Capítulo 12 – O Fio que Nos Une
O clima estava estranho e um tanto quanto desconfortável, afinal, graças a intervenção de Mari, Yuuri e Viktor agora encontravam-se sentados um de frente para o outro, dentro da sala das termas novamente, ao tempo em que o Nikiforov ria, respondendo as perguntas dos pais do japonês que, curiosos com a visita surpresa do “amigo russo” do filho, lhe bombardeavam com questionamentos acerca da rotina do caçula dos Katsuki no intuito de eximirem suas preocupações. Akira ajudava a organizar as coisas junto a mais velha dos irmãos, enquanto que para o moreno de olhos castanhos restou fazer companhia a mais nova “visita”.
Após separarem-se do abraço e antes mesmo que qualquer coisa fosse dita, Mari apareceu entre os rapazes e convidou o Nikiforov a entrar, pois Yuuri também não estava adequadamente vestido e possuía os pés descalços para que permanecessem fora do recinto, correndo o risco de adoecer se demorassem muito. Com certa relutância, o russo aceitou, nervoso em conhecer pessoalmente os parentes de seu amado sendo que não era mais o namorado deste. Todavia, para seu alívio, aconteceu que, ao ser apresentado como um amigo pelo próprio Katsuki, que hesitou um pouco antes de classificá-lo como tal, os genitores de seu precioso japonês abriram sorrisos extremamente convidativos e começaram a lhe encher de perguntas e curiosidades.
Viktor se saiu muito bem respondendo a tudo com humor e simpatia, não entrando no mérito de ele ter ou não desenvolvido um relacionamento mais íntimo com Yuuri, apesar de o japonês ter certeza de que sua irmã mais velha havia ligado os pontos e chegado a tal conclusão. Seu veterano aproveitou-se também para tirar algumas dúvidas quanto à Rússia e o Nikiforov respondeu a todas, sorrindo de maneira charmosa. Katsuki conhecia bem aquele sorriso amarelo, que o russo de olhos azuis direcionava somente quando não gostava de alguém, e sua expressão facial se alterava toda vez que as perguntas dirigidas a si eram feitas por Akira.
Alheio a conversa e com seus olhos fixos em Viktor, a todo o momento seu cérebro não o deixava parar de pensar acerca do ocorrido de mais cedo quando se reencontrou com o de madeixas prateadas e olhos azuis e o abraçara. As palavras de Nikiforov ecoavam em sua mente fazendo-o retornar ao encontro no zoológico, onde o mesmo, de fato, declarara que iria até o Japão se fosse preciso atrás de si. Na época, havia encarado aquela fala como uma declaração inocente e apaixonada em meio a uma brincadeira, afinal, quando se está em um relacionamento onde as partes gostam-se com intensidade, juras e promessas impossíveis em nome do amor são sempre despejadas ao vento. Contudo, ali estava Nikiforov, bem a sua frente e conversando com seus pais.
- E, Yuuri tem comido direitinho sempre? – sua mãe tornou a perguntar, fazendo-o revirar os olhos – Me preocupo tanto com o fato de que ele não sabe cozinhar pratos muito elaborados.
Viktor o encarou com o canto dos olhos, dando um risinho, percebendo o embaraço do menor ante aquela pergunta.
- Yuuri cozinha muito bem, além de ser ótimo em seguir receitas. Os pratos que ele prepara são realmente deliciosos – elogiou honestamente com uma ponta de malícia, vendo o japonês corar, provavelmente recordando-se que da primeira vez que cozinhara, haviam feito sexo – Tenho certeza de que ele sabe como a senhora ficaria preocupada caso ele não estivesse comendo corretamente e se atenta a este fato.
A mãe de Yuuri sorriu, realmente contente com aquela informação, voltando a atentar-se aos seus afazeres. Por sua vez, Mari passou pelo irmão, que a encarou, e ela indicou as malas de Viktor que ainda residiam no hall de entrada.
- Já que mais um de seus amigos ficará hospedado aqui, ajude-o com as malas e leve-o até um dos quartos do fundo, Yuuri – ela instruiu, logo voltando os olhos para o veterano do caçula que surgia no recinto – E, Akira, você vem me ajudar com o lixo, afinal é sua culpa que tem tantas embalagens de doce por aqui.
O japonês não pôde evitar rir da cara de tristeza que seu veterano lhe direcionou em pura gozação ao ser arrolado para o serviço, levantando-se logo em seguida para ir pegar as malas de Viktor. Sabia que, no fundo, a intenção da irmã era deixá-lo a sós com o recém-chegado “amigo” para que pudessem conversar, pois Mari sabia muito bem de seus sentimentos ante o ex. O russo, por sua vez, copiou o movimento de Katsuki quase que de imediato, o seguindo até suas próprias bagagens.
- Vai mesmo ficar hospedado aqui? – Yuuri perguntou, sem encará-lo, pegando uma bolsa preta e uma almofada com estampa de onça que estava enroscada na mesma, sorrindo nostalgicamente por imaginar que aquele item deveria ser presente de Yurio.
Os olhos azuis direcionaram-se para o Katsuki.
- Por pouco tempo – ditou o russo em resposta, abaixando-se para pegar a outra mala de coloração negra – Preciso resolver uma pendência, mas, se for incômodo, posso ir a outro lugar... Eu só... Queria ficar perto de você... – confessou com a voz baixa, sondando Yuuri para saber como ele reagiria.
O rosto do japonês corou quase que instantaneamente e este ergueu a cabeça para encarar Viktor, vendo a seriedade no olhar deste. Com um suspiro, desviou novamente sua atenção para baixo, endireitando a postura. Não podia se esquecer de que aquele homem a sua frente era um mafioso e, por isso, não deveria ceder facilmente a seus encantos, por mais que sua vontade fosse a de abraçá-lo novamente e beijá-lo .
Já Viktor achou aquela reação de certa forma satisfatória, sentindo um lampejo de esperança incendiar seu peito. Por mais educado que fosse, o russo conhecia Yuuri bem o suficiente para saber que este, quando estava realmente incomodado e queria rechaçar alguém, não fazia rodeios. Pelo fato de ele tacitamente ter aceitado a presença de Nikiforov, significava que talvez não nutrisse sentimentos negativos pelo mesmo, entretanto, quanto um suspiro abandonou os lábios do moreno, o de madeixas prateadas não teve mais tanta certeza disso.
- O que veio fazer aqui, Viktor? – inquiriu, a voz saindo levemente rude, mesmo que não fosse a intenção.
Aquela pergunta martelava na cabeça de Yuuri e, por mais que milhões de respostas rondassem seus pensamentos, nenhuma delas era satisfatória o suficiente para convencê-lo.
- Eu vim para conversarmos uma última vez – admitiu o russo – Sei que não tenho o direto de pedir que me escute, ainda mais depois de tudo o que aconteceu entre nós, mas, uma última vez, eu tinha que tentar.
- Demorou todo esse tempo para simplesmente aparecer aqui de surpresa alegando querer conversar?
Por mais que não fosse a intenção, a pergunta saiu mais acusatória do que o Katsuki pretendia e pôde perceber os olhos azuis perdendo sutilmente o brilho. Estava triste, com certeza, magoado pela falta de contato com o outro, pois, no fundo, tinha esperança de que Viktor o amasse a ponto de ir atrás dele e dizer que as coisas iriam mudar. Infelizmente, o tempo de espera culminara tal esperança.
- Eu sinto por isso, Yuuri, mas havia uma coisa que eu precisava resolver antes de vir atrás de você. Ela tomou mais tempo do que o esperado, mas eu só conseguiria conversar com você novamente com isso resolvido.
Yuuri o encarou por alguns segundos, tendo seu olhar sustentado, antes de suspirar novamente e começar a caminhar com uma das bagagens de Nikiforov em mãos.
- Vou mostrar seu quarto, Viktor – murmurou, desconversando e dando-lhe as costas por completo.
Nikiforov sabia que não seria fácil simplesmente aparecer ali e conversar, então deixou-se ser guiado pelo moreno de olhos castanhos por um corredor, observando-o. Yuuri estava seriamente magoado e isso lhe comprimia o peito também. Queria poder puxá-lo para seus braços e dizer que tudo ficaria bem, mas o medo de ser rejeitado o impediu.
- Aqui – a voz do japonês o tirou de seus devaneios.
Katsuki indicava um aposento com a mão, parando ao lado da entrada deste para permitir a passagem do hóspede. Era um cômodo simples, porém espaçoso, e tipicamente decorado. Yuuri depositou a mala que carregava perto do armário e se direcionou a porta, esperando que Viktor fizesse o mesmo com a mala preta que carregava e o encarasse.
- Vou deixar que se acomode e, se precisar de algo, minha irmã e eu estaremos à disposição.
Viktor assentiu, contudo, assim que o menor se virou para sair do recinto, seu corpo se moveu antes mesmo que pudesse pensar e, quando se deu conta, tinha agarrado o braço de Yuuri.
- Viktor...?
Os olhos azuis encararam os próprios dedos fechados ao redor do pulso de Katsuki e depois rumaram para o rosto deste. A boca rosada e sutilmente aberta, as bochechas coradas, o brilho das orbes castanhas arregaladas. Sentira demasiada falta de tudo aquilo. Aquele semblante angelical e inocente, ao mesmo tempo em que era tão convidativo.
- Yuuri... – disse num murmúrio, aproximando-se cautelosamente sem desfazer o contato.
O japonês não reagiu, ficando apenas a encarar o Nikiforov, que aproximou-se ainda mais e, com ousadia, acariciou sua face esquerda. Aquele toque quente e reconfortante estava novamente ali, junto ao sentimento de segurança. Era inegável a saudade que sentiam um do outro, entretanto, havia tantos “poréns” e “e se” no relacionamento de ambos que tornava difícil simplesmente se render ao sentimento.
- Por favor, será que podemos, uma última vez, conversar? – pediu Viktor em forma de apelo.
Um suspiro de derrota e Yuuri cedeu, assentindo. O magnetismo que atraía a ambos o fazendo mudar de ideia. A verdade é que também havia coisas que gostaria de perguntar ao russo, além de poder ser honesto com o mesmo e se abrir por completo, livrando-se do peso no próprio peito e, dependendo do resultado, conseguir remover o colar que ainda pendia em seu pescoço.
- Espere que todos durmam e eu virei até seu quarto para conversarmos – declarou, observando o sorriso discreto que surgiu no canto dos lábios do russo.
Inclinou um pouco o rosto em direção a mão que ainda o acariciava, quase fechando os olhos para aproveitar o toque, quando Akira o chamou, pregando-lhe um susto e fazendo o japonês se afastar de maneira abrupta de Viktor, que não gostou nem um pouco da atitude. Hanyu pareceu não perceber que arruinara o clima e sorriu para ambos os rapazes.
- Seu amigo já está instalado? – perguntou de maneira retórica – Por que eu estava desfazendo a mochila e encontrei meus álbuns de fotos e pensei se não queriam dar uma olhada.
- Cla-claro – o Katsuki riu de nervoso, gaguejando um pouco.
- Tenho até mesmo algumas fotografias nossas da época em que Yuuri era meu calouro – Akira comentou com divertimento, bagunçando os cabelos negros do japonês.
Viktor franziu o cenho ante aquele gesto íntimo, não entendo a frase como um todo, coisa que não passou despercebida pelo japonês. De fato, sentia o monstro verde do ciúmes lhe cutucando toda vez que Akira tocava seu precioso Yuuri.
- Kouhai*? – o russo repetiu o dizer que o deixara confuso, tentando formular um nexo entre ele e o gesto de carinho que presenciara.
- Significa “calouro” – Yuuri explicou em russo.
Mesmo assim, Nikiforov não pareceu se convencer de que toda aquela intimidade era proveniente do simples fato de Katsuki e o tal Akira terem frequentado a mesma instituição de ensino, já que o outro tocava e ria ao lado de seu ex como se fossem algo a mais, coisa que estava restrita a si. O monstrinho verde ganhando cada vez mais espaço.
- Eu dispenso as fotos – ditou Viktor com outro sorriso amarelo – Vou organizar minhas coisas, entretanto, agradeço o convite.
Akira assentiu, ainda sorrindo de maneira inabalável, dizendo que esperaria Yuuri para verem juntos as fotografias e que se o Nikiforov mudasse de ideia ou acabasse a organização, poderia se unir a eles quando quisesse. O japonês se deteve mais alguns momentos na porta, movendo os lábios sem emitir som, dizendo que a conversa ainda estava de pé. Satisfeito, Viktor apenas concordou, logo direcionando sua atenção as malas, olhando uma última vez por cima do ombro, notando que o menor já saíra, provavelmente seguindo seu veterano, e o deixara sozinho.
Viktor suspirou e se sentou no chão, fuçando na mochila e pegando o telefone celular. Esperava estar mais animado ao rever o ex, ou que, pelo menos, não estaria sentindo tanto ciúmes do mesmo, mas de fato tudo corria exatamente ao oposto do que tinha planejado e só havia uma pessoa que poderia restaurar seu emocional. Ligou para o primo que, após o xingar pela diferença entre os horários, lhe deu a devida atenção.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Otabek estava sentado na biblioteca particular da mansão Plisetsky, absorto na leitura de um romance italiano, quando sentiu que não estava mais sozinho no cômodo. Meio segundo depois o namorado surgiu em seu campo de visão, o semblante neutro enquanto fingia secar o cabelo, quando na verdade mexia no celular. Sorriu e guardou o livro, o repousando em uma pequena mesinha ao seu lado, ao tempo em que puxava Yuri para seu colo, lhe beijando carinhosamente a testa ainda úmida.
- Ainda preocupado com o Viktor? – perguntou o cazaque, sentindo o cheiro de sabonete que exalava da pele do russo loiro devido ao recente banho tomado pelo mesmo.
Yuri ajeitou-se sobre as pernas de Altin, deitando a cabeça no peito do maior.
- Um pouco... Mesmo depois de conversarmos ele não pareceu muito melhor...
- Deve estar sendo difícil pra ele, principalmente por causa do tal veterano que não para de tocar em Yuuri de maneira íntima.
- Acho que ele estava preparado para tudo, menos para a aparição de outro alguém na vida do porquinho, por mais que estivesse ciente da possibilidade de isso ocorrer – retrucou o Plisetsky, esticando-se para beijar a bochecha do namorado.
Otabek virou o rosto para capturar os lábios do Plisetsky em um selo rápido, deixando os dedos repousarem sobre a barriga lisa e levemente definida do mesmo.
- O que acha que vai acontecer com o Viktor se eles não voltarem? – perguntou Altin.
Yuri abaixou o olhar, suspirando.
- Eu não sei, Beka, afinal, ele não é mais da máfia...
- Acha que podemos fazer alguma coisa para ajudá-lo, Yura? Dinheiro não é problema, mas o que realmente me preocupa é o estado emocional dele.
O russo loiro voltou a se remexer, soltando um suspiro. De fato aquilo também o preocupava, principalmente depois de ouvir a voz maculada de derrota na ligação do primo.
- O máximo que podemos fazer é ficar ao lado dele... – respondeu com tristeza.
O cazaque sorriu minimamente, concordando.
- Só espero que Viktor não desista facilmente.
- Acho que logo saberemos, afinal, você ouviu quando ele disse que o porquinho concordou em conversar com ele – aferiu Yuri – Tudo dependerá dessa conversa, e é isso que me deixa ainda mais aflito.
O cazaque assentiu novamente.
- Vai dar tudo certo, Yura – disse Otabek – Temos que dar um voto de confiança, afinal, estamos falando do Viktor, certo? Por mais desanimado que ele soasse na ligação, ao fim, pelo menos haverá um basta em tudo e ele poderá seguir em frente. Ambos poderão.
O loirinho elevou os olhos verdes em confusão.
- Ambos?
- Ele e Yuuri – explanou Altin – Ou você acha que ele simplesmente ia aceitar o Viktor e essa conversa toda se não tivesse nada a dizer também? O relacionamento foi sentimentalmente intenso e terminou de forma vaga, então é normal que paire esse ar de coisa mal acabada.
Yuri concordou, sorrindo, subitamente sentindo-se mais aliviado.
- Se algum dia desistir de ser mafioso, pode tentar ser psicólogo de casais, Beka, há futuro – disse em tom de troça.
Otabek se inclinou e lhe deu um beijo demorado.
- O único casal com o qual eu quero me preocupar pelo resto da vida inclui a mim e um certo russo loirinho chamado Yuri.
O menor riu suavemente da brincadeira e ajeitou-se melhor no colo do namorado, abraçando o pescoço do mesmo e pondo-se de joelho sobre a poltrona, uma perna de cada lado do quadril de Otabek.
- Isso soa como uma proposta de casamento, sabia, Beka?
O moreno sorriu em um misto de malícia e doçura, sentindo os dedos hábeis do Plisetsky em sua nuca, iniciando um leve carinho.
- Quem sabe mais para frente, huh? – Altin murmurou, passando a língua pela jugular do mais novo de maneira provocativa – Você aceitaria?
- Passar o resto da minha vida ao seu lado sendo fodido por você? Bom, com certeza, não há do que reclamar – disse Yuri, dando uma risadinha travessa.
Otabek rolou os olhos, mas manteve o sorriso.
- Você realmente sabe como arruinar um momento romântico, Yura – reclamou em divertimento, logo beijando o loiro em seu colo, entrelaçando uma das mãos nas madeixas douradas, enquanto a outra repousava sobre a cintura do mesmo, apertando a pele.
- Impossível ser romântico com seu pinto pressionando minha bunda e me excitando – retrucou quando teve a oportunidade de retomar o fôlego, logo iniciando um novo beijo, ainda mais voraz.
A provocação começou a esquentar e logo Yuri se sentiu ser suspendido pelo namorado, rodeando as pernas na cintura deste, tendo seu peso sustentado pelos braços fortes do cazaque. Havia quase que se tornado um hábito ser carregado assim para a cama, e adorava quando o faziam, pois podia desfrutar do calor do corpo de Otabek, além de seu cheiro viciante.
- Eu ainda tenho que melhorar seu linguajar – Altin murmurou contra a boca do russo loiro.
- Vá me foder, Beka – murmurou, atacando agora o pescoço do moreno com os dentes e a língua, o ouvindo suspirar e, momentaneamente, perder a força nos braços, fazendo com que o Plisetsky se agarrasse ainda mais no corpo alheio para não cair.
Otabek riu, apertando a bunda do mais novo com força em resposta ao chupão que fora depositado sobre sua tez na região perto da orelha, escorando as costas de Yuri contra a porta para poder conseguir girar a maçaneta da mesma. Caminharam pelo quarto agarrados, até caírem sobre a cama, o cazaque por cima do russo. O Plisetsky rodeou os braços com mais força ao redor do pescoço do namorado e lhe deu um beijo apaixonado, menos fogoso se comparado aos que trocavam anteriormente.
- Mesmo que eu seja assim, você nunca vai me deixar, vai, Beka?
Altin sorriu, negando com a cabeça.
- Eu daria a volta ao mundo atrás de você, se fosse preciso, Yura.
O Plisetsky sorriu de maneira angelical, abraçando o mais velho.
- Eu amo você, Beka, sempre amei.
Otabek se inclinou e lhe beijou a testa, depois o nariz e, por fim, os lábios.
- Eu também o amo, meu Yura.
Yuri o puxou para um novo beijo, suas línguas travando uma batalha e os corpos voltando a esquentarem, até que o menor sentiu algo duro roçar em sua própria ereção.
- Aposto que, em momentos como este, você até fica feliz por eu falar tão obscenamente, não fica, Altin? – perguntou, erguendo o quadril e o esfregando contra o do cazaque.
- Adoro tudo que vem de você, meu gatinho – murmurou, mordendo-lhe a clavícula.
Seu ato arrancou suspiros baixos de prazer de Yuri e pode senti-lo arranhar seus ombros. Sabia instintivamente quais eram os pontos sensíveis de prazer do corpo do mais novo e com o auxílio da boca e das mãos, mapeava cada um deles.
- “Vá me foder, Beka” – repetiu a fala com a voz rouca, sorrindo com malícia, os olhos enegrecendo ainda mais pelo desejo ante aquele loiro atrevido – Acho que vou acatar a sugestão.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Viktor terminou de desarrumar a pouca bagagem e manteve-se sentado no chão, encarando a parede de vime. Por mais que a conversa com Yuri tivesse lhe dado ânimo, ainda sim, não conseguia ignorar completamente o sentimento de derrota. Era estranho experimentar tal sensação, porém, desde que conhecera o Katsuki, isso acontecia com mais frequência do que julgou um dia ser possível. A maioria de suas “primeiras vezes sentimentais” haviam sido por culpa de Yuuri.
Sorriu, lembrando-se da primeira vez em que o vira, do primeiro beijo, da dor e da mágoa que causara nele, pois era teimoso demais para aceitar que estava se apaixonando pelo rapaz asiático. Na raiva, muitas vezes desejou não ter conhecido ou simplesmente ignorado tal sentimento, contudo, com os pensamentos em clarividência, tinha certeza de que jamais se arrependeria de ter amado o japonês.
Viktor deixou-se cair sobre a cama, suspirando. Queria que todos fossem dormir o mais rápido possível para poder conversar com Yuuri. Sentia-se um pouco desconfortável com tudo o que planejava revelar ao menor, com medo de ser julgado, afinal, seu passado não era nada louvável. Todavia, sabia que era algo necessário a se fazer para que pudesse explicar suas escolhas. Pelo menos, como consolo, não havia deixado de notar que, ao redor do pescoço, o Katsuki ainda mantinha o presente lhe dado quando completaram três meses de namoro, oficialmente.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Com a ajuda de Mari, conseguiu dispensar Akira e sua sessão de recordações do passado e recolher-se para seu quarto, confirmando apenas para a irmã que “aquele Viktor” com quem namorara era o mesmo Viktor que estava agora nas termas, onde a mais velha imediatamente compreendeu que Yuuri precisa de um tempo sozinho para assimilar tudo. Porém, era aí que residia o grande problema. O Katsuki não sabia como organizar a bagunça em que se encontravam seus sentimentos. Estes estavam tão divergentes e conflitantes que sentia seu estômago dar um nó.
Havia uma pessoa a quem podia recorrer, mas, se ligasse, provavelmente estaria ela no trabalho, pois Moscou se encontrava em um período de início de tarde. Mila provavelmente estaria na livraria, contudo, precisava da amiga e sabia que ela não só ficaria feliz em ajudá-lo, como também teria os melhores conselhos possíveis e que o ajudariam a por a cabeça no lugar. Decidido, pegou o telefone celular e acessou seus contatos, colocando o aparelho contra a orelha e o esperando chamar. Ao segundo toque, a voz animada da russa soou.
- Quem é vivo sempre aparece – Mila cantarolou do outro lado da linha em sua habitual empolgação – Estava organizando alguns romances russos novos que chegaram aqui e pensei em você na hora. Aliás, nem te conto que gato delícia colocaram no seu lugar. É sobrinho do dono!
- Também estou bem, Mila, obrigado por perguntar – ironizou com certa comicidade.
Pôde ouvir a ruiva rir escandalosamente do outro lado e depois pedir desculpas. De fato, Mila estava mais animada que de costume. Era bom saber disso, já que trazia um pouco de alegria ao próprio japonês.
- Está tão feliz assim por causa desse cara? – Yuuri não resistiu perguntar – Ele deve ser lindo de morrer então.
- Até parece, né Yuu? – ela zombou – Estou feliz assim pela sua ligação e pelas novidades que provavelmente você vai me contar. Estou com saudades do meu japinha favorito.
- Está alegre de antecipação?
- Óbvio, meu amor – Mila riu – Mas, então, pode mandar a fofoca do momento. To construindo uma vala aqui pra me abrigar quando você soltar a bomba, já que, pra me contar coisa cotidiana, você se resume a mensagens de texto.
Yuuri não pôde conter o riso, afinal, a ruiva o conhecia bem demais.
- Não me diga que aquele seu veterano se declarou?
O japonês suspirou.
- Quem dera fosse algo simples assim... – confessou com certo agastamento.
- Pelo seu tom de voz, a coisa é feia. Espera aí que vou sentar... Pronto, manda bala.
Katsuki tomou fôlego.
- Viktor, sim, o russo mais gostoso do planeta, veio até o Japão atrás de mim e agora está hospedado aqui em casa – soltou de uma vez só – Eu não sei o que fazer, estou em pânico, e você é a única pessoa no mundo que pode me ajudar, então, por favor, socorro.
O silêncio do outro lado da linha se seguiu por minutos agonizantes, até que Yuuri foi capaz de ouvir resmungos desconexos e, por fim, a voz de Mila soar novamente.
- Ele deve mesmo te amar para fazer isso, não? – ela ditou com certo cansaço – E, o que você quer fazer, Yuuri?
- Esse é o problema. Eu não sei...
Mais uma pausa e a amiga prosseguiu calmamente.
- Você tem duas escolhas, o que já facilita seu caso. Pode pedir para ele ir embora e dizer que nunca mais quer vê-lo, ou reatar o relacionamento – Mila explanou – Para qual das duas você pende mais?
Foi a vez de Yuuri fazer uma pausa antes de responder.
- Eu o amo, Mila, demais que até dói, e, por mais que eu tente, não consigo me ver completamente livre. Quando ele apareceu, eu não pensei em mais nada e me joguei nos braços dele, me sentindo bem...
- Porém...?
- Porém nosso relacionamento é tão cheio de incertezas que eu não consigo... Simplesmente não sei se posso confiar nele de novo...
Mila ficou muda do outro lado da linha, provavelmente pensando.
- Ok, vamos por partes. O que ele disse para você quando apareceu aí? Que queria que vocês voltassem ou que ele ainda te amava?
- Não – o japonês murmurou – Ele só me pediu para conversamos uma última vez.
Yuuri pôde ouvir Mila rir do outro lado.
- Então é mais simples do que eu pensava, Yuu – seu tom voltou a ficar animado – Você só precisa decidir se quer ou não ouvir o que ele tem a dizer.
- Eu já disse que quero. Conversaremos hoje, assim que todos dormirem.
- Oras, então, é ainda mais tranquilo. Ouça o que ele tem a dizer e não tenha medo de se expor também e, ao fim, se o que ele lhe disser mudar seu ponto de vista, ai você se preocupa em reatar ou não.
Com um sorriso aliviado, Katsuki concordou. De fato, após Mila explanar tudo, notou que estava sofrendo por antecedência.
- Eu achei que você ia mandar eu jogar as malas dele para fora das termas com ele junto e trancar a porta – brincou.
Ela riu.
- Essa era a primeira opção, porém, eu sei o quanto ele te fez bem e, por você ainda o amar e o término ter ficado tão nebuloso, acho que o melhor para ambos é sentar e conversar novamente – Mila aconselhou – E, pelo fato de ele ter ido até aí e respeitado o seu momento, ele merece certo crédito comigo. Eu gosto de quem te faz bem, Yuuri, e, independente da sua decisão, eu vou te apoiar, mesmo que por telefone.
Tudo o que Yuuri conseguiu foi sorrir e sentir o peito se acalmar.
- Você é mesmo a melhor amiga do mundo, Mila – enalteceu-a.
- É bom que se lembre disso pra não ser avarento quando for comprar meu presente – brincou ela.
- Pode deixar – riu Yuuri – E, Mila, mais uma vez, obrigado.
- Disponha, Yuu. Somos amigos pra isso, lembra-se? “Bons e maus momentos, juntos a seu contento”.
O moreno riu ante a evocação do antigo lema dos dois.
- Espero um dia retribuir tudo o que fez e faz por mim.
- Ter sua amizade já está de bom tamanho, mas uns mimos de vez em quando também não são de se jogar fora – Mila brincou – Agora, meu japinha favorito, tenho que ir, tenho que terminar a organização de umas prateleiras, ok? Mas, fique bem, e me ligue novamente se precisar, viu? Não hesite! Beijinhos.
Yuuri se despediu da russa e encerrou a ligação, sorrindo. De fato, era melhor ir com calma. Mila não sabia que Viktor pertencia à máfia e que o relacionamento de ambos havia se findado por causa disso e de todos os perigos que o japonês poderia correr por inserir-se nesse meio, entretanto, a visão relativamente simplista da amiga ajudava a organizar e montar uma linha de raciocínio mais clara. Iria conversar com Viktor e, depois, pensaria no próximo passo.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
A lua estava alta no céu quando todos resolveram recolherem-se para dormir. Viktor saiu do quarto e desfrutou de um pouco mais da companhia dos pais de Yuuri, porém o mesmo manteve-se enfurnado no próprio quarto sem dar qualquer sinal de vida. O russo cogitou a hipótese de que talvez ele tivesse repensado sobre a conversa, o que o desanimou de certa forma, contudo, quando abriu a porta de seu quarto e encontrou o Katsuki mais novo ali, um sorriso involuntário se formou em seus lábios.
Antes que pudesse chamar seu nome ou dizer qualquer coisa, o japonês repousou o indicador sobre os próprios lábios, em um pedido mudo de silêncio, logo em seguida fazendo sinal para que Viktor fingisse que ele não estava ali, fechasse a porta e seguisse sua rotina normalmente. Para todos os efeitos e também para preservar a privacidade que o momento pedia, com exceção de Nikiforov, todos os outros deveriam crer que Yuuri estava em seu próprio quarto.
Assim que o som de passos cessou e toda a luminosidade proveniente de fontes artificiais parou de dar indícios, o Katsuki relaxou, aproximando-se da janela do cômodo para observar a lua. Ficou um tempo assim, contemplando o astro, até ouvir o som de movimentações no cômodo, onde Viktor se sentou sobre o colchão da cama e o encarou, o brilho lunar deixando seus cabelos ainda mais prateados e os olhos azuis mais claros e sinceros.
- Acho que todos foram dormir... – comentou, ainda mantendo-se perto da janela.
Viktor não se importou com este afastamento, apesar de preferir claramente que o moreno estivesse ao seu lado. Yuuri era arredio e precisava confortá-lo para que ele se soltasse, como da primeira vez em que se desentenderam.
- Bom, como eu sei que odeia rodeios, vou direto ao assunto – Nikiforov começou, desviando o olhar para o chão – Eu queria conversar com você sobre tudo. Sei que descobriu o que eu era na pior hipótese possível e eu não tive sequer tempo hábil de lhe explicar as coisas e, se me permitir, gostaria que me deixasse o fazer agora.
Feliz com o fato de Viktor ter tomado não só a iniciativa do assunto, como ido direto ao ponto, Yuuri não hesitou ao confirmar positivamente com um aceno de cabeça.
- Quer que eu entenda por que se envolveu com a máfia? – perguntou o japonês no intuito de estabelecer uma linha de raciocínio.
- Sim, mas não só isso.
Verdade fosse dita, saber o motivo de alguém como o Nikiforov ter associado-se a máfia era um dos questionamentos que sondavam a cabeça do moreno de olhos castanhos, pois, para ele, não havia motivo plausível que fizesse alguém buscar o submundo por livre vontade. Numa troca de olhares rápida, com Viktor novamente encarando o chão em seguida, o Katsuki confirmou que estava ouvindo e aguardando o relato.
Com certo desconforto em, novamente, revirar seu passado, o russo limpou a garganta e fixou os olhos na parede a sua frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e unindo as mãos. Yuuri podia sentir a atmosfera pesada que pairava sobre o ex amante, uma vontade enorme de abraçá-lo tomando conta de seu ser, contudo, se segurou, mantendo-se firme em seu posto perto da janela.
- Quando eu era bem mais novo, meus pais foram assassinados por uma família mafiosa que estava em busca de dinheiro para saudar dívidas ou algo do tipo... Eu não me lembro ao certo o motivo... – começou a revelar – Eu estava na casa de um amigo junto com outros garotos que estudavam comigo e quando a mãe de um deles me deixou em casa, eu estranhei o silêncio, afinal, aquele era um dos raros dias em que ambos deveriam estar em casa.
Viktor fez uma pausa para suspirar, sentindo o peso no peito que sempre o dominava quando relembrava coisas relacionadas à sua antiga família.
- Eles não eram muito presentes? – Yuuri arriscou perguntar, sentindo ainda mais vontade de estar perto do russo naquele momento.
- Eu os via algumas vezes ao longo dos meses, mas, em reuniões de trabalho que exigiam viagens, eu ficava semanas sozinho em casa – murmurou, encarando o japonês com o canto dos olhos – Eu era revoltado com isso na época, porém, ainda sim, eles eram meus pais e, da maneira deles, tentavam demonstrar amor quando estavam comigo.
Uma nova pausa e, dessa vez, Yuuri não se conteve e saiu de seu lugar, aproximando-se do ex, ocupando o lugar ao seu lado na cama. Viktor finalmente o encarou, os olhos repletos de tristeza e dor, além do arrependimento, porém os lábios conseguiram transmitir um leve sorriso ante ao fato de agora o moreno estar ao seu lado.
- Eu entrei em casa e quase morri do coração ao ver tudo revirado, vasos quebrados, terra pisoteada, móveis fora do lugar... Naquela hora, eu simplesmente travei e, quando voltei a mim, estava no escritório observando a porta aberta e os corpos dos meus pais jogados no chão, dinheiro espalhado e o cofre arrombado – suspirou, negando com a cabeça – Bandidos comuns não fariam todo aquele estrago, e a polícia concordou com isso quando abriram as investigações, só que o que eles não sabiam é que, apesar do estado de choque, eu ouvi quando disseram que talvez a máfia estivesse envolvida.
Yuuri sentiu os olhos marejarem ao imaginar que Viktor havia passado por tudo isso, compadecendo-se da dor do russo. Era demais imaginar que um filho havia perdido os pais de maneira tão cruel e, para agravar ainda mais a tristeza, havia visto com os próprios olhos o resultado final de toda a tragédia.
- Eu... Sinto muito, Viktor, de verdade... – murmurou com a voz levemente embargada, pigarreando em seguida para limpar a garganta.
Nikiforov sorriu novamente de maneira fraca.
- Não é uma lembrança agradável e nunca será, mas, pelo menos agora, os sentimentos negativos da época não me assolam mais...
Katsuki concordou, mas manteve o silêncio, sua intuição indicando que aquele relato ainda era só o começo da história.
- Eu ouvi a polícia suspeitar da máfia e perdi a conta de quantas vezes fui interrogado e analisado por psicólogos e psiquiatras sobre o incidente até o caso ser arquivado por resultado inconclusivo e eu ter de ouvir que haviam feito todo o possível. Aquilo me enlouqueceu – Viktor continuou – Meus pais estavam mortos, eu não tinha mais ninguém e o culpado estava por aí aproveitando sua impunidade. Acho que, naquela época, levei a sério demais os dizeres de que se quisesse uma coisa bem feita, teria de fazê-la eu mesmo.
- Foi quando se aliou a máfia? – Yuuri arriscou o palpite, vendo Viktor negar.
- Eu era o clássico caso de rebelde pré-adolescente e usei isso ao meu favor – aferiu o russo – Pesquisei locais onde possíveis mafiosos frequentavam e comecei a arrumar briga com qualquer um que eu julgasse que tivesse informações. Me tornei muito bom em conflitos corporais, só que, infelizmente, nunca medi com quem brigava e acabei me afundando cada mais no submundo, me envolvendo com gente cada vez mais perigosa, e foi quando eu fui punido por isso.
- Punido? – o japonês deixou escapar o pensamento, interrompendo a narrativa.
Viktor tocou com a mão esquerda o ombro direito de maneira inconsciente.
- As cicatrizes – murmurou – Eu não menti para você quando disse que as arrumei em brigas... O que eu não contei foi que, as mais aparentes e, consequentemente, as mais profundas, me foram dadas como punição, além de, é claro, eu ter sido submetido à torturas psicológicas algumas vezes.
Novamente, Yuuri sentiu o choro se formar em sua garganta. Viktor havia sofrido tanto e, mesmo assim, escolhera se meter naquela sujeira toda. Por que se envolver com aquilo que só lhe trouxera desgraça desde o começo? Sem uma resposta evidente, tudo que o Katsuki fez foi deixar uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha e encostar a cabeça no ombro de Viktor, que retesou os músculos com o contato inesperado, relaxando logo em seguida.
- Foi aí que conheci o avô do Yuri... – revelou, fazendo o menor encostado em si se remexer para poder encará-lo parcialmente – Ele reconheceu que eu tinha certo talento e me ofertou o que eu tanto buscava. Eu seria treinado e, em troca, teria minha vingança contra aqueles que tiraram meus pais.
Yuuri suspirou.
- Você me disse uma vez que a vingança cegava as pessoas... – o moreno de olhos castanhos aferiu – Eu jamais imaginei que sabia daquilo por experiência própria.
Viktor riu com certa amargura.
- Eu me uni à máfia para isso, e eles, além de me treinarem, ajudaram-me com todo o resto como estudos, línguas, etiqueta, manejo de armas e luta, além de o avô do Yuri ter me levado como seu protegido e, por isso, me dado um novo lar – relatou o russo – Com o investimento deles, reergui a empresa da minha família e fui criando minha própria fama no submundo.
- E onde seu primo entra nessa história? – perguntou o Katsuki com curiosidade.
- Quando eu me mudei pra mansão Plisetsky eles ainda não haviam assumido o posto de liderança, e Yuri era pequeno. Eu me encantei por ele assim que o vi e ele sentiu o mesmo por mim, então começamos a fazer companhia um para o outro, já que ele também havia perdido os pais e o avô tinha pego a guarda. Duas pessoas tão novas com histórias de vida semelhantes.
- E quando foi que você se tornou uma das famílias principais?
- Isso aconteceu três anos depois de eu ter feito minha fama no submundo e me tornado uma das famílias subalternas, como a família do Otabek, por exemplo. Quando a família Plisetsky assumiu a liderança e se tornou a Casa Principal, eu, representante da família Nikiforov, fui escalado como segundo no comando – explicou Viktor – Somente a menção do meu nome era suficiente para fazer com que me respeitassem e, pelo fato de ser mais frio e calculista, era muito difícil achar um ponto fraco meu ou uma maneira de me atingir, isso até...
E o russo de olhos azuis deixou a frase morrer, atiçando a curiosidade de Yuuri, que não tardou em perguntar.
- Até...?
Com um sorriso suave, o primeiro que vira no rosto de Viktor desde que iniciaram a conversa, Nikiforov o encarou.
- Até eu conhecer e me apaixonar por você.
Imediatamente o japonês se afastou, corando e abaixando o rosto para esconder as bochechas vermelhas. Não pôde evitar sentir um palpitar em seu peito ao confirmar em alto e bom som que ele e Viktor ainda partilhavam do mesmo sentimento.
- E-e... O que aconteceu...? – gaguejou Yuuri, tentando retomar o assunto anterior e tirar a atenção de si – Você descobriu quem matou seus pais?
Nikiforov segurou o riso ante aquela reação, ficando sério no instante seguinte ao se lembrar da marca mais suja de seu passado.
- Eu o encontrei em uma festa – murmurou – O turbilhão de ódio, rancor e dor foi tão intenso que eu não consegui me controlar. Estava tão impaciente quanto a ter minha vingança que não pensei nas consequências e, naquela mesma noite, fiz uma das maiores idiotices da minha vida.
Katsuki tornou a encará-lo, o rosto agora em seu tom habitual.
- O que você fez, Viktor?
O russo negou com a cabeça, incapaz de contar. Havia realmente sido bestial naquele incidente e teria sido ainda mais se seu querido primo não tivesse aparecido.
- Você os matou? – Yuuri deduziu o que julgou ser óbvio, não entendo a relutância proveniente de Viktor.
Nikiforov suspirou, o olhar vazio e sem emoção.
- Eu torturei e matei cada membro daquela família da pior maneira que consegui pensar – confessou com desgosto – Só que eu não me lembro do que eu fiz exatamente, as memórias daquele dia não passam de borrões desconexos e vermelhos... Eu só voltei a mim quando Yuri apareceu e correu em minha direção, chorando e gritando para que eu parasse.
Um arrepio involuntário percorreu a espinha do japonês. Então seu querido Viktor era capaz de tamanha atrocidade?
- Isso... Aconteceu novamente? – inquiriu o moreno de olhos castanhos, sentindo o alívio lhe preencher quando Viktor negou.
- A família Plisetsky tomou conhecimento e eu fui impedido antes que o resultado fosse ainda mais desastroso, se é que era possível... – suspirou, penteando a franja com os dedos – Eu passei um ano depois daquele incidente vagando entre punições e hospital, o que aumentou consideravelmente minha coleção de cicatrizes. O avô do Yuri gostava de mim a ponto de não ter me matado naquela época, por mais que inúmeras vezes eu tivesse desejado que botassem um fim a minha vida.
Yuuri concordou, tornando a encostar a cabeça no ombro do russo. Por mais que tentasse não pensar no assunto, ele mesmo havia tido seu momento de loucura e atirado em um cara a ponto de matá-lo, então não tinha o direito de julgar Viktor, muito menos sentir medo dele. Só lhe doía saber que seu querido russo passara por tanta coisa ruim.
- Mas, Viktor, depois de tudo, por mais que você tenha se unido a máfia por vingança, por que não saiu dela quando conseguiu o que queria?
- Eu prometi ao Yuri que aquele incidente jamais aconteceria de novo e percebi que, se eu saísse, ele ficaria sozinho novamente – explanou – Ele precisava de mim como família e eu dele, afinal, era tudo o que havia me restado. Podemos não estar unidos por sangue, mas nosso laço afetivo é maior que isso.
O japonês assentiu, sorrindo suavemente.
- Eu sinto de verdade, Yuuri, por ter escondido tudo isso de você e, principalmente, por você ter descoberto daquela forma. Eu pretendia contar a você quando percebi meus sentimentos, só não sabia como fazê-lo sem arruinar tudo o que estávamos construindo. Eu tinha medo de perdê-lo e, no fim, foi o que acabou acontecendo.
- Mentiras não sustentam um relacionamento, Viktor – Yuuri comentou.
- Eu sei disso agora – retrucou o russo, sorrindo com leveza – Você foi meu primeiro relacionamento sério, então digamos que não tive muita experiência na área e você foi condenado a ser minha cobaia.
O japonês não pôde evitar rir suavemente, o clima finalmente se suavizando.
- Um dia poderá me perdoar por tudo, Yuuri?
O moreno ajeitou a postura para encarar os olhos azuis, tão brilhantes e sinceros naquele momento. Era como se um enorme peso o abandonasse. Ali estavam todas as respostas e implicações do relacionamento expostas e ao seu alcance. Era complicado assimilar tudo naquele momento e decidir um próximo passo, porém, àquela pergunta Yuuri tinha uma resposta.
- Eu já perdoei, só me faltava entender tudo... Não acho que vingança tenha sido a melhor motivação para se unir a máfia, mas o que te levou a permanecer nela é mais do que justo. Yuri é importante para você e se tornou sua família, então eu diria que é um motivo até nobre.
Com delicadeza, o russo acariciou a bochecha do Katsuki, totalmente imerso naqueles olhos castanho-avermelhados.
- Eu fico muito feliz por saber disso, Yuuri.
O japonês concordou, relaxando por meio daquele toque gentil.
- Há mais alguma coisa que queria me contar, Viktor?
O russo pensou por um momento, lembrando-se de um detalhe.
- Quando estávamos namorando, eu contei ao avô do Yuri quem você era e sobre o nosso relacionamento e, depois, para te proteger, menti pras outras famílias contando que você era meu aprendiz... Foi a melhor saída que pensei naquele momento para manter você longe da máfia e seguro.
Yuuri ficou surpreso por um momento, logo revirando os olhos.
- Você é inacreditável – ditou em um tom mais brincalhão que repressivo – Então quer dizer que a máfia ainda pensa que sou seu aprendiz, ou você inventou outra desculpa?
Viktor sorriu, ainda não havia explicitado aquela notícia para o ex.
- Yuuri, eu não pertenço mais a máfia.
O queixo do japonês foi praticamente ao chão e seus olhos se arregalaram perante aquela declaração. Havia mesmo ouvido corretamente? Sua boca abriu e fechou uma porção de vezes, porém nenhuma fala conseguiu ser formulada.
- Você ouviu corretamente – o russo riu ante a confusão estampada na face de Yuuri – Eu não pertenço mais a máfia.
- Vi-Viktor... Como? Por quê? É verdade isso? E o Yuri? – bombardeou o moreno, sua mente em completa pane.
O sorriso de Nikiforov se tornou travesso.
- Acha mesmo que depois de tudo o que passamos e o fato de eu ser mafioso ter arruinado nosso relacionamento eu ficaria meses longe de você para vir atrás da sua pessoa aqui no Japão, lhe contar toda essa história e pedir seu perdão ainda pertencendo à máfia? Eu não sou tão burro, Yuuri, e também não seria cretino a esse ponto – reclamou, fingindo estar ofendido – Eu teria ido atrás de você no dia seguinte se não tivesse que primeiro resolver esse empecilho.
- Por isso demorou tanto tempo para vir me ver? – o moreno deixou escapar, seu coração disparando no peito.
Então era por isso que Viktor não lhe ligara ou fora atrás de si. Ele o amava tanto quanto Yuuri, mas precisava se livrar das mentiras e dos empecilhos antes de vê-lo novamente. As lágrimas de alívio foram impossíveis de segurar. O russo secou com delicadeza cada uma delas, mantendo o sorriso terno, até seus dedos dedilharem pelo pescoço do menor, pegando a corrente e a erguendo com suavidade.
- Queria que eu viesse te ver, não é? – perguntou mais para si do que para o Katsuki, encarando o anel, para depois elevar os olhos – Você... Ainda me ama, Yuuri?
Com as bochechas rubras, o menor concordou.
- E você, Viktor, ainda me ama?
O russo aproximou o rosto, encostando a testa de ambos uma na outra.
- Mais do que qualquer coisa...
O moreno de olhos castanhos sorriu docemente e jogou-se nos braços alheios em um abraço apertado, sentindo um carinho iniciar-se em seus cabelos. A sensação de segurança aqueceu seu peito. Estava novamente onde deveria estar. Havia coisas a serem ponderadas, mas, naquele momento, tudo o que Yuuri queria era estar ali, envolto e aquecido por aquele que dominara completamente seu coração.
- Sinto por tudo que o fiz passar, Yuuri... Jamais quis magoá-lo, e essa é a mais pura verdade...
- Eu acredito em você... – o japonês sussurrou em resposta – Vitya...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Yuri e Otabek estavam na cama do loirinho, com o russo jogado sobre as pernas esticadas do mesmo, que lia um livro, usando a mão livre para acariciar as costas do Plisetsky, que estava distraído com o celular. Haviam tomado banho juntos depois de fazerem amor e agora descansavam aproveitando a companhia um do outro. O russo de olhos verdes soltou um palavrão baixo por perder de novo no mesmo nível em que estava empacado e atirou o celular que quicou no colchão, indo parar na ponta do mesmo, quase caindo.
- Porra de joguinho dos infernos – esbravejou.
Altin sorriu de canto, mas manteve os olhos focados na leitura até a cabeleira loira de Yuri se meter entre ele e o livro.
- Meu avô vai viajar pra uma reunião e, assim que voltar, você será colocado no posto de segunda família no comando – comentou o loirinho – Vai pegar o lugar do velhote.
- E uma nova família será colocada no lugar da minha para cuidar da “limpeza”... Isso te preocupa?
Yuri negou, mas soltou um suspiro.
- É um pouco triste apenas... Saber que não terei mais o Viktor ao meu lado...
Otabek passou a mão pela franja do namorado, prendendo-a atrás da orelha.
- Ele pode não ser mais da máfia, mas nunca deixará de ser sua família, sabia? Ele sempre será bem vindo aqui e tenho certeza que ele sempre vai te querer por perto.
O loirinho sorriu.
- Pelo menos eu terei você sempre comigo. Um ponto positivo nessa tragédia mexicana toda – zombou, mesmo estando verdadeiramente contente em ter o namorado ao seu lado.
- Posso não ser tão assustador quanto o “Rei de Gelo” ou o “Tigre Russo”, mas garanto que estarei sempre aqui para você.
O menor riu, abraçando o pescoço de Altin.
- Eu sei e... – deu um selinho no cazaque – Eu amo você por isso... Mas, tem uma coisa...
Otabek arqueou uma sobrancelha.
- Que coisa?
Yuri riu travesso.
- Ainda não pensamos em um apelido pra você, Beka...
Altin riu também, deslizando as mãos pelas costas do russo loiro até detê-las na cintura do mesmo.
- Devo deixar isso para você, eu suponho?
- Se quiser... – ditou, mesmo o tom soando persuasivo.
- Confio em você, Yura.
O loirinho de olhos verdes abriu um sorriso.
- Ótimo, pois já tenho algumas ideias.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Seu coração estava disparado no peito, principalmente depois de ouvir seu apelido carinhoso ser evocado. Sempre soube que Yuuri não estava com raiva de si, mas temia que, com o passar do tempo, o sentimento tivesse esfriado. Haviam terminado de maneira madura, porém lacunosa, e era extremamente satisfatório agora poder se abrir e ser honesto com o Katsuki. Era o mínimo que ele merecia depois de tudo. Viktor também sentia que, agora, o “ele” mafioso não existia mais e podia ser verdadeiramente quem era.
O abraço perdurou por um tempo que não soube mensurar e ambos se afastaram com sorrisos no rosto. As dúvidas haviam se esvaído, assim como os segredos e, agora, era o momento de decidirem o que fariam daquele momento em diante. Viktor temia e ansiava por isso ao mesmo tempo, tentando não alimentar nem culminar completamente suas esperanças. Tudo dependeria de Yuuri e respeitaria o que ele decidisse, por mais que não concordasse, afinal, o objetivo principal havia sido cumprido.
- Então, esse é o verdadeiro Viktor? – o japonês perguntou com doçura.
- Sim...
- Existe mais algum segredo ou algo que ache importante me contar?
O russo deu de ombros.
- Não sei se tem muita relevância, além de achar que é óbvio, mas pretendo manter o contato com Yuri e Otabek, só que não detenho mais nenhuma influência no submundo. Sou um cara qualquer que tem um primo mafioso.
Yuuri revirou os olhos, mas riu, o que fez com que Viktor risse também.
- E você, Yuuri, há algo que queira perguntar ou me contar?
O japonês parou por um momento, pensando. Agora ele sabia do passado de Nikiforov, o porquê de suas escolhas, a verdade sobre quem era e o rumo final ao qual tinha escolhido, conhecia os dois lados dele, mesmo sabendo que talvez o mafioso nunca mais aparecesse. Os “poréns” e “e se” estavam respondidos, com exceção de um.
- Há sim uma coisa que quero perguntar, mas, antes, eu sinto que você tem uma pergunta pra mim, não é?
Viktor assentiu positivamente.
- Quer saber sobre o Akira-senpai, estou certo? Você foi bem transparente em demonstrar que não gostou muito dele.
- Não era bem a intenção, pois entendo que atualmente não tenho direito de sentir ciúmes de você, porém, não é como se eu conseguisse evitar completamente.
O moreno de olhos castanhos sorriu.
- Eu e Akira nos conhecemos no Ensino Médio e foi graças a ele que eu me interessei por intercâmbio. Ele era bem gentil e cuidava de mim, ainda mais por que eu não tive experiências um tanto quanto agradáveis no quesito relacionamento.
- Vocês namoraram? – Viktor foi direto, a curiosidade o remoendo enquanto secretamente torcia para que a resposta fosse negativa.
- Ele gosta de mulheres – afirmou Yuuri – Mas, quando ele se formou e decidiu fazer intercâmbio, eu fui vê-lo partir e ele me deu um selinho. Acho que era tão transparente com o que sentia na época quanto sou hoje.
- Entendo... – murmurou.
O japonês sorriu de canto, tornando a se aproximar do ex, depositando um beijo suave em sua bochecha.
- Somos grandes amigos e nada mais, Vitya...
Viktor sorriu e segurou entre o polegar e o indicador o queixo de Yuuri.
- Eu acredito em você, mas é inevitável sentir ciúmes.
O Katsuki se inclinou, capturando os lábios alheios em um selinho. Por mais breve que tenha sido a duração do contato, um gosto doce preencheu a boca de ambos em um misto de amor, saudades e felicidade. Uma completa oposição ao último beijo amargo que trocaram. Viktor, entretanto, não contentou-se com aquele gesto, unindo novamente sua boca a do ex em um beijo mais necessitado, sabendo que lhe seria permitido tal ato.
Os corpos sentiam falta um do outro, assim como os corações, que logo dispararam em ritmo acelerado. Yuuri rodeou os braços no pescoço do russo, o puxando mais para si conforme inclinava-se para trás, colando as costas ao colchão que cedeu com seu peso, ao tempo em que o Nikiforov abria os lábios para receber a língua quente do moreno de olhos castanhos, provocando-a com a sua, entrelaçando ambos os músculos que lutavam por espaço.
Viktor sugou e mordiscou o lábio inferior do Katsuki antes de voltar a lhe atacar a boca, as mãos passeando livremente pelo tronco esguio enquanto sentia o carinho em sua nuca e os dedos ágeis do japonês se embaraçarem em suas madeixas prateadas. Separaram-se ofegantes apenas para recobrar o fôlego, iniciando um novo ósculo em seguida com certa voracidade. A temperatura corporal começou a aumentar, mas nenhum deles sequer importava-se com isso, afinal, estavam juntos.
- Vitya... – Yuuri murmurou em um suspiro de prazer, os lábios levemente vermelhos pelos beijos.
- Eu senti tanto a sua falta, Yuuri... – o russo retrucou, lhe dando um selinho calmo.
- E eu a sua...
Viktor sorriu, acariciando o rosto do Katsuki.
- Acho que estamos de bem novamente, não é? – o Nikiforov brincou, vendo o rosto do menor corar levemente.
- Estamos, mas ainda há uma coisa que quero lhe perguntar.
O semblante do russo se tencionou.
- Que seria?
Yuuri sorriu, acariciando a nuca do mais velho para fazê-lo relaxar.
- O que faremos a partir de agora?
O de madeixas prateadas e olhos azuis sorriu.
- O que quiser, Yuuri... Eu vim até aqui explicar tudo o que houve e lhe contar que saí da máfia, que ainda o amo e pedir seu perdão. A partir daqui, é você quem decide.
- Se eu disser que, mesmo assim, eu não o quero, o que fará?
- Voltarei para a Rússia e tentarei dar um novo rumo a minha vida e, claro, atormentarei meu primo com meus problemas românticos – ditou Viktor com certa comicidade, ouvindo Yuuri rir também.
- E, se eu quiser que voltemos?
- Bom, eu tentei não criar muita expectativa quanto a isso, mas é o que eu quero, Yuuri – confessou Nikiforov – Eu não podia lhe prometer que iria mudar sem de fato poder fazê-lo, pois estaria te enganando. Foi por isso que não te impedi de sair daquele carro da última vez.
O moreno de olhos castanhos concordou.
- E se quiser um tempo para pensar, eu não tenho pressa – Viktor continuou – Afinal, despejei um monte de informações em cima de você...
- Eu nunca deixei de te amar, Viktor, por mais triste e magoado que eu tenha ficado – Yuuri o cortou – Só que, para mim, não poderíamos ficar juntos por sermos de mundos tão diferentes. Jamais imaginei que viria até o Japão por mim, ou o que esperar dessa conversa e muito menos o que fazer depois dela... Esperava tudo, menos que fosse me dizer que saiu da máfia.
- Sim, eu entendo...
- Eu quero o que tínhamos, Viktor, mas, dessa vez sem segredos ou mentiras.
- Está me dando uma nova chance, Yuuri? – perguntou esperançoso.
O japonês tornou a puxar Nikiforov para si, lhe beijando os lábios calidamente.
- Estou – sorriu.
Viktor tornou a pegar o anel na corrente.
- Quer dizer que voltei a ser “o russo mais gostoso do planeta”? – brincou o Nikiforov.
Yuuri corou, mas concordou.
- Você nunca deixou de ser – declarou o japonês, sendo beijado em seguida.
Estavam juntos novamente, a felicidade de outrora os preenchendo mais uma vez. Os beijos carinhosos e castos aqueciam os corações e, logo, Viktor estava deitado com Yuuri em seus braços, ambos brincando com os dedos das mãos um do outro, entrelaçando-os de maneiras diversas, trocando sorrisos.
- Já ouviu sobre a lenda do “akai ito”**, Vitya? – Yuuri perguntou de repente, enroscando o corpo ainda mais no do russo.
- O fio vermelho do destino**? – retrucou o russo, observando o amante assentir – Eu já ouvi sobre, mas não sei ao certo do que se trata... Por quê?
O moreno de olhos castanho-avermelhados sorriu, entrelaçando o dedo mínimo com o de Viktor.
- Segundo a lenda, não importa quantos relacionamentos as pessoas tenham durante a vida, a “verdadeira experiência de amor” será de fato com a pessoa que está no outro extremo do fio vermelho – começou a relatar, os olhos fixos nas mãos unidas de ambos – Dizem que quanto mais longo e emaranhado o fio, mais distante e doloroso será esse encontro e quanto mais curto for o fio, mais próximo e mais feliz será o encontro dessas almas gêmeas.
- Bem romântico – Viktor ditou, os olhos azuis fixos nos castanhos.
- Uhum – o Katsuki sorriu – Eu não acreditava na lenda, mas, agora, acho que encontrei a pessoa no outro extremo do fio.
O sorriso do russo se tornou radiante.
- Digo o mesmo, Yuuri – confidenciou, beijando os lábios alheios com doçura.
O japonês sorriu, escondendo o rosto na curva do pescoço de Viktor. O clima ameno e relaxante assomado a presença do russo começaram a deixar o menor relaxado, não o impedindo de bocejar discretamente.
- Vai dormir aqui comigo, Yuuri?
- Acho que sim...
- Seus pais não vão estranhar o fato de ter passado a noite com seu “amigo russo”? – perguntou, não perdendo a oportunidade de alfinetar o moreno por tê-lo apresentado dessa forma.
Yuuri riu.
- Mari sabe quem você é, na verdade – revelou o Katsuki – E, não se preocupe, sei que vai pensar em uma ótima desculpa para justificar minha presença aqui.
Foi a vez do russo dar risada.
- Estou me sentindo usado – zombou em tom cômico.
- Vou fingir que acredito que você não me quer aqui essa noite – retrucou Yuuri no mesmo tom.
Nikiforov riu novamente, ajeitando o namorado nos braços de forma que ambos pudessem ficar confortáveis. Havia passado muito tempo desde que dividiram a cama pela última vez, porém, ao mesmo, parecia que nunca haviam se separado. Talvez, de fato, houvesse um fio vermelho do destino que ligasse Viktor a sua alma gêmea e estava feliz em saber que ela não era ninguém além de Yuuri.
- Viktor...? – o moreno o chamou em um cochicho.
- Sim?
- Você realmente saiu da máfia só por minha causa?
O russo abriu os olhos, um pouco surpreso com a pergunta.
- Ainda duvida de mim?
Yuuri o encarou, negando.
- Não é isso... Só estava pensando em uma coisa – murmurou – Você arriscou tudo mesmo tendo a chance de eu não gostar mais de você, e abandonou o Yurio também.
Viktor sorriu.
- Yuri tem Otabek ao seu lado agora, então sei que ficará bem, e, bom, quanto a mim, de qualquer maneira estava na hora de dar um novo rumo a minha vida. Eu só estava torcendo para que pudesse fazer isso ao seu lado.
O japonês sorriu, satisfeito com a resposta. Achou que, depois da conversa, precisasse de um tempo para pensar, assimilar tudo e decidir o que fazer, como havia revelado a Mila, mas, agora, sabia que tudo não passara de uma pequena crise de ansiedade. Assim que Viktor lhe revelou tudo, respondendo assim suas perguntas, abrindo-se e revelando quem realmente era, Katsuki teve certeza do que fazer.
O medo de não confiar mais se fora, assim como as dúvidas, impedimentos e inseguranças. O que antes os separara agora não existia mais, então não havia razão para continuarem a sofrer pelo afastamento. Estavam juntos novamente. O que aconteceria depois não importava, naquele momento, tudo o que Yuuri precisava saber era que o russo deitado ao seu lado era novamente seu.
- Meu namorado... – sussurrou baixinho, achando que Nikiforov já dormia.
Seu coração se aqueceu ao sentir-se ser pressionado ainda mais contra o corpo alheio e tem confidenciado em sua orelha a resposta a sua declaração.
- Só seu... – Viktor murmurou, se entregando ao sono.
Katsuki logo fez o mesmo, o sentimento de segurança e proteção o preenchendo mais uma vez.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.