Horrorizada com a súbita intromissão na nossa privacidade, eu me sentei apressadamente no sofá, ajeitando minha saia enquanto isso.
“... da reunião das duas horas está aqui.”
Precisei de alguns segundos intermináveis de pânico para perceber que Prepon e eu ainda estávamos sozinhas na sala, que a voz que eu tinha ouvido vinha de um alto-falante. Ela se sentou na outra ponta do sofá, parecendo irritada, com a respiração ofegante. Apavorada, imaginei com que aparência eu deveria estar. E já tinha passado da hora de voltar ao trabalho.
- Meu Deus
Ela passou as mãos pelo cabelo.
- Estamos no meio do expediente. E na porra do meu escritório!
Eu me levantei e tentei me recompor.
- Espere.
Ela veio até mim e levantou minha saia de novo. Furiosa com o que quase havia acontecido quando eu deveria estar trabalhando, dei um tapa nas mãos dela.
- Pare com isso. Me deixe.
- Fique quieta, Taylor
ela disse com um sorriso, pegando nas mãos a barra da minha blusa de seda preta e a recolocando no lugar, de modo que ficasse ajustada e que os botões formassem de novo um arco perfeito em torno dos seios. Depois ela abaixou minha saia de volta, alisando-a com suas mãos seguras e competentes.
- Arrume direito o cabelo.
Ela se ajeitou e chegamos à porta no mesmo instante e, quando me abaixei para pegar minha bolsa, ela me acompanhou no mesmo movimento. Então pegou meu queixo e fez com que eu olhasse para ela.
- Ei
ela disse com uma voz suave.
- Está tudo bem?
Minha garganta queimava. Eu estava excitada, irritada e morrendo de vergonha. Nunca tinha perdido a cabeça dessa forma antes. E detestava o fato de isso ter acontecido com ela, uma mulher cuja noção de intimidade sexual era tão asséptica que me deixava deprimida só de pensar. Livrei meu queixo do seu toque.
- Eu pareço estar bem?
- Você está linda e louca pra trepar. Me deixou morrendo de tesão. Estou a ponto de voltar pra aquele sofá, só pra te chupar e fazer você gozar até não aguentar mais.
- Não dá pra acusar você de não ser direta
resmunguei, deixando claro que não estava ofendida. Na verdade, a brutalidade do desejo dela era um potente afrodisíaco. Pegando a alça da bolsa, eu me pus de pé sobre as pernas bambas. Precisava me afastar dela. E, quando o dia de trabalho terminasse, precisava de um tempo sozinha com uma boa taça de vinho. Ela também se levantou.
- Vou apressar tudo aqui pra terminar até as cinco. Aí desço pra pegar você.
- Não, senhorita. Isso que aconteceu agora não muda nada.
- É claro que muda.
- Não seja arrogante, Laura. Posso ter perdido a cabeça por um momento, mas isso não significa que eu queira o mesmo que você.
Seus dedos agarraram a maçaneta da porta.
- Você quer, sim. Só não quer que seja da maneira como estou oferecendo. Só precisamos alinhar alguns pontos.
Outra vez a linguagem de negócios. Fria e impessoal. Comecei a me irritar de novo. Pus minha mão sobre a dela e abri a porta, passando por baixo de seu braço para empurrá-la. Seu secretário se levantou rapidamente, assim como a mulher e os dois homens que esperavam por Prepon. Ouvi quando ela disse:
- Scott vai conduzi-los até minha sala. Volto em um instante.
Ela me alcançou na recepção, passando o braço pelas minhas costas e me agarrando pelo quadril. Eu não queria causar nenhum constrangimento, então esperei até chegar ao elevador para afastá-la. Ela não se abalou e apertou calmamente o botão.
- Até as cinco, Srta Schilling.
Não tirei os olhos do botão do elevador.
- Estou ocupada.
- Até amanhã então.
- Tenho compromisso no fim de semana.
Ela entrou na minha frente e perguntou com a voz firme:
- Com quem?
- Isso não é da sua...
Laura cobriu minha boca com a mão.
- Chega. Só me diga quando, então. E, antes que se sinta tentada a dizer nunca, dê uma boa olhada e me diga se pareço ser uma mulher que desiste facilmente.
Sua expressão estava séria, e seu olhar era concentrado e determinado. Estremeci. Não tinha certeza se podia confiar na minha capacidade de resistir a Laura Prepon. Engolindo em seco, esperei que ela tirasse a mão de mim e falei:
- Acho que nós duas precisamos esfriar um pouco a cabeça. Pensar um pouco
Ela insistiu.
- Segunda depois do expediente.
O elevador chegou e eu entrei. Virando pra ela, dei minha resposta:
- Segunda na hora do almoço.
Assim teríamos só uma hora, e eu teria um bom motivo para fugir. Antes de as portas se fecharem, ela ainda disse:
- Eu não vou desistir, Taylor.
Soou mais como uma ameaça do que como uma promessa.
- Não se preocupe
tranquilizou Mark quando cheguei à mesa, às duas e quinze.
- Você não perdeu nada. Tive um almoço demorado com o senhor Leaman. Também acabei de chegar.
- Obrigada.
Por mais que ele me tranquilizasse, eu ainda estava me sentindo muito mal. Minha produtiva manhã de sexta-feira no trabalho parecia ter ficado em um passado longínquo. Trabalhamos sem parar até as cinco, conversando sobre um cliente do ramo de fast- food e tendo algumas ideias para um anúncio de uma rede de mercearias especializadas em produtos orgânicos.
- Pepinos nós temos de sobra
Mark havia dito em tom de brincadeira, sem saber que isso se aplicava perfeitamente à minha vida pessoal. Eu tinha acabado de desligar o computador e estava pegando a bolsa quando o telefone tocou. Olhei para o relógio, que mostrava exatamente cinco horas, e pensei em ignorar a ligação, uma vez que tecnicamente o expediente já havia terminado. Mas, como eu ainda estava me sentindo culpada por causa do almoço de duas horas, atendi como uma forma de penitência.
- Escritório de Mark...
- Tay, querida. Richard me disse que você esqueceu o celular no escritório dele.
Soltei uma bufada e me joguei de volta na cadeira. Conseguia até ver o lencinho na mão que acompanhava aquele tom de voz especialmente ansioso da minha mãe. Era muito irritante, mas também era de cortar o coração.
- Oi, mãe. Tudo bem?
- Ah, estou ótima. Obrigada por perguntar.
Minha mãe tinha uma voz ao mesmo tempo infantil e sussurrante, uma mistura de Marilyn Monroe e Scarlett Johansson.
- Clancy já deixou o celular na portaria do seu prédio. Você não deveria sair sem ele. Nunca se sabe quando se vai precisar ligar para alguém...
Eu já vinha planejando uma forma de manter aquele telefone e encaminhar as chamadas para outro que minha mãe não tivesse registrado, mas naquele momento essa não era minha prioridade.
- O que o doutor Petersen falou sobre você rastrear meu telefone?
O silêncio do outro lado da linha era revelador.
- O doutor Petersen sabe que eu me preocupo com você.
Coçando o nariz, eu falei:
- Acho que está na hora de fazermos outra consulta conjunta, mãe
- Ah... claro. Ele inclusive falou que gostaria de ver você de novo.
Provavelmente por achar que você não está dizendo toda a verdade. Mudei de assunto.
- Estou adorando o novo emprego.
- Que maravilha, Tay! Seu chefe está tratando você bem?
- Sim, ele é ótimo. Não poderia ser melhor.
- Ele é bonito?
Eu sorri.
- Sim, muito. Mas é comprometido.
- Que coisa. Os melhores sempre são.
Ela riu, e meu sorriso se abriu ainda mais. Eu adorava vê-la feliz. Gostaria que passasse mais tempo assim.
- Mal posso esperar para ver você no jantar beneficente.
Monica Schilling Barker Mitchell Stanton se sentia em casa em eventos sociais, uma beldade radiante acostumada a receber grandes doses de atenção masculina a vida toda.
- Vamos aproveitar o dia juntas também
disse minha mãe mais baixo.
- Eu, você e o James. Podemos ir a um spa e nos embelezar. Tenho certeza de que você está precisando de uma massagem depois de trabalhar tanto.
- Seria bom, com certeza. E sei que James ia amar.
- Ah, estou tão animada! Posso mandar um carro até sua casa às onze?
- Vou estar esperando.
Desliguei, recostei-me na cadeira e soltei um suspiro. Estava precisando muito de uma banheira quente e de um orgasmo. Pouco importava se a Prepon descobrisse que eu me masturbava pensando nela. Minha frustração sexual estava enfraquecendo minha posição naquele jogo, uma fraqueza que eu sabia que ela não tinha. Com certeza haveria um orifício pré-aprovado à sua disposição antes do fim do dia. Enquanto trocava os saltos pelos tênis, o telefone tocou de novo. Minha mãe raramente permanecia relaxada por muito tempo. Os cinco minutos que se passaram desde nossa conversa devem ter sido suficientes para ela perceber que a questão do celular ainda não estava resolvida. Mais uma vez, pensei em ignorar o telefone, mas não queria levar nada de ruim comigo para casa depois de um dia como aquele. Atendi com minha saudação habitual, mas sem o mesmo entusiasmo.
- Ainda estou pensando em você.
A voz rouca e grave da Laura tomou conta de mim sem nenhuma resistência, o que me fez perceber que eu ansiava por ouvi-la de novo. Meu Deus. O desejo era tão intenso que era como se ela tivesse se tornado uma droga para meu corpo, a única fonte de uma sensação inigualável.
- Ainda estou sentindo seu beijo, Taylor. Seu gosto. Estou excitada desde que saiu, apesar de duas reuniões e uma teleconferência. Estou em desvantagem. Faça suas exigências.
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