❖KIM JUNMYEON
O café da manhã estava quase pronto. Havia comprado pães, feito panquecas, ovos mexidos, cortado mangas, morangos e ameixas, fervido leite e agora cruzava os braços diante da cafeteira, aguardando o café terminar de encher a jarra. Soltei um suspiro. “O que está fazendo Junmyeon?”.
Toquei a alça da jarra tentando entender porque tinha essa necessidade tão idiota de cuidar das pessoas daquela forma. Yixing não ia comer nem metade daquilo, o que eu estava pensando?
Talvez tivesse sido a urgência que senti de levantar logo que abri os olhos. A única pessoa com quem eu compartilhara aquela cama havia sido Yifan, estar deitado sobre aquele colchão com outra pessoa parecia errado e me deixara agitado, quase como se a cama tivesse espinhos. Mas ainda assim...
Ergui o olhar para a porta do quarto e lembrei da imagem de Yixing adormecido. Seu cabelo bagunçado salpicando de negro a tez pálida, iluminada pela luz do dia que entrava tênue pelas cortinas, os lábios rosados entreabertos, a mão sobre a barriga, no exato lugar em que minha própria mão amanhecera. Aquela visão de alguma forma mexera comigo.
Eu estava tão carente assim? Estava separado de Yifan há quase um mês, será que isso estava me afetando?
A cafeteira apitou, sinalizando que o café estava pronto. Tirei a jarra do suporte a coloquei sobre a mesa posta, sentindo minha própria barriga roncar. Antes que eu pudesse comer qualquer coisa, a campainha tocou. Passei a mão sobre os cabelos, tentando amenizar o desgrenhado causado pelo travesseiro e só então abri a porta.
Senti o ar escapar imediatamente dos meus pulmões e meu fôlego faltar. Assim que bati meus olhos naquela pessoa, minha primeira reação foi tentar fechar a porta, mas fui impedido por aquela mão grande fazendo força na direção oposta.
- Por favor, me dê apenas alguns minutos!
- Vá embora. – Falei me esforçando ao máximo para soar rígido o suficiente.
- Por favor, eu imploro, me escute por dois minutos.
- Não quero ouvir nada do que tem para dizer.
- Não seja tão duro comigo, por favor. Dois minutos. É tudo o que lhe peço.
Ainda tentei forçar a porta a se fechar, mas fui vencido por sua insistência.
- Dois minutos. – Respondi enquanto abria a porta, dando permissão para que Yifan entrasse.
Ele entrou receoso, olhando tudo ao redor. Eu não queria encará-lo. Não suportava olhar para seus lábios carnudos e saber que ele os entregara a outro, não suportava olhar sua tez macia e saber que ela fora alvo de carícias de terceiros, não suportava seu nariz perfeito ou seu aroma sedutor. De repente tudo o que eu mais amava na vida me causava a mais profunda repulsa.
- Como você está? Parece magro. – Perguntou me olhando com ternura.
- Estou bem. – Levei meu olhar ao chão evitando encará-lo – Apenas diga o que quer e vá embora.
- Eu só precisava vê-lo mais uma vez. – Yifan tocou meu rosto com a ponta dos dedos e logo me desviei do seu toque. – Eu sinto muito por toda dor que lhe causei, de todas as pessoas no mundo você era a única que eu não queria machucar.
- Então por que machucou? – Murmurei sentindo meu peito começar a arder, antecipando as lágrimas. Encarei Yifan naquele momento e encontrei seus olhos negros marejados. – Eu não era o suficiente?
- Você era. Você é. Mas eu apenas não pude ver, agora parece que é tarde, não é mesmo?
- Sim. – Cruzei os braços diante do corpo, tentando fazer uma barreira protetora diante de mim, tinha medo que a mera presença dele pudesse ser capaz de abalar todas as minhas convicções. Tinha medo de fraquejar e mais uma vez me deixar vencer por suas promessas e por seu olhar clamando por piedade.
- Vai continuar morando aqui? – Ele girou em seu próprio eixo, observando todo o pequeno apartamento.
- Não, devo me mudar em algumas semanas.
- Imaginei, você sempre odiou esse lugar. – Ele riu minimamente. – Especialmente quando chove. – Não retribuí seu sorriso, estava ocupado demais tentando conter minhas lágrimas e me manter firme diante dele. – Caramba, você realmente fez muita comida para o café, está esperando alguém?
Antes que eu pudesse responder, o som de algo caindo no quarto ecoou pela casa e o olhar de Yifan mudou. Yixing devia ter acordado e tropeçado em algo.
- Tem alguém aqui com você? – Disse num tom que contrastava completamente ao que usava alguns segundos antes. – Está dormindo alguém Junmyeon?
Yifan agarrou meu braço com força, mas me vi completamente alheio a ele, mergulhado em meus próprios pensamentos.
- Seus dois minutos acabaram. – Foi tudo o que pude dizer. Minha voz saiu grave e baixa, irreconhecível até para mim.
- QUEM ESTÁ AÍ? – Gritou para a porta enquanto me sacudia.
- Me solte Yifan, minha vida não é mais da sua conta! – O empurrei, mas não tive força o suficiente para me soltar.
Yifan me empurrou com força, fazendo com que minhas costas se chocassem contra a porta fechada. Seu antebraço pressionou minha clavícula, me imobilizando enquanto seu corpo fazia uma barreira diante de mim.
- Cale a boca! Nem deixou a cama esfriar e já andou dando para outro, é isso?
- Cale a boca você, seu escroto hipócrita! Era você quem estava fodendo o prédio inteiro pelas minhas costas.
O rosto de Yifan ficou vermelho. Fechei os olhos prevendo o soco que ele acertaria em meu rosto, mas seu punho fechado acertou apenas a madeira da porta, provocando um estrondo, que foi logo prosseguido por um grito de angústia.
Yifan me soltou e agarrou a perna que acabara de ser fortemente chutada por Yixing. Ele estava lá, de pé, com o cabelo negro bagunçado, o rosto marcado pelo lençol e a maior cara de sono do universo, armado com minha lanterna quebrada. Fofo.
- Como pode dizer que ama uma pessoa e tentar machucá-la? Você é algum tipo de retardado? – Esbravejou para Yifan.
Yifan lhe lançou um olhar furioso.
- Quem diabos é você? – Gritou com Yixing enquanto lhe dava uma boa olhada e em seguida se voltou para mim. – Por que ele está vestindo suas roupas?
- Não faça perguntas as quais não quer ouvir as respostas. – Yixing respondeu por mim, rígido novamente, ameaçando lançar a lanterna nele a qualquer momento.
- Faça um favor a todos nós e vá embora Yifan, por favor. Você não tem o menor direito de chegar aqui e destratar as pessoas na minha casa.
- Essa casa também é minha! Você é meu! Não acredito que trouxe um cara pra nossa cama!
- Vá embora! – Yixing arremessou a lanterna em Yifan, que desviou por pouco.
- Seu merdinha, eu vou acabar com você! – Ele fez menção de agarrar Yixing, mas me coloquei entre os dois no mesmo instante.
- Não me faça chamar a polícia, por favor.
Yifan apertou os olhos e bateu na própria cabeça.
- Merda, merda, merda! Eu vim aqui para terminar tudo em paz! Olha o que isso tudo se tornou! Isso é culpa sua!
- É mesmo? – Yixing rebateu irônico. – Que eu saiba o traidor aqui é você!
- Escute, Yifan. – Me esforcei para recuperar a calma. – Nós estamos em paz, não se preocupe. – Tentei acalmá-lo.
Os olhos dele se abriram e procuraram os meus.
- Você me perdoa?
Mordi os lábios com força.
- Me desculpe Yifan, mas eu não consigo perdoá-lo. Não agora, não com tudo tão recente.
- Eu realmente sinto muito por tudo que causei a você. Se ao menos eu pudesse voltar no tempo.... – Ele suspirou. – Mas eu não posso. Não posso consertar o que fiz e vou lamentar isso para sempre. Eu vou sumir da sua vida, eu prometo. Apenas... por favor, se cuide, você é tão pequeno e frág...
- Eu sou um homem adulto e não uma criança. – O cortei.
- Certo, você tem razão. – Ele apertou os lábios e encarou Yixing atrás de mim. – Adeus, Junmyeon. Espero que seja feliz.
- Adeus, Yifan.
Ele fez menção de me abraçar, mas recuei, esbarrando acidentalmente em Yixing. Em seguida Yifan se foi, e pela primeira vez, eu não chorei por isso.
Os braços de Yixing lentamente contornaram minha cintura, me abraçando por trás.
- Hey, já acabou. – A boca de Yixing roçou levemente na pele da minha orelha, fazendo os pelos da minha nuca se eriçarem. – Não se abale por isso, okay? Estou aqui para você.
Agitei a cabeça em uma afirmativa em silêncio. Me virei e finalmente o encarei, Yixing sorria docemente, de uma forma que me fazia estranhamente desejar abraçá-lo.
- Obrigado por me defender com a lanterna. – Ri.
- Depois de tudo o que fez por mim, sir, era o mínimo que eu podia fazer, não é mesmo?
Sorri para ele dispensando a retribuição de qualquer coisa.
- Chega, vamos comer.
Yixing se virou para a mesa e seus olhos brilharam.
- Ooooh! Você fez tudo isso? Realmente deve estar com muita fome!
- Sim, eu estou faminto!
❖ ZHANG YIXING
- Santo Deus! Onde é que você estava? – Jongdae me abordou assim que pisei dentro de casa. – Estou ligando para você há horas.
- Me desculpe por não o ter avisado Dae, eu meio que perdi minhas roupas e meus pertences.
O rosto dele congelou em uma careta.
- Você o quê???
Suspirei.
- É uma longa história.
- Oh, eu não estou com pressa. É sério Yixing, estava preocupado que algo tivesse acontecido com você. Tem andado tão distante ultimamente. Eu lhe dei espaço para se recuperar do rompimento com Luhan, mas não sei se tem sido isso que tem movido você nos últimos dias. Você está diferente.
Encarei Jongdae por um instante, como eu explicaria aquilo para ele? Sempre fomos amigos e se havia algo que nos unia, era nosso caráter. Como explicar para ele que eu havia me tornado um tipo desprezível que transa em festas e se sujeita a humilhações como ficar nu e bêbado no meio da rua? Certamente ele me repreenderia veementemente e, no momento, aquilo não me cabia.
- Eu saí com um amigo, fomos em uma festa e as coisas saíram um pouco do controle. É só isso que precisa saber.
- Amigo? Que amigo? Eu conheço?
Balancei a cabeça de um lado para o outro.
- Hmmm, talvez, mas não acho que tenha prestado atenção nele.
Jongdae cerrou os olhos e segurou o queixo enquanto me fitava com desconfiança.
- E vocês dois...
- Oh, não. Não é esse tipo de amizade. – Ele me olhou dos pés à cabeça, provavelmente reparando na roupa que não era minha.
- Certo, Yixing, não vou enchê-lo de perguntas, por mais que esse seja meu desejo agora. Eu só quero que entenda que eu me preocupo com você. Não quero que acabe tomando decisões as quais se arrependerá no futuro.
Recebi aquelas palavras em silêncio. Não tinha como eu me arrepender de algo que só viria a me fazer bem, não é mesmo? Tantas pessoas viviam daquele modo e eram felizes, não eram? Eu não precisava de alguém fixo ao meu lado, não precisava viver na insegurança de não ser correspondido. Eu não queria mais aquilo e se a opção que eu tinha era encontrar conforto nos braços de desconhecidos em momentos passageiros, por mim tudo bem.
- Não se preocupe Dae, eu sou grandinho o suficiente para saber o que fazer da minha vida.
- Será que é mesmo? Me desculpe Yixing, eu sou seu amigo e não seu pai, mas tenho medo de que o término com Luhan tenha transformado você. Não deixe que isso o afete negativamente, todo mundo já teve o coração partido alguma vez na vida, você não foi o primeiro e nem será o último, e nem por isso o mundo chegou ao fim.
- Dae, eu o amo, você sabe disso, não sabe? – Ele concordou com a cabeça e abriu um sorriso mínimo. – Eu tomei algumas decisões para minha vida que, se eu as contar para você, provavelmente não as entenderá. Não é o drama de alguém que teve o coração partido, foi apenas o resultado de uma constatação daquilo que eu não quero para minha vida.
- E o que seria isso?
- Eu não quero me apaixonar. Não tão cedo, talvez nunca mais.
Jongdae riu da minha declaração como se eu tivesse acabado de contar a piada do século. Me mantive impassível e, ao notar minha expressão, aos poucos o riso dele foi sumindo.
- Está falando sério?
- Por que não estaria?
- O que faz você pensar que tem poder de decidir sobre algo assim? Nós não escolhemos se amamos ou não, a vida escolhe por nós. Quando você vê, já está gastando suas preciosas horas de sono acordado, pensando em pequenos detalhes de um rosto que ficou na sua mente, de uma voz que chacoalhou suas ideias, de um perfume que o fez revirar os olhos de prazer. Você não simplesmente escolhe não sentir nada disso.
Franzi os lábios ao lembrar do toque morno de Junmyeon em meu rosto. Não Yixing, não vá por esse caminho!
- Mas eu escolhi, Jongdae. E não pretendo mudar de ideia.
Jongdae me segurou pelos ombros e me encarou no fundo dos olhos.
- Ah Yixing, eu sinto tanto por estar sofrendo assim. – Desviei o olhar, não queria pensar em sofrimento agora. – Mas não faça isso consigo mesmo, só irá se ferir ainda mais. Relações passageiras, sem sentimento, não são saudáveis. Eu não sei o que esse seu novo amigo colocou na sua cabeça, mas não é assim que as coisas funcionam.
- Ele não colocou nada em minha cabeça, Jongdae. – Afastei suas mãos. – Ele é uma boa pessoa. Acho que eu é que sou o danificado, mas não acho que isso seja um problema.
Jongdae suspirou, se dando por vencido.
- Se é assim que você pensa, não há nada que eu possa fazer. Mas espero, do fundo do coração, que desista dessa ideia, você não é esse tipo de pessoa superficial que quer se tornar.
Ouvi o que ele disse em silêncio e meneei a cabeça levemente. Em seguida girei nos calcanhares e fui para meu quarto dando aquela conversa por encerrada.
-❖-
- Junmyeon-ah! Yixing está aqui. – Kyungsoo gritou sem tirar os olhos do livro que estava lendo.
- Yixing, você aqui de novo? – Chanyeol pulou na minha frente sorrindo. – Estou começando a desconfiar das suas intenções com nosso pequeno Myeon, viu.
Sorri com certo embaraço.
- Não. Somos apenas amigos.
Chanyeol me deu uma cutucada no ombro e riu de mim.
- Se você está dizendo, então eu acredito. Agora, se você é amigo do Junmyeon, você automaticamente também nosso camarada. – Fez um movimento com as mãos apontando rapidamente para si mesmo e Kyungsoo, que estava apoiado no balcão, folheando um livro de culinária. – Como eu simpatizei com você queria avisar que domingo é meu aniversário. Geralmente nós saímos daqui cedo e cruzamos a cidade de bicicleta para meu restaurante favorito. Quer se juntar a nós? Lá tem um karaokê incrível e como somos um número ímpar, um sempre acaba sobrando ou tendo que cantar mais vezes. Um a mais seria bem-vindo.
Abri a boca completamente surpreso, não esperava um convite tão espontâneo de Chanyeol. Olhei para Kyungsoo esperando alguma expressão de reprovação, mas ele continuou lendo normalmente.
- Hããã, claro, Chanyeol. Eu adoraria, mas os outros não vão se incomodar?
Kyungsoo ergueu os olhos captando a indireta no ar.
- Se está se referindo a mim, não se preocupe, pode vir. Sou sempre eu que sobro para cantar mais vezes, se eu não precisar mais fazer isso juro que levo você para todos os aniversários. – Baixou o olhar para o livro novamente e abriu um sorriso simpático.
- Sendo assim então eu vou. – Dei de ombros com certa empolgação.
- Ruuuuuum, pensei que você gostasse de cantar, Soo. – Chanyeol o cutucou emburrado.
- Ah eu gosto, mas não as músicas zoadas que você escolhe.
- Você não tem o menor senso de humor, santo deus!
Ri da conversa dos dois.
- A que horas vocês saem de bicicleta daqui?
- Cinco da manhã. – Kyungsoo respondeu.
- Hãããããããã? Por que tão cedo?
- É o horário que nosso expediente acaba no sábado. – Chanyeol respondeu com um pouco de vergonha. – Sei que é cedo, até mesmo para nós, que já estamos acostumados a trocar o dia pela noite, mas a paisagem vale muito a pena. É um passeio divertido, garanto.
Junmyeon finalmente saiu da ala de funcionários, trazia uma sacola em mãos.
- Aqui, trouxe suas roupas, sua carteira e seu celular. – Ele colocou a sacola sobre o balcão e imediatamente Chanyeol e Kyungsoo o encararam completamente perplexos. – O que foi?
- “Apenas amigos”, huh? – Chanyeol disse em tom provocativo, mas Junmyeon apenas revirou os olhos em resposta.
- Obrigado Junmyeon. – Agradeci com uma leve reverência.
- Tome mais cuidado da próxima vez, olhe se a pessoa não carrega uma aliança no dedo. – Inconscientemente ele ergueu a mão e apontou para onde ficava sua própria aliança, pude ver seu olhar ganhando um pequeno tom de tristeza assim que ele se deu conta do que acabara de fazer. Junmyeon abaixou a mão e se obrigou a sorrir. – Mas hein, do que estavam falando?
- Eu o convidei para meu aniversário. – Chanyeol respondeu.
- Sério? – Junmyeon ergueu as sobrancelhas e me encarou. – E você aceitou acordar de madrugada para cruzar Seoul de bicicleta? – Ele sorriu abertamente, revelando sua coleção de dentes brancos e uma risada cativante.
Dei de ombros.
- Já deve ter percebido que sou um grande entusiasta de novas experiências.
- Você é maluco, isso sim.
Sua constatação tão pura me fez rir. Eu realmente havia rompido com a maioria dos meus próprios conceitos e englobado ideias completamente novas. Para as pessoas normais, isso podia sim soar como maluquice. Mas vindo dele parecia apenas uma brincadeira, afinal, ele me achou pelado no meio da rua.
- Nós nos vemos não domingo então. – Chanyeol deu alguns tapinhas nas minhas costas e pegou uma bandeja. – Agora nós temos que trabalhar.
Peguei minhas roupas e agradeci mais uma vez, deixando-os livres para voltarem ao trabalho.
Guardei a carteira no bolso da calça e desci a rua rumo ao metrô. Ultimamente passar no bar dos meninos havia se tornado um ritual diário antes de eu ir ao trabalho. Eu amava meus amigos e a companhia deles era sempre um alívio ao coração, entretanto estava contente por ter conhecido novas pessoas. Gostava do alto astral de Chanyeol e dos modos reservados de Kyungsoo, que aos poucos se revelava uma pessoa de humor sarcástico, mas carinhosa. E também tinha Junmyeon.
Nós éramos diferentes em muitos aspectos, eu era hiperativo e respondão, enquanto ele era cuidadoso e pensativo, contudo, de alguma forma, quando estávamos juntos parecia haver um equilíbrio entre nós. Isso era bom.
Paguei minha passagem e entrei no metrô, olhando no relógio de pulso os minutos que faltavam para o início do meu expediente. Sentei no primeiro lugar vago que avistei e comecei a vasculhar a bolsa em busca dos fones de ouvido.
Naquele instante uma gargalhada ecoou pelo vagão, fazendo com meu coração disparasse em resposta àquele som.
Não, por favor, não.
Lentamente ergui o rosto e procurei pelo dono daquela risada, sentindo minha respiração falhar e um nó se instalar em minha garganta. Um pouco mais abaixo no vagão, lá estavam eles. Sentados juntos, de mãos dadas, rindo de alguma coisa que só eles dois poderiam saber. O rosto de Luhan ganhara tons de rosa por causa do riso tão honesto e meu peito se apertou ao vê-lo tão completamente feliz.
Dei uma boa olhada em Oh Sehun e mordi minha própria boca ao constatar que ele era um rapaz lindo. Alto, esguio, com cabelos castanhos bem penteados e roupas bem alinhadas. Ele era bem mais novo do que Luhan, mas olhando para os dois juntos, não parecia haver diferença alguma.
Vê-los juntos foi como receber o soco daquele cara da boate de novo, mas multiplicado por mil. Luhan não parecia sentir o menor remorso, a menor tristeza, a menor falta de mim. De alguma forma aquilo me fazia sofrer mais do que tudo.
Sehun era tão melhor do que eu assim? Ele havia sido capaz de fazer com que Luhan me apagasse completamente de seus pensamentos? Eu sei que eu devia olhar para Luhan e desejar sua felicidade, afinal de contas, eu o amava, mas por que simplesmente não conseguia?
Não conseguia desejar a felicidade dele, não com outro. Não enquanto eu estava morrendo por dentro. Desviei o olhar para o chão, sentindo minha respiração ficar entrecortada e a visão ser embaçada pelas lágrimas que se acumulavam.
Merda, merda, merda!!!
Eu estava me sentindo tão bem, por que a vida de repente jogou algo assim diante de mim? Eu não precisava ver aquilo. O que eu fiz para merecer um castigo tão grande do universo? As lágrimas escorreram pelo meu rosto e rapidamente as sequei, sentindo muita raiva de mim mesmo. Aquilo não devia me abalar daquela forma, mas que droga!
Peguei o iPod e coloquei os fones de ouvido sentindo as mãos tremerem. Para minha sorte, nenhum dos dois me avistara. Fiz o restante do caminho até minha estação completamente imóvel em meu lugar. As músicas ressoavam altas em minha mente, mas tudo parecia apenas ruídos disformes em meio aos meus pensamentos inquietos.
Assim que o metrô parou em minha estação, praticamente corri para fora, sugando o ar como se o tempo todo estivesse prendendo a respiração. Minhas ideias rodopiavam enquanto eu sentia um aperto no estômago que me dava ânsias.
Levei alguns instantes para me recuperar, respirando fundo e apertando minha própria cabeça com as mãos. Eu precisava me livrar daquilo! Daquele sofrimento, daquela dor. Mas como? Como eu faria aquilo? O quão vazio eu precisava me tornar para esquecer a dor que Luhan causava em meu peito? Me vi desesperado. Sem saber por onde começar.
O que no mundo podia curar aquela tristeza que eu sentia? Eu me sentia tão pequeno e repugnante, incapaz de amar ou ser amado novamente. Quem no mundo seria capaz de me amar incondicionalmente? Ninguém! Eu fora trocado tão facilmente, devia haver algo errado comigo. Era burrice insistir no amor, apenas burrice, ao menos para mim.
Definitivamente, amar não era para Zhang Yixing e eu teria que aprender a conviver com isso.
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