Eu nunca havia sentido tanto medo por estar na minha cidade, assim que descemos de um avião nos separamos em dois carros -carros um tanto quanto furrecas para o nível Lauren Jauregui, que amava coisas extravagantes e chiques-, fomos para um lado bem afastado do centro, era aonde tinhas algumas casas de classes médias e aonde apenas famílias moravam, era o lado tranquilo de Miami.
Nós paramos na frente de uma casa um tanto quanto abandonada, as cores eram escuras, totalmente opacas e o jardim estava completamente morto, dando uma sensação dessas casas de filmes de terror, ainda mais com aquela varanda.
Rapidamente descemos e pegamos as malas no porta-malas, Vero abriu a casa e nós entramos apressadamente no local, que estava um tanto quanto empoeirado e cheio de móveis cobertos. Dinah e Lauren começaram a levar as poucas malas para o andar de cima e eu suspirei prendendo o meu cabelo, havia me esquecido do quão quente Miami era.
Assim que elas desceram Lauren fez um sinal para Lucy e Normani guardassem os carros dentro da garagem.
- Olha, não podemos deixar rastros que tem pessoas vivendo aqui, a noite as luzes apagadas e o mínimo de barulhos possíveis!
- Lauren assim vamos levantar suspeitas… - Ally fala como se fosse obvio.
- Na verdade não… não havia ninguém na rua quando descemos e vamos trabalhar no porão após nós instalarmos todas as coisas, podemos sair de madrugada disfarçadas e é… nós vamos dar um jeito, finjam que nada aconteceu e tudo ficará bem. - DJ da um sorriso timido.
- Quando iremos começar a investigar Austin? - Pergunto curiosa, não via a hora de tudo aquilo acabar.
- Vero vai acompanhar tudo com Ally, que pode ajuda-la a identificar novas pessoas e principalmente dar ótimas informações, Veronica vai nos manter informada e nós estaremos juntando informações e sempre apostas para caso qualquer coisa acontecer… - Lucy me tranquiliza.
- É essencial que você e Lauren permaneçam aqui dentro, ambos conhecem muito bem vocês e sabem que fugiram e tudo mais, então não saiam de casa e caso pensem em sair eu imploro que se disfarcem muito bem… - Normani abre a bolsa e começa a procurar alguma coisa.
- O que está procurando? - Lauren pergunta colocando sua arma em cima da bancada da cozinha.
- Ally o que acha de ficar loira? - Todas nós arregalamos os olhos - Ninguém vai desconfiar de uma baixinha loira e uma magrela… eles sabem que você é morena, é só para dar uma mudada e eles não desconfiarem… - Ally suspira e coça a testa.
- Me da isso daqui… - Tira a tinta da mão dela e segura a minha mão - Nós voltamos quando tivermos terminado isso…
- ALLY! - Lauren grita e nós paramos de subir as escadas - Todas nós vamos pintar os cabelos, você não vai ser a única… - Lolo sorri e pisca para ela logo em seguida.
Nós subimos e escutamos passos logo atrás de nós, Ally entrou no banheiro e Dinah sorriu sem graça me entregando uma toalha, suspirei e dei de ombros entrando no banheiro e trancando a porta. Ally abriu o box enquanto resmungava algumas coisas e tirou a blusa ficando só de sutiã e shorts.
Enquanto eu a ajudava a pintar o seu cabelo nós íamos conversando e eu podia ver o quanto minha melhor amiga estava triste. Ally sempre foi muito ligada a família isso provavelmente se dava ao fato que todos eles estavam sempre reunidos, fazendo almoços e jantas, todos faziam festas sem motivos e principalmente se amavam de uma forma de dar inveja a qualquer um.
Isso a entristecia e eu sabia disso, mas não podia fazer nada porque todos eles iriam correr riscos.
A parte mais dura de ter uma família quando se tem um cargo importante em qualquer profissão é que as pessoas que você mais amam sempre correm riscos.
Após que terminei o cabelo de Ally ela sorriu para mim tristemente e disse que precisava urgentemente descansar, me limitei concordar com a cabeça e beijar a sua cabeça. Minha amiga parou de andar assim que pisou para fora do banheiro, dei dois passos e vi Lauren a encarando com um sorriso terno, ela segurou a mão da minha melhor amiga e a acompanhou até um quarto, a deixando sozinha logo em seguida.
Fiquei parada ao lado do batente da porta, logo Lauren apareceu ao meu lado e entrelaçou as nossas mãos, me levando até uma porta aonde tinha algumas marcas de placas, como se antes houvessem placas grudadas na porta, antes de abrir a porta minha namorada soltou um longo suspiro e só então abriu.
O quarto não era grande, era de um tamanho médio, havia uma cama de casal, havia uma janela grande e um estofado formando um ótimo lugar para se deitar e ver a noite passar pela janela, tinha uma televisão um tanto quanto antiga em cima de uma estante que tinha alguns livros e CDs misturados. Três posters do Paramore estavam pregados em diferentes lugares do quarto e o lindo armário branco que estava entreaberto mostrava algumas roupas.
Olhei para Lauren e pude ver seus olhos cheio de lágrimas, ela fechou a porta e trancou a mesma. Passou a mão pelo espelho tirando a poeira ali presente, passou por mim e escancarou o armário, andou até a estante e pegou dois porta-retratos, andando até mim, me entregando os mesmos logo em seguida.
Meu coração errou algumas batidas quando meus olhos focalizaram na foto do primeiro porta-retrato.
Lauren estava no meio de um homem um tanto quanto gordinho, ele tinha as bochechas levemente rosadas, um cavanhaque preto bem aparado que quase parecia despercebido pelo largo sorriso feliz, seus olhos negros assim como o seu cabelo arrumado em um topete e a camisa azul de abotoar, com os dois primeiros botões abertos. Do seu outro lado havia uma mulher com os cabelos até a altura dos ombros e olhos um tanto quanto claros, ela sorria alegremente, um olhar expressivo e o seu rosto bronzeado estava colado com o rosto da pequena Lauren.
Quando meu olhar se encontrou com o da minha namorada pude ver a enorme tristeza estampados neles, ela suspirou e fechou os olhos.
- Quem são esses, Lolo? - Pergunto baixinho sentindo um nó se formar na minha garganta.
- Seus sogros… meus pais… Michael e Clara Jauregui. - Então um soluço alto cortou o quarto e Lauren caiu de joelhos no chão, chorando feito uma criança.
Era um choro tão triste e desesperado, fiquei de joelhos na sua frente e coloquei os porta-retratos em cima da cama, a puxei para mim e deixei que ela chorasse, e foi o que ela fez. Lauren chorava compulsivamente contra o meu ombro e me abraçava como se quisesse que nossos corpos se fundissem.
Ficamos ali por muito tempo, ninguém bateu na porta, eu não interrompi o seu choro e não disse nada… queria que Lauren ficasse aliviada e se libertasse aos poucos do seu passado, queria que ela entendesse que nada o que aconteceu com seus pais tinha a ver com ela.
- Me desculpe… - Ela sussurra contra o meu pescoço e eu a abraço mais forte - Eu não deveria chorar assim…
- Está tudo bem, você precisava disso! - Seguro o seu rosto e vejo seu nariz extremamente vermelho, seus olhos estavam inchados e ela não conseguia regular a própria respiração - Quer me explicar tudo isso?
- Aqui era a minha casa… - Ela senta e abraça os joelhos - Eu cresci aqui até os doze anos e consegui manter a casa com o dinheiro que eu ganhei com a morte da minha avó, depois eu comecei a trabalhar e continuava mantendo a casa… - Sorri limpando os vestígios de lágrimas - Eu quase a perdi, porém ao menos isso eu consegui deixar em memória deles…
- Por que nos trouxe aqui se todo esse lugar te trás tanta dor?
- Não trás… me trás paz e esperança! - Ela se levanta e sorri passando a mão pelo poster - Lembro o quanto a minha mãe gritou quando eu comecei a pendurar esses posters… meu pai gostava de me ver estudando aqui… - Aponta para o estofado que ficava embaixo da janela - Ela odiava toalhas em cima da cama e queria matar o meu pai por ter colocado esse maldito espelho atrás da porta - Sorrio - Ela sempre dizia que eu poderia me machucar caso alguém abrisse a porta enquanto eu me olhava no espelho…
- É um belo quarto… - Lauren sorri e cruza os braços.
- Nós sempre assistíamos filmes juntos no meu quarto e meu pai gostava de deixar minhas roupas arrumadas por estação… - Olha para as poucas roupas que estavam dentro do armário, dando um suspiro agonizado.
Nós ficamos em silencio e ela anda até o guarda-roupa passando a mão pelos casacos, suéteres e até mesmo vestidos. Quando seu olhar encontra o meu, percebo que o brilho havia sumido novamente, ela passa as mãos nervosamente pelo cabelo e anda até mim, segurando o meu rosto delicadamente.
- Eu queria tanto que eles tivessem te conhecido… - Roça nossos narizes e eu fecho os olhos - Você iria amar falar com o meu pai sobre livros e minha mãe com certeza iria amar contar todos os meus defeitos e manias… - Sorri de canto e as lágrimas voltam a escorrer pelo seu rosto - As coisas poderiam ter sido tão diferentes…
- Tudo acontece por alguma razão… e eu nem posso imaginar o tamanho da sua dor, mas eu posso te assegurar que eles te amam do lugar que estão…
- Eles sentiriam nojo de ter uma filha assassina dentro de casa…
- Lauren… eu tenho certeza que você não seria assassina caso eles estivessem vivos… você não tinha muitas escolhas e achou na época que aquela era a melhor opção e realmente foi, você sobreviveu e está aqui hoje!
- E o que eu seria, Camila? - Ri sem humor - Eu acredito que todos nós temos um destino traçado e…
- E o que? Na minha opinião você é o meu destino Lauren, se não fosse desse jeito seria de outro… nós teríamos nos encontrado e iriamos continuar nessa vida louca que nós duas temos, ter uma profissão não é um destino… achar alguém que mude a sua vida, isso sim é destino…
Foi então que eu vi a sua expressão suavizar e um suspiro aliviado ecoar pelo quarto, Lauren relaxou os ombros e me abraçou. Foi um abraço apertado e muito gostoso, foi sem malicia ou qualquer outra segunda intenção… mas era um abraço com amor, muito amor.
Calmamente levei minha namorada até a sua antiga cama, ela se deitou encolhida e eu me deitei ao seu lado tendo a minha envolvida pelo seu braço. Fiz Lauren deitar em cima do meu braço enquanto recebia um cafuné e meus lábios tocavam a sua testa dando vários beijos lá.
- Você é o amor da minha vida, Camila, por isso o destino te colocou na minha vida… - Antes que eu falasse qualquer coisa Lauren tomou meus lábios para ela, em um beijo calmo e um tanto quanto rápido.
Assim que separamos nossos lábios ela escondeu o rosto em meu pescoço e eu suspirei sem parar de fazer o cafuné em seus longos cabelos cheirosos. Sua respiração ficou totalmente calma e ritmada, indicando que ela havia caído em um sono profundo.
- Que bom saber disso… saiba que você também é o amor da minha vida, Lolo… - Beijei o topo de sua cabeça e aconcheguei melhor em meu abraço, me permitindo fechar meus olhos e finalmente descansar.
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