Não havia nada marcando, Nico pode garantir que não, mas a sétima vez que se encontrou com sua alma gêmea foi quando Will fez uma visita inesperada.
Solace chegou à sua casa com aquele sorriso largo e arrebatador, sendo que antes, por mensagem, perguntou a Nico se ele iria sair, obtendo um não como resposta. Então, não é difícil de imaginar a surpresa de Nico quando abriu a porta e se deparou com Will de macacão jeans e uma blusa de um amarelo berrante.
Um fato engraçado é que Nico começou a ter aversão às cores chamativas, tanto que, quando descobriu que usava algumas, passou a olhar diferente para o seu guarda-roupa.
Porém, a figura em sua porta era graciosamente bela naquele tom, embora quase ficasse cego somente de olhar.
— Atrapalho? — perguntou batendo os cílios dramaticamente.
— Não. — Nico deu espaço para ele entrar.
— Sua casa é mais bonita ao dia.
— Ainda estou me acostumando com ela colorida. Para mim era bem mais neutro, mas descobri que Hazel me arrumou alguns móveis coloridos demais — apontou para o sofá vermelho-sangue.
Will riu, tocando em um porta-retrato de Nico e a irmã.
— Foi ela quem decorou?
— A maior parte, sim — disse Nico. — Ela recém tinha passado a ver cores quando me mudei, ela estava tão empolgada que nem me importei em aceitar a ajuda. Enfim, quer alguma coisa? Água? Chá? Café? Tenho pretzels de mais cedo, eu acho.
— Se não for muito, eu gostaria de chá.
— Gosta de chá de capim-cidreira?
— Está brincando? É o meu favorito!
— Temos dois amantes de chás aqui, então — deu um meio sorriso indo para cozinha e acenando para que Will o seguisse. — Pode se sentar.
Um pouco acanhado, Will se sentou em um dos bancos da bancada da cozinha.
— Eu sou bem particular com o sabor desse chá, então nem uma palavra sobre eu ter a planta no meu quintal.
— O quê? Então não precisa pegar, achei que fosse o sachê — Will disse alarmado.
— Eu faço isso todo dia — Nico deu de ombros e pegou uma faca. — Quer ver como é?
Will olhou de Nico para o objeto e do objeto para Nico.
— Tem que tirar com a faca — revirou os olhos, sorrindo.
— Eu avisei Silena que eu vinha para cá, ok? — brincou.
— Idiota.
Eles caminharam com Nico guiando Will até os fundos da casa, onde estava a planta.
— Tem como fazer chá com o capim seco, mas particularmente gosto dele fresco e verde. Você vai ver que tem um gosto totalmente diferente do comprado.
— Mal posso esperar.
***
— Nico, você deveria abrir uma loja de chás.
— E por quê?
Will bebericou o líquido quente há pouco tempo preparado e servido.
— Esse é o melhor chá que eu já tomei na minha vida, você estava totalmente certo em dizer que era diferente dos sachês.
— Apesar disso, é só chá.
— E o melhor deles — insistiu Will.
— Obrigado, então.
Ficaram em silêncio com Will tomando o chá feito por Nico como se fosse uma espécie de néctar. Nico não conseguia manter seus olhos longe da cena e não seria espanto algum, apenas embaraçoso, se Will soltasse qualquer som em apreciação.
— Você não vai beber? — indagou Will apontando para o resto do conteúdo da panela.
— Não.
— Hm, certo.
Will finalizava a xícara quando Nico perguntou:
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, por quê? — Will o olhou confuso.
— Apareceu aqui de repente — Nico tentou se explicar sem querer parecer rude.
— Ah, não, não — falou Will como se lembrasse de algo. — Desculpa, eu me distraí com o seu maravilhoso chá e esqueci a razão de ter vindo sem avisar.
Nico não pôde deixar de reparar o quanto Will apreciou a bebida.
— Eu vim te chamar para ser minha adorável companhia no Holi Festival na próxima semana. Eu sei que parece clichê, que todas as almas gêmeas quando são encontradas querem ir, mas você não pode me culpar se é um festival de cores.
Ele não pensou muito antes de confirmar o pedido após a longa divagação de Will.
— Acho que pode ser legal. Minha irmã já foi, ela gostou muito.
— Eu já fui uma vez, mas não é tão legal quando apenas vemos três cores — riu.
— Eu queria ir, principalmente quando Hazel foi, mas depois sosseguei — Nico disse.
Não era bem assim.
Na época, ele queria ir quando pudesse ver todos os tons, mas não necessariamente com a sua soulmate. Não ia dizer isso para Will, seria rude, mas a verdade era aquela.
Apenas o olhou com os olhos brilhantes, e o seu consciente, no fundo, sabia que era inevitável apaixonar-se por Will Solace.
***
Ainda naquele dia, eles dividiram algumas tigelas de pipoca amanteigada enquanto maratonavam os filmes da Marvel.
Quando finalizaram Homem Formiga e a Vespa, o quinto filme do dia, era noite, e Nico constatou que havia terminado o filme sozinho enquanto Will fazia uns barulhos estranhos enquanto dormia.
Não querendo parecer um maníaco o observando dormir, Nico desviou o olhar e foi até a cozinha organizar a louça do chá de mais cedo e da pipoca. Will o surpreendeu quando chegou minutos depois, todo vermelho e sonolento.
— Desculpe por ter dormido. Quer ajuda?
Nico deu de ombros.
— Acontece, Solace. Quase dormi, também — disse. — Já estou terminando, obrigado.
Ele secou suas mãos no pano de prato e se voltou para Will.
— Você faz uns sons estranhos quando dorme. Não são roncos, mas são tipo...
— Balbucios? — Will tentou adivinhar.
— É, acho que sim.
— Espero não ter incomodado, eu faço esses barulhos de vez em quando. Uma das poucas vezes que meus irmãos e eu compartilhamos um quarto, eles acordavam assustados achando que estava acontecendo algo porque costumavam ser altos. Mas tenho certeza que eles já tentaram tirar algum segredo de mim enquanto eu dormia. Minha sorte é que eu não falo.
— Confesso que achei que você ia falar ali no meu sofá — Nico diz, rindo. — Talvez eu tenha ficado te olhando para ouvir o que ia dizer.
— Ei! — Will fingiu indignação.
— É brincadeira — se explicou, mesmo ambos sabendo que era. — Quer mais chá?
— Claro, eu nunca rejeito chá!
***
O Holi Festival foi uma loucura e isso Nico pôde constatar quando todo seu corpo era uma mistura de tintas.
Will o puxou para todos os cantos feliz com o que estava acontecendo. Nico o admirava em silêncio quando o via olhar para as mãos coloridas e depois voltar o rosto para ele. Parecia meio que surreal conseguir entender exatamente o que os olhos de Will diziam: pura felicidade.
No meio da multidão, Will o tomou nos braços e jogou o pó pigmentado em verde aos céus, apenas para cair sobre eles e colorir mais ainda.
— Isso é a segunda coisa mais bonita que eu já vi em toda minha vida! — comentou Will em meio ao barulho da aglomeração e se referindo ao evento.
— Qual a primeira coisa? — Nico perguntou.
— Você! — Will respondeu jogando mais pó para o alto.
Nico repetiu o gesto, mas jogou no rosto de Will para que ele não notasse a expressão envergonhada que tomou sua face.
Ele nunca foi alguém de receber elogios de forma tão direta ou sincera e, apesar de ter escutado vários de sua alma gêmea, tudo parecia como se fosse a primeira vez.
O di Angelo se aproximou de Will e apoiou a testa em um de seus ombros. Não houve um abraço da parte de ambos. Escutou-se apenas o ofegar surpreso de um Will imóvel enquanto um milhão de tons caíram sobre eles.
Nico queria muito beijá-lo.
E essa era uma péssima ideia.
***
Quando Will disse que Nico deveria conhecer sua família, sua primeira reação foi ficar assustado. Will pareceu arrependido de ter sugerido a ideia e logo se retratou:
— Quero dizer, é só uma sugestão. Você não precisa ir agora, ou semana que vem. Ou nunca. Se você quiser, você não os conhece nunca.
— É muito cedo — diz.
— Tudo bem, foi só... algo que pensei agora.
Eles estavam no apartamento de Will quando a proposta foi feita. Nico começou a frequentar o lugar aconchegante logo que tomou coragem para realizar a primeira visita, apesar de ter feito isso só porque sentiu que as visitas de William invadiam muito de seu espaço pessoal.
— Mas eu posso ir. Acho que uma hora ou outra isso vai acontecer.
Will sorriu.
— Certo. Então acho melhor começar com o meu pai — disse Will. — Ele é mais calmo nessas coisas.
— Como assim?
— Você sabe como sou um cara romântico — respondeu desavergonhadamente, enquanto Nico queria afundar na cadeira em que estava sentado. — Bem, minha mãe, quando te vir, vai planejar desde nosso noivado até a roupa de nossos futuros filhos. Então ignore-a. Ela pode ser assustadora até mesmo para mim.
— Disse o cara que tocou em casamento assim que conheceu sua soulmate — Nico provocou.
— Eu estava nervoso, oras — Will falou enquanto gargalhava. — E acho que nunca falei, mas me desculpe ter te assustado. Realmente estava exasperado e você estava tipo “Quem é esse maluco?”.
Inevitavelmente, o corpo de Nico chacoalhou em diversão.
— Bem, eu estava assim mesmo, mas acho que isso não importa muito. Você estava certo, afinal. No nosso primeiro encontro, eu digo.
Nico escolheu as palavras certas para dizer a Will que ele acreditava no amor puro das almas gêmeas, e a afabilidade de Will em demonstrar que havia entendido ao beijar calorosamente explicava tudo.
O que não amenizava, porém, o medo e as dúvidas de Nico.
***
Quando chegou em casa, Nico reuniu todas as informações em um conjunto singelo de bons fatores e era ali, então, bem no agrupamento de tudo que sentia, que ele explodia.
O dilema era: ele sabia que estava apaixonado por Will. Mas era predestinação ou a forma natural de se apaixonar inexistente naquele mundo? Acreditar que o amor deles era puro era insuficiente enquanto ele não soubesse a resposta para essa questão.
Havia uma linha tênue entre o gracioso e o vil, entre o que Nico queria ter e o que ele queria afastar. Por mais que houvesse certo costume, ainda estava caótico e perdido naquele mundo colorido. Todas as vezes que era tomado pelo novo, sua mente desviava para a perspectiva de seu antigo eu.
Antigo eu, esse, que não incluiria algumas tardes com Will Solace, hora do chá que se finalizaria com olhares afetuosos, discussões sobre qual era a melhor banda pop de todos os tempos que era intercalada por letras de músicas bem insinuativas, algumas conversas profundas sobre os dilemas da vida, mas também coisas toscas como o fato do Tom e do Jerry irem à praia com roupas de banho e passarem os outros episódios sem sequer uma peça, tudo isso nas inúmeras vezes que se encontraram.
E agora, o primeiro beijo que trocaram, esse que Nico tentou apaziguar a sensação estranhamente boa em seu corpo. Era uma linha formigante que corria desde o topo de sua cabeça até os seus dedões.
Então Nico fechou os olhos contra o travesseiro e sentiu toques imaginários de Will em seu corpo, e se odiou um pouco por ser ele a imagem em sua mente quando se entregava ao sono.
***
Nico nunca havia namorado. Consequentemente, nunca havia conhecido o seu sogro. Porém, Will e ele não eram nenhum par romântico. Ainda. E se dependesse de William, eles sem dúvida alguma seriam. Mas, se não depende de Nico, por que ele está pensando que está visitando o seu sogro?
Alma gêmea era estranho, principalmente esses pensamentos inevitáveis. Ou será que era devido a ele estar pensando demasiadamente no Solace?
Encontrar com uma pessoa consideravelmente famosa era o menor dos problemas de Nico. Tentar parecer suficiente para o filho desse alguém era mais complicado, principalmente porque, querendo ou não, Apolo poderia ser protetor.
Apesar de todo receio de Nico, as coisas procederam de forma tranquila. Apolo era um cara que parecia meio assustador por fora, excepcionalmente quando cumprimentou Nico. Pareceu meio “machão” demais para o seu gosto, mas não ia ousar falar sobre.
Durante o dia que os três passaram juntos, Nico também conheceu os dois irmãos de Will de forma breve, já que passaram lá para, além de conhecer Nico, implicar com o irmão com coisas... bem, de irmãos.
Nico descobriu fatos que Will nunca havia mencionado antes, como a mania de enfiar feijão no ouvido quando era uma criança de dois anos. Nico ainda riu da justificativa dada por ele: “Queria ver se um pé de feijão nasceria dentro de mim”.
Sobretudo, di Angelo captou nas palavras de Apolo um lado que também não sabia, o lado caseiro de Will. Ele era do tipo de pessoa que aproveitava a vida ao lado da família e de poucos amigos, e nada era mais importante do que esses dois tópicos.
Assustador foi quando idealizou que eram idênticos quanto a isso, porque Nico queria formar e zelar uma família.
E quando, na outra semana, visitaram Naomi Solace, Nico teve certeza de que sua família seria formada com Will.
Olhando para Will em um fim de tarde, ele viu o mesmo propósito que tinha.
***
Depois que, enfim, chegou à conclusão de que estava tudo bem se apaixonar por sua alma gêmea, Nico se enterrou em um breve e complexo dilema denominado futuro.
O amanhã estava bem ali à frente deles. Não havia nenhuma aliança de namoro em seus dedos, mas havia todos os emaranhados românticos entre eles em todos os toques, olhares, gestos e palavras ditas entre eles.
E Nico queria formalizar os atos.
Quando conversou com Jason a respeito disso, seu melhor amigo quase teve um ataque cardíaco como o maior apoiador do futuro casal, mas o ajudou com o pedido e a escolher o anel.
Iria ser algo simples e simbólico, uma vez que o lugar escolhido foi o lugar em que se viram pela primeira vez. Com a autorização de seu patrão, a velha loja de discos teve suas prateleiras arrastadas para o canto e o centro da loja virou uma discoteca.
Nunca, em um milhão de anos, Nico imaginou que faria algo brega como aquilo, mesmo seu coração errando as batidas de tanto amor que colocou naquilo.
— É uma noite especial — Nico garantiu enquanto guiava Will de olhos vendados para o lugar.
Os seus amigos e os familiares de Will já aguardavam o momento épico dentro do local. Nico checava de meio em meio segundo se a caixinha estava em seu bolso e quando chegaram, ajudou Will a sair do carro delicadamente.
— Posso dar um chute de onde estamos? — Will perguntou.
— Diga.
— No restaurante do nosso primeiro encontro.
— Errou — riu Nico. — Agora, silêncio e me siga.
— Mandão.
— Mas você gosta.
— Gosto mesmo.
— Não me faça rir — Nico disse segurando a risada.
— Parei.
Nico deu duas batidas na porta indicando que haviam chegado e a empurrou, deparando-se com os olhares de todos em expectativa, além do silêncio que foi rompido quando Silena ligou a caixa de som improvisada e um instrumental romântico começou a tocar.
— Nico, o que caralhos está acontecendo? — Will perguntou rodando a cabeça e tentando identificar inutilmente de onde vinha a música.
Sem dar uma resposta, Nico se ajoelhou no chão em frente ao outro e abriu o objeto aveludado.
— Pode tirar a venda.
— De verdade?
— Tira logo, Will!
— Ok, ok — ele disse se movendo para descobrir os olhos. — Não, não, você não está fazendo isso!
— Aceita logo! — Jason gritou ao fundo.
— Deixa o Nico pedir! — agora era Silena. — Eu vou entrar em colapso!
— William Andrew Solace, você aceita namorar com sua alma gêmea de fonte duvidosa?
Ao invés de responder à pergunta, Will simplesmente caiu de joelhos e abraçou Nico, fungando em seus ombros logo após.
— Isso é um sim ou é um não? Estou quase dando um “treco” aqui, Will.
— Sim, Nico, sim! Mil vezes sim! — Will disse e saiu meio abafado porque ainda estava contra Nico, mas foi audível.
O grupo que assistia o momento vibrou em alegria, mas nenhuma sensação poderia ser comparada à que eles sentiam naquele instante.
Will se afastou para dizer:
— Eu achei que ia ser um jantar romântico. Eu não acredito que todos vocês sabiam e não me contaram!
— Decidi chamar nossos amigos e sua família porque sei que são as coisas mais importantes para você, e para mim também. Queria que eles estivessem aqui nesse momento. Além de que seria uma surpresa para você, eu contando a eles ou não.
Solace sorriu para beijar Nico, e logo eles foram atacados por seus amigos e os irmãos de Will em um abraço coletivo de parabenização. Só depois que a algazarra diminuiu que receberam as felicitações de Apolo e Naomi.
— Eles me deram a bênção e tudo.
— Quando que você os visitou que não fiquei sabendo?
— A mim foi no dia que você simplesmente deixou sua carteira para trás e voltou para buscar justamente quando Nico estava lá — Apolo explicou. — Foi um aperto ter que entender por que Nico saiu correndo e se escondeu na primeira porta que viu pela frente, ele ainda não tinha me falado sobre o pedido.
— Por isso o senhor estava tão estranho — Will gargalhou. — E você, mãe?
— Eu fui até ele. Até parece que eu não entendia o que ele realmente queria me dizer nas nossas mensagens.
Não era surpresa nenhuma para Will que Nico e Naomi viviam fazendo fofocas tanto por mensagem quanto pessoalmente.
— Vamos tirar uma foto deles! — Charles disse se aproximando e puxando o casal para o cenário improvisado.
— Nico? — Will murmurou enquanto eles tiravam algumas das fotos.
— Oi.
— Eu amo vocês.
— Eu também amo você — Nico disse de volta e o beijou bem na hora do barulho da câmera de Piper.
A foto eternizava a explicação do amor. Um amor digesto e não rejeitável. Um amor sentido e não questionável, porque tendo conhecimento de que tudo ao lado de Will era bom e puro, não havia mais razão para negar tal sentimento.
Sendo almas gêmeas ou não, sendo uma escolha ou não, desde que seu coração vigorasse com alegria em seu peito a cada momento com Will, poderiam ser qualquer coisa que quisessem, do marrom ao verde, do azul ao violeta, do roxo ao amarelo. De todos os tons em uma ligação de corpos que atravessa a alma.
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