Jin POV
- Quem era a mulher que saiu do seu quarto, Taehyung?
Observei meu amigo que estava deitado na cama com o lençol na altura do peito, seus olhos se arregalaram pela surpresa da pergunta, mas em questão de segundos ele abriu seu sorriso quadrado.
- É apenas uma amiga antiga da família. - Me respondeu se ajeitando em seu leito.
- Estranho. - Me sentei na poltrona ao seu lado. - Não me lembro dela e eu vivia na sua casa.
- As pessoas mudam, Seokjin. Além disso, ela mora nos Estados Unidos, está na Coreia apenas de passagem, porém, soube de tudo isso que aconteceu e veio me visitar.
Taehyung pegou a sacola que eu ergui em sua direção e começou a fuçar nas coisas que haviam dentro. Meu pensamento voava longe. Na minha mente, flashes do olhar da mulher vinham e me pregavam uma peça, fazendo com que eu me perguntasse o motivo de eu não saber quem ela era, mas seu olhar parecia ser tão familiar para mim.
- Como o pessoal está? - Tae questionou me tirando de minha órbita e me trazendo de volta para o tempo e espaço real.
- Meu pai preso, seus pais presos, o pai do Jimin preso, a Eungie está presa, apenas falta alguns membros de algumas outras famílias e a mãe da Eungie que está desaparecida. Então, pode-se dizer, que o pessoal está numa boa agora, as coisas estão mais calmas, tirando tudo o que aconteceu com o Yoongi. - Expliquei, ainda tentando organizar meus pensamentos.
- Eu sinto muito por isso. O Yoongi passou por tanta coisa e ainda ter que enfrentar essa situação deve estar sendo complicado. - Taehyung comentou mordiscando um doce que eu havia trazido.
- É, mas até que o Yoongi está demonstrando ser bem forte. Achei que isso o derrubaria de vez, mas ele está empenhado em se recuperar. E acredito que ele vai conseguir.
*****
Lyn POV
- Deixa de ser fraca. Vai logo, Sora! - Empurrei o ombro de minha amiga e a observei ir em direção a mesa de Hoseok, carregando a bandeja com o pedido dele.
Eu estava no Rikki's trabalhando quando o Hoseok, que era um cliente assíduo do local, pediu que eu lhe ajudasse com um plano. A ideia era que eu convidasse Sora para ir até o Rikki's com uma desculpa qualquer, quando ela chegasse, eu a incentivaria a ir falar com ele. Como ela havia tentado algumas vezes, mas Hoseok havia se afastado em todas, ela parou de tentar. Porém, ele contou que dias antes tinha conversado com Jin e Jimin e após ponderar bastante sobre a situação, decidiu que deveria dar uma chance para que Sora falasse.
De longe, pude perceber o momento em que Hoseok segurou no pulso dela e pediu para que a garota se sentasse na cadeira à sua frente. Julgando pelo semblante de ambos, estavam iniciando uma conversa amigável, o que já era um excelente passo para os dois. Porém, minha atenção foi desviada para a porta do Rikki's, por onde um cabelo rosa inconfundível passou. Esse também era o meu momento de fazer a coisa certa. Observei a mesa em que Namjoon se sentou e me aproximei, me sentando na cadeira que estava na sua frente.
- Namjoon... - Comecei.
- Este lugar está ocupado. A Moonbyul está vindo me encontrar aqui. Eu não queria ter que pisar neste local, mas ela insistiu tanto que não consegui contrariar.
Naquele instante, fiz uma nota mental para agradecer muito a Moonbyul, porque eu sabia que essa ideia de encontro no Rikki's era um pretexto para que eu e Namjoon conversássemos.
- Obrigada, Namjoon. - Falei, fazendo com que o mesmo me fitasse em pura surpresa. - Graças as suas palavras, suas sábias palavras, eu refleti sobre as minhas ações. Eu não posso tratar a todos como criminosos, suspeitar de cada que um que se aproxima de mim. Por mais complicado que tenha sido, a vida não é o CSI. Eu vou me decepcionar, eu vou chorar, eu vou quebrar a cara, é inevitável. E graças a você, eu me lembrei de tudo isso. Eu me lembrei, Namjoon! Eu me lembrei de que eu preciso quebrar a cara, eu preciso chorar, ficar triste, para aprender, para evoluir. Cheguei em um ponto em que esqueci que essas coisas fazem parte da vida e comecei a suspeitar até de pessoas que só querem o meu bem. - Enquanto desabafava, eu não tirava meus olhos de Namjoon. Nossos olhares estavam fixados um no outro. Até que senti a sua mão sob a minha, fazendo um leve afago. - Me perdoe, Namjoonie. Você é uma das melhores pessoas que eu conheci e eu não deveria ter tratado você daquela maneira.
- Lyn, a vida é assim. Não existe bolha de proteção, não existe nada que possa nos impedir de sentir dor de vez em quando, mas a mesma vida que bate, também afaga, também traz bons amigos e boas lembranças. É isso que você tem que levar em consideração. A vida é feita de momentos, bons e ruins, mas todos eles vem e passam, nada é permanente. - Sorriu. - Confesso que eu estava sentindo muita raiva de você, ao ponto de não querer vê-la, mas eu refleti sobre tudo, pensei sobre toda a situação e me coloquei no seu lugar. Talvez, eu teria feito a mesma coisa. Por isso, eu também quero me desculpar e dizer que eu to aqui, que você pode contar comigo. E é pra sempre.
As palavras sinceras de Namjoon acalmaram meu coração e o misto de emoções que eu estava sentindo desde que havia sentado naquela mesa. Eu não me aguentei. Me levantei indo em direção aos braços de Namjoon e o abracei apertado, sussurrando um "obrigada" baixinho, mas que foi suficiente para que ele me ouvisse.
Sorri, me afastando de seu corpo, ajeitando meu uniforme e enxugando uma lágrima teimosa que decidiu saltar de meus olhos. Namjoon não se encontrava muito diferente de mim. Me recompus, pois ainda estava cumprindo expediente e voltei a agir de modo profissional.
- Qual seria o seu pedido, senhor?
*****
Quando a porta de casa foi aberta, minha mãe fitou eu, Yoongi e Jin sorrindo, extremamente contente por nos ter lá.
- Ela está querendo dizer algo. - Yoongi se pronunciou.
- Minha mãe apenas falou que está muito feliz por nos ver e que está contente por te ter em nossa casa, que agora, é sua também. - Coloquei minha mão no ombro de Yoongi que abriu um de seus melhores sorrisos, algo que eu não via fazia muito tempo.
- Muito obrigado por tudo, senhora Kang. - Ele agradeceu, sorrindo.
- Já deixei as coisas do Yoongi no lugar que você indicou, amor. - Jin me abraçou e eu devolvi o abraço, no mesmo instante minha mãe e Yoongi fizeram careta para a cena, brincando, o que arrancou risadas de todos.
- Ai como vocês são ciumentos! - Brinquei indo na direção de minha mãe a abraçando e em seguida fazendo o mesmo em Yoongi.
- Vocês vão ficar bem aqui? - Jin perguntou. Ele iria até a Factory resolver algumas coisas e em seguida se encontraria com Taehyung.
- Vamos sim. Qualquer coisa eu ligo pra você. - Respondi e entrelaçando meus dedos nos dele, me dirigi até a saída.
- Tudo bem, se cuide. - Beijou o topo de minha cabeça. - Eu te amo, não se esqueça disso.
- Eu também te amo. - Selei seus lábios.
Quando retornei para dentro de casa, vi um Yoongi sorridente assistindo TV e se empanturrando de doce. Finalmente, ele estava fora do hospital, apenas teria que fazer fisioterapia intensiva várias vezes por semana.
- Mas é uma criança, hein? E me passa essa vasilha, também quero! - Sentei na poltrona que havia ao seu lado e puxei o pote.
- LYN! - Protestou. - Eu acabei de chegar do hospital, deixa a sua mãe me mimar a vontade.
- Custa dividir o doce? Egoísta!
- Não sou egoísta. - Se mexeu tentando puxar o pote de volta. - Só quero comer tudo sozinho.
- E qual é a diferença? - Senti meu braço ser cutucado e minha mãe fazendo seus sinais, mandando eu devolver o pote para ele. - Mas, mãe... Droga!
Devolvi o pote para Yoongi que sorriu, vencedor, enquanto eu fazia bico e me esparramava na poltrona.
- Só porque você chegou, agora minha mãe vai ficar te paparicando e vai esquecer de mim. - Sim, eu parecia uma criancinha de 5 anos de idade fazendo manha.
Foi questão de segundos até eu sentir meu braço ser cutucado e minha mãe aparecer com outra vasilha cheia de trufas que ela mesma fazia.
"Pronto! Não há mais motivos para as crianças brigarem". Minha mãe disse por meio de sua linguagem de sinais, me fazendo sorrir de maneira feliz. Eu estava me sentindo leve. Olhei para o lado e pude ver Yoongi concentrado na TV, com a cara toda suja de chocolate. Tudo estava como deveria estar.
*****
Jin POV
É impressionante como a vida é como as estações do ano, existem momentos de muito sol e flores, mas também existem momentos repletos de nuvens, frio cortante e folhas secas. Muitas vezes, parecia que vivíamos as quatro estações em apenas um dia.
Nuances. Nuances da vida que nos prega peças, que nos testa, que nos faz refletir sobre quem somos e quem queremos ser. Nunca fui uma pessoa muito exotérica, religiosa ou que acredita em coisas místicas, mas algo que nunca falhava era meu instinto, aquele que fazia eu sentir a sensação de que algo estava errado.
E sim, algo estava errado.
- Nós vamos todos no Xincham, tem certeza de que não quer ir? - Perguntei pela última vez, já na porta do quarto, com Hoseok ao meu encalço.
- Não to com vontade. Vou ficar aqui e descansar. - Taehyung respondeu. Ele estava evitando a todos nós. Ele conversava normalmente com todo mundo, mas não saía mais, nem se sentava na rodinha que fazíamos em algum canto do campus apenas para conversar.
Da sala de aula, ele rumava para o dormitório, poucos eram os momentos em que ele estava integrado no grupo. Por seus pais estarem presos, por toda a pressão da mídia, até por eles serem os responsáveis pela bolsa de valores do país, comecei a me perguntar se meu amigo não estava sofrendo com problemas psicológicos, sofrendo de depressão.
Ao cruzar o corredor que ligava o prédio do meu dormitório com a parte externa e chegar nas escadas que davam acesso ao caminho que levava para a parte central do campus, encontrei com Jungkook, que tinha acabado de voltar de uma visitação que sua turma fez a uma agência que monitorava as câmeras da cidade.
- E aí, cara? Como foi o passeio? - Perguntei.
- Foi sensacional! Vi muita coisa bacana ainda mais sobre programação. - Comentou eufórico. - Oi, Hope!
Jungkook e Hoseok se cumprimentaram e ficamos conversando um pouco. Jungkook falava de tudo o que tinha visto de maneira empolgante. Era bom ver ele assim, como alguém de vida nornal, apenas um estudante. Quando terminamos o papo e nos despedimos para rumar para o Xincham, decidi aproveitar para fazer um pedido.
- Jungkook, você pode por favor bater lá no meu quarto mais tarde? O Taehyung está sozinho lá e eu to um pouco preocupado com ele. - Pedi.
- Claro. Farei isso. Qualquer coisa eu te mando uma mensagem. - Ele respondeu prontamente e se despediu de nós.
O caminho até o Xincham foi regado de muitas risadas e papos sobre a infância, era fácil conversar com Jung Hoseok e se enturmar com ele. Além disso, Jimin, Sora, Namjoon e Moonbyul se encontraram com a gente na metade do trajeto e fomos gargalhando até chegar no bar, onde Lyn e Yoongi já nos esperavam.
- Ele não vem de novo? - Lyn me abraçou pela cintura e ergueu a cabeça para olhar em meus olhos.
- Não. Mas pedi que Jungkook passasse no quarto depois para ver se está tudo bem com ele. Só queria que o Tae ficasse bem.
- Eu também. Mas pensa positivo, ok? É uma fase ruim que vai passar, ele só precisa do nosso apoio. - Lyn me encorajou e eu lhe dei um rápido selinho. Seu sorriso após nossos lábios se desencostarem foi o que eu precisava para esquecer de todas as minhas preocupações.
As nuvens iriam se dissipar uma hora ou outra, não é? Sempre era assim.
Então, entre uma cerveja e outra. Entre um rap e outro de meus amigos que estavam no palco e eu apreciava. Entre uma conversa e um sorriso. Entre um esbarrão e um pedido de desculpas. Entre uma dança e o aviso de que eu iria até o bar pegar mais uma bebida. Eu a vi.
Estava na outra ponta do bar, sentada e tomando um drink tranquilamente. Os cabelos ruivos, os mesmos que vi no hospital. Seu olhar não estava sob mim, não naquele momento, mas me veio a sensação de que ela já tinha me observado por lá antes, assim, como meu grupo de amigos. A encarei tempo o bastante para que em um determinado momento seu olhar se cruzasse com o meu, havia um certo brilho neles, algo que eu não conseguia definir, mas eu conhecia aquele olhar.
- Amor. - Dei um pulo da cadeira e quase derrubei toda a minha cerveja.
- Lyn! Minha nossa!
- Eita! O que tanto pensa aí para estar assustado desse jeito? Viu assombração? - Riu, brincando com a minha expressão.
- Não, não. Eu apenas estava distraído. - Respondi pegando em sua mão.
- Você estava demorando para voltar, então, vim te procurar. - Ela estava animada, um pouco acima do normal, tanto que não hesitou em me beijar no meio do Xincham. Efeito da bebida.
Após o nosso beijo, fui puxado pela mão em direção ao local em que estávamos. Deu tempo para que eu olhasse onde a mulher de cabelos ruivos estava, porém, apenas seu copo se encotrava no balcão do bar, ela havia sumido.
Comecei a olhar em todas as direções possíveis, algo estava me incomodando muito. Senti meu celular vibrar e visualizei uma mensagem de Jungkook.
"Taehyung não está no quarto".
Senti meu coração parar naquele instante. Por instinto apenas corri na direção da porta, precisava de ar. Precisava por minhas ideias no lugar. Apoiei minhas mãos no joelho. Respirei. Inspirei e expirei o ar com força. Sentia meu coração bombear mais rápido. Oxigenção, era isso que eu precisava, talvez, desse modo, clareasse minhas ideias. Queria que o efeito do álcool passasse.
Ergui minha cabeça, pisquei bem forte e virei o corpo, pronto para voltar para dentro e dizer que voltaria para a faculdade. Eu precisava encontrar o Taehyung.
Mas não foi preciso.
Ao longe, avistei um carro prateado parando no meio-fio, Taehyung saiu pela porta do motorista e deu a volta no carro, trocando de lugar com alguém que eu não tinha reparado que estava na calçada em todo aquele tempo. Era a mulher de cabelos ruivos.
Por instinto, tirei fotos daquela cena, diversas fotos e enviei para Jungkook, explicando a situação após ver o carro partir. Me sentei na calçada, desnorteado, tentando entender toda a situação. Se Taehyung estava nos evitando por não estar bem, por que estava saindo com aquela mulher? Será que ele estava tendo um caso com ela?
Parecia que eu estava enlouquecendo.
- Jin, o que está acontecendo? - Lyn apareceu com um semblante preocupado.
- Eu não sei, mas tem alguma coisa rolando com o Taehyung. Eu tirei algumas fotos e mandei para o Jungkook, eu vi essa mulher saindo do quarto do Tae quando ele estava no hospital. Talvez, não seja nada demais, mas eu conheço aquele olhar que ela tem, me lembra alguém, que eu não sei quem é, mas apenas me causa essa sensação.
- Posso ver as fotos? - Lyn estendeu o braço e eu passei meu celular para ela, que correu os olhos pelas imagens, devolveu o celular na minha mão e em instantes seguintes apareceu com Yoongi. - Mostra pra ele, Jin.
- Onde você quer chegar com isso? - A olhei confuso.
- Carro prateado! - Ela falou e eu logo entendi. O celular foi para as mãos de Yoongi que em poucos segundos arregalou os olhos como se houvesse se lembrado de algo.
- Esse carro! Eu não posso afirmar com 100% de certeza, mas eu vi esse carro antes de levar os tiros, se não foi esse carro, foi um bem semelhante. Mas eu vi, Lyn! Eu vi!
Troquei rápidos olhares com Lyn e logo ela já estava no telefone falando com Jungkook.
- Eu acho que a pessoa que está saindo com o Taehyung é a mesma que atirou no Yoongi. Ele está em perigo!
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