I'm a survivor
Jack
~*~*~
Encarava o pôr do sol e sentia toda a esperança indo embora junto com aquela estrela. Criava pequenas bolas de neve e jogava longe na direção daquela floresta.
— Realmente não tem como tomar um bom banho nesse frio — comecei a rir escutando a voz de Anna reclamando atrás de mim.
— O frio não me incomoda. Não mais.
— Engraçadinho.
— Tem um lado bom de ser um garoto gelado — sorri para ela quando já estava com roupa trocada e ria com aquelas luvas roxas que ela amava. — Desde pequena adorava ficar com duas tranças no cabelo.
— Você me conhece, é meu estilo — ela fez uma pose engraçada. — Você está todo mudado com essa aparência, até agora não parece que é você Jack.
Parei para pensar o quanto ela tem razão. Não apenas na aparência, mas sim em relação ao sentimentos.
Sempre fui firme com minhas decisões. Porém, parece que o poder não me transformou em um garoto forte mas sim num menino frágil e indeciso.
— Não parece que sou eu, Anna. Estou diferente em todos os sentidos — respirei fundo para continuar a falar. — Eu não consegui salvar ninguém naquele incidente, e os homens que trabalham para Drago me mataram afogado naquele maldito lago. Mas eu apareci, um pequeno garoto surgindo naquele lago congelado sem entender nada.
— Eu sinto muito — Anna disse cabisbaixa. — Mas o passado não é algo fácil de lidar.
— Eu entendo bem, sei que para você deve ser difícil também. Na verdade, para todo mundo.
Ela pegou a minha mão e me encarou séria.
— Você não pode ter medo, nesse momento todo mundo está ferrado psicologicamente. O pior é perceber que toda vida está sendo congelada no redor. Mas apenas a gente vai conseguir salvar tudo — ela beijou a minha bochecha. — Você sempre foi o meu melhor amigo, Jack. Quando eu, você e Elsa éramos crianças foi a melhor parte da minha vida. Brincávamos sem parar nas calçadas de Arendelle e sempre conseguimos se machucar. Era tão legal observar vocês dois brincando, são da mesma idade e eu fazia de tudo para não deixar vocês sozinhos.
Eu ria só de lembrar do passado de nós três juntos. Cada dia era uma brincadeira divertida diferente, uma aventura atrás da outra mais interessante. Até que um dia eu beijei a bochecha de Elsa e foi nesse momento que ela percebeu o quanto gostava dela.
— Elsa adorava brincar com a gente com o poder — comentei. — Me sentia especial por ser único do reino a saber que ela tem poderes de gelo. Ficava calado quando alguém perguntava onde saía tanto gelo e frio.
Ela riu junto comigo lembrando de todos os momentos constrangedores.
— Mas pensar agora, que eu tenho os poderes iguais aos dela. Consigo sentir a mudança em todos os sentidos possíveis — comecei a chorar na frente de Anna e a mesma apertou ainda mais a minha mão. — Quando eu era apenas um garoto normal, sentia qualquer coisa. Quando machucava meu joelho, sentia raiva, dor, tristeza e qualquer sentimento. Mas agora eu não sinto praticamente nada, e eu não quero que isso aconteça pois isso me torna um vilão. Não quero perder o sentimento que sinto por Elsa.
— Você não vai, Jack. Algumas coisas jamais vão embora quando se persiste. Confia em mim, quando você a ver vai sentir muito mais do que sentia antes. A saudade sempre é maior quando os dias passam.
— Eu espero, pequena Anna — ela sorriu envergonhada. — Espero que meu sentimento por ela jamais vai embora.
O barulho do gelo congelando a floresta trouxe medo para Anna. Eu a abracei em seguida percebendo suas lágrimas e seu corpo todo tremendo.
Aquilo não iria acabar até Elsa resolver aquilo, pois ela que tem o controle da maldição. Mas agora sem a rainha do gelo com o próprio poder, não é apenas Arendelle que irá ficar embaixo da neve.
— É, Jack. Sorte sua que não está sentindo medo agora.
~*~*~*
Merida
Eu sentia. Sentia todos os galhos em meu rosto enquanto meus pés eram cortados na grama daquela floresta escura. Meus dedos estavam com pequenos cortes e o meu pequeno vestido verde estava rasgado, e à medida que mais aproximava da escuridão eu escutava o inimigo chegando.
Não podia olhar para trás, não conseguia olhar para os lados com a certeza de que o monstro estava chegando para me pegar como ele fez com a minha família.
Parei de correr no exato momento em que os passos corridos do adversário sumiu. Estava atenta, observei todos os lados daquela floresta fria e medonha. Minha respiração era a única coisa que estava emitindo som, uma criança como eu podia muito bem continuar a correr e gritar sem parar até o inimigo pegar a presa, vulgo eu. Porém, permaneci no mesmo lugar imóvel e esperando qualquer acontecimento estranho naquela floresta.
O barulho do urso gritou non meus ouvidos, fazendo o meu cabelo balançar para frente. Virei o meu corpo lentamente para trás observando aquele enorme animal em pé com sua cicatriz em seu rosto, trazendo aparência de um bicho selvagem. Ele era enorme, e olhando para cima tentando manter firme na frente do inimigo, sua pata com unhas afiadas foi direto no meu ombro direito trazendo gemido de dor. Ele rasgou meu pequeno vestido no ombro e o sangue me deixou mais apavorada.
Gritei por conta disso e ele tentou me atacar mas eu consegui correr apertando o a ferida naquele local. Não conseguia parar de chorar, se a minha mãe estivesse aqui com certeza iria dar um jeito nesses cortes enormes que o animal fez no meu ombro.
Não sabia qual rumo eu ia pegar naquela floresta, mas desci nas enormes pedras onde existia um enorme rio. Sem pensar pulei naquele lugar cortando os meus joelhos e rasgando ainda mais o meu vestido favorito.
— Deixe-me em paz, seu urso ridículo — peguei uma pedra média e joguei no animal furioso. Ele andava tranquilamente naquelas pedras, seu olhar frio e assassino deixava claro que não teria pena de devorar uma pequena garotinha de seis anos. — Eu quero os meus pais de volta.
Não parava de chorar até tropeçar numa pedra e cair com tudo no chão. Estava perto do rio, podia entrar e tentar salvar a minha vida mas eu não sei nadar e não quero morrer afogada.
No momento que virei meu corpo para levantar, percebi o monstro que estava me prendendo. Sua baba caiu em meu rosto trazendo uma sensação de nojo em mim. O rosto do urso me deixava arrepiada e trêmula, estava pronta para ser devorada quando ele abriu a boca enorme exibindo seus dentes, fechei os meus olhos pronta para seguir o meu destino: morrer.
— Não — gritei. Ficando sentada nas cobertas.
Soluço apareceu em seguida desesperado percebendo a minha aflição.
— Merida? O que houve? — ele me abraçou em seguida, trazendo segurança e conforto para mim.
— Mais um sonho estúpido quando eu era criança — apertava seu ombro e sentia o seu corpo quente junto ao meu. — Parece que isso voltou para me assombrar.
— Passado sempre é algo que incomoda.
Afastei olhando naqueles olhos angelicais que apenas Soluço tem, sorri como se eu concordasse com ele.
Ele ergueu meu queixo com seus dedos e sua ação me deixou corada. Ele sorriu de lado me deixando ainda mais derretida.
— Não se preocupe com isso, está bem? Você sabe que estou aqui para a proteger — suas palavras foram firme, mas por que sinto que no fundo está mentindo? — Não vou deixar acontecer nada com você, ruiva.
— É mais fácil eu proteger, tu és fraco demais — eu comecei a rir e ele apertou minhas bochechas me deixando irritada.
— Você sempre mostrou dureza para mim, mas derrete quando o meu toque chega em você.
Minhas bochechas começaram a queimar de tão envergonhada que eu estava. De fato, eu ficava derretida quando ele me toca ou me surpreende.
— Você sabe mesmo conversar com uma garota, Soluço.
— Aprendi com uma menina durona.
Nós dois começamos a rir sem parar. Já era madrugada, todos estavam dormindo em suas barracas. Mas eu não me sentia cansada com ele aqui comigo.
— Não quero que continue irritado com a Anna — seu olhar ficou diferente, uma pessoa fria e zangado. — Ela está assustada assim como você, precisamos estar juntos nesse momento.
— Merida, ela tem toda a razão. Eu não sou nada sem o Banguela.
— Não — disse rápido com tom de voz elevado. — Você é muito mais do que um treinador de dragões, Soluço. Além disso ela falou aquilo por defesa, você a chamou de princesa mimada.
Ele cruzou os braços irritado. Afastou-se um pouco de mim e observou a barraca.
— Não deixa de ser verdade.
Eu dei um soco forte em seu ombro e Soluço reclamou na hora.
— Você vai pedir desculpa para ela.
— Está bem, princesa Merida — ele disse com tom de deboche. Seu sorrisinho entregou o jogo, eu estava quase caindo nos braços pronta para sentir seu corpo quente colado ao meu. — Estou vendo esse rostinho.
— Ótimo, aprecie a beleza.
Ele riu e me abraçou forte o suficiente para esmagar. Pensava que ele era um fardo, uma pessoa ruim para a minha vida mas estou percebendo que é ao contrário disso tudo. Algo está surgindo dentro de mim e tenho certeza que é paixão, então por que não deixar entrar e dominar o meu corpo todo? Eu o quero para mim, quero ele como um príncipe ao meu lado mesmo que nossos reinos foram destruídos. Mesmo que um dos dois não saia dessa guerra com vida, quero deixar a marca de nós dois juntos.
Ele conseguiu transformar meu coração de pedra numa verdadeira manteiga derretida. E como reclamar disso? Se comecei a gostar da sua presença, de sua risada estranha, do seu modo de falar e de como conversa comigo. Eu deixo ele me proteger, eu deixo ele me tocar, gosto de sentir seu toque em meu cabelo e depois escutar seu sussurro dizendo que sou apenas dele, traz o arrepio e o desejo.
— Nunca pensei que você seria assim comigo.
O encarei com dúvida, ele realmente sentia medo e angústia por não conversar comigo e também do modo como eu o tratava.
— Desculpa por ter sido rude. É o meu jeitinho — coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Reparei que ele não parava de me encarar e isso me deixou mais envergonhada. Não gostava quando alguém fazia isso comigo, me sentia ruim.
— Você não tem ideia de como sou feliz por ver uma garota linda na minha frente e pensar que ela pode ser minha. A felicidade aumenta sem parar — soltei uma risada breve quando escutei aquilo.
— Eu ainda não sou sua? — sorri.
— Só estou esperando a garota durona se entregar por inteiro.
Fiquei sem palavras com aquilo. Era algo novo que iria me arriscar, eu podia gostar mas ao mesmo tempo tinha um medo de sentir essa sensação nova.
Ele levantou-se me deixando aflita por pedir para ele ficar mais um pouco comigo. Soluço sorriu para mim e quando estava saindo da barraca para voltar na sua, eu abri a boca finalmente.
— Soluço — o chamei e logo ele virou o rosto me encarando. — Pode ficar aqui comigo? Eu tenho medo do pesadelo.
Ele sorriu como vitorioso, sem dúvidas estava esperando pedir esse favor a ele.
Arrumei a pequena cama improvisada já que não tínhamos muitas coisas no acampamento. Ele deitou junto comigo e minha cabeça ficou no seu peitoral trazendo aquela sensação que eu amava.
— Meu sonho está se realizando — sua mão não parava de acariciar meu cabelo. — Não acredito que estou deitado com a pessoa que sou mais apaixonado.
— Mentiroso.
— É verdade, Merida. Quando éramos crianças, quando você apareceu na minha frente pela primeira vez meus olhos brilharam e meu coração acelerou. Eu nunca tinha sentindo antes, e quando contei para meu pai foi a primeira vez que escutei a palavra “apaixonado”.
— E isso é ruim? — perguntei.
— Não. Escutei e senti pela primeira vez a melhor sensação com a pessoa que estou abraçado agora.
Meu olhos brilharam e meu coração acelerou, exatamente como ele dissera. E eu não acreditava que também estava me apaixonando pela pessoa que estou abraçada no meio desse caos. Era o meu refúgio e eu não quero sair daquela barraca para encarar o terror acontecendo conosco.
Sem pensar duas vezes fiquei no colo dele com minhas pernas abertas e sentindo sua respiração ofegante. Aquilo era algo novo, eu era uma princesa inocente nesse assunto e eu não sei se ele também era um santo.
Encaramos por um bom tempo e eu sei que ele ficou surpreso com a minha atitude. Segurei seu rosto assustado e sentia suas bochechas quentes assim como as minhas. Encostei nossas testas como um aviso que podia confiar em mim assim como eu confiava nele.
— Você está quente — ele comenta.
— Seria estranho eu falar que estou assim por causa de você?
Ele mostrou aquele bendito sorriso.
— Não — sussurrou.
Finalmente tomei alguma atitude para beijá-lo. Já tinha feito isso antes mas agora era mais delicado e cheio de amor guardado. Conseguia acompanhar seu ritmo e adorava cada movimento que ele fazia com aquela língua junto com a minha.
Nós dois já estávamos suando e suas mãos desciam delicadamente por todo o meu corpo. Continuava segurar seu rosto e amava aquela posição, podia ficar assim para sempre.
Paramos para pegar fôlego e sorrimos assim que nossos olhos se encontraram. Era espetacular fazer isso com ele e sentir que era recíproco.
— Não podemos acordar todo mundo — ele fala admirando meu rosto corado. Agora ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Prometo que nessa primeira vez vou ficar quieta.
— Não precisa ter medo, está bem?
Concordo balançando a cabeça.
— Você não vai me machucar — comento e ele beija a minha testa.
Isso realmente vai acontecer e meu corpo está preparado. Pode ser errado perder a minha virgindade antes do casamento pois o meu reino dizia que era pecado e a mulher seria considerada uma suja. Mas ninguém estava ali para apontar o dedo e dizer o quão pecadora vou estar de manhã quando eu acordar nua ao lado dele.
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