada alheia, Jongin parou de andar e encarou o outro. “Aleluia, ele tá mais calmo“ pensou enquanto voltava para o sofá.
— Só estou sendo sincero, você é mais teimoso que uma mula empacada.
— Eu sei, bicho… Desculpa por ficar discutindo toda hora, mas entenda meu lado. É difícil ir dormir sabendo que nunca mais posso voltar para a minha casa. — Kyungsoo estava péssimo, seu olhar sem esperança era prova.
— Tudo bem, eu entendo. Mas você tem que acreditar que a gente vai arranjar um jeito, Chanyeol já falou o que você tem que fazer. Não deu certo com os meus avós, mas eles não eram a última esperança, a gente pode ir atrás de outra alternativa.
— Mas que outra alternativa? Nessas semanas não conseguimos pensar em nada, bicho. Isso me deixa desesperado.
— Vamos combinar um negócio. Como a gente já sabe o que você tem que fazer, até que a gente consiga pensar em algo, você vai aproveitar seu tempo em 2021. Nada de surtos, nada de querer ir atrás do Chanyeol. Se você está aqui é por um motivo, e sabemos que tem uma maneira de voltar, então não precisamos nos desesperar. Minhas aulas vão começar essa semana, vai ficar mais difícil de pensar em algo, mas vamos focar em você aproveitar o agora. Okay?
— Tá bom, bicho. — Kyungsoo sorriu da maneira mais sincera e bonita que conseguia para um momento tão complicado.
E com aquele pequeno sorriso, Jongin sentiu seu coração saltar, coisa que estava acontecendo com bastante frequência ultimamente desde o comentário de sua avó.
Quando estavam se despedindo de todos, Jongin percebeu que Kyungsoo se afastou discretamente. Sua avó também pareceu ter notado o movimento, pois logo começou a falar do amigo dele.
— Seu amigo é muito simpático e bonito, Jongin. Deveria investir — disse a avó, fazendo Jongin arregalar os olhos com o comentário da mais velha.
— Isso tenho que concordar. Ele é um belo partido. Se ele fosse da minha época de jovem, com todo respeito ao seu pai, eu pegava — acrescentou a mãe de Jongin.
— Vó! Mãe!
— O que é, meu neto? Nós somos casadas, mas não somos cegas. E nem tente mentir, porque eu sei que você também deve achá-lo bonito — disse a senhora Yangmai, apontando com a cabeça para Kyungsoo, que estava conversando com o avô de Jongin mais adiante.
— Tá bom, eu acho ele bonitinho, não sou burro. Mas ele é meu amigo, vó. Não é muito normal ficar reparando como o sorriso dele é bonito… — falou sorrindo enquanto encarava o amigo.
— VIU, EU SABIA! — sua mãe exclamou, mas nada alto o suficiente para chamar a atenção de ninguém. — Você acha ele bonito. E, meu filho, todo esse carinho que você sente por ele, devo lhe dizer que era o mesmo que eu sentia por seu pai antes de namorarmos.
— Verdade, até o jeito que você fala dele é diferente. Meu querido, eu acho que tem caroço nesse angu…
— Misericórdia, vocês duas são loucas. Achar ele bonito é uma coisa, estar apaixonado é outra bem diferente. E também é impossível, ele tem que voltar para a casa dele — tentou explicar para as duas mulheres à sua frente, mas sentia que não importava o que dissesse.
“Elas só podiam estar loucas,”, pensou, “eu gostando do Kyungsoo? Nós dois nos conhecemos há pouco tempo, claro que nos tornamos melhores amigos facilmente, afinal, temos a mesma banda favorita e os mesmos gostos. Mas qualquer sentimento maior que amizade está fora de cogitação! Sim, achei o amigo atraente quando o vi pela primeira vez no bar do Minseok, mas era em circunstâncias diferentes. Por isso, tenho certeza de que é impossível… Não é?
— Bem, querido, você sabe o que faz da sua vida. Mas logo vou avisando, a minha intuição nunca falha, e seus pais são a prova. Desde a primeira vez que sua mãe apresentou seu pai como amigo, eu soube que eles dois sentiam muito mais que amizade um pelo outro.
— Isso é verdade — sua mãe deu uma pequena risada ao lembrar daquela época.
— E é como eu sempre falo: O que é para ser, será.
Se a avó de Jongin queria plantar uma semente da discórdia em sua mente, ela conseguiu. Desde aquela conversa, ele tinha começado a olhar Kyungsoo com outros olhos, odiava-se por isso, mas não conseguia evitar. Cada palavra ou olhar do moreno para ele era motivo de um frio na barriga. Claro que Kyungsoo não ajudava, sempre o tratava com gentileza e era sempre atencioso. Ele não diria que estava apaixonado, mas sabia que algo tinha mudado naquela amizade, mesmo que soubesse que foi só pela sua visão.
A questão era que ele tinha medo do que aquele sentimento poderia se tornar futuramente, já que sabia muito bem o final de toda aquela história. E o final era Kyungsoo voltando para 1975.
[...]
Eu sei o que eu vou falar se você for embora
Mas o que eu faço, o que eu faço com meu coração?
[...]
Kyungsoo realmente tinha levado a sério a proposta de Jongin. Naquela mesma noite da conversa, Jongin deu a ideia de saírem para se divertirem, obviamente com Sehun e Baekhyun. No começo não sabiam para onde ir, já que geralmente só iam ao Rock ‘N’ Roll Train Bar's, mas logo o ruivo deu a ideia de irem a uma balada. No começo ficou relutante, porque não era um cara muito de balada, mas como Jongin amou a ideia, não conseguiu dizer não.
Depois de umas dicas de moda e algumas roupas emprestadas de Baekhyun, foram para a balada de Uber, outra tecnologia que amava. Quando chegaram lá, o lugar estava lotado. Um mar de gente se formava na pista de dança, e o cheiro de bebida era forte, porém aquilo não o assustou, Junma e Lay já o haviam levado para lugares piores.
Entrando pelo meio da multidão, tentaram achar algum lugar para sentar e pediram algumas bebidas. Não demorou muito para os universitários quererem dançar, tentaram levar Kyungsoo junto, mas não conseguiram. Jongin até falou que ficaria ali para fazer companhia, mas o moreno não deixou, não queria atrapalhar a noite de ninguém só porque não gostava de dançar.
Mesmo com relutância, Jongin foi para a pista. E não demorou para se enturmar com o povo que já estava suado de tanto dançar.
Como não havia outra coisa para fazer, o cantor ficou ali sentado no bar observando os amigos, não soube em que momento começou a conversar com o barman, mas quando notou já tinha contado toda a sua vida, logicamente escondendo a parte que era uma viajante no tempo.
Quando a música parou e as luzes se apagaram, os dois homens que estavam conversando olharam para a pista de dança. Estava tudo um breu, quando pensou em ir atrás dos amigos, o DJ gritou que era o momento de sensualizar. No primeiro momento, não entendeu a fala do DJ e muito menos a gritaria que veio depois. Mas quando os primeiros toques de Pour Some Sugar On Me do Def Leppard — música que tinha conhecido através das indicações de Jongin — começou a tocar, soube muito bem o que veria a seguir. Corpos suados se esfregando freneticamente.
E foi naquele momento que veio o fatídico comentário de Josh, o barman.
“Eu faria de tudo para que aquele loiro despejasse açúcar em mim…”
Como não sabia de quem o barman estava falando, olhou para a multidão. Demorou para identificar qual daquelas pessoas tinha cabelo loiro, porém logo achou a tal figura.
Ele dançava sensualmente, sabia bem quais movimentos tinha que fazer. Com a roupa molhada de suor e colada em seu corpo, o rapaz parecia ser uma ilusão. Podia perceber que o desejo do loiro não era provocar ninguém, queria apenas curtir a batida da música, mas com os fios de cabelos grudados em seu rosto, causados pelo suor e aquele belo sorriso, não podia julgar o jeito que as pessoas queriam tocar em seu corpo.
As pessoas que só olhavam, como Josh, encaravam o moço como se fosse um pedaço de carne. Um cara bonito como aquele, que dançava bem, era uma raridade. Não soube quantos segundos ficou olhando para ele, mas parecia que tinha ficado enfeitiçado, seus olhos acompanhavam cada movimento do seu quadril e cada mão de quem se arriscava o tocar.
Como se percebesse que estava sendo observado, o rapaz louro lhe encarou e sorriu.
Era Jongin.
E foi ali que percebeu o que estava fazendo. O que era para ser somente uma espiada para descobrir quem era o loiro sedução que tinha mexido com o barman, acabou com ele próprio observando até demais o que não deveria, ou melhor, quem não deveria.
Não sabia que expressão tinha feito depois que voltou seu olhar para Josh, mas tinha certeza que foi uma cara nada boa, já que o barman perguntou se Jongin era seu namorado. Kyungsoo explicou que seu desconforto foi porque o loiro era seu amigo, e que era estranho ouvir alguém dizer isso dele.
Como se a bebida fosse fazê-lo esquecer o jeito que havia olhado o amigo, resolveu encher a cara. Pediu cinco shots de vodka para Josh, que estranhou seu comportamento, mas não falou nada. Quando o homem o entregou os copos bebeu aquilo como se fosse água, um atrás do outro e logo pediu mais.
Depois daquilo, não conseguiu se lembrar de mais nenhum acontecimento daquela noite, e nem de quando tinha voltado para casa com os amigos. O irônico de tudo aquilo era que a bebida tinha feito esquecer de tudo, menos daquele bendito sorriso.
Mesmo depois de dias após aquela noite, Kyungsoo não parava de pensar no que tinha feito. Se sentia estranho. Se sentia impuro.
Desde aquela proposta de Jongin, na última vez que discutiram, o cantor estava realmente tentando aproveitar o momento. Nada de preocupações, paranoias e surtos, mesmo que no fundo estivesse se distraindo com qualquer coisa para não lembrar daquele sorriso.
Como se o Universo estivesse com pena dele e tivesse feito algo para ajudar, Jongin estava totalmente ocupado com as aulas. Não tinha nem tempo de descansar, ficava até com dó dele, mas aquele tempo separados foi bom para o psicológico de Kyungsoo. Ficar sem ver Jongin, era logicamente ficar sem olhar para o seu sorriso e não se sentir culpado. No entanto, não estar perto do amigo na maior parte do tempo trazia o sentimento de solidão, já que Sehun e Baekhyun estavam com a mesma vida corrida da universidade.
Por isso, como não havia ninguém para fazer companhia na maior parte do dia, resolveu procurar outro emprego. Conseguiu achar uma vaga em uma pequena oficina, fazia só uns consertos pequenos, mas já estava de bom tamanho. Com a nova rotina com dois empregos, o episódio da balada foi esquecido em uma parte bem profunda do seu cérebro.
Em um dos dias que tocou no bar, porém, Minseok apareceu com uma novidade: ele havia contratado uma nova pessoa para trabalhar ali, e hoje finalmente ele a conheceria.
Como de costume, após chegar da oficina, tomou um banho e começou a se arrumar para tocar no bar. Até chamou Jongin para acompanhá-lo, mas ele disse que estava muito ocupado com alguns exercícios, então Kyungsoo se despediu e foi para o bar.
Quinta-feira não era exatamente o dia mais lotado do bar, mas até que tinha bastante movimento. Como só começava a trabalhar às oito horas, resolveu ir beber alguma coisa para se distrair.
— Olá, me vê uma batida de cereja. Por gentileza. — pediu à moça atrás do balcão.
Enquanto assistia ela preparando sua bebida, percebeu que não a conhecia. Reparou em sua aparência, cachos flamejantes, olhos verde-esmeralda e um sorriso gentil, concluiu que ela era muito bonita. Depois de alguns minutos, ela se aproximou com a bebida pronta.
— Aqui está. Pela guitarra, acho que você deve ser o famoso Kyungsoo. Acertei? — a garota falou sorrindo.
— Sim, acertou. — o cantor deu uma risada sem jeito — E você deve ser a garota nova contratada. Nunca te vi por aqui.
Deu um grande gole em sua bebida.
— Sim, sou eu. Me chamo Marie Jolene, mas todos me chamam de Jolene. — ainda com o sorriso no rosto, a bela moça se apresentou.
Como não era uma pessoa que costumava puxar assunto, Kyungsoo ficou em silêncio após a pequena apresentação. E percebendo isso, Jolene resolveu continuar o papo.
— Mas então, você trabalha muito tempo aqui? — se encostou no balcão, mostrando estar disposta a conversar.
— Acho que faz um mês e pouco. E você? — no primeiro momento que respondeu a garota, se arrependeu. Era uma idiota, só podia.
Como se não fosse para ficar mais constrangido, Jolene deu uma pequena risada e respondeu a sua pergunta:
— Hoje é meu segundo dia, eu acho. — brincou.
— Desculpa, bicho…
Jolene achou o rapaz uma graça, todo vermelho e com vergonha.
— Tudo bem, foi fofo.
E como se não fosse possível, Kyungsoo ficou ainda mais vermelho.
Para tentar aliviar um pouco do seu constrangimento, bebeu o resto da sua bebida, e tentou continuar a conversa:
— Está conseguindo se adaptar aqui? Trabalho novo sempre é complicado.
— Até que consegui me encaixar fácil, Minseok é um chefe muito gentil. — respondeu, enquanto enrolava uma mecha de cabelo em seu dedo. Pela naturalidade com que ela fazia aquilo, sem perceber, Kyungsoo deduziu que provavelmente era uma mania.
— Realmente, ele é gente boa. Agradeço todos os dias por ele ter me dado uma chance para trabalhar aqui. — quando terminou de falar, ouviu seu nome ser chamado. Era hora de trabalhar.
— Bem, vou ter que ir agora. Foi um prazer, Jolene. — com sua guitarra em mãos, se levantou.
— O prazer foi todo meu, bom trabalho. Até depois? — perguntou, na esperança de poder conversar mais com o belo rapaz. Vendo Kyungsoo concordar com a cabeça, sorriu.
Ao longo do trabalho, a garota não conseguiu tirar o moreno da cabeça. Felizmente, houve alguns momentos em que pôde observar o rapaz no palco.
Tinha achado ele uma graça, e muito bonito, vale ressaltar. Já tinha gostado do novo emprego, mas conhecendo Kyungsoo, sabia que tudo ficaria mais interessante.
Teve que esperar a noite inteira para conversar com o cantor novamente, mas valeu a pena. Papearam horas e horas e descobriram vários gostos em comum. Cada vez que descobria algo sobre o novo amigo, ficava encantada. Kyungsoo não era como os caras que tinha conhecido, ele era diferente. Um diferente muito bom.
Mesmo com a conversa boa, os dois tiveram que se despedir, mas combinaram que no dia seguinte se falariam novamente. Até um convite para saírem rolou, por parte da garota. E ainda que não tivesse recebido uma resposta na hora, Jolene não se entristeceu, não tinha sido um sim, mas também não levou um não. Era o primeiro dia que conversaram, então tinha muito tempo para se aproximar dele.
Conforme os dias passavam, Kyungsoo e Jolene ficavam mais próximos. Já se consideravam grandes amigos, mesmo que no fundo, a garota quisesse muito mais que mera amizade. Tinha caído nos encantos do cantor, sabia disso, agora só faltava descobrir se ele sentia o mesmo por ela.
Desde que tinha virado amigo de Jolene, Kyungsoo ficava até mais animado na hora de trabalhar: ter alguém para conversar durante as pausas do show era incrível. A nova amizade tinha feito tão bem para ele que não demorou muito tempo para Jongin perceber sua mudança.
Nos primeiros dias, notou Kyungsoo voltar toda noite com um sorriso discreto do trabalho, o que era estranho, já que sempre falava que sem a companhia de Jongin, era chato. Como estava muito ocupado com a faculdade, não ligou muito, mas nos próximos dias não conseguiu ignorar as grandes mudanças do amigo. Primeiro, Kyungsoo começou a chegar muito mais tarde que o normal, tinha até pensado que ele estava envolvido com drogas, mas logo descartou aquela possibilidade. Em segundo lugar, aquela mudança de comportamento doeu demais para o loiro, pois Kyungsoo parou de chamá-lo para fazer companhia no bar. Achou até que estava sendo um amigo egoísta, mas quando Sehun e Baekhyun estranharam o afastamento deles dois, soube que era sério.
Não tendo outra escolha, teve que perguntar, porque além de estar preocupado, estava curioso. Foi em uma noite de segunda que Jongin decidiu tirar a limpo toda aquela história.
Kyungsoo estava sentado no sofá assistindo TV. Jongin não sabia se o amigo estava muito distraído com o aparelho ou realmente a sua presença já não tinha tanta importância, mas se sentou ao lado do moreno, e tomou coragem de perguntar:
— Kyungsoo… — chamou baixinho pelo outro.
— Fala, bicho. — respondeu, ainda olhando a televisão.
O loiro bufou.
— Tem como você olhar na minha cara, caralho?
Surpreso com o tom do amigo, Kyungsoo desligou a TV e se virou para ele.
— O que tá rolando?
— Como assim, bicho?— Kyungsoo não sabia do que Jongin estava falando.
— O que tá rolando com você? Você anda estranho faz dias, chega muito mais tarde do trabalho, além de ficar sorrindo que nem otário quando volta. Anda, desembucha.
— Ah! É sobre isso. Não é nada demais, bicho, é que eu fiz uma amiga lá. Ela é super divertida, o nome dela é Jolene. — o cantor falou com um sorriso no rosto.
— Então é isso. Uma garota? Não acredito que você é daquele tipo de cara que vira as costas para os amigos quando arruma uma paquera. Esperava mais de você. — Jongin se levantou indignado.
— Claro que não, bicho! De onde tirou isso? — Kyungsoo estava confuso.
— No começo pensei que era coisa da minha cabeça, mas até os meninos notaram. Agora tudo faz sentido, era uma garota! — o loiro subiu as escadas batendo pé. Estava possesso.
— Como assim eu mudei? A gente nem conversou direito essas semanas, você estava ocupado com a faculdade. — o cantor subiu correndo atrás do amigo, não estava entendo nada.
— Essa é a questão, já faz dias que as coisas da faculdade ficaram tranquilas. E você nem percebeu porque estava com a cabeça no mundo da lua por causa da sua namoradinha. — Jongin parou no meio do quarto para encarar Kyungsoo, que havia subido as escadas atrás dele. .
— Que namoradinha, bicho? Ela só é minha amiga. Desculpa por não ter percebido que você não estava mais ocupado…
— Tem que pedir desculpas para Sehun e o Baekhyun também. Você largou a gente, eles pensaram até que tinham feito algo que você não gostou.
Após a pequena informação, os olhos do moreno se arregalaram. Não conseguia acreditar que eles estavam se culpando por causa dele.
— Nossa, bicho… Realmente fui distraído, mas é que a Jolene e eu sempre ficamos tão entretidos nos nossos papos quando estamos juntos, não percebi que estava machucando vocês.
O sorriso largo não sai do rosto de Kyungsoo ao falar da garota, e Jongin estava prestes a esfregar o rosto do moreno no asfalto. Caralho, essa doeu. Poderia ter ido dormir sem essa informação.
— É um distraído, mesmo! — tirando forças do fundo da alma, o loiro conseguiu dar um sorriso frouxo. — Mas tá tudo de boa, agora já sei que você não está metido com drogas. E por favor, quando eu e os meninos fomos ao bar, não queremos ficar de vela. Obrigado, de nada.
Deu um soquinho no ombro de Kyungsoo para aliviar o estresse.
— Sério mesmo? Não quero que a nossa amizade fique estranha. E quando vocês forem lá vão adorar a Jolene, ela é muito legal. — o moreno sorriu animado para o amigo.
— Claro que está tudo bem, idiota. Agora vai logo dormir porque você precisa trabalhar na oficina, e eu tenho que estudar amanhã.
— Tá bom, tá bom. Não precisa me expulsar. Boa noite e durma bem, Jongin. — Kyungsoo se despediu já descendo as escadas.
— Boa noite… — Jongin ficou grato que seu amigo já estava na metade da escada e não viu sua expressão triste.
Esperou Kyungsoo apagar as luzes da casa e se deitou para dormir. Fechou seus olhos, mas uma pequena lágrima escorreu pelo seu rosto. E junto a ela, várias começaram a descer.
Aquela foi a primeira vez na vida que Jongin foi dormir chorando por amor.
[...]
Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
Estou implorando pra você, por favor, não tome o meu homem
[...]
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