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História Hyukjae Nunca Mais - 002. - História escrita por actually-kim - Spirit Fanfics e Histórias
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História Hyukjae Nunca Mais - 002.


Escrita por: actually-kim

Notas do Autor


Olá, Romeus e Julietas.

Capítulo 3 - 002.


A minha casa sem você é triste, a espera arde sem me aquecer.

Meu humor está um inferno. Acordo na cama vazia, me remexo nos lençóis e me estresso com a luz do sol entrando pela janela. Quem abriu a porcaria da cortina?

Hyukjae aparece na porta, se encosta no batente e me olha com uma carinha divertida. Não consigo ver o que há de engraçado. Ele ri e pula na cama, cheira meu pescoço e me chama de paixão. Só pode ser brincadeira.

- Não estou exatamente no clima hoje, Hyukjae.

- O que foi que aconteceu? – ele parece confuso.

- Sei lá, mau humor matinal.

Ele sorri de novo e se deita ao meu lado, roçando os polegares um no outro como se estivesse guardando uma ansiedade louca dentro do peito, mas sua expressão é tranquila. Hyukjae está usando uma camisa de promoção (minha) e sua boxer azul-marinho. Observo o sol banhar de luz as suas coxas, joelhos e pés. São como pequenos diamantes cravejados abaixo de sua pele que eu fantasio e vejo com meus olhos ainda embaçados, sonolentos.

Hyukjae percebe que estou olhando e sorri de canto, ele estende a mão para o meu rosto e tira uma mecha de cabelo e outra da frente dos meus olhos, desenrola uma liga do pulso com os dentes e dá umas duas voltas no rabinho de cavalo que ele montou atrás da minha cabeça.

- Tá calor – ele diz.

Eu dou uma olhada no meu reflexo no espelho manchado de fita adesiva na porta do guarda-roupa. Estou suado, com a cara amassada, o cabelo é a única coisa certa.

- Você prende meu cabelo melhor do que eu jamais faria.

- Eu faço uma série de coisas melhor do que você jamais faria – ele comenta, sacudindo os ombros.

- Faz uma lista e deixa em cima da mesa quando for embora, assim eu vou poder me divertir quando estiver sozinho.

Hyukjae une os lábios para não deixar sair um riso que provaria que sou quatro vezes mais habilidoso. Ele fica quietinho enquanto eu levanto, pego uma toalha e entro no banheiro.

Nunca pergunto quanto tempo ele pretende ficar, talvez porque saiba que ele se faz a mesma pergunta todos os dias. Hyukjae era uma bússola quebrada que apontava nortes diferentes a cada intervalo de cinco minutos, mas eu já conheço o olhar de quando ele vai embora. É como uma luz a se afastar a quilômetros dali e, de modo conformista e sincero, já estou pronto pra ser deixado. Se houvesse alguma chuva naquela seca, Hyukjae me deixaria justamente nela, numa tentativa inconsciente de me dar um golpe de solidão, de me deixar meio estirado na travessa da desolação.

Começo a organizar os materiais para preparar as das máscaras temáticas que Kyuhyun me encomendou. Resolvo abrir as janelas e deixar entrar algum vento e sol, já que o clima de inferno só vai mesmo ajudar a secar meus moldes. Hyukjae está no sofá, posso vê-lo perfeitamente na minha frente, está vendo um desses programas que tentam nos convencer que estamos comendo, vivendo e nos relacionando errado.

- 1000 wons pelos seus pensamentos – falo, alto para que ele ouça de onde está.

Ele me olha e solta um riso fraco que faz seu corpo chacoalhar, levanta, se aproxima e senta no banquinho alto de madeira que fica na frente da minha mesa de trabalho. Fica me olhando trabalhar, sem dizer nada. Se eu tivesse de escolher alguma coisa para amar em Hyukjae, eu escolheria a mania afável que ele tem de se aproximar e ficar passando os olhos em mim como se fossem pincéis úmidos de tinta fresca.

- Você fica tão bonito trabalhando – é o que ele diz, quando resolve falar – Pegaria você em cima dessa mesa e te faria implorar por misericórdia duas vezes.

- Não costumo implorar por misericórdia – digo, olhando-o enviesado quando desvio os olhos do molde gelado em minhas mãos.

- Duas vezes.

Dou um sorriso de canto que nem sei se ele pode ver, mascarando meu interesse absoluto naquela proposta sexual e indecente. Talvez eu esteja com aquele olhar sujo-ingênuo que ele tanto gosta, mas só talvez. Abandono Hyukjae sozinho com suas vontades, não seguro aquele fio que ele me estende, com o tempo vou ficando cada vez melhor nisso.

- Não sente falta de ter alguém? – ele me pergunta quando eu já estava esquecendo que ele estava ali.

- Não.

- Todo mundo precisa de sexo.

- Isso não é ter alguém. – esclareço, sem olhá-lo – Tenho sexo quando preciso, mas você mais do que ninguém deve saber que isso não é ter alguém. Ter alguém sem o qual você passe mal, alguém sem o qual você não seja ninguém. Isso é ter. Sexo, não.

- Estamos todos sozinhos, que diferença faz? – ele se inclina para trás, encostando na minha estante de materiais e fazendo-a balançar suavemente.

- Não faço a menor ideia.

O dia passa devagar, eu trabalhando nas minhas máscaras e Hyukjae transitando pelo kitnet, lendo alguma coisa, vendo TV, usando meu mp3 player e comendo a gelatina que ele mesmo fez na cozinha. Quando ele se aproxima da janela atrás de mim com a colherinha de sobremesa pendendo de sua boca, o vento muda de hálito. Tem o cheiro dele por toda parte, como se alguém houvesse borrifado dois litros de Hyukjae no ar.

Eu suspiro tão alto que ele percebe, deixa a tigela de gelatina em cima da minha mesa, entre minhas tintas e todo aquele pó de gesso e me abraça pela cintura, unindo suas mãos acima da minha barriga, beija minha nuca e deita a cabeça no meu ombro.

- Você tá aí há horas, para um pouco – sussurra.

- Preocupado comigo?

- Na verdade com ciúme desses moldes que ficam sendo acariciados por você toda hora.

- Dá um tempo, Hyukjae – digo em meio a um riso descrente.

- Te dei o dia todo – ele fala sério, desliza as mãos pelo meu corpo de um jeito que consegue me fazer virar para encará-lo. Os olhos dele estão faiscando e eu posso me ver refletido neles, tão escuros são. A boca dele está colorida de vermelho por causa do corante artificial de morango daquela gelatina vagabunda.

Nutro uma certa tara por bocas e não escondo. Na maior parte do tempo, quando posso ficar perto de Hyukjae e mantê-lo quieto, só consigo olhar pra boca dele. Agora aqui está ela, com o frescor da gelatina ainda mantendo-a úmida e vermelha.

A gente costuma se desconhecer quando está com desejo, fazemos qualquer coisa patética ou mesmo impensável num estado psicológico normal. O que nos leva a conclusão imprescindível de que, mesmo depois de milhões de anos de evolução, não passamos de um bando de ridículos tão controlados pelo instinto como qualquer leão, búfalo ou urso panda.

Quando eu ergo Hyukjae pela cintura e sento seu corpo em cima da mesa, me enfiando entre suas pernas separadas, só Deus sabe o que estou fazendo. Ele entreabre os lábios e tenta dizer alguma coisa, mas desiste no meio do caminho, ele de alguma forma sabe que eu o quero calado e que nem a volta de Cristo transmitida ao vivo na KBS vai me impedir de beijar sua boca.

Não existem mares revoltos ou danças de línguas em beijos de verdade. O beijo de verdade é uma condução, uma hesitação e um impulso. É a bobagem que a gente sussurra quando separa os lábios, é os olhos de Hyukjae me pedindo para levar aquilo adiante, é a minha mão erguendo a camisa dele e sentindo no tato a elevação quase intangível da tatuagem que ele tem na costela esquerda.

Tocar de novo aquele desenho na pele dele me faz lembrar de quando ele chegou aqui no kitnet todo enrolado em plástico filme e com um saco de papel da farmácia me pedindo pra passar pomada na tatuagem que ele havia feito. Era uma pena que desintegrava-se em pequenas andorinhas negras, começava na altura do umbigo e findava à altura do tórax. Ficou lindo nele, em sua pele cor de lua, e combinava com Hyukjae como poucas coisas no mundo.

A sensibilidade marcante, a sutileza exasperada, a unicidade, a liberdade dos pequenos pássaros atravessando o espaço entre suas omoplatas. Era impossível tirar os olhos uma vez que eles já estavam lá.

Eu avanço sobre ele, o faço colocar deslizar sobre a mesa. Hyukjae acaba colocando a mão sobre um molde recém-feito e ele se parte de um jeito meio torto, separando os olhos e a boca. Eu não me importo com o desastre, só o levo para longe antes que possa destruir mais coisas além do meu bom senso e daquela máscara.

Deitamos no sofá, não nos beijamos mais, roubamos o ar um do outro com as testas unidas, suadas, em uma conexão esquisita de olhos e dedos entrelaçados. É difícil conversar naquela posição, mas Hyukjae tenta:

- Desculpa pela máscara.

- Tudo bem, eu refaço.

- Donghae – ele chama, eu digo ‘hm’ – Amo seus beijos.

- Amo beijar você.

Escorrego o polegar pela bochecha linda que ele tem e dou um sorriso. Nessa pequena eternidade de nós dois, eu meio que penso como seria ter Hyukjae pra mim, assim, só... Tê-lo. De verdade. Penso na possibilidade dele pegar aquela mala ridícula que cabe tudo o que ele tem e se mudar pra cá pra esse buraco de subúrbio comigo. Penso nele chegando da faculdade com cheiro de um dia inteiro na pele, do perfume que ele usou às sete da manhã, ele larga a mochila e faz amor comigo em cima dos lençóis que ninguém arrumou. Mas então eu chego ao dia em que ele cansa de tudo, surta e sai batendo a porta enquanto eu fico confinado aos meus dias esperando a vida dar na mesma, escorado no sofá feito um pudim de pinga e nicotina.

Porque é assim. E não tem essa de “você está se preocupando com o que ainda nem aconteceu”, “você nunca tentou pra ver se é isso mesmo o que acontece”. Às vezes não precisamos de provas, a gente não coloca a mão sobre a boca acesa do fogão pra saber se vai queimar mesmo, porque a gente sabe. É assim comigo, é assim com Hyukjae.

Às vezes a vida é uma merda, mas você não se dá conta disso enquanto beija uma garota ou um garoto enlouquecedor, você não se dá conta disso enquanto entorna toda a cachaça do mundo, acaba maços de cigarro ou devora uma bandeja de cupcakes. Nós vivemos de pequenos trechos de felicidade que são como anestésicos de toda a dor que é viver uma vida de merda num mundo repleto de pessoas que não ligam pra droga dos seus sentimentos, carências e bobagens.

O mundo te exaure, te julga, te cansa, alcança, atrasa, devasta. E quando você finalmente dá de cara no fundo do poço, sabe onde todo mundo está? Está nem aí.

Essas são as minhas verdades, as verdades desse garoto-tarja-preta que não sai do meu kitnet, a verdade de um monte de gente que já teve decepções o suficiente pra não tentar ser o avesso de si mesmo o tempo inteiro.

Eu sou capaz de entender as razões de Hyukjae para fugir de algo que dure mais de uma semana, queria eu ter colhões como ele pra conseguir largar tudo e me deixar engolfar pelo acaso de uma vida sem certezas ou fins.

Hyukjae perdeu a mãe, o pai e a irmã em um acidente de carro, ele nunca conseguiu superar direito que foi o único a sobreviver. Viveu com uma tia em Gyeonggi-do, onde ele nasceu, até uns quinze ou dezesseis anos, pelo que sei. A mulher era quase mórmon e Hyukjae era ligado em teatro, caras e drogas lícitas. Ele saiu fugido de lá, conseguiu entrar em cênicas, morou no albergue da faculdade durante seis meses até começar a dividir apartamento com o primeiro namorado – um cara chamado Jaehyun.

Foi quando a gente se conheceu, no meio de um protesto estudantil contra a retirada dos albergues e o aumento no preço do almoço. Foi um puta protesto. Ele estava com a cara pintada de vermelho e azul, e dentre todas aquelas pessoas, dentre os milhares de pés, ele pisa logo no meu. Assim Hyukjae entrou na minha vida: com uma pisada no pé.

Eu o vi terminar com cerca de 35 namorados, o vi ignorar cerca de 1670 chamadas e 30.000 sms e fui obrigado a vê-lo partir 4 vezes. Ele sempre volta, mas esse não é o centro do problema. O centro do problema é que ele sempre vai.

Ele vai porque esse é seu trecho de felicidade.

Na manhã seguinte, Hyukjae não está mais na minha casa. Eu fico com aquele cheiro no corpo, com a sombra de um sorriso, mas nada além disso. Ele deixou um bilhete pregado na geladeira que diz:

“Eu volto, Romeu”

Me sinto só, me sinto só, me sinto tão seu.

 


Notas Finais


Esse é um dos meus capítulos favoritos ): As frases do início e do final do cap são de "Tão Seu", também do Skank. Acredito que vocês estejam um pouco chocados com a quantidade de pop rock brazuca por aqui, mas é isso mesmo. Poucas coisas são tão boas quanto o cancioneiro desse país.
Falando em música, fiz uma tracklist pra acompanhá-los nas leituras de Hyukjae Nunca Mais, vai ter uma nova a cada cinco capítulos, até a próxima ser montada, divirtam-se com essa: 8tracks.com/blacktinkerbell/hyukjae-nunca-mais-tape-1
Eu espero que tenham curtido, e comente!! Não me deixe aqui cercada de fantasmas.
(também podem me contatar pelo twitter @hyuksqueen ou por mensagem nesse perfil)
withlove, anna.


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