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História I Doubt The Stars Are Fine (Reescrita) - 01; desvantagens da carreira - História escrita por cherrybombshell - Spirit Fanfics e Histórias
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História I Doubt The Stars Are Fine (Reescrita) - 01; desvantagens da carreira


Escrita por: cherrybombshell

Notas do Autor



Capítulo 2 - 01; desvantagens da carreira


 

SETE ANOS DEPOIS

 

 

Ser um auror parecia uma boa ideia quando você tinha dezessete anos e nunca tinha feito nada a não ser lutar contra as forças das trevas e tentar provar para si mesmo que merecia estar vivo – mas depois de uma década naquela carreira, Harry tinha quase se esquecido de como era sentir uma verdadeira explosão de adrenalina ou pular em uma grande aventura sem planos, ajuda ou qualquer esperança.

Na maior parte do tempo o que ele realmente fazia envolvia pilhas e mais pilhas de papelada burocrática, investigações conduzidas em um escritório seguro e chato, e uma quantidade muito grande de colegas suspeitos e talvez corruptos que faziam com que ele rangesse os dentes e lutasse muito contra si mesmo, no caso tentando só se parar antes de atacar alguém.

Harry era um ótimo detetive. Demorou menos de um ano para ele descobrir que isso só iria o atrapalhar e não o ajudar.

Ajudava, em certos pontos, que ele fosse o Menino Que Sobreviveu. Havia uma quantidade surpreendentemente grande de criminosos que viam que iam ter que ir contra o homem que derrotou Voldemort "duas" vezes e imediatamente se rendiam. Jornalistas tendiam a o deixar em paz por causa da infama e ainda recorrente rivalidade dele com Skeeter, vítimas tendiam a se sentir em segurança ao redor dele sem ele precisar lutar para se provar, até testemunhas respondiam as perguntas que ele fazia com mais prontidão.

Os colegas dele não tinham a mesma opinião. Os superiores dele, uma vez que parados por um menino teimoso e briguento demais, com um complexo de herói e uma verdadeira vontade de ajudar o público geral e completa honestidade em tudo que fazia, tinham duas reações constantes: sorrisos zombadores ou caretas irritadas.

Harry costumava achar que adultos eram incompetentes quando era jovem. Agora ele tinha certeza que não era só incompetência: era malícia mesmo. Era com ela que, nos primeiros cinco anos dele no trabalho, ele foi usado. 

Sabia que foi, até enquanto acontecia. Um rosto famoso que eles podiam empurrar para frente do público e usar para os convencer que estavam melhorando as coisas quando na verdade qualquer reforma e campanha que ele tentava fazer era "deixada para depois". Todo mundo sabendo, no caso, que o "depois" nunca iria chegar. Só agora, com vinte sete anos, Harry achava que tinha um chefe que não era completamente sujo e que o deixava fazer o que ele precisava fazer, e mesmo assim ele não confiava no homem 100%, não quando ele tratava Harry notavelmente melhor do que os recrutas sem um grande nome.

Harry ainda passava bem mais tempo entediado do que teria imaginado quando escolheu aquela carreira.

Mesmo assim, ele tentava trabalhar sem parar. Queria deixar o legado de Voldemort no passado e ser reconhecido por outras coisas, coisas que ele realmente fez, que realmente faziam ele sentir orgulho. Queria trazer uma mudança para aquele sistema que parecia cada vez mais apodrecer de dentro para fora.

Era por isso – e pelos anos que passou sem nunca receber nada além de tarefas com o único objetivo de trazer boa mídia para os Aurores – que ele nunca considerava nenhum caso abaixo de si. Tudo que era passado para ele, Harry aceitava sem reclamar, até mesmo a vez em que fizeram ele ir ajudar uma menina Trouxa a tirar um gato de cima de uma árvore.

Olhe para mim, ele queria gritar. Eu não sou um herói. Eu não sou uma lenda. Eu sou um auror, e eu estou aqui a sua disposição, mesmo que nenhum dos meus colegas estejaEu vou ajudar os sem ajuda e atender todas as chamadas que o resto ignora.

Isso não queria dizer que Harry não ficava interessado quando eles tinham grandes casos. Ele era humano. Quando ouvia sobre um assassinato ou um desaparecimento, ele queria o resolver. Não só por curiosidade, apesar de curiosidade ser algo que existia firme e forte dentro dele. Principalmente, Harry queria poder dar um pouco de paz para a vítima e a família dela. Sabia como era estar naquela posição e que já era terrível demais até quando se tinha todas as respostas, imagine então quando tudo que havia eram sangrentas dúvidas.

Quando o chefe dele o procurou enquanto Harry lia um jornal Trouxa sobre uma greve nos correios e bebericava um expresso, tentando arranjar a força para se aventurar a ler toda a papelada que ainda tinha que revisar, Harry esperava outra coisa bobinha. Um roubo no Beco Diagonal, no máximo.

Ele não esperava que um caso de desaparecimento, muito menos um caso aparentemente "normal"– tanto quanto casos de desaparecimentos podiam ser normais – iria acabar abrindo uma teia de mentiras maior do que qualquer outra investigação para a qual ele já tinha sido designado.

Ele não esperava que ter chegado meia hora antes do resto do time dele, tudo porque teve um pesadelo, não conseguiu voltar a dormir e queria se adiantar e fazer algo maturo, iria mudar toda a trajetória de vida dele.

 

*

 

Jodie Todd era uma parteira no St. Mungus.

As fotos que o chefe de Harry o deu mostravam uma bruxa loira e alta. Bonita, o tipo que virava cabeças por onde passava, e com um rosto tão delicado e olhos tão suaves que você não podia a imaginar machucando nem uma mosca.

Tinha um sorriso brilhante, aquele tipo de sorriso radiante e contagiante que só de olhar em uma fotografia antiga fazia Harry sentir vontade de sorrir também, e todos os amigos e conhecidos dela diziam que ela era a mulher mais amigável e trabalhadora que eles já tinham conhecido, um raio de sol em forma humana com o talento de acalmar o mais estressado dos bebês e iluminar a mais sombria das salas.

Quando era bem criança ela tinha contraído virose de dragão e passado meses em uma cama de hospital com febre, calafrios e terríveis alucinações. Sobreviveu, mas até hoje tinha um sistema imunológico frágil. As colegas disseram que ela faltava constantemente, sempre pegando alguma doença ou outra, mas sempre avisando para o hospital com antecedência e amando tanto o trabalho que nunca pensou em trocar de profissão – e sendo tão boa com os pacientes que ninguém nem ousava pensar em a demitir não importa quantos atestados ela pegasse.

Em todos os vinte anos trabalhando lá, Todd nunca tinha deixado de aparecer sem mandar um Patrono para o chefe.

Até cinco dias atrás.

Os colegas esperaram um dia inteiro. Quando ela não apareceu e não mandou notícias, eles próprios mandaram um Patrono para a casa dela. Não houve resposta. Eles foram atrás da família, preocupados, mas quando os pais tentaram se comunicar com ela usando objetos comunicadores encantados que ela sabia que eles só usavam em emergências e nunca não tinha respondido, Todd continuou sem dar sinal de vida.

Mesmo ir bater na porta da casa dela por horas e horas não deu em nada. Ela era conhecida por ter feitiços de proteção fortes – nenhum dos muitos amigos, familiares ou colegas conseguiu arrombar o apartamento.

Por fim eles foram atrás dos vizinhos que, por sua vez, puderam dizer que tinham visto ela saindo para trabalhar na quinta-feira – mas que nenhum deles tinha a visto ou a ouvido voltando. Uma senhorinha no corredor de baixo, velha e trêmula e quase cega, disse que Jodie sempre a ajudava com suas plantas, mas que a mulher não aparecia na porta dela fazia mais de um mês já, o que trouxe ainda mais confusão e preocupação para todos.

Nesse ponto, a família estava desesperada e foi atrás dos aurores.

A primeira coisa que Harry fez depois de fazer uma pesquisa bem intensiva sobre a vida de Todd e ler os depoimentos que o chefe dele tirou no primeiro momento foi ir ver o apartamento dela. A primeira coisa que ele notou quando inspecionou a porta com a varinha foi que a última vez que ela tinha sido trancada, foi por fora.

Todd tinha saído de casa com vida ou, se seus vizinhos não devessem ser confiados, alguém mais tinha saído de lá. O que quer que fosse, alguma coisa tinha acontecido.

Ela não aparecia em St. Mungus fazia cinco dias. Os vizinhos a viram em uma quarta de manhã; agora já era sábado. Essa pequena inconsistência não passou despercebida por Harry, assim como ele achava que tinha mais a ser descoberto com a senhorinha.

A reputação dela não era exagerada. Todd, e agora ele estava começando a suspeitar que tinha sido ela mesma a última a sair, era bem poderosa e, apesar de ter meses de treinamento para virar um auror e anos trabalhando como um no currículo, Harry ainda demorou para conseguir desfazer o feitiço na tranca dela.

Era exagerado. Poderoso demais para uma parteira que não tinha uso para encantamentos de tal classe no dia a dia, mas Harry não queria tirar conclusões precipitadas. Algumas pessoas tinham mais medo de assaltos do que outras e, a parte que mais o pegava, Todd tinha sido parte da primeira guerra quando adolescente e segunda quando adulta. Isso deixava qualquer um mais paranoico do que o normal.

O próprio Harry tinha excessivas magias ao redor de todo o apartamento dele, além de uma casinha Trouxa que tinha comprado escondido quando fez 21 anos e deixado protegida com um Fidelius caso algo realmente terrível acontecesse. Alguém de fora podia achar isso tudo suspeito, achar que ele estava escondendo algo, e Harry tentava dar o benefício da dúvida para todos que passavam pelo trabalho dele assim como esperava receber tal benefício caso um dia precisasse.

Quando finalmente conseguiu empurrar a porta para trás, Harry sorriu vitorioso. Aha!

O apartamento de Todd era grande – maior por dentro do que por fora. Outra coisa que ela e Harry tinham em comum. O local era acolhedor, o tipo de casa em que você entrava e instantaneamente sabia que era o bem-cuidado lar de alguém. Um pouco parecido com a Toca, só que muito mais arrumado e bem menos cheio. Logo no corredor de entrada, as paredes eram amarelo claras, cheias de desenhos enquadrados. Tinha uma grande variação de qualidade. Harry chutava que eles eram das crianças que Todd acompanhava no hospital e que isso era causado por terem sido feitos por crianças em uma grande variação de idade e saúde. Só tornava tudo ainda mais fofo e, apesar de não ser profissional, ele teve que parar para as observar.

Merlin, mesmo com a situação suspeita, ele estava torcendo para aquela mulher estar bem.

Mais para frente, a sala era tão espaçosa e confortável quanto ele esperava. O sofá parecia tão suave quanto uma nuvem e havia uma poltrona reclinável coberta por uma manta claramente tricotada a mão, com vasos com girassóis espalhados pelas mesas e o avermelhado do pôr do sol entrando pelas janelas abertas. Era conjunta com a cozinha e a sala de jantar, a mesa ainda posta, Harry imediatamente percebeu.

Essa era a primeira pista de que havia algo de errado com a casa.

Havia uma caneca de chá em cima da mesa.

Havia uma caneca de chá, e ela ainda estava quente.

Harry levantou a varinha na mesma hora, se preparando para lançar uma maldição e um Patrono para o Ministério a qualquer menor som ou sinal da pessoa que ali estava.

"Senhorita Todd?" tentou chamar, mas não houve resposta. Harry deu um passo hesitante em direção ao corredor, sem abaixar a varinha. Embaixo de si, o chão de madeira – amarelo claro, também, e com manchas antigas – rangeu. "Jodie?"

Havia cinco portas naquele corredor e Harry parou, tentando decidir em qual deveria entrar primeiro.

O chão rangeu mais uma vez.

Por um segundo, Harry hesitou, pensando. Sim. O barulho tinha vindo de um dos quartos, muito menor do que o barulho que ele próprio tinha feito alguns segundos antes. Mexeu os dedos ao redor da madeira da varinha, os alongando e preparando a si mesmo para o confronto. A adrenalina pulsou pelas veias de Harry. O fez sorrir, apesar de tudo. Tinha sido um menino criado e forjado em combate, um soldado antes mesmo de virar um homem. Apesar de saber que era errado, ele sentia falta daquilo.

Ele abriu a porta com um chute, mesmo que pudesse ter o mesmo efeito com um feitiço.

"Parado!" gritou.

Mas não era Todd lá dentro. Não era um criminoso.

Não.

Lá dentro, o encarando, havia uma criança.

Harry parou com tudo. A criança – o menino – continuou o observando em completo silêncio, apertando uma pelúcia em formato de abelha contra o peito. Os lábios dele tremiam e o medo nos olhos era claro, os deixando marejados. Claro que ele estava assim. Havia um homem desconhecido e brandindo uma varinha no apartamento dele, enquanto ele só estava sozinho e desarmado tentando se esconder no que parecia ser, pela decoração, o quarto de Todd.

Harry finalmente abaixou a varinha.

"Oi?" sussurrou, tentando fazer a voz soar o mais baixa e delicada o possível.

Se ajoelhou, até, para tentar ficar mais parecido em altura com a criança. Ele se lembrava, até hoje, do quão assustador era ter que levantar a cabeça para ficar encarando um adulto que parecia impossivelmente alto, poderoso e assustador.

"Essa é a casa da Jodie Todd mesmo?"

O menino só concordou com a cabeça. Parecia prestes a começar a chorar e nunca mais parar, os olhos se enchendo de lágrimas. Ele apertou a pelúcia até os braços começarem a tremer também.

"Ah."

Harry engoliu em seco, procurando o distintivo meio que desesperadamente. Crianças confiavam em aurores, não é? Em todos os anos como um, ele nunca teve certeza. A maioria confiava nele quando ele se apresentava, mas isso era porque elas tinham nascido ouvindo sobre Harry, para o grande desconforto dele. O próprio Harry nunca foi muito de confiar em policiais quando morava com os Dursley. O próprio Harry, até hoje, não confiava completamente quando alguém se apresentava como um colega para ele.

Ser um auror ainda era melhor do que ser um invasor qualquer, então ele mostrou o distintivo para o menino, ignorando o embrulhar que sentiu no estômago quando levantou a mão e, instantaneamente, o menino se encolheu para longe.

"Eu sou um auror," explicou cuidadosamente, "e eu fui mandado pra dar uma checada no lugar já que ninguém vê a senhorita Todd faz um tempinho já. Sabe, para ter certeza de que ela está bem. A família dela está preocupada. Você gostaria de me contar quem é, garoto?"

"Jô é a minha mamãe," a criança soltou bem, bem baixinho, quase que demais para Harry ouvir. Demorou um segundo para ele realmente entender o que havia de errado.

Ah, porque o problema com aquela frase?

Jodie tinha se casado durante a primeira guerra. Ela tinha ficado viúva na segunda e todo mundo que a conhecia dizia que, apesar de amigável, atraente e muito procurada, a mulher nunca teve interesse em romance desde a morte do marido. Nunca tinha beijado ninguém desde então, algo do qual ela muito se orgulhava.

Ninguém comentou sobre um filho, antes ou depois da morte do marido. E, ainda pior, Harry tinha lido tudo que o Ministério tinha sobre Todd, cada nota, cada documento, cada momento de sua vida.

Legalmente, aquela criança na frente dele não existia.

 

*

 

Demorou um tempo para convencer o menino a sentar na cama de adulto atrás dele e, mesmo assim, Harry não ousou ir sentar do lado, ao invés disso ficando parado do outro lado do quarto com as mãos nas costas, deixando claro que não iria o tocar. Mesmo depois foram necessários mais alguns minutos até Harry o acalmar o suficiente para ele falar mais alguma coisa.

O menino era pequeno, assustadoramente jovem e magrinho, com cabelos ruivos bem intensos e olhos surpreendentemente azuis, intensos também.

Ele disse que o nome dele era Scorp.

"Esse é um nome bem bonito," mentiu Harry, porque, na verdade, ele era bem estranho. Não feio, Harry nunca diria que uma criança tinha um nome feio, só era... incomum. O menino corou, sem reconhecer a mentira, e olhou para baixo.

"Obrigado, senhor," ele sussurrou timidamente. Scorp, visivelmente, era uma criança bem tímida. Era meio fofo, meio preocupante por causa da situação. "Eu ganhei ele quando eu fiz cinco anos."

O que era uma frase muito suspeita e Harry teve que virar o rosto para não mostrar a careta que estava fazendo para Scorp. Ele ganhou o nome dele? Quando tinha cinco anos? O que era chamado antes disso? Por que não tinha um nome? O que estava acontecendo naquela casa?

Atualmente, a teoria mais racional era que esse era um caso bem ruim e complicado de abuso, apesar de que nem isso explicava tudo.

Harry sabia que os Dursleys nunca se preocuparam em fazer uma certidão de nascimento Trouxa para ele, então, se Todd fosse uma mãe negligente, não era loucura imaginar que ela também não tinha tido vontade de perder tempo fazendo a documentação do menino. Harry agia um pouco como Scorp, quando era menor. Menos fofo, mas acanhado do mesmo jeito. Só que ainda ficava a dúvida de como ninguém sabia da existência da criança, nem mesmo os vizinhos, ou como Todd sequer tinha o tido sem sair com nenhum homem desde o falecido marido e, o que era mais concreto, sem nunca ter pego uma licença a maternidade ou sequer ser vista grávida.

Continuava também a questão de onde Todd estava e o que tinha acontecido com ela aqueles últimos dias. Último mês, se a senhorinha devesse ser levada em consideração.

O menino não foi de grande ajuda.

"Mamãe disse que ia fazer uma pequena viagem."

Algo frio se retorceu no estômago de Harry assim que ele percebeu mais uma coisa perturbadora em relação àquela situação toda.

Ele perguntou tão baixinho e suavemente quanto possível: "A quanto tempo você está sozinho em casa?"

Foi difícil controlar a raiva e preocupação que estava sentindo, mas não era algo que o menino precisava ouvir. Não faria nenhum bem, no momento.

Scorp olhou para baixo, para a pelúcia de abelha dele.

"Alguns dias?" disse baixinho. Ele piscou rápido, os olhos molhados, e olhou de volta para Harry rapidamente. "Não mais que quatro! Eu não... não sei direito, senhor."

"Tudo bem," Harry o confortou imediatamente, porque Merlin, ele não gostava do quão cheia de vergonha e culpa a cara da criança estava. "Tá tudo bem, eu entendo."

Scorp abaixou o rosto ainda mais, fungando. Estava praticamente tentando se esconder atrás da abelha já. Houve uma pausa, um tenso momento de silêncio absoluto e ao menos na parte de Harry extremamente desconfortável. Ele se aproveitou para respirar fundo e tentar bolar algum plano. Sabia o que tinha que fazer, mas não sabia como.

"Scorp," começou. Imediatamente o menino levantou a cabeça na direção dele, os olhos arregalados e cheio de concentração de um jeito que Harry sinceramente não estava acostumado a ser olhado.

"Sim, senhor?" perguntou antes mesmo que Harry pudesse acabar.

Harry tentou sorrir da forma mais amigável o possível.

"Eu sei que eu sou um desconhecido e eu sei que esse deve ser um momento muito assustador, mas eu tenho que te levar para o Ministério." O rosto de Scorp empalideceu e Harry se apressou: "Você não fez nada de errado, eu juro. É só que, enquanto a gente não sabe onde sua mãe está," ou se ela realmente é uma boa mãe, ou sequer sua mãe, "você não pode ficar sozinho. Você é jovem demais para isso, querido."

"Eu tenho sete anos e três meses," ele disse, levantando dez dedinhos e usando aquela voz orgulhosa que crianças usavam quando falavam suas idades e achavam que estavam muito velhas, apesar da verdade ser bem longe disso. Teve que soltar a abelha, a colocando com todo cuidado do mundo em cima da cama. "Mamãe, senhor, mamãe não me deixa sair de casa. Principalmente com estranhos."

A primeira parte, a de não sair de casa, era confusa. Harry a marcou para tentar a entender mais tarde, por enquanto se concentrando no restinho do que ele tinha dito.

"E a sua mãe está certa sobre você não dever sair com estranhos, mas eu sou um auror e, só nesse caso, eu te peço para confiar em mim." Harry estendeu uma mão. "Por favor."

Scorp não pegou a mão dele, mas–

"Mamãe disse que eu podia confiar em aurores," admitiu.

Ele fez outra pausa, pensando. Se levantou e pegou o travesseiro na cama. Avisou:

"Você não pode Aparatar dentro do apartamento, senhor," o que Harry sabia, já que era uma regra em todo o prédio, mas ele concordou de qualquer maneira, feliz que o menino estivesse começando a confiar nele. Só começando, mas era algo.

Era um começo, pelo menos.

 

*

 

Foi um pouco mais fácil fazer Scorp confiar em uma medimaga.

Ele se encolheu para longe de todos aurores que tentaram se aproximar dele, escondendo o rosto atrás da abelhinha, mas ele reconheceu o uniforme da mulher, o mesmo que Todd, e o efeito foi instantâneo. Os ombros dele relaxaram e ele abaixou a abelha, parando de tentar se fazer o mais pequeno possível onde estava sentado. Ele sorriu timidamente para mulher, algo que aumentou quando ela retribuiu o gesto, e a lançou um pequeno aceno que fez a medimaga soltar uma risadinha suave, bondosa.

Ela só fez um checkup rápido nele, porque eles iriam precisar ir para St. Mungus mais tarde para fazerem um teste de parentesco e procurarem por qualquer outra anomalia mais séria e complicada. Agora, com a criança tão cansada e ainda assustada, só foi procurado o mais urgente: machucados, ou resíduos de machucados.

"Encontrou alguma coisa?" Harry a perguntou quando ela acabou, fora da sala para que Scorp não os ouvisse.

Hannah Abbot, que tinha estudado e trabalhado com ele em muitos outros casos, apenas descordou com a cabeça. Parecia aliviada.

"Nada recente. Eu corri alguns testes para ver se ele já tinha se machucado seriamente no passado e deu negativo também. O máximo detectado foram ralados, mas a maioria se concentrou nos joelhos e cotovelos. Eu vou deixar uma anotação no meu relatório, claro, eu te mando ainda hoje, mas o mais provável é que ele tenha os recebido enquanto brincava, como é normal para uma criança da idade dele, e tudo foi curado tão rápido que está claro para mim que ele tinha alguém tomando conta dele e não querendo que ele sentisse dor nenhuma. Amanhã mesmo eu gostaria de o ver no hospital com todo o meu equipamento para ter certeza, mas por enquanto o garoto tá limpo, Harry."

Era óbvio e importante o que Hannah estava dizendo – por enquanto não havia nenhum sinal claro de abuso, mas ela ainda não tinha deixado a possibilidade de lado e queria checar melhor assim que pudesse.

Harry se virou para a sala onde Scorp estava sendo atendido, a janela de vidro deixando que ele tivesse uma visão bem clara do menino sentado em cima de uma maca, dedão na boca e olhos meio fechados de cansaço, parecendo mais pequeno do que nunca. Ele não sabia se era normal que uma criança do tamanho dele ainda chupasse o dedo. Não sabia se esse podia chegar a ser um detalhe importante ou era algo inconsequente.

Harry sabia que, mesmo se eles não achassem nenhum hematoma, mesmo se nunca tivesse havido algum, isso não queria dizer que Todd não tinha machucado a criança de outros jeitos. Ele sabia.

Ele se despediu de Hannah, prometendo que os dois iriam passar em St. Mungus – eles estavam na Ala Hospitalar do Ministério no momento, feita só para acidentes e checagens mais rápidos – assim que Scorp tivesse tido uma boa noite de sono e Harry tivesse conseguido permissão do chefe.

Harry foi falar com Scorp.

"Eu quero achar a Jodie," ele contou para o menino e, apesar da surpresa que tinha sido a existência dele, ainda era a mais pura verdade. "A sua ajuda poderia ser importante. Se você pudesse me falar sobre ela, eu agradeceria."

"Mamãe é a minha melhor amiga," Scorp disse imediatamente, tirando o dedo da boca. "Ela é a pessoa mais legal do mundo, senhor, e eu realmente sinto muita saudade dela–"

Os olhos dele estavam cheios de lágrimas agora, o que não era exatamente uma surpresa. Ele tinha tido um dia – quatro dias? cinco? – estressante, e Harry esperava que ele quebrasse em algum momento. Teria ficado mais preocupado se ele não tivesse.

Ainda era doloroso de se olhar e Harry se aproximou, colocando uma mão nas costas de Scorp. O menino tencionou, mas ele não se encolheu e nem o empurrou para longe, então Harry não se distanciou.

"Eu prometo que eu vou fazer de tudo para achá-la," disse, porque ele não podia prometer que iria a achar e apesar dele querer ver a criança calma e alegre, experiência tinha o ensinado que quando se tratava de conseguir a confiança de uma vítima, não era bom cortar caminho mentindo. Iria o machucar ainda mais, mais tarde, caso Harry não conseguisse.

Scorp fungou, passando as mãos pelos olhos já vermelhos. "Eu amo a mamãe."

"Eu tenho certeza que ela te ama também."

Scorp concordou com a cabeça.

"Eu sei, senhor."

E ele soava completa e inocentemente convicto disso, como se fosse o fato mais certo em todo o mundo, como se outra opção nunca nem tivesse brevemente passado pela cabeça dele. Isso era bom. Apesar de toda a preocupação, de tudo, Harry tinha passado onze e mais alguns anos achando que ninguém nunca iria o amar ou se importar com ele por causa dos Dursleys.

Enquanto Scorp lentamente voltava a respirar direito, ainda fungando, mas já começando a se acalmar um pouco, Harry passou uma mão pelo cabelo dele e pensou que estava bem feliz que aquela adorável criança nunca teve que sentir aquele mesmo medo e solidão que por tantos anos foram os únicos companheiros de Harry.

 

*

 

"Os Weasleys tiraram uma permissão para abrigar crianças em situações de emergência, não?"

"A Molly e o Arthur tiraram alguns anos atrás," concordou Harry, mas logo depois ele balançou a cabeça. "Eles iriam aceitar, é claro, e provavelmente iriam insistir em ajudar se soubessem da situação, mas eu não acho que seja a melhor ideia. Eles ainda estão cuidando de uma menininha, não? A do caso dos Jordan do mês passado. Hennessey, acho. Além disso, é verão. Todo mundo está na Toca. Com a menina mais os filhos deles, além dos filhos dos filhos ainda por cima... acho que seria um pouco demais pro Scorp. Ele parecia assustado o suficiente sempre que tinha mais de umas três pessoas no mesmo quarto que ele."

O chefe de Harry, Gordon, suspirou, se voltando para os papeis na frente dele.

Os dois estavam tentando arranjar alguém confiável que pudesse cuidar do menino por algum tempo, mas as opções eram incrivelmente escassas.

Um relativamente antigo projeto de Hermione e Harry tinha sido para que, para ter a guarda de uma criança, um adulto precisasse passar por um curso, vários testes e receber uma permissão. Depois da guerra, muitos órfãos tinham acabados jogados em situações menos do que ideais e depois de muitos acidentes, tinha sido a única solução para evitar que tantos deles acabassem com famílias como os Dursleys. Tinha cortado o número de casos de violência doméstica, mas também queria dizer que eles não tinham muitas famílias pré-aprovadas pelo Ministério.

Havia boas pessoas como os Weasleys que conseguiram as permissões necessárias, assinaram um número ridiculamente grande de papelada e agora aceitavam crianças e adolescentes em situações como a de Scorp, que precisavam ser acolhidas de última hora e por um tempo indefinido, com a certeza de que esse indefinido seria só temporário. Algumas boas pessoas. Já fazia três anos e os números ainda eram menores do que Hermione e Harry tinham esperado. A maioria que achava que queria ajudar desistia depois de descobrir o quão difícil realmente era cuidar de uma criança com um provável histórico de abuso e um mais certeiro trauma.

Scorp já estava praticamente dormindo sentado em um sofá no escritório de Gordon. O homem abaixou a papelada, as sobrancelhas franzidas.

"Harry," ele disse, "eu acho que só sobra você."

"Eu?" ele repetiu, chocado.

Harry tinha feito todas as mesmas coisas que os Weasleys, é claro que tinha, mas ele nunca tinha sido chamado para cuidar de ninguém, principalmente porque, com o trabalho e fama dele, isso podia chegar a ter um certo nível de perigo para criança. Nenhum ataque tinha acontecido fazia uns cinco anos já, mas nunca se sabia quando um fanático ex-seguidor de Voldemort podia aparecer, ou talvez só um criminoso que ele ajudou a pegar e que queria muito ver Harry sofrendo. Eles nunca tiveram nada tão urgente que valesse a pena o risco.

"Até a gente conseguir alguém melhor," explicou Gordon. "No momento você é a única pessoa pré-aprovada disponível e o único dos meus contratados com quem eu iria confiar cem por cento cuidando do garoto."

Você também se encaixa nessas preliminares, Harry pensou, mas então ele se lembrou de Scorp se escondendo atrás de Harry quando eles chegaram no Ministério, parecendo tão completamente chocado e assustado com todas aquelas pessoas que se esqueceu do acanhamento por um segundo e correu para Harry para sentir um pouco de segurança, apertando a manga dele com uma firmeza que era quase surpreendente.

Harry passou uma mão pelo rosto, virando a cabeça para ver a criança no sofá, a cada dois segundos dando um leve pulinho e se endireitando depois de quase ter dormido.

"Você está certo," admitiu. "Eu me inscrevi para isso, afinal de contas. Eu cuido dele por enquanto. Eu consigo fazer isso."

Além do mais, Harry não confiava em Gordon 100% com nada.

 

*

 

Harry tinha dado uma espiada nos outros cômodos da casa de Todd antes de sair com Scorp. O quarto do menino, pelo que ele viu, tinha uma cama de criança toda colorida, em formato de dinossauro, com as paredes cheias de desenhos e o chão de brinquedos. O quarto de hóspedes de Harry, que normalmente só era usado pelos amigos adultos dele como Hermione e Rony, ou Luna, ou Neville, tinha uma cama de casal e uma decoração branca e impessoal.

Parecia muito vazio agora que ele olhava, mas Scorp não reclamou quando Harry o mostrou o lugar. Estava bocejando tanto que Harry duvidava que ele sequer tivesse olhado para os arredores dele direito.

"Obrigado, senhor," soltou, imediatamente se jogando de cara nos travesseiros. Harry tinha planejado o trazer algo para comer, mas ele decidiu que isso podia ficar para amanhã, assim como mais investigações. Tentar tirar Scorp e o arrastar por aí parecia um dos piores crimes possíveis, quando ele já estava ficando todo confortável no lugarzinho dele.

Harry abriu um pequeno sorriso, passando uma mão pelos cabelos castanhos de Scorp e arrumando o cobertor melhor ao redor dele.

Estava pronto para fechar a porta atrás de si e provavelmente entrar em absoluto pânico no próprio quarto quando Scorp se sentou na cama.

"Senhor Potter?" chamou baixinho, e Harry entrou no quarto de novo, se aproximando da cama rapidamente para não perder nada do que Scorp ia falar. Era difícil entender de longe, a voz dele tão baixinha e tímida. "Mamãe sempre me contava uma história antes de dormir," ele sussurrou envergonhado.

Harry hesitou antes de fazer cafuné nele de novo. "Eu posso– eu consigo pensar em alguma história se você quiser, querido."

O rosto de Scorp se iluminou todo.

"Sim!" ele exclamou e então, mais baixinho, corando e se controlando: "Sim, eu gostaria disso, por favor, senhor."

E Harry tinha um complexo de herói, sim. Isso já havia sido a muito tempo estipulado. Ele queria salvar todo mundo. Mas ele sempre teve um ponto fraco com crianças e quando ele viu aquele brilho nos olhos de Scorp, reluzente e inocente–

Ele prometeu para si mesmo que iria proteger aquela luz da escuridão do mundo. Para sempre.

Harry podia não saber nem metade da história, mas isso não mudava o fato de que ele nunca iria falhar com aquele menino.


Notas Finais


o que essa reescrita tem diferente da original? bem, pra começo de conversa, tem um primeiro capítulo que literalmente dobrou de tamanho, algo que até agora vem acontecendo com a maioria dos capítulos. além disso,
desafio os que tão relendo a tentar descobrir qual é o importante sub-plot que essa reescrita vai ter que é completamente novo em relação a fic original. por enquanto as mudanças/dicas vão ser discretas, mas elas tem grande importância.

desafio todos, incluindo os que estão lendo pela primeira vez, a descobrir quantos dos nomes dos meus personagens originais vem do Batman. o Gordon é o mais óbvio, mas ele tá longe de ser o único.

para quem está relendo, uma observação: parte que me incomodava muito na original e que eu mudei (e irei mudar ainda mais no futuro) se trata de fazer o Harry ser mais competente nessa versão. o problema é que é bem fácil escrever um personagem que não sabe o que está acontecendo e, principalmente em um mistério, esse é um dos jeitos mais simples de tacar dicas na direção dos leitores, mas não ter nada revelado pelo POV principal. foi o que eu fiz na original, o problema é que acabou atraindo muita gente que sinceramente acha que o Harry é incompetente e estúpido, o que é o oposto do que eu acho dele e não tinha sido a intenção do meu eu de 16 anos.


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