Eu poderia passar o resto da minha vida aqui deitado ao lado de Daehyun, com nossas mãos juntas e nossos olhos compartilhando uma cumplicidade única. Sinto-me muito feliz ao seu lado, mas é como se algo estivesse incompleto e o meu objetivo atual fosse descobrir o que falta.
-Como se sente? – interrompo nosso momento de silêncio.
-Essa pergunta é minha.
-Sim, mas hoje as coisas foram invertidas.
Daehyun ri. Como eu amo sua risada. Ele está tão lindo com os cabelos bagunçados, suado e nu. Pergunto-me se existe alguma coisa que eu não ame nesse homem. Ele se ajeita na cama e me puxa, colando nossos corpos.
-Que tal ficar em casa hoje?
-Não posso.
-E por que não?
-Porque eu estou supervisionando um estagiário. Você não sabia?
-Na verdade não. Tudo que tem relação com você na editora eu procuro não me meter. Quero que consiga as coisas por si mesmo.
-Obrigado por confiar em mim. – dou um beijo em seu peito e ele retribui beijando o alto da minha cabeça.
Ficamos deitados por mais um tempo, curtindo um ao outro. Até que finalmente eu decido me levantar e ir tomar um banho e Daehyun me acompanha. Assim que saímos do banho vamos nos trocar, percebo que Daehyun senta com certa dificuldade.
-Está doendo?
-Na realidade não, é que faz tempo que eu não faço isso.
-Você já fez isso antes? Pensei que você sempre...sabe..
-Que eu sempre fui o “ativo”? – ele ri.
-É, por ai.
-Nem sempre, mas faz muitos anos.
Não pergunte nada, não é o momento. Meu eu interior se pronuncia. É melhor mesmo, por agora eu prefiro não questionar nada sobre o que Daehyun fez ou deixou de fazer antes de mim. Assim que saímos de casa toda a minha paz vai embora. Havia muitas pessoas olhando minha briga com Jongup ontem, alguém da editora deve ter visto. Hoje com certeza vai ser um dia muito cheio. Chegamos à editora e Daehyun me leva até a sala da redação. A primeira pessoa a me cumprimentar é o Zelo.
-Olá hyung. Como vai?
-Vou bem e você?
-Muito bem.
-Daehyun esse é Choi Junhong meu estagiário.
-É um prazer. – Daehyun fala mais sério do que o normal.
-O prazer é meu. Poxa no meu segundo dia já conhecer o hyung, fico muito feliz.
Daehyun abre um sorriso falso e segundos depois Zelo sumiu.
-O que foi? – pergunto curioso.
- Não gostei dele.
-Por que não?
-Ele vai passar o dia inteiro com você? – ele me olha sério.
-Vai. – até que eu tenho um estalo. – Espera, você está com ciúmes?
Daehyun arregala os olhos, mas não me responde. Ele se vira e vai em direção ao elevador.
-Ya! Daehyun você não vai me responder?
-Não. – ele entra no elevador e desaparece.
Ele está com ciúmes. Meu eu interior esta vibrando. Dou uma risadinha e volto para a sala, não consigo acreditar que ele está com ciúmes, que bobo. Sento-me na minha mesa e Zelo já está posicionado a minha frente. Primeiro ele me olha parecendo me analisar e depois suspira. Ficamos um tempo revisando o texto que eu analisei ontem, existem alguns erros, mas ele realmente é muito bom escrevendo e isso me anima. No meio da tarde fazemos uma pausa.
-Quer alguma coisa hyung?
-Água, por favor.
Em poucos minutos Zelo volta com uma jarra d’água e dois copos descartáveis. Ele enche os copos e oferece um deles a mim.
-Hyung, posso fazer uma pergunta?
-Pode. – começo a beber minha água.
-Você e o Daehyun hyung namoram?
Assusto-me e cuspo toda a minha água assustando Zelo. Engasgo-me e começo a tossir. Parece que é meu destino engasgar em momentos complicados. Levanto e vou em direção a porta seguido por Zelo. Eu preciso de ar. Essa pergunta me pegou de surpresa. Descemos até uma parte da editora onde a uma cafeteira para os funcionários. Há um grande espaço aberto com algumas mesas vermelhas. Sento-me e Zelo se senta na minha frente.
-Desculpe hyung eu não queria assustar e nem sem inconveniente.
-Tudo bem.
-Se não quiser responder não tem problema, eu fui curioso demais.
Respiro fundo. De fato ele foi curioso, mas quem nessa idade não é? Tento pensar no que responder até que uma voz me tira dos meus devaneios.
-Fugindo do seu trabalho Youngjae?
É Daehyun, e ele não parece nada feliz.
-Nós descemos porque o hyung passou mal. – Zelo responde por mim.
-Passou mal? O que você tem? – Daehyun se senta ao meu lado e seu olhar passa de bravo a preocupado em segundos.
-Eu estou bem, apenas engasguei com a água e vim tomar um ar.
-Parecia que você estava tendo um ataque hyung. – Zelo diz de uma maneira tão séria que me faz rir. Daehyun por outro lado fuzila Zelo com os olhos.
-E por que você engasgou?
-Por causa de uma pergunta indiscreta que eu fiz.
Mais que merda, ninguém vai me deixar falar hoje?
-Que pergunta? – Daehyun me olha.
-Se vocês dois namoram.
Rapidamente Daehyun volta seus olhos para Zelo e ele parece interessado no rumo que a conversa levou.
-Por que quer saber disso?
-Curiosidade.
-Bom se isso vai matar sua curiosidade, sim, Youngjae é meu namorado. Algum problema?
Cacete. Como você pode dizer isso num lugar como esse Daehyun? E se as pessoas ouvirem, o que vão pensar de você? E de mim? Vão pensar que o namorado do dono conseguiu um emprego aqui. Ou pior, que eu estou dando algum tipo de golpe.
-Problema nenhum. – Zelo sorri para mim.
Eu devo estar parecendo um pimentão. Aaah Daehyun, você me paga.
-Certo, agora que sua pergunta foi respondida vamos subir?
-Vamos.
Levanto-me e antes que eu possa dar o primeiro passo Daehyun me segura pelo braço.
-Você pode subir. Youngjae eu quero falar com você.
Zelo olha para mim, eu concordo com a cabeça e ele sobe.
-O que foi?
-Por que você se assustou com a pergunta dele?
-Ele perguntou de repente Daehyun, fui pego desprevenido. Está bravo por causa disso?
-Estou. Você é meu, não tenha vergonha de dizer isso.
-Não seja ciumento.
-Eu não sou ciumento. – Daehyun larga meu braço, ele parece confuso.
Não consigo segurar o riso. Daehyun está parecendo um adolescente em seu primeiro namoro, onde tudo é motivo de ciúmes.
-Fique tranquilo, eu sou seu e de mais ninguém. Quanto ao Zelo, ele é apenas um garoto curioso.
-Zelo?
-Sim, esse é o apelido dele.
-Já está nesse nível? Vai me dizer que ele te chama de Jae?
-Daehyun você está sendo ridículo. E se me der licença vou voltar pro meu serviço.
Dou as costas para ele e subo. Nossa, que homem ciumento. Nunca imaginaria que Daehyun teria uma reação tão extrema. Por um lado eu fico feliz, isso significa que ele me ama e tem medo de me perder, mas por outro lado eu tenho medo de até onde isso possa ir. Ciúmes em excesso não seria uma coisa boa.
Daehyun começou a ir com certa frequência à sala da redação, isso está me deixando louco. Ele anda de um lado para o outro e fica me olhando. Todos estão desconfortáveis com ele o tempo inteiro rondando.
A semana toda foi assim. Eu e Zelo trabalhando nos textos da revista e Daehyun rondando que nem um urubu em cima da sua carniça. Perdi as contas de quantas vezes nós brigamos por causa disso, qualquer movimento de Zelo perto de mim é motivo para ele começar uma briga comigo. Não me lembro de qual foi a ultima vez que fizemos amor. Ele está me enlouquecendo com esse ciúme ridículo, estou começando a me sentir sufocado. Pelo menos Jongup não apareceu mais, nem ao menos ligou e isso já é um grande alívio. Na sexta feira Zelo me chamou para irmos comer fora depois do expediente e sem pensar duas vezes eu aceitei. Agora eu estou aqui parado há quase dez minutos na porta da sala de Daehyun criando coragem de enfrentar a fera. Respiro fundo e entro. Ele está sentado conversando no telefone, assim que me vê abre um sorriso e aponta para a cadeira. Cada dia que passa eu o amo mais, mas o clima entre nós está estranho. Ele desliga o telefone e fica me encarando.
-Eu vim comunicar algo.
-E o que seria?
-Eu vou comer fora hoje.
-Comer fora? – Daehyun parece confuso.
-Sim, Zelo me chamou para ir comer com ele depois do expediente.
Assim que Daehyun ouve o nome de Zelo sua cara se fecha. Ele se apoia com os cotovelos na mesa e me encara. Eu espero pela gritaria e pelo ciúme, mas não acontece nada.
-Tudo bem.
-Oi? Você vai aceitar assim, sem dizer nada e sem fazer um escândalo antes?
-Isso impediria você de ir?
-Não.
-Então acho que sua pergunta foi respondida.
Olho confuso para Daehyun. Ele está agindo de uma maneira estranha. Levanto-me e vou em direção à porta.
-Até mais tarde, em casa. – digo antes de sair.
-Até. – é tudo o que ele responde.
Estamos em uma lanchonete lotada de jovens universitários. Zelo disse que aqui vende o melhor hambúrguer do mundo e queria que eu conhecesse. Ele é engraçado e eu me divirto com ele. Recentemente eu descobri que seu hobby é andar de skate. Já recebi vários convites para andar de skate com ele em um parque, mas isso seria um desastre com certeza. Tento aproveitar o máximo da noite, mas não consigo deixar de pensar em Daehyun e como ele foi frio comigo mais cedo. Tem alguma coisa errada. Meu eu interior está analisando tudo o que aconteceu nos últimos dias com seus óculos redondos. Eu sei que tem algo errado e não acho que seja apenas o fato dele ter ciúmes do Zelo. Nossos pedidos chegam e logo começamos a comer.
-Nossa esse hambúrguer é realmente bom.
-Eu te disse hyung. – Zelo está todo sorridente e isso me faz sorrir também.
Após comer resolvemos andar um pouco, a noite está agradável e ainda é cedo. Sentamos-nos em um banco da praça e jogamos um pouco de conversa fora. É bom estar assim despreocupado e sem medo de que a qualquer momento eu tenho que brigar com Daehyun. O que será que ele está fazendo agora? Será que ele já jantou? Será que foi para casa? Estou preocupado com ele. Olho meu celular e não a nada. Nem ligação, nem mensagem. Será que ele está bravo?
-Hyung, você está bem?
-Só estou um pouco preocupado com Daehyun.
-Aconteceu alguma coisa com ele?
-Não, é só que. Bom deixa pra lá.
-Tem certeza?
-Sim. Acho melhor nós irmos embora.
-Tudo bem.
-Onde você mora? Vou te levar em casa.
-Não precisa hyung.
-Eu quero, por favor.
Zelo concorda e vamos em direção a sua casa. Pelo caminho nós passamos por varias lojas e paramos em várias delas. Eu sei que fui eu quem sugeriu que fossemos embora, mas eu não quero chegar em casa e ficar naquele clima horrível com Daehyun, que nesse momento deve estar espumando de raiva. De repente Zelo para em frente a uma farmácia.
-Hyung, só um minuto que eu vou comprar alguns remédios.
-Tudo bem, eu te espero aqui fora.
Ele entra na farmácia e eu me encosto-me à parede para esperar. Olho novamente para o meu celular na esperança de ter alguma coisa de Daehyun. Nada. Resolvo ligar para ele. Cai na caixa postal. O que ele está fazendo que não atendeu o celular? Ele nunca desgruda daquele celular.
E se ele estiver com alguém? Meu eu interior sugere. Não, não e não. Eu não vou pensar nisso, ele não iria me trair depois de todo esse escândalo que ele anda fazendo por causa do Zelo. Ou iria? Eu já não sei mais. Meu peito se aperta só em pensar na possibilidade de Daehyun estar com alguém nesse exato momento. Tento ligar novamente para ele, mas cai de novo na caixa postal. Merda Daehyun, onde você está. Assim que tiro meus olhos do celular me deparo com uma pessoa indesejada do outro lado da rua. Jongup. Puta merda, a noite não poderia melhorar. Ele não me viu e parece estar esperando alguém.
Tento dizer que estou ficando louco, mas ali está do outro lado da rua. Jongup e Daehyun. O que eles estão fazendo juntos? Daehyun ri de alguma coisa que Jongup fala e eles saem andando. Zelo aparece e vê o meu estado. Eu saio andando em direção dos dois e sem dizer uma palavra Zelo me segue.
Estou tentando ser discreto, mas minha vontade é voar no pescoço do Daehyun. Como ele pode estar fazendo isso comigo? Uma vontade enorme de chorar sobe lentamente pela minha garganta e eu a mando de volta. Não vou chorar enquanto eu não souber o que está acontecendo. Zelo ainda me segue sem dizer nada, ele parece ter entendido que eu estou seguindo o meu namorado. Até que eu fico sem forças de continuar seguindo. Meu peito dói e minha cabeça é uma mistura de pensamentos horríveis. Com o pouco de voz que me resta eu digo a Zelo para ir embora para casa e ele me obedece. Eu faço o mesmo, vou para casa.
Minutos depois que eu chego em casa, Daehyun aparece. E num ataque de fúria eu taco a primeira coisa que vejo nele que se protege com o braço.
-Que merda você está fazendo Youngjae?
-Eu vi você com ele! – as lágrimas que eu tanto segurei, agora escorrem pelas minhas bochechas.
-Ele quem?
-Jongup seu maldito.
-O que? Não, espera. Eu tenho uma explicação pra isso.
-Uma explicação? Esse cara me estuprou no passado e do nada ele aparece me diz que vai tirar você de mim, eu saio no braço com ele e agora você estava lá rindo com ele Daehyun? – eu grito mais do que minhas forças permitem.
-Não! Não é isso, espera você tem que me ouvir.
-Ouvir o que? Eu já vi tudo o que precisava. – subo as escadas correndo.
-O que você vai fazer Youngjae? Espera!
-Eu vou embora.
-O que? Pra onde você vai? Não, você não pode ir embora.
-E por que não? – me viro e encaro Daehyun que está ofegante e com os olhos arregalados.
-Por que eu preciso de você. Eu amo você.
-Então porque você foi atrás dele? Nada do que você disser vai mudar o fato de quem ele é e do que ele tentou fazer. – não consigo parar de chorar, meu peito dói a cada palavra que sai da minha boca.
-Eu o encontrei por acaso.
-E porque saiu para conversar com ele? Por que estava rindo com ele?
-Rindo? Espera Youngjae você está entendo tudo errado.
-Não quero saber.
Abro o closet e começo a jogar todas as minhas roupas em cima da cama. Pego a mala e enfio de qualquer jeito as roupas dentro. Não consigo enxergar direito, as lágrimas estão embaçando a minha visão. Daehyun se aproxima de mim e toca meu ombro. Meu corpo inteiro reage, mesmo com raiva faz dias que não nos tocamos e eu o amo tanto, sinto tanto a falta dele, mas agora não é o momento.
-Não me toque, é difícil pensar com você perto de mim.
-Por que quer se afastar de mim? Vamos conversar.
-Não, eu preciso de um tempo pra pensar.
-Pensar? Pensar em que?? – Daehyun está aumentando a voz.
-Pensar Daehyun.
Pego minha mala e desço as escadas correndo.
-Depois eu pego o resto das minhas coisas.
-Espera, pra onde você vai?
-Não te interessa.
-Youngjae, por favor.
Daehyun agarra meu braço e me vira de frente para ele. Merda. Ele está chorando. Meu coração se despedaça. Não, eu preciso ser forte. Todos os meus pensamentos são em vão e eu choro ainda mais. Permito-me um ultimo abraço e o aperto forte. Daehyun retribui e enfia seu rosto na curva do meu pescoço. Por um momento penso em desistir de ir embora e ficar aqui com ele, mas nós precisamos desse tempo afastados, eu preciso entender o que está acontecendo.
-Até Daehyun.
-Não, por favor, não vá. – Os olhos de Daehyun são suplicantes.
-Eu preciso. – abro a porta e saio na escuridão da noite.
Tudo o que eu consigo ouvir antes de virar na esquina é o grito desesperado de Daehyun.
-YOUNGJAE!!!
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