- Ah
murmurei.
- Deixe-me ver.
Eu a deixei esperando, e abri um sorriso ao me lembrar do comentário do James sobre fazê-la subir pelas paredes.
- Humm... Não consegui pensar em nada. Mas tenho alguns conselhos de amiga. Procure uma mulher que esteja babando por você e faça com que se sinta uma deusa. Transe com ela até nenhuma das duas aguentar mais. Quando me encontrar na segunda-feira, você já vai ter esquecido tudo isso, e sua vida vai voltar à sua ordem obsessiva-compulsiva.
Um som de atrito se tornou audível ao telefone, o que me fez pensar que ela estava se remexendo na cadeira.
- Desta vez vou deixar passar, Schilling. Mas, da próxima vez que insultar minha inteligência, vai levar um tapa na bunda.
- Não gosto desse tipo de coisa.
E ainda assim, naquele tom de voz, aquela ameaça tinha me deixado excitada. Ela era perigosa, com certeza..
- Veremos. Enquanto isso, me fale do que você gosta.
Eu me levantei.
- Sua voz é perfeita para fazer sexo por telefone, mas preciso ir. Tenho um encontro íntimo comigo mesma.
Eu deveria ter desligado naquele momento, para que minha recusa tivesse um efeito dramático, mas queria ouvir quando ela engolisse em seco, como eu imaginava que faria. Além disso, eu estava me divertindo.
- Ah, Taylor.
Prepon disse meu nome em uma espécie de suspiro esvaído.
- Você quer que eu implore, não é mesmo? O que eu preciso fazer pra entrar nessa brincadeira?
Ignorei ambas as perguntas e ajeitei a bolsa sobre o ombro, feliz por saber que ela não estava vendo como minha mão tremia. Eu não estava nem um pouco disposta a falar sobre me masturbar. Nunca conversei abertamente sobre isso.
- Meus dedos e eu temos uma relação bem clara, quando a brincadeira acaba, sabemos exatamente quem foi usado. Boa noite, Laura.
Desliguei e tomei o rumo das escadas, tendo em mente que descer aqueles vinte andares serviria tanto para evitar encontros indesejáveis como para compensar o fato de que naquela noite eu não iria à academia. Fiquei tão feliz ao chegar em casa no fim daquele dia que entrei praticamente dançando no apartamento. Meu suspiro de alívio
“Nossa, como é bom estar em casa!” e os rodopios que o acompanharam foram suficientes para atrair a atenção do casal que estava sentado no sofá.
- Opa
eu disse, encolhendo-me de vergonha.
James não estava fazendo nada muito comprometedor quando entrei, mas a proximidade com que estavam sentados sugeria alguma intimidade. Pensei em Laura, que era capaz de eliminar a intimidade dos atos mais íntimos que alguém é capaz de imaginar, com certo mau humor. Eu já tinha feito sexo casual e mantido relações sem nenhum compromisso, e ninguém sabia melhor que eu que fazer sexo e fazer amor eram coisas bem diferentes, mas nunca seria capaz de enxergar o sexo como algo mecânico, como um aperto de mãos. O fato dela encarar a coisa dessa forma me entristecia, apesar dela não ser o tipo de mulher que despertasse compaixão ou pena.
- Oi, gata
James me cumprimentou, ficando de pé.
- Queria mesmo que você chegasse antes do Trey ir embora.
- Tenho aula daqui a uma hora
explicou Trey, contornando a mesa de centro enquanto eu punha minha bolsa em um banquinho junto ao balcão.
- Mas fico feliz de ter conseguido ver você antes de ir embora.
- Eu também.
Apertei sua mão quando ele a estendeu para mim, aproveitando a chance para examiná-lo de relance. Tinha mais ou menos a minha idade. Altura mediana e musculatura sólida. Cabelos loiros despenteados, olhos azuis redondinhos e um nariz que claramente já havia sido quebrado em algum momento.
- Se importa se eu beber uma taça de vinho?
perguntei.
- Tive um dia difícil.
- Vai fundo
respondeu Trey.
- Eu também quero uma.
James se juntou a nós no balcão. Usava uma calça jeans preta larga e um suéter preto de gola bem larga. Um visual despojado e elegante, que realçava de maneira fenomenal seus cabelos castanhos e seus olhos verdes. Fui até a adega e puxei uma garrafa qualquer. Trey enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans e ficou se balançando sobre os calcanhares, falando baixinho com James enquanto eu abria e servia o vinho.
O telefone tocou, e eu atendi.
- Alô?
- Alô, Taylor Schilling? Aqui é Parker Smith.
- Oi, Parker. Tudo bem?
Apoiei o quadril no balcão.
- Espero que não se importe de eu telefonar. Foi seu padrasto que me passou o número.
Argh. Stanton já tinha me incomodado demais em um só dia.
- Não, tudo bem. Algum problema?
- Sendo bem sincero? Nenhum. Seu padrasto foi a melhor coisa que nos aconteceu. Ele vai financiar algumas reformas para a segurança do espaço e outras melhorias que precisavam ser feitas. É por isso que estou ligando. Não vamos abrir na semana que vem. As aulas só vão voltar na outra segunda.
Fechei os olhos, tentando reprimir um grito de desespero. Não era culpa de Parker se Stanton e minha mãe eram maníacos controladores. Obviamente, eles não eram capazes de entender a ironia em tentar me defender enquanto estivesse cercada de pessoas treinadas para fazer exatamente isso.
- Parece ótimo. Mal posso esperar. Estou muito animada para começar a treinar com você.
- Eu também. Vamos trabalhar duro, Taylor. Seus pais vão ver como o investimento deles vai valer a pena.
Servi uma taça cheia para James e dei um gole enorme na minha. Nunca deixei de me surpreender diante do efeito que o dinheiro era capaz de causar. Só que, mais uma vez, a culpa não era de Parker.
- Por mim tudo bem.
- Vamos começar assim que estiver tudo pronto. Seu motorista já está com os horários.
- Legal. A gente se fala, então.
Quando desliguei, vi o olhar que Trey lançou na direção do James quando pensou que nenhum de nós dois estávamos olhando. Era um olhar meigo e cheio de ternura, o que me lembrava de que meus problemas podiam esperar.
- Que pena que eu peguei você de saída, Trey. Você pode sair pra comer uma pizza na quarta? Seria bom ter tempo pra falar alguma coisa além de oi e tchau.
- Tenho aula.
Ele me ofereceu um sorriso de lamento.
- Mas na terça eu posso.
- Seria ótimo.
Eu sorri.
- A gente pode comer aqui mesmo e ver um filme.
- Eu adoraria.
Fui recompensada com um beijo, que James me mandou enquanto acompanhava Trey até a porta. Quando ele voltou para a cozinha, pegou sua taça de vinho e falou:
- Vamos lá. Desembucha, Tay. Você parece estar bem estressada.
- Estou mesmo
confirmei, apanhando a garrafa e me dirigindo à sala.
- É a Laura Prepon, né?
- Ah, sim. Mas não quero falar dela agora.
Apesar de os fins de Laura serem louváveis, seus meios eram deploráveis.
- Vamos falar de você e Trey. Como se conheceram?
- Foi em um trabalho. Trey trabalha meio período como assistente de fotógrafo. Sexy ele, né?
Seus olhos brilhavam de felicidade.
- E um verdadeiro cavalheiro. À moda antiga.
- Quem diria que isso ainda existe?
resmunguei antes de matar minha primeira taça.
- O que você quer dizer com isso?
- Nada. Desculpe, James. Trey me pareceu ótimo e claramente gosta de você. Ele estuda fotografia?
- Veterinária.
- Uau. Que incrível.
- Também acho. Mas vamos esquecer um pouquinho Trey. Me fale sobre o que está incomodando você. Ponha tudo pra fora.
Eu suspirei.
- Minha mãe. Ela descobriu que eu vou fazer aula com Parker e está surtando.
Quê? Como ela descobriu? Juro que não contei pra ninguém.
- Eu sei que não. Nem desconfiei de você.
Apanhando a garrafa de cima da mesa, reabasteci minha taça.
- Escuta só. Ela rastreou meu celular.
Ele ergueu as sobrancelhas.
- Sério? Isso é meio... assustador.
- Pois é! Foi isso que eu falei, mas Stanton não quer me ouvir.
- Que coisa.
Ele passou a mão pelo cachos da franja comprida.
- E o que você vai fazer?
- Comprar um telefone novo. E conversar com o doutor Petersen para ver se ele consegue fazer minha mãe agir com um pouco de bom senso.
- Boa ideia. Dedurar para o analista. Então... como andam as coisas no trabalho? Ainda na fase do encantamento?
- Com certeza.
Deitei a cabeça nas almofadas do sofá e fechei os olhos.
- O trabalho e você estão salvando minha vida neste momento.
- E aquela zilionária gostosa que quer transar com você? Vai, Tay. Você está me matando de curiosidade. O que rolou?
Contei tudo pra ele, claro. Queria sua opinião sobre o assunto. Quando terminei, ele ficou em silêncio. Levantei a cabeça para olhá-lo e o surpreendi mordendo os lábios, com os olhos brilhando.
- James? O que foi?
- Essa história me deixou excitado.
Ele riu, e o som de sua gargalhada profunda e masculina varreu boa parte da minha irritação para longe.
- Ela deve estar muito confusa agora. Eu pagaria um bom dinheiro pra ver a cara dela quando ameaçou dar um tapa na sua bunda.
- Não acredito que ela disse aquilo.
Só a lembrança da voz dela ao fazer a ameaça já fez as palmas das minhas mãos ficarem suadas o bastante para deixar uma mancha na taça de vinho.
- Vai saber o que mais ela curte...
- Não tem nada de estranho em gostar de uns tapinhas na bunda. Além disso, vocês estávamos que nem loucas se pegando no sofá, então não deve ter nada contra fazer só o básico.
James desabou no sofá, com um sorriso radiante iluminando seu lindo rosto.
- Você está sendo um grande desafio para uma mulher que obviamente adora ser desafiada. E ela está disposta a fazer concessões por você, o que com certeza não está acostumada a fazer. Diga logo pra ela o que quer.
Dividi entre nós o que sobrou do vinho, sentindo-me um pouquinho melhor agora que tinha certa quantidade de álcool nas veias. O que eu queria, afinal? Além do óbvio?
- Somos totalmente incompatíveis.
- É assim que você chama o que aconteceu naquele sofá?
- Ah, James. Vamos cair na real. Ela me conheceu no saguão do prédio e já foi logo dizendo que queria transar comigo. Do nada. Até uma mulher que você conhece num bar e leva pra casa faz mais por merecer do que ela. “Ei, como é que você chama? Você vem sempre aqui? Está acompanhada? O que está bebendo? Quer dançar? Você trabalha aqui perto?”
- Tudo bem, tudo bem. Entendi.
James deixou a taça sobre a mesa.
- Vamos sair. Ir a um bar. Dançar até não aguentar mais. Quem sabe encontrar alguém pra conversar e você dar uns beijos.
- Ou pelo menos me pagar um bebida.
- Ei, Prepon ofereceu uma bebida pra você no escritório dela.
Balancei a cabeça e fiquei de pé.
- Dane-se. Vou tomar um banho e já vamos.
Eu me joguei na balada como se nunca tivesse feito isso antes. James e eu circulamos por todos os clubes noturnos de Tribeca ao East Village, jogando dinheiro fora com taxas de consumação, mas nos divertindo muito. Dancei até meus pés quase não aguentarem, mas consegui segurar firme, e James foi o primeiro a reclamar do desconforto das botas. Saímos de um clube que tocava tecnopop com a intenção de comprar chinelos em uma farmácia ali perto quando cruzamos com o promotor de um lounge localizado a poucos quarteirões de distância.
- É um ótimo lugar pra você descansar um pouco os pés
ele sugeriu, sem o habitual sorriso forçado e entusiasmo exagerado da maioria dos promotores.
Suas roupas, jeans preto e blusa de gola alta, também pareciam ser bem caras, o que me deixou intrigada. E ele não tinha nenhum panfleto ou coisa do tipo. Só me entregou um cartão de visita impresso em um papel chique com letras que capturavam a luz dos letreiros ao nosso redor. Tentei me lembrar de guardá-lo como um modelo interessante para anúncios impressos.
Uma torrente de pedestres apressados fluía ao nosso redor. James teve que espremer os olhos para ler o cartão, pois havia bebido alguns drinques a mais que eu.
- Parece bem legal.
- Mostre esse cartão na entrada
instruiu o promotor.
- Assim eles não cobram consumação.
- Legal.
James envolveu meu braço com o dele e me arrastou rua afora.
- Vamos lá. Em um lugar assim estiloso você pode encontrar uma gostosa que valha a pena.
Meus pés estavam quase me matando quando chegamos ao tal lugar, mas parei de reclamar quando vi a porta de entrada. A fila era longa, chegava a virar a esquina. A voz cheia de Amy Winehouse escapava pela porta aberta, assim como alguns clientes bem vestidos que saíam com um sorriso no rosto. Como o promotor havia dito, aquele cartão de visita garantiu nossa entrada gratuita e imediata. Fomos levados por uma hostess lindíssima ao andar de cima, a um bar VIP, menos movimentado, com vista para o palco e a pista de dança. Nós nos instalamos perto do mezanino, em uma mesa cercada por dois sofás de veludo em formato de meia-lua. A hostess abriu o menu de bebidas no centro da mesa e anunciou:
- Seus drinques são por conta da casa. Tenham uma boa noite.
- Uau.
James assoviou.
- A gente se deu bem.
- Acho que aquele promotor reconheceu você de algum anúncio.
- Não seria o máximo?
Ele sorriu.
- Meu Deus, que noite é essa? Saindo com minha melhor amiga e descobrindo alguém com quem dividir a vida.
- Hã?
- Acho que estou decidido a ir em frente com Trey.
Fiquei feliz. Era como se eu tivesse esperado a vida inteira para que aparecesse alguém que tratasse ele como ele merecia.
- E vocês já conversaram sobre isso?
- Não, mas acho que ele não faria nenhuma objeção a respeito.
Ele encolheu os ombros e alisou sua camiseta toda rasgada. Com a calça de couro preta e os braceletes com pontas afiadas, dava a ele uma aparência sexy e indomável.
- Acho que ele está tentando entender nossa relação primeiro. Ficou todo surpreso quando eu disse que morava com uma mulher e tinha vindo do outro lado do país só pra ficar perto de você. Ele tem medo de que eu seja bi e esteja apaixonado por você. É por isso que eu quis que vocês se conhecessem, para que ele visse como a gente interage.
- Sinto muito, James. Vou tentar tornar as coisas mais fáceis pra ele.
- A culpa não é sua. Não se preocupe. Se for pra dar certo, vai dar.
Tudo isso não foi capaz de fazer com que eu me sentisse melhor. Eu queria encontrar uma maneira de ajudar. Dois caras pararam ao lado da nossa mesa.
- Tudo bem se a gente sentar aqui?
perguntou o mais alto.
Olhei para James, e depois de volta para os dois. Pareciam irmãos, e eram muito bonitos. Sorridentes e confiantes, tinham uma postura relaxada e descontraída. Eu estava quase dizendo “É claro” quando senti uma mão quente encostar na minha cintura.
- Ela está comigo.
James que estava sentado na minha frente, ficou de boca aberta ao ver Laura Prepon contornar o sofá e estender a mão pra ele.
- Marsden. Laura Prepon.
- James Marsden.
Ele apertou sua mão e a deu um beijo na bochecha, com um sorriso escancarado no rosto.
- Mas isso você já sabia. Prazer em conhece-la Prepon. Ouvi falar muito de você.
Eu queria matá-lo. Pensei seriamente nisso.
- Fico feliz em saber.
Laura se sentou ao meu lado.
- Talvez ainda haja motivos para ter esperança.
Girando a cintura para encará-la, sussurrei em um tom de voz furioso:
- O que você está fazendo?
Ela me fuzilou com um olhar determinado.
- O que for preciso.
- Vou dançar.
James se levantou com um sorriso carregado de malícia.
- Volto daqui a pouco.
Ignorando meus olhares de súplica, meu melhor amigo me jogou um beijo e se mandou, levando os dois caras com ele. Ao vê-los se afastar, meu coração disparou.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.