Eu sei que é difícil bebê, dormir à noite
Não se preocupe, porque tudo vai ficar bem
Ficar bem
Através de seu sofrimento e as lutas
Não se preocupe porque tudo vai ficar bem
Ficar bem
Be Alright - Justin Bieber
Hazel Rhode Baldwin
As belas íris carameladas de Justin me fitavam com um brilho esperançoso e persuasivo, ansiosas pela minha resposta, parecendo torcer para receber um sim. Sua proposta era tentadora, por outro lado, eu mal estava raciocinando o que ele estava me pedindo, meu cérebro ainda não estava acompanhando o tanto de informações que eu estava recebendo nos últimos minutos. Há poucos segundos, eu estava em prantos por conta de uma revelação avassaladora que eu havia recebido de AJ e que mudará tudo daqui para frente, e de repente, no instante seguinte, o rapaz por quem eu sou apaixonada há anos aparece na minha janela oferecendo um escape de toda a loucura que o meu lar se tornou. Ainda sentia a emoção da conversa com AJ, mas agora misturada com a surpresa de ser abordada por Justin de uma maneira tão inesperada, em um momento tão impensado.
— Você está falando de fugir? — Indaguei, não apenas com receio, mas também ainda tentando assimilar tudo o que aconteceu.
— Sim. — Respondeu com expectativa. — Você parece estar precisando disso. — Mordi o lábio inferior, mostrando o meu receio.
Justin não desviou o olhar, parecendo ainda mais ansioso.
— Ele não vai saber. — Assegurou, olhei em seu rosto, ele parecia realmente acreditar nisso. — Eu garanto que não vai. — Desviei o olhar, pensativa.
— Eu vou. — Afirmei, Justin sorriu abertamente, com um toque de alívio. — Eu preciso me arrumar. — Ele assentiu.
— Eu espero. — Me afastei da janela,
— Entra. — Pedi, dando-lhe passagem.
Justin entrou pela janela com um pouco de dificuldade, notei uma expressão disfarçada de dor, o que me causou um leve aperto no peito.
— Você está bem? — Ele perguntou baixo, se aproximando de mim, eu concordei com a cabeça.
— Estou.
— Hazel, eu te vi chorando. — Desviei o olhar.
— Falamos sobre isso depois. — Justin assentiu se afastando e então se sentando em minha cama. — Para onde vamos? — Perguntei enquanto caminhava para o meu closet.
— Comer alguma coisa. — Olhei para Justin, ele estava deitado na cama, evidentemente cansado.
Eu parei naquela posição por alguns segundos, ainda o assistindo relaxar gradualmente, mas nunca o suficiente. Desorientada, tentei entender como ele se mostra tão cansado mesmo após ter tido a semana inteira para relaxar, entendo que ele estava machucado, mas ele ainda teve um tempo de descanso. Justin sempre parece cansado, antes eu entendia, ele é o tipo de pessoa que não passa um segundo quieto, eu já me preocupava ao assistir ele se esforçar tanto sem muito descanso, mas é pior perceber que na verdade seu cansaço é emocional. Me faz refletir sobre a impressão que tenho dele há um longo tempo, Justin carrega um peso que nunca se alivia, um fardo crônico que ele ainda não aprendeu a lidar. Essa expressão cansada está presente nele o tempo todo, mesmo em seus momentos mais leves e descontraídos, mesmo quando sorri genuinamente, ou como agora, enquanto dorme. Sei que havia alguma coisa no seu passado que o assombrava até os dias de hoje, mas nunca consegui distinguir se tratava-se de medo ou culpa, nem o que realmente aconteceu com ele antes de se mudar para essa cidade.
Eu realmente não sei muito sobre ele, Justin está sempre tão rodeado de segredos, eles criam um muro ao redor dele, me impedem de alcançá-lo.
Suspirei, decidindo parar de perder tempo e ir me arrumar logo. Justin não revelou muito sobre para onde iríamos, tudo o que disse era que comeríamos algo, não explicou como eu deveria me vestir, existe uma grande variedade de lugares, Justin pode estar planejando ir a um restaurante caro ou então a um carrinho de cachorro quente em uma praça qualquer, é engraçado pensar que normalmente eu detestaria ir comer um cachorro quente de um carrinho de procedência duvidosa em uma praça, mas imaginar fazer isso com Justin faz parecer tão comum. O conhecendo bem, sei que não iremos a um lugar caro, definitivamente não é um ambiente em que Justin gostaria de estar, ele iria preferir um lugar mais casual, como uma lanchonete ou uma loja de fast food, por isso decidi usar roupas casuais da mesma forma. Vesti um cropped simples da cor cinza, uma saia de estampa camuflada que é extremamente curta mas eu adoro usá-la, e nos pés, um tênis casual branco, preferi não usar nada para me aquecer pois hoje estava calor, apenas soltei os meus cabelos por fim.
Saindo do closet, me deparei com Justin dormindo serenamente em minha cama, agarrado a um dos meus animaizinhos de pelúcia, não resisti a vontade de sorrir assistindo aquela cena, também não consegui controlar a vontade que senti de observá-lo dormindo tão calmamente por mais tempo. Ele estava tão fofo, parecia tão frágil, quem o vê tão vulnerável assim jamais imaginaria quem ele é, ele não parece essa pessoa tão difícil de lidar e entender quando está assim. Depois de alguns segundos o apreciando, percebi que já estava ficando estranho, por isso, tomei a difícil decisão de acordá-lo, o que parecia uma judiação e uma crueldade com ele. Me aproximei de minha cama e me agachei a sua frente, acariciei os seus cabelos, fazendo-o se mexer e abraçar mais a pelúcia, o que fez eu me perguntar a razão para ele ter abraçado de início.
— Ei. Justin. — Eu chamei calmamente. — Acorda, nós temos que ir. — Justin abriu os olhos com dificuldade, e se deitou de barriga para cima, bocejando logo em seguida, parecia estar esperando para se despertar efetivamente. Eu me sentei ao seu lado na cama e ele olhou para mim.
— Você quer ir mesmo? Agora tudo o que eu quero fazer é dormir. — Eu sorri.
— Bem… Na verdade eu não quero.
— Mas a gente vai. — Justin se sentou na cama ainda um pouco zonzo e olhou para mim enquanto eu ficava de pé. — Você está linda. — Eu sorri e desviei o olhar, envergonhada, ciente de que estava completamente vermelha.
— Obrigada. — Respondi ainda envergonhada, Justin se levantou da cama e ficou à minha frente.
— Vamos? — Assenti sem olhar para ele.
Justin foi na frente pois ele me ajudaria a sair pela janela, no entanto, quando ele olhou para mim, esperando que eu saísse, senti uma onda de dúvida e medo tomando conta de mim, duvidava que AJ realmente não descobriria, temia que ele descobrisse. Tudo pioraria tanto, me perguntava se valia a pena, passar um tempo com Justin era um almejo, mas caso fossemos pegos, as consequências teriam valido o risco?
— Tem certeza que ele não vai saber? — Justin olhou em meus olhos e concordou com a cabeça.
— Eu prometo que ele não vai.
— Como pode me prometer isso? — Antes que Justin pudesse responder, o bater na minha porta soou pelo meu quarto, indicando que AJ estava do outro lado. Me virei para a porta imediatamente, querendo confirmar que ela estava fechada e trancada.
— Rhode, pode abrir a porta? — Eu não respondi, não porque queria ignorá-lo, mas porque o medo me paralisou. Ouvi o seu suspiro frustrado. — Eu vou sair. Acho que só voltarei amanhã. — Ficou em silêncio, talvez esperasse pela minha resposta. — Se quiser pode chamar alguém, ou sair também… — Mais silêncio. — Só coma alguma coisa, por favor. — Eu esperei até que ouvisse os seus passos se afastando do meu quarto, então me virei em direção a janela e sai imediatamente, surpreendendo até mesmo Justin, eu não queria voltar a pensar em AJ, por isso queria me distrair rápido.
— Vamos logo. — Pedi quando notei que Justin claramente iria perguntar alguma coisa.
Justin ainda parecia querer entender o que havia acontecido, sua expressão mostrava curiosidade e preocupação, mas eu não queria falar sobre isso, e ele parecia entender pois não disse uma palavra. O telhado era bem alto, e aquilo parecia perigoso para mim, mas Justin estava tranquilo o que me passou um pouco de confiança, ele me ajudou durante todo o trajeto, se esforçando para me dar segurança, descemos pelos canos de gás expostos do lado de fora, o que me pareceu um pouco perigoso. Justin chegou no chão primeiro, estava alto demais para que eu conseguisse pular, então ele me segurou pela cintura para que eu pudesse descer. O nervosismo e a adrenalina pareceram se intensificar quando eu cheguei ao chão, me entorpecendo aos poucos, eu sabia que era arriscado e até mesmo perigoso, mas a euforia estava amenizando o medo, e ansiedade me recarregava, não em um sentido ruim.
— Quer esperar ele sair para irmos? — Justin me puxou para ficar longe da janela, onde AJ poderia nos ver.
— Eu não sei, posso mudar de ideia se esperar muito. — Ele olhou ao redor parecendo avaliar o ambiente.
— A gente vai ter que ir rápido. — Assenti, levemente receosa enquanto mordia o lábio inferior.
Justin segurou a minha mão e cruzou os nossos dedos, caminhando lentamente em direção a saída da minha casa, guiando-me para seja lá onde ele estacionou a sua moto. Fomos cautelosos e apressados durante todo o trajeto até o muro, tentando evitar que chamassemos atenção de AJ dentro da casa. Justin me ajudou a escalar o muro e em seguida, escalou sozinho, pulando para o lado de fora e dando suporte para que eu descesse. Juntamos as nossas mãos com os dedos cruzados mais uma vez, caminhavamos apressadamente pelas ruas, esperando chegar logo ao nosso destino, eu olhava frequentemente para trás, a procura da certeza de que AJ não havia saído e de que seu carro não estava se aproximando, em todas as vezes eu me sentia aliviada, constatando que ele não havia saído, o que significava que eu e Justin tínhamos mais tempo, mas o alívio durava pouco, era esse o motivo de eu tornar a olhar.
— Justin, eu não estou vendo nenhuma moto por aqui. — Sussurrei.
— É porque eu estou de carro. — Ele sussurrou de volta. — Por que estamos sussurrando? — Nos entreolhamos, eu buscava por uma resposta, por fim, apenas neguei com a cabeça indicando que não havia um motivo, o que arrancou risadas de ambos.
Continuamos o nosso caminho por mais alguns segundos, até que Justin se afastou de mim e desativou o alarme de uma SUV prata, parecia um carro novo, e sinceramente, sem querer ser esnobe, não era o tipo de carro que Justin ou qualquer um de seus pais poderia comprar.
— Esse carro é seu? — Perguntei enquanto me aproximava do veículo.
— É, por que a surpresa? Acha que eu não conseguiria pagar por um desse? — Justin perguntou e maneira defensiva e ríspida, o que me pegou bastante de surpresa,
— O que? É claro que não, eu só… — Parei de falar quando Justin começou a rir. — Idiota! — Exclamei, com um misto de raiva e alívio, Justin olhou para mim enquanto ainda estava rindo.
— O carro é do meu pai, na verdade. E bem, a gente realmente não consegue pagar por um desse.
— Como vocês compraram?
— Quem disse que a gente comprou? — Olhei para ele bastante assustada, mas ele riu novamente. — Eu to brincando, meu pai comprou ele destruído, restaurou e agora vai revender.
— Você está engraçadinho hoje, hein? — Ele riu indicando com a cabeça para que entrássemos no automóvel. Justin fez questão de abrir a porta para que eu entrasse, sorri para ele e agradeci, tomando o meu assento no banco carona, Justin deu a volta e entrou pelo lado do motorista. — Parece que acabou de sair de uma fábrica. — Comentei observando a parte de dentro, tinha até mesmo aquele cheiro amadeirado de carro novo. Justin sorriu enquanto dava a partida, e então olhou para mim.
— É um elogio, Baldwin? — Perguntou, colocando o seu cinto de segurança, fiz o mesmo.
— É sim. — Justin desviou o olhar para manobrar o carro. — Podemos esperar o AJ sair? Estou com medo de ele tentar falar comigo de novo, e perceber que eu não estou lá.
— E que diferença faria a gente esperar?
— Nenhuma, mas vou ficar mais tranquila se souber que ele saiu de casa sem perceber que eu fugi. — Ele assentiu parecendo compreender o meu ponto e então desligou o carro.
Notei que Justin passou a observar o lado de fora através do vidro escurecido do carro. Eu levei um tempo até desviar o olhar dele e me focar na minha tarefa de verificar se AJ havia saído de casa sem notar que eu também não estava. Meu corpo ainda tremia com o medo de ele descobrir, mas não era o suficiente para me fazer mudar de ideia, a não ser que AJ descobrisse, eu sairia com Justin naquela noite. Eu sinto que isso surgiu na hora perfeita, sua aparição tão repentina em minha casa, em um momento em que eu estava desabando, e que definitivamente precisava de uma distração. Eu havia dito que gostaria de passar mais tempo com Justin, e é esse o tempo que passarei.
— A Isabel falou com você? — Ele perguntou, olhei em sua direção, e ele fez o mesmo, esperando pela minha resposta, eu apenas assenti.
— Você pediu para ela? — Justin olhou para a frente.
— Não. — Seu tom me pareceu suspeito. — Só fiz ela se sentir mal para ir por conta própria.
— Eu disse para não brigar com ela.
— Você disse para eu não ficar bravo com ela, não falou nada sobre brigar. — Olhei para ele de maneira descontente.
— Sonso. — Voltei a olhar em direção a minha casa, ouvindo a risadinha fraca dele. — O que disse para ela?
— Não foi nada demais. — Eu não acreditei, na verdade, acho que ele disse alguma coisa bem ruim.
Olhei para ele, que encarava o nada, parecendo absorto em seus pensamentos.
— Ela só quer cuidar de você.
— Eu sei. — Respondeu sem olhar para mim.
— Esse é o problema, não é? Odeia que cuidem de você. — Justin olhou para mim.
— Isso não é verdade. — Retrucou com um tom de revolta na voz.
— É sim, não gosta que as pessoas se preocupem com você, ou que ao menos saibam sobre os seus problemas, não quer que elas te ajudem. — Ele endireitou sua postura, parecendo estar começando a ficar irritado.
— Eu achei que eu fosse egoísta. — Alfinetou, direcionei a minha atenção a ele.
— Isso é egoísmo. — Justin me fitou por alguns segundos.
— Talvez seja. Mas eu não penso assim.
— E o que é para você?
— Eu não gosto de dever nada para ninguém, odeio que joguem na cara.
— Quem se importa com você não faria isso.
— Quem garante? As pessoas são filhas da puta.
— Acha que o Jaden faria isso? Ou a Ivy? Ou eu? — Suspirou.
— O Jaden com certeza, a Ivy pensaria, e você é rica, então não.
— E a Isabel? Ou o seu pai? — Ele não respondeu. — Provavelmente não? — Sugeri e ele assentiu.
— Sempre tem uma chance. — Fiquei o observando em silêncio, demorou até que ele percebesse que eu o encarava. — O que foi?
— Nada, eu só acho que não conseguiria viver assim. — Justin juntou as sobrancelhas em confusão.
— Assim como?
— Desconfiando de todo mundo o tempo todo. — Notei que AJ havia acabado de sair de casa com o seu carro.
— Confiar nunca deu muito certo para mim. — Foi a última coisa que ele disse antes de dar a partida e começar a manobrar o carro.
Ficamos em silêncio, e assim seguimos por um longo tempo. A princípio, não era um silêncio incômodo, não era desconfortável e muito menos desagradável, mas a medida em que o tempo foi passando, sem que trocássemos uma palavra sequer, enquanto o que dissemos na conversa anterior estava sendo assimilado, o clima parecia se pesar junto. O silêncio não era rompido e, por isso, a sensação de que não estávamos no nosso normal estava crescendo, sem que eu tivesse coragem para tomar uma atitude, levantar a bandeirinha branca e aliviar o clima. Talvez fosse apenas eu que me sentia dessa forma, era possível que o clima estivesse tão incomum apenas para mim, e Justin não estivesse sentindo. Mas duvidava dessa opção, seu rosto não estava calmo como de costume, ele estava sério, e não era só a sua expressão, ele se negou a olhar para mim o tempo inteiro.
Ainda que tenha surtido esse efeito, e que isso esteja me incomodando e talvez até me machuque no futuro, não me arrependo das coisas que eu disse, eram verdades, verdades que Justin precisava ouvir. Não nego que ainda penso se disse alguma besteira, eu mal o conheço, falei como se conhecesse, talvez ele não seja nada do que eu disse que é, e isso me assusta, espero não tê-lo julgado sem saber o que de fato acontece. Eu direcionei o meu olhar a ele, seu rosto virado para o outro lado, com uma mão ainda no volante e o outro braço apoiado na porta, eu não conseguia ver o seu rosto, nem mesmo pelo reflexo do vidro, tudo o que eu via era um Justin distante de mim, eu já deveria ter me acostumado, é assim que passamos grande parte do tempo, mais distantes do que próximos. Voltei a observar o caminho pela janela do carro, evitando olhar em direção a Justin, assim fiquei até que ele estacionasse bem em frente a uma lanchonete.
Não era uma lanchonete simples, a decoração e arquitetura era até elegante, um pouco diferente do que eu esperava. Justin saiu primeiro do carro, soando um pouco apressado, no entanto, ele me esperou, encostado em sua porta, eu saí do carro e dei a volta, assim que ele notou a minha presença, começou a caminhar em direção ao entrada da lanchonete, eu o acompanhei. Justin parecia distraído, mais distraído do que irritado, na verdade, ele parecia perdido, pensativo, como se estivesse tão imerso em sua própria mente que mal notava o mundo ao seu redor, eu torcia para que fosse isso. Nos sentamos no banco do canto, encostados na janela, não era uma vista tão sem graça, havia uma rua, carros passando sobre ela, um poste e atrás dele algumas árvores, uma imagem interessante para se observar por alguns segundos, mas não por muito tempo, porém era tudo o que eu poderia fazer pois Justin não saia do celular e eu deixei o meu no carro.
Eu suspirei, e pela primeira vez em longos minutos, falei algo, avisei que iria ao banheiro, Justin apenas assentiu sem desviar o olhar da tela. Eu quis espiar, quase o fiz, queria saber o que tinha de tão interessante naquele celular, queria ver o que era tão mais interessante que eu, mas não o fiz, seria muita humilhação. No banheiro, apenas lavei o rosto para me tranquilizar um pouco, e logo voltei, Justin ainda mexia no celular, me sentei em meu lugar e olhei para o lado de fora, extremamente frustrada.
— Hazel. — Olhei para ele. — Podemos esquecer aquela conversa? — Seu olhar parecia suplicante.
— Tudo bem. — Eu sorri fraco, Justin retribuiu, o que me causou uma certa esperança de que começariamos a conversar de forma decente, no entanto, ele voltou a mexer no celular. — Justin. — Ele não olhou para mim, apenas murmurou um “Sim?”. — Me tirou de casa para ficar no celular? — Ele olhou para mim e fez um sorrisinho sapeca.
— Foi mal. — Sorriu inocente enquanto deixava o celular sobre a mesa. — Sou todo seu. — Eu desviei o olhar reprimindo um sorrisinho.
— Me dê. — Ergui a mão, pedindo por seu aparelho.
— É sério? — Eu sorri e dei de ombros, ele me entregou o celular contragosto, eu guardei o celular no meu bolso de trás, ouvindo uma risada incomum vinda de Justin.
— O que foi?
— É muito conveniente para mim o meu celular no seu bolso de trás. — Juntei as sobrancelhas.
— Por quê? — Ele sorriu de uma maneira sugestiva, pegando o cardápio e começando a lê-lo.
— Vou ter uma desculpa para pôr a mão na sua bunda. — Respondeu com completa naturalidade, focado no cardápio em suas mãos.
Eu não soube como reagir, meu corpo se esquentou completamente e tenho certeza de que eu estava vermelha dos pés à cabeça.
— Já estava demorando. — Eu comentei, sinceramente, senti muita falta de suas piadinhas.
— Eu voltei, amor. — Eu sorri, Justin fechou o cardápio e olhou ao redor.
— E pelo jeito voltou mais forte do que nunca, sem duplo sentido, foi só direto. — Justin gargalhou.
— Você não viu nada.
Finalmente, uma garçonete vinha em nossa direção, ela andava rápido como um furacão, parecendo ansiosa para vir nos atender, não é difícil entender a sua atitude, sua pressa existia pela demora para sermos atendidos desde que chegamos.
— Boa noite, senhorita Baldwin, desculpe pela demora! — Ela foi simpática, ou pelo menos, pareceu ser. — Qual é o seu pedido?
— O nosso pedido… — Justin deu ênfase em “nosso”. — Ela vai querer hambúrguer, batatas fritas, milk shake de… Do que você quer?
— Explosão de amendoim.
— Isso, e um bolo de… O que?
— Pode ser de cereja, mas…
— Um bolo de cereja para a sobremesa, eu vou querer apenas um hambúrguer e refrigerante. — A garçonete anotou os pedidos de forma afobada, e ao terminar, olhou para nós.
— Os pedidos chegarão em breve! — Tentou soar formal antes de dar as costas e se afastar.
— Justin, por que pediu tanta coisa?
— Você precisa comer.
— Eu não vou conseguir comer tudo isso. — Ele me encarou nada convencido.
— Disse o mesmo sobre os sanduíches hoje na escola, mas comeu os dois.
— Ok, mas o que eu não conseguir comer, você vai pagar. — Ele sorriu.
— Tudo bem. — Ele parecia confiante, como se soubesse que eu comeria tudo, admito que a dúvida estava começando a passar, sentia a fome aumentando aos poucos, especialmente diante dos deliciosos cheiros que viajavam da cozinha até nós.
Me distrai com o movimento na cozinha por alguns minutos, era uma visão limitada, o espaço retangular feito para deixar os pedidos prontos, mas me passava uma sensação de vertigem assistir toda a correria daquele ambiente, os cozinheiros e outros funcionários circulando por aquele pequeno e quente espaço, todos apressados em busca de dar conta de todos os pedidos, entregá-los a tempo e com qualidade. Se Justin me visse assistindo, com certeza faria alguma piada ácida sobre eu nunca entender essa realidade, às vezes eu não sei se ele apenas quer implicar comigo, ou se espera que eu me sinta mal de alguma forma, a segunda opção me parece fora de cogitação, ao mesmo que ainda sim parece, de fato, uma opção. Dirigi meu olhar a Justin, que está distraído observando alguma coisa no lado de fora através da janela, seu olhar estava tão concentrado que mostrava que realmente havia algo muito interessante para prender a sua atenção no lado de fora, seguir o seu olhar e entender o que o prendeu daquela forma foi tentador, mas foi impossível competir com a alternativa de apenas apreciar Justin sem que ele notasse.
Eu tentava ignorar as manchas em seu rosto, pois naquele momento não queria sentir culpa, queria estar longe do caos por um tempo. Cruzei os meus braços sobre a mesa e deitei a minha cabeça sobre eles, sem tirar os olhos de Justin. Buscava apreciar as partes que eu mais gostava nele, eu não o via de perto antes de nos conhecermos, comecei a notar os detalhes por agora, como os sinais espalhados por seu rosto, ou quando me dei conta de que havia uma pequena cruz desenhada no canto de seu olho, seus lábios perfeitamente desenhados, mas nada nunca me irá me cativar mais do que os seus os olhos, os castanhos mais complexos que eu já vi, eles sempre são capazes de mudar de cor dependendo da luz e reflexo, são tão claros que às vezes ficam verdes, ou então caramelados, nesse momento, graças a luz amarelada do poste do lado de fora, suas íris brilhavam em um tom levemente amarelado, eu nunca conseguiria descrever como era lindo.
Justin sorriu fraco e olhou para mim, ele percebeu que eu o observava, mas eu não me importei, não senti vergonha, apenas continuei olhando o seu rosto, de frente para mim agora.
— Me apreciando, Baldwin? — Ele implicou.
— Sim. — Fui sincera, sem me importar com que resultado isso traria, por alguma razão, eu sabia que não seria ruim.
Justin não respondeu, reprimiu um sorriso e desviou o olhar. Ele estava envergonhado?
— Ah, meu Deus! — Levantei a minha cabeça. — Eu te deixei envergonhado? — Ele olhou para mim, ainda reprimindo o sorriso.
— Eu não esperava que você fosse admitir. — Explicou, evitando os meus olhos.
— E não tinha nenhuma piadinha preparada?
— Sim, se você negasse, eu teria. — Nesse momento os nossos pedidos chegaram, o que me fez pensar que eu sentia uma fome de três leões famintos.
O cheiro era ótimo, apenas pela aparência convidativa eu pude reconhecer que a comida daqui parecia ser saborosa. Não demorou até que começássemos a comer, definitivamente aquele foi o melhor hambúrguer que eu já comi na vida. Nós não ficamos em silêncio, muito pelo contrário, não paramos de falar por um segundo sequer, conversando sobre qualquer coisa, os assuntos mais aleatórios possíveis, incluindo algumas fofocas antigas que tínhamos conhecimento, notei que Justin é ainda mais observador do que eu pensava. Falamos sobre a sua performance na escola e ele disse que está melhorando, mesmo que não estivesse estudando comigo, usava o cronograma que eu tinha indicado para ele e eu fiquei feliz em saber que estava ajudando-o mesmo que indiretamente, por outro lado, preferi não dizer que as minhas notas estavam abaixando, eu não estava conseguindo me concentrar na aula, e preciso correr atrás disso logo.
Justin falou sobre Isabel de uma maneira positiva pela primeira vez na noite, falou que estava ansioso para o nascimento de seu irmão, que seria em quatro meses, também disse que Isabel pediu a ele algumas sugestões de nomes, mas ele não pensou em nenhum. Ele admitiu estar curioso com como Isabel se sairá como mãe pela primeira vez, eu quis corrigir e quase o fiz, dizendo que era pela segunda vez, mas sabia que ele não aceitaria bem, ainda estava ressentido com ela e sei que demoraria para voltar ao normal. A conversa não pesou ou se arrastou por momento algum, diferente do que esteve acontecendo nas últimas vezes, eu sentia o ambiente ficando cada vez mais leve e aconchegante, Justin me fazia rir como ninguém era capaz, eu gargalhava de qualquer bobeira que ele fazia, mas Justin não era de rir muito, ele sorria, mas não gargalhava, eu já estava percebendo isso a um tempo, talvez fosse aquele fardo que eu havia mencionado antes.
— Eu ainda não acredito que vocês fizeram isso. — Justin e eu falávamos sobre a restauração impecável que ele e seu pai fizeram naquele carro, Justin me mostrou algumas fotos de como o automóvel estava antes, e de fato estava muito destruído. — Ficou muito bem feito.
— Obrigado. — Ele disse de maneira formal. — Eu estou otimista sobre isso, acho que finalmente vamos sair do buraco a partir de agora.
— Vocês deveriam melhorar o marketing de vocês, aliás, vocês têm um? — Perguntei enquanto comia o último pedaço do bolo.
— A placa na frente da loja. — Nós dois rimos. — Quer comer mais alguma coisa?
— Não, estou satisfeita. Você apenas vai comer isso? — Justin assentiu.
— Estou guardando espaço para comer outra coisa. — Ele respondeu distraído, olhei para ele em alerta, me preparando para mais uma piadinha.
— O que?
— Você. — Eu não reagi de maneira alguma, Justin não costuma ser tão direto assim, ele riu. — Eu estou brincando, é comida japonesa, me deu vontade do nada. — Eu voltei a respirar. — Mas se quiser… — Ele deixou no ar.
— Ok, eu vou lá pagar. — Avisei, me levantando e caminhando até o caixa.
Ouvi a risada de Justin, quando eu passei por ele, e mesmo envergonhada, eu ri também, um riso bobo, carregado de expectativas. O desejo que Justin demonstra sentir por mim me deixa animada, com uma esperança de que um dia tudo dará certo, mas infelizmente, logo a animação passou quando eu me dei conta de que assim que eu pagasse, sairíamos daqui e eu iria para casa. Quase voltei para a mesa, dizendo que ainda sentia fome, mas eu não sentia, na verdade a minha barriga estava estufada com tanta comida, não conseguiria mascar um chiclete sem querer vomitar. Enquanto eu pagava, Justin avisou que esperaria do lado de fora, eu assenti e observei sair, ele se encostou no poste e acendeu um cigarro, às vezes eu esqueço que ele tem esse péssimo hábito de fumar, odeio o cheiro e a fumaça, me lembra um pouco de Andrew que fedia a cigarro, perfume e bebida, todos baratos e enjoativos. Mas com Justin, era exatamente o contrário, o cheiro de tabaco ainda era incômodo, mas estranhamente combinava com o cheiro do seu perfume. Talvez por não ser tão forte, Justin não fuma o tempo todo.
Eu sorri sozinha assim que recebi a via da nota fiscal, me lembrando da discussão quase séria que tivemos enquanto estávamos terminando de comer, Justin queria pagar pelo que comeu e metade do que eu comi, já que foi ele que pediu tanta coisa, eu queria pagar por tudo, até porque eu podia pagar por isso, ainda mais que isso, Justin foi orgulhoso e insistiu, mas eu insisti mais, disse que o seu esforço para me fazer bem valia muito mais que qualquer dinheiro, e então ele aceitou, foi a segunda vez que o vi constrangido naquela noite, até ficou um tempo em silêncio, mas não durou muito, quatro semanas separados significava muitos assuntos para colocar em dia. Assim que saí da loja, senti o frio praticamente me congelando dos pés a cabeça, abracei o meu corpo e caminhei em direção a Justin, que jogou o seu cigarro fora assim que viu que eu me aproximava dele.
— Está tudo bem? — Eu assenti e sorri fraco. — Que carinha é essa? — Olhei para ele por alguns segundos, tomando coragem para dizer que não queria voltar para casa e ficar longe dele.
— Não quero voltar para casa. — Admiti, um pouco desanimada.
— Ótimo, porque eu não ia te levar para casa. — Eu sorri aliviada. — Vem. — Ele pegou a minha mão e cruzou os nossos dedos. — Tem um parque aqui perto, vamos caminhar um pouco. — Ele sugeriu, começando a caminhar, mas eu o segurei.
— Justin, eu estou congelando. — Ele riu.
— Tudo bem, coloca o meu casaco. — Justin tirou o casaco preto de moletom e colocou sobre os meus ombros.
— Mas e você?
— Eu sou Canadense. — Eu ainda continuei preocupada mesmo que ele usasse uma blusinha fina por baixo, mas sabia que ele não aceitaria o casaco de volta, por isso, aceitei e vesti o casaco.
Juntamos novamente às nossas mãos e caminhamos em direção ao parque do outro lado da rua. Inicialmente nós caminhamos em silêncio, ambos observando tudo ao nosso redor, havia poucas pessoas aqui, a maioria eram corredores e casais, fiquei impressionada com a quantidade de casais que poderia ter em um parque, de todas as idades, idosos, adultos, jovens até alguns adolescentes, nunca imaginaria que isso é um programa tão comum entre os casais. Era interessante observar toda essa diferença, como o amor não tem idade, e como ele ultrapassa até isso.
Queria que Justin visse dessa maneira, mas ele vê o amor de um jeito tão injusto, como se fosse uma fraqueza, ou um castigo, ou então uma arma. Já tivemos uma conversa sobre isso em uma de nossas aulas, eu critiquei o fato de ele odiar qualquer coisa relacionada a romance, é irreal e ilusório de acordo com ele. Eu disse que ele agia como se odiasse o amor, ou não acreditasse nele, Justin respondeu que apenas acha que não é para todo mundo, que quem não se esforça pelo amor, não deveria amar e nem ser amado, e que no final de tudo, essa pessoa não é, essas são as pessoas para quem o amor não serve. Quando o questionei sobre isso, dizendo qual pessoa ele era, Justin respondeu que era a pessoa que havia entendido que o amor não era para ele, seu esforço, ou a falta dele, não importava mais.
No final, eu não soube o que responder. Meu pai costumava me dizer que para um relacionamento funcionar, os dois devem se esforçar por isso, e que quando alguém não se esforça com uma pessoa, não se esforçará com nenhuma. É quase a mesma coisa que Justin disse, mas eu não quis concordar com ele, Justin fala como se as pessoas fossem pré-determinadas ao nascerem, como se nunca mudassem ou amadurecessem, eu não acredito nisso. Para mim, mesmo que alguém não se esforce pelo amor, ao encontrar a pessoa certa, fará tudo por ela, a pessoa certa é a pessoa certa e não há nada mais que isso.
— Eita, porra! — Justin exclamou, me pegando de surpresa, enquanto me puxava para uma direção fora dos caminhos do parque.
— O que foi? — Questionei enquanto andávamos em meio às árvores, cortando caminho de volta para a trilha..
— Meu chefe, estava ali, ele deveria estar no trabalho. — Disse a última parte mais para si mesmo do que para mim.
— Por que você não está no trabalho? — Perguntei desconfiada.
— Eu estou debilitado. — Explicou com um falso drama. — Tão doente que mal consigo falar. — Ele fingiu de fato não conseguir falar, o que me fez rir, não só da palhaçada, mas da sua completa falta de vergonha na cara.
— Bem… — Disse, ficando a sua frente e parando de andar. — Tem câmeras na minha casa, posso mostrar para ele que você está bem, se eu quiser. — Usei um falso tom ameaçador, o que fez Justin sorrir.
— Oh, não me entregue! — Disse com mais drama exagerado. — O que tenho que fazer para não me entregar? — Fingiu suplicar, eu sorri, e então me aproximei dele.
— Me beije. — Justin olhou nos meus olhos de maneira profunda, e então se aproximou mais do meu rosto.
— Você ficou bem abusada nas últimas semanas, hm? — Eu cruzei os meus braços atrás de sua nuca.
— Estou aprendendo com você. — Ele sorriu de canto, alternando o olhar entre os meus lábios e os meus olhos.
Eu esperava ser beijada, desejava isso, mas temia que fizesse o mesmo que fez mais cedo. Mas pelo contrário, ele se aproximou mais, e quase me beijou, mas eu virei o rosto como ele também fez, e assim com eu, ele se afastou confuso, sem entender porquê eu o rejeitei.
— Por que fez isso? — Havia muitas camadas nessa pergunta, uma mistura de preocupação, curiosidade e talvez até medo, eu sorri e olhei em seus olhos.
— Só por vingança. — Sorri, e sem que ele pudesse reagir de alguma forma, eu o beijei.
O toque de nossos lábios foi arrebatador, mas o encontro de nossas línguas foi como o apocalipse, meu corpo entrou em chamas enquanto meu coração metralhava em meu peito. O beijo era desesperado e necessitado, e não sei quanto tempo ficamos assim, mas foi o suficiente para ele ficar lento aos poucos, de maneira que poderíamos aproveitar mais. Justin havia agarrado a minha cintura com os dois braços, como se tivesse medo que eu fugisse, ele me apertava contra o seu corpo de maneira possessiva, parecia que qualquer milímetro de distância entre nós o incomodava. Eu entendia o que ele estava sentindo, esse desespero pelo toque, uma abstinência fora do normal, é como um medo de nos separamos de novo.
Eu sentia tanta falta de seu beijo, de cada movimento que ele fazia com a língua, de seus lábios, do contato de nossas peles. Não havia nada que poderia estragar, mesmo o cigarro, mesmo o frio, eu estava no meu paraíso nesse exato momento. Eu sentia falta de ar, mas não queria parar, como se respirar não fosse necessário, não tanto quanto prolongar esse momento que estou vivendo com Justin. Havia tantas razões para eu não querer e quase não conseguir me separar dele, não só físicas, não só sentimentais, era confuso, parecia transcender o físico e o conhecido. Mesmo assim, eu precisava respirar, ainda que eu não quisesse ficar minimamente longe dele, nos separamos, ofegantes, eu mantive os meus olhos fechados pois queria preservar o que eu estava sentindo, o calor, o alívio, o meu corpo todo formigava, e eu ainda ansiava por mais, muito mais que isso.
Nós dois tentávamos recuperar o nosso fôlego, o ar ainda nos faltava, mas mesmo assim, grudamos os nossos lábios mais uma vez, em um beijo muito mais curto, nossos pulmões não aguentariam mais nada. Justin se aproximou do meu rosto e me deu um beijo singelo na bochecha, em seguida outro.
— Vamos para o carro? — Ele sussurrou, como um convite para continuarmos isso em outro lugar, eu não consegui falar nada, assenti mesmo que eu soubesse que ele poderia não estar vendo.
Eu ainda me sentia entorpecida, mal conseguia assimilar os acontecimentos corretamente, abri os olhos e fitei Justin, nossos olhares se cruzaram, e para mim foi como uma armadilha impossível de sair, não desviaria a não ser que ele o fizesse. Eu conseguia ver o quão escurecidas as suas íris estavam, talvez fosse a iluminação, mas ainda havia algo mais em seu olhar, e eu sentia muita dificuldade em identificar o que era. Justin me beijou novamente, mais uma vez, um beijo breve e então, começamos a caminhar, a trilhar o caminho de volta para o carro, os dois em silêncio. Justin me abraçou por trás, e assim começamos a caminhar lentamente pelo parque, era contraditório, pois antes tínhamos pressa, mas agora estávamos calmos, sem ansiedade para voltar para o carro.
Ao nos aproximarmos do carro, Justin me virou em sua direção e me beijou mais uma vez, o que me pegou de surpresa, era um beijo lento e calmo, ele segurava o meu rosto enquanto me empurrava levemente até minhas costas encontrarem com o carro, deixei as minhas mãos em sua cintura enquanto as suas continuavam em meu rosto, me puxando mais em sua direção. O beijo não se prolongou mais do que isso, Justin e eu nos separamos, finalizando com alguns selinhos, ele se afastou e abriu a porta do carro para mim, eu agradeci e entrei, Justin não fechou sem antes me beijar novamente, um beijo rápido e não muito profundo. Em seguida, ele fechou a porta e deu a volta, quando Justin estava prestes a entrar, um funcionário da lanchonete se aproximou.
— Boa noite, vocês poderiam estacionar em outro lugar? — Justin pareceu confuso no primeiro momento, e eu também, nós claramente já estávamos saindo.
— A gente já está saindo.
— Oh, desculpe, é que pela maneira que vocês estavam, achamos que vocês fossem… Demorar… entende? — Justin gargalhou, enquanto eu me tornava um pimentão, meu Deus, todo mundo viu.
— Tudo bem. — Falou antes de entrar no carro, Justin olhou em minha direção assim que se sentou.
— Sem comentários. — Mais uma vez ele riu.
— Ok. — Justin deu a partida e começou a manobrar o veículo. — A gente realmente demoraria para sair. — Comentou, fazendo-me encará-lo.
— Você entendeu qual era o sentido que ele estava falando, não é?
— Eu entendi, e como eu disse, a gente realmente teria demorado. — Eu não consegui me impedir de expressar o quão chocada eu fiquei com a sua declaração.
Ele disse que realmente teria transado comigo? Seria essa mais uma de suas brincadeiras?
— Jesus, Hazel, eu estou brincando, ressuscita. — Eu desviei o olhar para frente e suspirei. — Se essas piadas estão te incomodando é só avisar e eu paro. — Justin parecia ser sincero.
— Não é essa a questão. — Ele olhou para mim como se esperasse eu continuar falando. — Você falou que nunca transaria comigo, mas então faz piadas sobre isso, eu não consigo entender, você fala uma coisa e faz o oposto.
— Não é claro que é só brincadeira?
— Não, não é. — Justin ficou em silêncio e voltou a dar atenção à estrada, ele parecia descontente. — Não faça essa cara de que está ofendido, eu só quero entender, você não era tão direto assim antes.
— Não éramos tão próximos assim antes.
— Então isso tem a ver com intimidade? Não são piadas com um fundo de verdade? — Justin olhou para mim.
— Você está perguntando se tem um fundo de verdade sobre uma coisa que eu já admiti?
— Justin, eu sei que você quer, eu estou perguntando se você faria? — Ele olhou diretamente em meus olhos.
— Você faria?
— Por que está perguntando isso?
— Porque dependendo da resposta, tem um Motel ali… — Eu não resisti à vontade de rir, Justin tirou toda a seriedade da conversa, mas aliviou o clima, o que era bom.
— Justin, eu estou falando sério! — Eu reclamei ainda sorrindo, ele me acompanhou. — Você faria ou não?
— Responde a minha pergunta primeiro.
— Por quê? — Justin suspirou e levou um tempo para responder.
— Hazel, transaria comigo sabendo que em uma noite eu tiraria a sua virgindade e na seguinte eu transaria com outra? — Sou incapaz de dimensionar o tamanho da aflição que aquela frase me causou, não sei se fui capaz de disfarçar que ouvir isso me machucou. — Pela sua cara, eu já sei a resposta. — Eu não respondi, não havia nada que eu pudesse falar. — Isso não é sobre mim, Hazel, é sobre você. — Mais uma vez não respondi.
Encostei a minha cabeça na janela do carro, sentindo o aperto no meu coração se intensificando cada vez mais a medida que eu submergia em pensamentos que me diziam que tudo o que houve entre mim e Justin hoje não passou de desejo, que é o que sempre foi e sempre será o que Justin sente, no entanto, lembrei-me das palavras de Ivy hoje mais cedo, quando mandei um mensagem a ela e minhas amigas contando sobre tudo o que aconteceu no escritório do zelador pela manhã e no intervalo, Ivy avisou que eu deveria tomar cuidado com o Justin que eu encontraria depois, que havia uma chance de tanta proximidade o assustar, me alertou que ele tentaria diminuir o que temos ou me afastar de alguma forma, ela disse para eu ficar atenta caso acontecesse, perguntei o que eu deveria fazer se acontecesse, ela disse que eu deveria fazer o mesmo, diminuir a importância do relacionamento para mim ou enciuma-lo, tocar no ego dele. Eu tive esperança quando me lembrei dessa conversa, sentia medo de que a reação dele não fosse a que eu queria, mas eu queria ter certeza.
— Justin. — Eu chamei com uma empolgação que nem mesmo eu esperava.
— Sim? — Ele me olhou por alguns segundos.
— Se eu perdesse a virgindade com outra pessoa, você transaria comigo depois? — Justin me olhou, escondia um olhar descontente, voltou a olhar para a frente.
— Uhum. — Disse em um tom seco, travando a mandíbula logo depois.
Ele pareceu incomodado, talvez com ciúme, será que eu consegui o resultado que eu esperava? Eu olhei para o outro lado, escondendo o sorriso bobo que surgiu em meus lábios e eu não podia controlar. Foi quando os meus olhos se iluminaram com as luzes da roda gigante e outros brinquedos de um parque de diversões muito conhecido por mim, meu peito se encheu de nostalgia, saudade e um pouco de tristeza.
— Ah, meu Deus! — Exclamei enquanto me sentia metralhada por tantas lembranças da minha infância.
— O que foi? — Justin parecia preocupado, eu olhei para ele.
— Eu ia nesse parque de diversões com o meu pai, faz muito tempo que eu não vou lá. — Eu disse com um sorriso melancólico, observando o parque se distanciando aos poucos.
— Você quer ir agora? — Olhei para Justin com empolgação imediatamente.
— Sério? — Ele assentiu. — É claro! Eu quero ir sim! — Respondi eufórica, sentindo meu coração saltar quando Justin fez o retorno
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