Bang Chan On
A música está boa, mas algo está faltando. ChungHa está a postos, sua voz soa como se a música fosse feita em sua medida. Tento adicionar uns sons, mas isso só atrapalha no desempenho de sua voz, o que eu devo fazer?
– Talvez tenha que diminuir esse som, é muito barulho para ficar depois do high note. – Ela diz analisando a tela do meu computador. Talvez ela esteja certa e assim faço. O som sai melhor junto com a sua voz o que a deixa satisfeita e eu também. – Bem melhor.
– Temos que enviar isso para o chefe. – Falo simples salvando as alterações.
– Não se preocupe, eu faço isso. – Ela diz simples e eu afirmo agradecido. – Vamos almoçar?
– Vamos. – Falo me levantando.
[...]
Termino de comer e encaro a janela. Algo não está certo, não comigo e eu já posso imaginar o que é. O dia está escuro, as nuvens estão carregadas e o ar está úmido. Não gosto de dias assim, dias que me lembram S/n ou MinHo. Dias em que eu era mais feliz do que agora.
– Você está tão quieto. – ChungHa comenta. – Algum problema?
– Eu vou... – Um arrepio percorre em meu corpo, minhas mãos se fecham com força sem nem ao menos perceber e meus olhos arregalam com o barulho do meu maior inimigo, trovão. Me levanto rápido e corro pelo refeitório assustando as pessoas que comiam calmas e conversavam sobre a vida.
Eu preciso achar um lugar, preciso me esconder, fugir desse transtorno que insiste em aparecer toda vez que eu pareço bem. Escuto a voz de ChungHa mas a ignoro, não posso me dar a vergonha de ter um crise bem na frente de todos, de não conseguir ser acalmado. Sinto lágrimas escorrerem em meus rosto e logo meu corpo começa a ficar trêmulo. Aguenta mais um pouco Chan... Você consegue... Um estrondo mais forte faz com que eu me encolha no meio do corredor vazio.
– Se... Controle... – Sussurro pra mim mesmo tentando segurar o choro que insiste em aparecer. – Por favor... Para...
Ouso em levantar a cabeça devagar e me levanto com dificuldade, eu posso chegar até minha sala, chegar até a sala que corta o som de fora... Eu posso. Não posso. Caio no chão vendo o reflexo do raio pela janela a uns metros.
– Merda. – Falo soluçando, encosto na parede e seguro minhas pernas em posição fetal, eu só preciso fugir disso, mas como... Como fazer isso sem ter que envolver a s/n. – Você precisa dela... Você precisa dela... – Repito várias vezes me encorajando a ligar para a mesma, com a minha mão trêmula pego o celular do bolso e o ligo. Digito o número dela desesperado, mas algo me faz o apagar. – Você precisa dela...
Tento focar, mas não consigo. Ela pode me ajudar, mas e se não quiser? E se eu tiver sendo um babaca, eu terminei com ela e pode estar sendo difícil para ela também, Se não fosse pelo término o Lino não teria morrido, nada dessa merda estaria acontecendo, por que... Porque eu fiz isso, se eu ainda... Ainda...
Minha garganta se fecha, é difícil respirar quando se está tendo uma crise, a tempestade lá fora ganha forma, os barulhos dos trovões ficam cada vez mais altos o que faz eu deixar meu celular cair.
– S/n... – Digo me apertando contra mim mesmo. Penso nela como se fosse a primeira vez quando eu a vi como uma mulher, quando tivemos nossa primeira vez juntos, quando a gente fofocava sobre alguém, quando ficamos putos pelo Felix nos atrapalhar em todo momento bom. Sinto falta disso, falta dela.
– CHAN! – Escuto a voz de ChungHa e logo sinto suas mãos em minhas costas. – O que houve?
Não respondo, ela não saberia o que fazer. Mas também pode estar preocupada demais e não posso fazer isso com ela.
– Me ajuda a ir para a sala... Por favor. – Falo baixo e ela afirma preocupada. Ela se levanta e depois me ajuda, a encaro tentando achar algo que possa me dispensar do mundo a volta mas não consigo.
– Vamos. – Ela diz pegando em minha mão e me puxando com delicadeza, mas não me movo. – Chan... O que está acontecendo?
Engulo em seco e me forço a caminhar, nós dois seguimos em passos largos até minha sala e logo corro para a sala de gravação.
– Fecha a porta. – Falo e escuto o barulho em seguida.
Sento no chão e encaro ChungHa me olhar esperando respostas. O silêncio é constrangedor, mas logo me abro.
– Eu tenho astrofobia. – Falo baixo e sinto as mãos dela em meus ombros.
– O que é... Ah... É os trovões? – Ela pergunta e eu afirmo. – Eu deveria ter percebido, me desculpa.
– Não é sua culpa. Não é culpa de ninguém, é minha culpa... Por que eu fiz isso... – Falo e volto a chorar me lembrando de s/n. ChungHa me abraça forte e eu retribuo.
– Você está misturando as coisas. – Ela diz baixo. – Você quer que eu ligue pra alguém? Seus pais? Talvez a...
– Não! – Falo rápido e me afasto limpando o rosto. – Essa sala é a prova de som... Logo vai passar.
– Você sabe que o que você está sentindo não vai passar. – Ela diz simples, compreensiva. – Você se sente culpado.
– Eu agradeço pela ajuda, mas por favor... Me deixe sozinho. – Falo incomodado. Ela ri nasalado e se levanta.
– A confusão no seu coração pode acabar com você se não resolver isso.
Abaixo meu olhar para minhas mãos e fecho meu punho com força.
Jisung On
Alguns minutos atrás eu abri a mochila que me entregaram, confesso que fiquei surpreso ao encontrar algumas mudas de roupa e um pouco de dinheiro, alguém naquele inferno teve consideração pela minha perda de memória. Eu nem sabia para onde iria, agora já decidi procurar uma pousada qualquer, é muita coisa para assimilar, sinto que as ruas são familiares mas não me vem uma memória se quer.
Me direciono ao banco de uma praça, cansado de tanto andar. Quase instantaneamente um homem senta do meu lado, ele estava bem vestido e esbanjava confiança, continuei olhando para frente, já que ele também não olhou para mim. Fico me perguntando se está criando coragem para falar comigo.
– Infelizmente você passou no teste, ou é um ator muito bom. - Ele fala simples, inclinando a cabeça na minha direção.
– O que? – Pergunto sem ter certeza se ele falou comigo.
– Então não sabe mesmo quem sou? – Ele deixa a cabeça pender para trás respirando fundo, o movimento faz seus cabelos loiros acompanharem, mas não me prendo a isso, ele pode se aproveitar da minha perda de memória.
– Não. – Digo sem rodeios.
– Prazer revê-lo Han Jisung, sou Hwang Hyunjin.
–Oi..? Como me conhece? – Fico confuso mas suavizo minha expressão, não vou me entregar de bandeja só porque ele sabe meu nome.
– Nos conhecemos no acampamento Sunshine, você era monitor. – Ele diz, mas sinto que ele queria falar outra coisa.
– Credo, o que eu faria num lugar com um nome desses ? Ew. Mas enfim, vai falar o que você tá escondendo ou não ? – Solto no ar e ele ri debochado.
– Pode não se lembrar de quem era, mas sua personalidade é a mesma. – Ele cantarola.– O que tenho pra falar não pode ser dito em lugares públicos, você deve ter deduzido isso.
– Huhum. – É tudo que respondo.
– Meu apartamento é aqui perto...
Ele começa mas eu interrompo.
– Então você me encontrou porque por ironia do destino eu vim parar perto do seu apartamento ou estava me seguindo? – Penso alto, e ele sorri ladino.
–Ia te abordar na saída do hospital, fiquei sabendo da sua liberação. Mas fiquei curioso sobre o que você faria e resolvi te só te seguir. – Percebo que ele foi sincero.
– Por algum motivo você sabe quem sou, sabia quando seria solto, me seguiu e agora quer que eu vá pra sua casa? – Levanto a sobrancelha.
– Dividir o mesmo espaço comigo não foi um problema para você certa vez... – Ele faz uma pausa dramática.
– Oi? – Não consigo esconder a surpresa, nós já...?
– Pena que você estava pensando em outra pessoa. Enfim, qual é ? O que tem a perder ? – Ele me encara.
Odeio admitir que eles está certo, não tenho nada nem ninguém a perder, estou completamente no breu e ele é o único disposto a me dar respostas.
[...]
O apartamento dele parece normal, não acho que algum desses poucos cômodos vá ser alguma sala de cirurgia para ele me matar e tirar meus órgãos.
– É pequeno por que aluguei durante as férias, não moro nessa cidade. – Ele diz só por dizer, trazendo duas xícaras de café para a mesa pequena e redonda na qual eu esperava.
– E onde mora ? – Pergunto sem realmente querer saber.
– Austrália. – Ele diz simples.
–Então...? – Tento introduzir a verdadeira conversa.
Hyunjin On
– Hum. – Bebo um gole do meu café para calcular o que vou falar, estou disposto a contar a verdade, mas um pouco suavizada pro meu lado, ter Jisung na direção das minhas intenções é o foco aqui.
– Tudo começou no acampamento? – Ele tenta adiantar o assunto.
– Entre mim e você sim, mas nós dois já tínhamos antecedentes com aquele grupinho. Aparentemente você tem um histórico de infância com a S/n lá. – Bebo outro gole para deixá-lo pensar.
– Nunca me disseram exatamente o que eu fiz, mas foi ruim né?
– Pare de tirar as coisas de ordem, vou contar por partes. – Eu o repreendo e ele faz careta.
–Não sei a história com detalhes, mas quando eram pequenos parece que você induzia a S/n a matar o pai dela enquanto ele ainda estava em coma no hospital. Depois que o pai dela morreu, por sequelas do acidente mesmo, vocês nunca mais se viram, e só foram se reencontrar adultos, nesse acampamento.
– Nossa... – Ele deixa escapar. – E você? Como se envolveu com eles e como nos juntamos?
– Ai que pressa. – Reclamo. – Não interessa muito o que fiz antes de nós conhecermos, minha relação não estava das melhores com o grupinho deles, e eu queria alguém assim como você queria a S/n.
– Quem?
– Changbin. – Digo simples.
– Acho que é um que surtou comigo lá no hospital, até o tal de Chan tava menos raivoso que ele, aposto que só não pulou em cima de mim por causa do loirinho quieto.
Reviro os olhos pela menção de Felix.
– O loirinho é Lee Felix primo de S/n, namorado do Changbin. – Faço careta. – Fiquei sabendo do show no hospital.
– Volta pra história. – Jisung balança a cabeça, provavelmente agoniado por misturar passado e presente.
– Nós tínhamos algo em comum, só juntamos o útil ao agradável. Planejamos que você atropelaria o Bang Chan e Felix de bônus. – Sorrio ladino.
– Que... Coisa. – Ele perde as palavras.
– Mas. – Mudo minha expressão para uma raivosa. – Deu errado, meu homem quis dar uma de herói e você atropelou ele, o meu Changbin. Nunca perdoei você completamente, mesmo que o acidente tenha aberto uma chance de eu me aproximar dele, fui chutado de toda forma. – Faço uma cara de dor lembrando de quando tentei matar Felix e o Changbin ouviu.
– Ele que se jogou na frente, pare de me culpar.
– Tá lembrando ? – Fico surpreso.
– Não muito, mas sinto que é verdade. – Ele parece decepcionado.
– Enfim, aconteceram uns detalhes aí irrelevantes para agora. Só sei que no fim você ficou cego pelo desejo e fez uma armadilha para S/n, ela caiu e você quase abusou dela, mas a esperta prendeu a respiração para desmaiar.
– Eu nunca faria isso... – Ele fala agitado. – Ela tem um coração tão bom...
– Num surto todo mundo pode fazer de tudo Han. – Reviro os olhos, sei que ele realmente mudou mas ainda parece vitimismo.
– Iai? – Ele fala quando se recupera, pressionando as mãos na cabeça como se doesse.
– Você foi preso, eu escapei, mas te visitei lá na cadeia.
– Por que me visitou? – Ele fica curioso.
– Queria saber se você se arrependia, e sim você se sentia muito culpado por ter perdido o controle, quando eu fui você estava muito amigo do seu colega de cela, não sei o nome dele mas lembro que ficaram próximos por terem histórias de obsessões. – Deixo a informação no ar. – Ele já saiu da cadeia por bom comportamento inclusive.
Escolho não contar que eu adorei a história desse cara, e que procurei ele.
Nos tornamos bons amigos, apesar de eu não saber seu nome real.
Ele me disse que saiu da cadeia motivado a ajudar Jisung com S/n então só para atiçar a vida do grupinho, eu entreguei onde ela estudava e o que fazia.
Infelizmente esse cara vem me decepcionando, soube que brincou com meu homem, e vai ter volta.
– Hyunjin? – Jisung me tira dos pensamentos.
– Hum, sim voltando. – Me recomponho. – Enfim o homem simpatizou com você e queria te ajudar, mas não acho que tinha dado certo. Agora S/n vive a vida dela, longe de Bang Chan por causa da faculdade, uma pena... – Começo a induzir meu plano.
– Onde ela vive exatamente? – Ele apoia os braços na mesa se aproximando.
Caiu no plano direitinho.
– Eu anoto para você. – Sorrio.
S/n On
Encaro Taecyeon sentado em sua mesa distraído. A aula está parada e eu não consigo me concentrar, até ontem estávamos nos pegando em seu sofá e agora estamos aqui como se nada tivesse acontecido. Como se fossemos apenas aluna e professor. O que nós somos certamente.
– Por que me encara tanto? – Ele pergunta sem me olhar. Me ajeito na cadeira e desvio o olhar para o livro em minha frente.
– Não estou. – Falo simples e sinto seu olhar queimar sobre mim, provavelmente está rindo da minha mentira descarada.
– Hum... Já escolheu sua área de atuação? – Ele pergunta e eu suspiro.
– É difícil. – Falo baixo e o encaro. – Quem sabe eu fique na área do esporte... Talvez eu ache uns bem gatinhos.
Taecyeon ri da minha falta de profissionalismo e se levanta.
– Vamos dar uma pausa. – Ele diz simples me ignorando.
– Finalmente. – Sussurro.
– Na próxima aula iremos ver quais áreas de atuação você pode considerar. – Ele diz simples e eu afirmo.
O clima está tão estranho que eu sinto como se ele estivesse arrependido. Ou talvez eu esteja agindo diferente que nem percebi. Pego minhas coisas sem jeito e saio da sala o deixando, ele nem ao menos olhou na minha cara, talvez eu esteja querendo atenção demais já. Preciso me controlar, não faz muito tempo que aconteceram coisas que mudaram minha vida, ainda não superei o término, sinto falta do Chan. Ainda não superei Lino, sinto falta dele. E sinto falta de como as coisas eram antes de tudo dar errado. E de quebra estou em uma investigação.
Sigo até meu dormitório afoita, quero tanto um descanso, uma paz, sozinha, sem problemas, sem lição, sem Taecyeon. Mordo o lábio só de pensar nele, ele é mais velho, mais experiente, seu beijo é muito gostoso suas mãos me tocando... Pulo na cama derrotada.
– Chan... – Sussurro. – Nada se compara a você.
Me debato frustada comigo mesma, o motivo? Não sei. Talvez eu esteja sendo precipitada, talvez... Por que parece só existir "talvez" no meu vocabulário.
– Pelo menos meu dia não tem como piorar. – Sussurro e sigo até o banheiro.
[...]
Depois de jogar um pouco no celular, percebo que a próxima aula já irá começar, pego minhas coisas rápido e abro a porta do dormitório. Eu estava pensando um pouco e tentarei melhor o clima, voltar a ser normal, pensar no Taecyeon como o professor chato que ele é. Sorrio fraco só de pensar na bipolaridade dele, vai ser engraçado.
Saio do quarto e sigo pelo corredor vazio, se eu começasse uma dança louca aqui ninguém iria ver.
Viro a primeiro corredor e caio após bater em algo, ou melhor... Em alguém.
– Aish... – Reclamo sentindo dor na bunda.
– S/n.
– Hm? – Falo tentando me levantar e logo uma mão masculina se estende próximo a mim. Olho para cima e meu coração gela. – J-jisung?
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