Stiles andava de um lado para o outro em um dos corredores do hospital, onde Lydia, Erica e Freya estavam sentadas, apenas observando o amigo quase cavar um buraco com os pés. Tentava se concentrar em saber o que estava acontecendo, o que falavam, mas vários sons o confundiam, sua audição estava pregando uma peça de tão confusa, ouvia pessoas conversando, teclas de computador, música do fone de ouvido de alguém que estava na sala de espera. Mas não conseguia ouvir Melissa e nem o médico. Simplesmente estava tudo bagunçado. As garotas se levantaram assim que a enfermeira se aproximou, limpando uma lágrima de seu rosto.
- Ele... - Melissa abaixou a cabeça, suspirando fundo antes de voltar a encarar o castanho. - Ele não sobreviveu. Já estava sem pulso quando chegou e devia estar assim a um bom tempo. Foi uma parada cardíaca. Eu sinto muito.
A mais velha tentou colocar a mão no ombro de Stiles que se afastou, colocando as mãos na frente do corpo, pedindo para que ficassem longe.
- Stiles... - Lydia tentou se aproximar, mas o garoto apenas sumiu, usando sua velocidade sobrenatural.
***
- Que merda você fez?!
Thomas gritou, entrando no quarto de Hayden que estava deitada em sua cama, folheando uma revista e tomando alguma coisa que o híbrido não se deu ao trabalho de olhar. Ela o encarou com um meio sorriso.
- Oi, sim eu estou bem e você? Oh, claro meu amor eu mesma fiz o trabalho sujo, não se preocupe. - a bruxa sorriu mais ainda, fazendo o outro rosnar e jogar a cômoda ao seu lado com força no chão.
- Não era pra você tocar no pai dele!
- Por que? Iria matar o Derek, dois coelhos em uma cajadada.
- Iríamos matar só um! Você fodeu com o plano.
- Eu melhorei ele. - Hayden colocou sua famosa taça em cima do criado mudo, se levantando e de aproximando do outro. - Vai dizer que se importa. Sabemos que a única coisa que importa pra você, é você mesmo.
Ela mordeu seu lábio antes de se aproximar do pescoço de Thomas, distribuindo beijos molhados por ali até seu abdômen ainda com roupa. O híbrido a tirou de perto, jogando a garota em sua cama.
- Se você tocar em mim de novo, eu te mato. Atrapalhou meu plano duas vezes, pode ter certeza que não haverá uma terceira.
Ele saiu do quarto, andando de um lado para o outro pela sala, sentindo Hayden se aproximar com passos pesados e começar a xingá-lo. Não prestou atenção e pegou seu celular, procurando o número de Elena e ligou. Demorou algum tempo para a loba atender.
- Elena, já matou o Derek? - ele perguntou antes que ela pudesse falar alguma coisa.
- Ainda não, estou pensando em um plano.
- Não precisa. Deixe ele e volte pra Beacon Hills, vou entregar seu irmão.
- O que? É sério? - a garota falou, tentando não deixar a animação aparecer em sua voz.
- Rápido, antes que eu mude de ideia.
Desligou e encarou a bruxa que tinha os olhos arregalados.
- Vai deixar ele ir?!
- Vou. Hayden olha só, - Thomas se aproximou. - está viva porque preciso de você mas posso achar outra bruxa disposta a colaborar. Então não entre no meu caminho de novo, nem suas magias vão poder tirar a dor que eu vou fazer se me atrapalhar novamente. - ele deu um sorriso de canto, colocando a mão na bochecha dela. - Fui claro, amor?
- Muito.
Theo abriu seus olhos lentamente, sentindo seu pescoço doer. Colocou a mão no local e massageando, tentando se sentar. Assim que conseguiu ter uma visão mais clara, não fazia a mínima ideia de onde estava. Parecia um porão, com algumas coisas velhas e muita, muita poeira. Tentou se arrastar para frente, sentindo alguma barreira o empurrando de volta.
- É uma barreira de sal. Nada pode sair. - um garoto que estava abraçando os próprios joelhos disse.
- E você seria?
- Jeremy. Um refém do Thomas.
- Ah, claro.
O híbrido bufou e se levantou, tentando mais uma vez atravessar a barreira, sempre sendo empurrado de volta. Conseguia ouvir apenas alguns sussurros do andar de cima, então suspirou e se sentou novamente. Esperou que o garoto começasse a falar de novo, sobre qualquer coisa ou como um humano se meteu em uma briga de híbridos, como normalmente falam sem parar quando estão nervosos. Mas Jeremy apenas ficou quieto, vez ou outra estralando seu pescoço por ter que dormir no chão. Também não se mexeu um centímetro quando Thomas desceu as escadas, abrindo a porta e indo até eles com o mesmo sorriso de canto.
- Estão confortáveis?
- Já estive em lugares piores. - Theo respondeu sem encará-lo.
- Sei que estava protegendo uma criança, mas mentiu pra mim. E obviamente não sou tão mau a ponto de machucar a... Como é? Laura?
- Fala logo o que quer.
- Jeremy pode sair, sua irmã está vindo buscar você.
O garoto pareceu pensar por uns segundos antes de levantar e tentar atravessar a barreira, deu um sorriso quase imperceptível quando conseguiu passar. Thomas sorriu para Theo e segurou o braço do mais novo, o levando para o andar de cima.
É, pelo jeito seria refém mais um tempo.
***
A pack inteira procurava por Stiles que simplesmente desapareceu pela cidade. Não deixando uma mensagem ou nada dizendo onde iria. Sabiam que o garoto acabara de perder o pai, seu único parente. Mas era um vampiro agora, quanto mais se deixasse levar pelas emoções, mais longe de sua humanidade estaria. Procuravam onde o castanho normalmente iria, em sua cafeteria preferida, na reserva de Beacon Hills, no parque da cidade, até na escola. Nada.
Cora deu um meio sorriso assim que teve ideia de onde ele estaria. Deixou a filha com Klaus e pediu para ir sozinha, sabendo que o amigo estaria completamente destruído.
Desceu do carro assim que estacionou na casa do lago, sentindo o cheiro de tristeza a quilômetros. Entrou na casa e subiu correndo para um dos quartos, vendo Stiles abraçado a um travesseiro na cama, completamente encolhido.
- Eu quero ficar sozinho.
A beta engoliu o próprio choro ao escutar a voz do amigo embargada pelas lágrimas. Não respondeu e apenas jogou seus sapatos no chão e deitou ao lado dele, se enfiando pelos cobertores grossos que estavam em cima de Stiles e o abraçou por trás.
O garoto começou a chorar mais ainda, agarrando o braço de Cora, que estava em sua cintura, mantendo a amiga mais perto dele.
Depois de duas horas chorando cumpulsivamente, ele finalmente dormiu. A beta suspirou e se levantou, indo até o andar de baixo para poder criar outro grupo com todo o pack e sem o Stiles. Sabia como era perder a família, ainda tinha Derek, e se perdesse ele, com certeza estaria mais que destruída. Peter nem estava na cidade e não se importou em vir ajudar quando estava tudo dando errado, exatamente como agora, então ele não contava.
Todos mandaram várias figurinhas e mensagens aliviadas, dizendo para Cora o deixar melhor possível e que iriam organizar o funeral de Noah.
Malia: Acho que vai ser bom. Ele precisa se despedir do pai.
Kira: Concordo. Mas precisamos ficar de olho, um vampiro completamente destruído não vai ser muito bom.
Erica: Cora cuida dele. Podemos preparar tudo pra sei lá... Amanhã.
Isaac: Como vai preparar um funeral em um dia?
Erica: Sou Erica Reyes, meu amor. Eu dou um jeito.
Scott: Certo. Mas ele é menor de idade ainda, vai precisar de alguém.
Klaus: Posso pegar a guarda dele.
Cora: Como é?????
Klaus: Posso morar com ele até as coisas ajeitarem. E sou maior de idade.
Isaac: Isso com certeza.
Lydia: Isaac, cala a boca.
Isaac: Tô calado. Eu tô escrevendo.
Malia: Alguém tira ele do grupo?
Cora deu um meio sorriso e deixou o celular no balcão. Como amava essa alcatéia louca. Procurou alguma bolsa de sangue no freezer, sorrindo aliviada quando encontrou uma. Preparou um café e colocou em um copo térmico, enchendo com sangue e subindo as escadas. Sabia que o amigo amava essa mistura e o deixaria melhor. Pelo menos esperava. Deixou o copo em cima do criado mudo, observando o castanho dormir calmante, encostada no batente da porta.
Estava surpresa o quanto o amigo já sofreu, Derek contou algumas vezes sobre sua infância. Os ataques de pânicos, ansiedade, as vezes bullying, a morte de sua mãe, todo o mundo sobrenatural e agora seu pai também. Com certeza sentiam orgulho dele, isso não havia a menor dúvida.
***
Stiles não sabia quantas pessoas estavam no funeral de seu pai, dizendo que ele era um homem incrível e bom, mesmo nunca se quer falado com ele. Não se importou quando Jordan Parrish assumiu o posto de xerife. Afinal era um dos melhores agentes e braço direito de Noah, nada mais que justo. Depois de muitas lágrimas e "sinto muito" apenas por dizer, esse dia torturante estava acabando. Se despediu de seu pai, estava ciente disso, mas seu sofrimento estava chegando ao fim, mesmo sem os outros saberem. Todos os amigos decidiram deixar Erica ficar com ele por um tempo, a loira era a melhor amiga dele, não perderia a oportunidade de deixá-lo melhor. Stiles tirava seu terno preto em seu quarto, enquanto Erica estava sentada na cama ainda com seu vestido preto regata. A loira tirou o salto alto, soltando um suspiro aliviado.
- Isso é melhor que sexo. - ela disse em uma tentativa ganha de deixar o garoto com um sorriso. Stiles deu uma gargalhada, jogando a gravata em cima da escrivaninha.
- Deve ser horrível usar essas coisas.
- Tem mulheres que gostam. Eu gostava mas depois de vampira, a dor nos meus pés fica Impossível. - ela se levantou, pegando uma camisa do amigo em seu roupeiro. - Vou tomar um banho depois você vai.
- Fica a vontade, como sempre.
Erica deu língua para ele, logo sorrindo e entrando no banheiro. Stiles pegou seu celular rapidamente, discando o número de Cora, sentindo a beta atender dois segundos depois.
- Hey, Stiles! - ela falou animada. - Está tudo bem?
- Eu quero que me prometa uma coisa.
- O que...
- Só promete que vai fazer.
- Tá, claro. O que quiser.
- Quero que pegue a Laura e vá embora da cidade.
A linha ficou muda por alguns segundos, logo ouvindo a amiga quase gritar.
- O que?!
- Me prometa. Assim vocês ficam em segurança. Não me diga pra onde vão ou em que hotel.
- Stiles...
- Só me prometa.
- Eu prometo. Mas por que isso?
- Vai saber. Vão agora.
O castanho não esperou que ela dissesse alguma coisa, apenas desligou. Terminou de tirar toda a roupa apertada, colocando alguma mais a vontade. Erica saiu cinco minutos depois com os cabelos um pouco bagunçados e apenas a blusa do amigo que ficava um pouco grande nela. A garota deu um meio sorriso e se sentou na cama.
- Então, o que vamos fazer? Que tal eu te ganhar no vídeo game mais uma vez? - ela falou com um sorriso debochado que sumiu aos poucos ao ver a expressão séria do castanho. - O que foi?
- Olha, eu... Amo vocês. Amo muito, mas... Eu não consigo.
- Do que tá falando?
- Eu não consigo fingir que tá tudo bem. Eu não consigo seguir a minha vida. Meu pai e minha mãe estão mortos, Derek e eu terminamos e tenho uma duplicata do mal por aí.
- Stiles... Não me diz o que acho que você vai dizer... - a loira arregalou os olhos, se levantando rapidamente. - Não! Não, não, não e não! Você NÃO vai fazer isso Stiles Stilinski.
- Não é sua escolha.
- Me escuta, ser vampiro é difícil, eu sei. Mas desligar a humildade não é uma opção.
- E o que eu devo fazer? - Stiles quase gritou, assustando um pouco Erica, mas que logo se recompôs. - Fingir que estou bem? Que segui com a minha vida e superei tudo? Não! Eu não consigo. E nunca vou conseguir. A escolha já está feita.
- Olha pra mim. - Erica colocou as mãos nas bochechas do amigo, o fazendo a encarar. - Tudo que torna o que você é, essa pessoa meiga, legal, engraçada e que se preocupa com as pessoas mesmo que não as conheça, é por causa da sua humanidade. Se desligar não vai mais ser isso e vai ser impossível te trazer de volta. Não vou deixar.
A loira o abraçou com força, que retribuiu nas mesma intensidade por alguns minutos. Assim que ela se afastou, limpou uma lágrima do rosto do amigo.
- Desculpa... Se lembre que eu amo vocês.
Ela não conseguiu falar nada antes que Stiles quebrasse seu pescoço, fazendo o corpo da amiga cair em seus pés.
***
Cora não sabia o que Stiles queria dizer com tudo aquilo. Prometeu mas... Havia Thomas por aí, querendo a cabeça de todos e não era uma boa hora pra fugir. Laura estava segura no loft, já que aquele idiota não conseguia entrar. Mas sentiu um frio na espinha quando Erica mandou uma mensagem desesperada, dizendo para todos irem para o loft.
A loira explicava o que aconteceu rapidamente, não tomando fôlego entre tudo que falou em dois minutos. Ela suspirou assim que parou de falar, recuperando todo ar e sentindo os olhares dos amigos queimando sua pele.
- O que é desligar a humanidade? - Isaac perguntou depois de um tempo de silêncio.
- É uma forma dos vampiros não sentirem nada. - Klaus começou a explicar, apoiando suas mãos na mesa. - Como um botão, você desliga ele e pronto. Raiva, amor, tristeza... Tudo vai embora. E pra ligar de novo não é fácil. Precisa entrar de verdade na cabeça dele, tentando achar algum traço de sentimento.
- Como não percebemos que ele estava tão mal a esse ponto? - Kira falou enquanto brincava com os próprios dedos.
- Ele já aguentou muita dor. Todas as mortes e o nogtsune. O deixou mais a ponto de desistir.
- Temos que trazê-lo de volta. - Scott limpou uma lágrima que escorria em sua bochecha. - Faremos qualquer coisa pra isso.
***
Thomas sorriu assim que Elena e Jeremy foram embora rapidamente. A loba apenas parou e colocou o irmão no carro, agradecendo várias vezes ao híbrido por deixá-lo ir. Ele apenas ignorou Hayden reclamando em seu ouvido, pegou sua moto e saiu, deixando a bruxa gritando na varanda. Estava com fome, e esse horário haviam menos pessoas em lanchonetes, seus lugares preferidos.
Sorriu assim que foi até o balcão, vendo uma garota com cachos pretos e algumas sardas no rosto limpando ali. Ela deu um sorriso simpático.
- Oi, sabe o que vai querer?
- Oi, hm.... - Thomas olhou para o crachá dela, logo a encarando novamente. - Elizabeth. Vou querer só um café médio.
- Pra viagem?
- Não, vou ficar aqui mesmo.
Ela deu um meio sorriso e foi até às máquinas atrás de si, começando a preparar. Havia apenas um homem em uma mesa afastada com vários papéis em cima, parecia um professor corrigindo várias provas enquanto tomava longos goles de seu café. A garota entregou o copo para ele, dando um sorriso tímido ao perceber o olhar penetrante do outro em seu rosto enquanto colocava uma nota de vinte dólares no balcão.
- E-eu vou... Limpar lá dentro. Se precisar de qualquer coisa é só chamar. - Elizabeth apontou para a cozinha, fazendo o outro assentir e rir um pouco.
Thomas se surpreendeu quando alguém o puxou para fora do estabelecimento com uma velocidade sobrenatural, o levando até um beco escuro no fim da rua. Viu Stiles segurar seu pescoço e o empurrar contra a parede, batendo suas costas repetidamente ali.
- Sabe que sou mais forte, não é? - ele falou tentando sair do aperto do outro, que apenas o jogou contra o final do longo corredor.
- Sou mais esperto.
- Por que atrapalhou meu café? Se vingar do seu pai? - o híbrido disse enquanto se levantava.
- Na verdade não. Eu não ligo pra isso.
- Como é? - Thomas franziu as sobrancelhas antes de perceber o olhar sem brilho do outro como era quando o viu pela primeira vez. Apenas um olhar vazio e um sorriso de canto, exatamente como ele mesmo fazia. - Você desligou.
- E quer saber? Valeu mesmo. É muito mais fácil não sentir o luto e poder se alimentar, não ligando se vai machucar alguém. - Stiles sorriu. - Já matei cinco pessoas. Eu acho. Ou mais. Não sei se aquele caminhoneiro sobreviveu.
O híbrido riu um pouco e se aproximou.
- Acho que meu plano deu certo. E o que me diz "gêmeo"? Tá afim de um lanchinho?
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