[...]
Pov’s Ross
Estava de volta a Dease Lake, de volta a floresta - o lugar onde teria enterrado Laura se estivesse mesmo morta. De qualquer maneira, eu deveria estar feliz por ela estar viva e em segurança agora.
Por que então não ficar contente por ela estar bem, por que não desistir logo da ideia de que as coisas poderiam ter sido diferentes e seguir minha própria vida? Prometi a mim mesmo que me esforçaria um pouco mais para lidar bem com isso. Mas eu não conseguia, algo dentro de mim acabou se perdendo e eu já não sabia mais o que fazer.
Desde que havia partido - há uma semana atrás - pensara em voltar ao Alaska, estar junto da minha família talvez fizesse a dor ser um pouco mais suportável. Era isso que eu iria fazer. Mas eu voltaria para eles como se nada tivesse acontecido ou daria-me por vencido, aceitando o fato de que eles estavam certos desde o início?
Levantei-me do chão rapidamente, precisava caçar alguma coisa antes de partir ao Alaska; pois estava fraco.
A noite estava chegando, eu procurava a escuridão na parte mais densa da floresta, tentando ser o mais silencioso possível para ouvir e não espantar minha presa. Logo avistei um esquilo aproximar-se da maior árvore da floresta, a qual continha um enorme buraco para que o mesmo pudesse abrigar-se, guardar suas nozes e esconder-se dos predadores que o matariam.
Não era exatamente a alimentação que eu precisava, - precisava de algo maior - mas era o que me estava a disposição agora. Aproximei-me devagar tentando ser o mais discreto possível, mas acredito que o esquilo tenha sentido o meu cheiro ou algo do tipo, pois correu rapidamente para o alto da árvore onde se encontrava o buraco e adentrou o mesmo. Qualquer outro animal talvez fosse incapaz de escalar a árvore para atacá-lo, mas hoje ele estava com falta de sorte.
Depois de ter escalado a árvore e pego o pequeno esquilo de dentro do buraco da mesma, me alimentei de seu sangue e logo percebi que não era o suficiente, mas já me sentia um pouco mais forte e conseguiria chegar ao Alaska a tempo para caçar algo maior.
No caminho fiquei pensando no que diria a minha família do porquê havia voltado, e o que diria a Rydel sobre a Laura - pois ela sabia que a mesma estava viajando para o Alaska comigo.
Era cedo quando finalmente cheguei ao Alaska, provavelmente 5 horas da manhã. Nossa antiga casa estava lá, exatamente igual eu me lembrava, talvez não fosse tão ruim estar de volta. Aproximei-me rapidamente da porta de entrada da casa, girando a maçaneta em seguida, então a porta então fora aberta. Não havia necessidade de nos escondermos aqui, pois era um lugar seguro. Estando aqui nós todos estávamos livres para ser quem devíamos ser e fazer o que estávamos destinados a fazer; caçar, mas com uma “dieta balanceada”.
Rydel: Ross? Onde está a humana? - perguntou aproximando-se de mim assim que adentrei a casa.
Ross: Laura está em Seattle, está em segurança agora. Está onde deveria estar.. e eu também! - disse sério fechando a porta.
Rydel: O que aconteceu? - perguntou desconfiada. - Você não iria deixá-la assim tão fácil!
Ross: Não aconteceu nada, tá legal? - disse aborrecido. Era nítido que Rydel passaria o resto da vida me fazendo lembrar que estava certa o tempo inteiro se soubesse o que realmente havia acontecido com Laura. - Eu só acho que ela está mais segura longe de mim, longe do que somos.
Rydel: Tá bem.. você não está me contando a história toda, mas eu vou descobrir! - exclamou decidida. Ela é uma completa e incrível metida. Mas como ela poderia descobrir o que eu fiz quando eu mesmo havia encoberto todos os meus rastros?
Ross: Onde estão os outros? - perguntei indo até o sofá da sala de estar. Logo sentei-me no mesmo.
Rydel: Estão treinando com Rocky na parte mais densa da floresta. Disse a eles que Ellington e eu ficaríamos para tomar conta da casa.. mas na verdade iríamos esperar você. Eu sabia que estava chegando, mas não vi a humana com você. - disse sentando-se ao meu lado.
Ross: Treinando? E desde quando Rocky é o treinador de vampiros? - perguntei e ri.
Rydel: Desde quando ele me ajudou a bloquear meus pensamentos de você. Nosso pai está o ajudando a treinar os outros.. podemos fazer muito mais coisas do que você pensa! - disse séria. Logo Ellington desceu as escadas usando apenas um calção de dormir.
Ellington: Ross, cara, é bom te ver! - disse ele aproximando-se.
Ross: Vocês estavam mesmo me esperando ou queriam a casa só para vocês? - perguntei encarando Rydel.
Ellington: As duas coisas, talvez. - ele riu sentando-se ao lado de Rydel. Em seguida depositou-lhe um beijo no pescoço.
Rydel: Bem, agora que está aqui.. acho que seria conveniente irmos encontrar os outros. - disse levantando-se. - Eles vão querer ver você!
Ross: Claro, vamos. Por que não? Aliás, eu preciso mesmo caçar alguma coisa maior que um esquilo. - disse encarando a mesma. De pronto levantei-me do sofá.
Ellington: Ótimo, podem ir na frente. Vou vestir algo melhor e já encontro vocês. - forçou um sorriso.
Rydel: Tá bem, não demore! - exclamou séria e logo depois deu-lhe um selinho.
Ellington: Não vou demorar Sra.Ratliff. - piscou para ela e então subiu novamente as escadas.
Ross: Ugh, estou ficando enjoado. Isso é ainda pior do que os seriados de tv que você assiste. - disse fazendo cara de nojo.
Rydel: Achei que soubesse como era se sentir assim. Afinal, você ama a humana de Seattle. Não ama? - perguntou séria.
Ross: Talvez eu não queira mais me sentir assim. Me deixa fraco. Agora por favor, pare de falar da Laura e vamos logo encontrar os outros! - exclamei sério indo rapidamente até a porta.
Rydel: Como quiser.. - veio logo atrás de mim, então partimos a parte mais densa e escura da floresta.
[...]
Floresta de Juneau, Alaska. 6:55 am.
(Alguns quilômetros longe da casa)
Rydel: Mãe, Pai, olhem só quem está de volta! - disse assim que nos aproximamos deles. Eles voltaram sua atenção a nós.
Stormie: Ross? Quando voltou? - perguntou ela vindo em minha direção. - Achei que tivesse te perdido para sempre. Seu idiota! - exclamou séria dando-me um tapa na cabeça. Tudo bem, talvez eu tenha merecido, não tenho sido um exemplo de filho.
Ross: Au! Vai com calma aí dona Stormie! - resmunguei. - Eu cheguei faz mais ou menos uma hora. Não se preocupe, seu filho preferido está de volta.
Rocky: Ah coitado, olha como ele se acha! - disse aparecendo
Ross: Rocky! É realmente um grande prazer revê-lo! - disse indo até o mesmo.
Rocky: Digo o mesmo seu mané! - exclamou rindo em seguida. Nos abraçamos. - Então, já se cansou da humana? - perguntou assim que nos soltamos.
Ross: Mais ou menos isso. Não tem mais importância! - dei de ombros.
Mark: Então.. você pretende ficar novamente conosco? - perguntou meu pai se pronunciando pela primeira vez desde que eu havia chegado.
Ross: Sim, se vocês estiverem prontos para me receber.
Stormie: Por que não iríamos estar? - perguntou me encarando seria. - Apesar de tudo você ainda é nosso filho. Espero que você não vá mais embora!
Ross: Para onde mais eu poderia ir?
Rydel: Bem vindo de volta ao lar, seu grande imbecil! - exclamou sorridente e logo me abraçou.
Rydel não fazia o tipo de irmã amorosa, muito menos comigo; que sempre fui o motivo de seus surtos por sempre quebrar as regras. Eu deveria estar feliz, afinal de contas ainda tinha minha família; a quem eu sempre poderia recorrer quando algo desse errado, talvez devesse contar a eles como eu realmente me sinto agora já que Laura me mandou embora. Mas eu não queria parecer fraco perante eles, não era essa a visão que eu queria que eles tivessem de mim. Eu iria ser forte, eu teria bastante tempo para aprender a viver sem a Laura, e quando um dia ela partir desse mundo e só restar sua lápide no cemitério de Seattle, talvez seja mais fácil. A dor não iria durar para sempre.
Eu deveria começar a pensar que ela teria uma vida feliz, se casaria com um cara legal, teriam filhos e quando enfim chegasse a hora de sua morte ela seria grata pela vida que teve. Era assim que deveria ser, as coisas estavam em seu perfeito equilíbrio. Ainda abraçado a Rydel pude ouvir passos sobre a neve à alguns quilômetros; meus outros dois irmãos - Ryland e Riker - e Raini estavam se aproximando. Havia alguém com eles mas não consegui identificar quem era, nem conseguia ouvir seus pensamentos.
Ryland pensava sobre Rydel ter ficado sozinha com Ellington na casa e achava meio suspeito. Riker pensava qual tequila ele iria beber depois que voltasse para casa. Raini pensava quando me veria outra vez, mal ela sabe que seria daqui exatos 15 segundos. E a quarta mente, nada.
Xxxx: Olha só quem voltou! - disse com tom de surpresa. Não pude acreditar quando ouvir aquela voz, então rapidamente soltei Rydel e virei-me em direção a ela, Sofia.
Raini: Ross!! - exclamou ela completamente surpresa.
Ryland: iiiiih...
Ross: Alguém pode me explicar o que ela ainda faz aqui? - perguntei encarando a mesma.
Raini: É uma longa história. - comentou ela.
Riker: Raini, deixa que eles se entendam por si próprios. - advertiu ele.
Sofia: Ah vamos deixar o passado para trás, Rossy. Afinal você errou muito e mesmo assim eles continuam amando você. - falou com a voz manhosa.
Ross: Só tem dois pequenos detalhes que você deixou escapar, eu não sou você e sou da família. Agora me diz, quem é você na fila do pão? - perguntei com desdém.
Sofia: Relaxa, não precisa ser agressivo. Estamos todos do mesmo lado agora. Mas estava pensando em uma coisa agora, onde está seu bichinho de estimação? Ela não viria ao Alaska com você? - perguntou curiosa. Como ela sabe sobre isso? Rydel arregalou os olhos, bem, não foi ela quem contou, então..
Ross: Laura não é.. - fiz uma breve pausa. Estava me segurando para não pular em cima da loira e a estrangular agora mesmo. - ..um bichinho de estimação! - exclamei entredentes. - E quem lhe disse que ela viria comigo? - perguntei interessado. Agora eu descobriria quem era o fofoqueiro.
Sofia: Rydel contou ao Rocky que me contou.. seu irmão e eu estamos ficando, ele não te contou? - perguntou sorrindo. Rocky ficou meio sem jeito e então se retirou do local rapidamente.
Ross: Eu cheguei aqui faz menos de 15 minutos, felizmente não deu tempo. E por favor, me poupe dos detalhes! Ugh! - disse com repulsa.
Riker: Bem, está tudo resolvido então. Ross, bom te ver! - exclamou sério.
Ryland: Senti sua falta, irmão. - disse ele sorridente como sempre.
Raini: Eu também senti. Que bom que decidiu voltar, Ross! - ela sorriu abertamente.
Stormie: Querida, onde está o Ellington? - perguntou a Rydel.
Rydel: Ficou na casa.. disse que viria daqui a pouco. - forçou um sorriso. Rydel não havia contado a todos sobre o relacionamento deles. Ela estava se sentindo nervosa, isso a deixava vulnerável, então eu conseguia ler seus pensamentos.
Mark: Então pessoal, Rocky se mandou e eu acho que já chega de treino por hoje. - disse sério. - Vamos voltar a casa.
Ellington: Ah, mas eu acabei de chegar! - exclamou sério aproximando-se de nós.
Mark: Está atrasado. - ele riu. - Treinamos mais amanhã. Agora vamos! Todos!
Ross: Podem ir na frente. Não caço nada desde ontem a noite em Dease Lake, preciso me alimentar. - disse encarando meus pais enquanto apenas uma pessoa estava realmente interessada no que eu dizia.
Stormie: Tudo bem. Você sabe o caminho de volta, e não demore muito. Vamos pessoal. - dito isso todos eles saíram ficando apenas Sofia para trás.
Ross: O que ainda está fazendo aqui? Por acaso você está esperando um convite para se retirar? - perguntei sério encarando a loira.
Sofia: Não. E eu estava pensando em ir com você, minha última refeição foi.. humm.. um coelhinho branco. - ela riu.
Ross: Ah, que bom pra você! O meu foi um esquilo, e ele não estava tão apetitoso quanto eu achei que estaria. - disse enojado ao me lembrar do gosto do sangue do animal.
Sofia: Ah, então o que você quer é um urso ou um leão da montanha? - perguntou curiosa.
Ross: Talvez um urso resolva meu problema. Agora me diz, por que é que eu ainda estou aqui parado conversando com você? - perguntei irritado.
Sofia: Porque eu estou persuadindo você. Foi Rocky quem me ensinou a fazer isso, é super legal! - exclamou animada.
Ross: Pare já com isso! - exclamei entredentes.
Sofia: Tudo bem, pode ir lá achar o seu urso. Espero que ele sacie a sua sede, loirinho! - piscou para mim e logo sumiu de minhas vistas.
Ross: Sua.. ridícula! - resmunguei.
[...]
Seattle, Washington.
10:35 am.
Pov’s Laura
Laura: Eu nem acredito que gabaritei a prova de biologia! - exclamei animada. Estamos agora em intervalo das aulas.
Calum: É tão bom te ver assim. - ele sorriu. - Você parece.. feliz. - comentou ele.
Laura: Eu estou. Estou muito feliz. Calum, você se lembra quando falamos sobre o que gostaríamos de ser no futuro? - perguntei e ele assentiu balançando a cabeça positivamente. - E que eu não sabia o que eu queria ser? - perguntei encarando o mesmo enquanto andávamos pelo corredor da escola.
Calum: Sim, mas, onde quer chegar com isso? - perguntou confuso.
Laura: Tomei uma decisão importante para o meu futuro.
Calum: Ah, é mesmo? - perguntou curioso. - E qual foi sua grande decisão? - perguntou interessado.
Laura: Assim que terminar o ensino médio pretendo fazer faculdade de medicina. Acho que vou me dar bem trabalhando em hospitais, considerando que metade da minha vida passei dentro de um. - ri. - Eu gostaria de ajudar as pessoas e se possível salvar vidas. - sorri.
Calum: Uau! Isso é.. incrível Laura! - exclamou animado. - Eu espero que você consiga alcançar seus objetivos. Você será uma ótima enfermeira barra médica. - riu.
Laura: Vou demorar um pouco para chegar lá. Mas quem sabe eu consiga um estágio em algum hospital enquanto curso medicina.
Calum: Você vai conseguir sim. - sorriu.
Ygor: Calum!! - gritou aproximando-se de nós. - Calum, espera! - gritou novamente e então paramos para esperá-lo. Por mais que Calum não quisesse falar com ele agora, pelo tom de sua voz parecia ser importante. - Calum! Aconteceu uma coisa! - exclamou nervoso.
Calum: Diga logo o que aconteceu! - exclamou sério.
Ygor: Eu.. estava indo até a cantina para lanchar e.. a mesma estava escura e as portas estavam fechadas, encostadas na verdade. Eu.. eu entrei para ver se havia algo guardado na geladeira que eu pudesse comer e ninguém fosse dar falta.. - dizia ele ofegando. Calum o interrompeu.
Calum: Cara, quer ir direto ao ponto?! - perguntou entredentes.
Ygor: Eu achei um corpo! - disse em um tom mais baixo.
Laura: O que? - perguntei preocupada. - Como assim um corpo?
Ygor: Um corpo. Um corpo. Um cadáver. - ele dizia encarando suas mãos trêmulas.
Calum: O que foi que você fez? - perguntou sério e ao mesmo tempo indignado. Como se o garoto a sua frente tivesse acabado de matar alguém.
Ygor: Eu não fiz nada. Eu juro, eu não fiz nada! - ele disse com a voz embargada.
Laura: Calum, calma. Ygor, pode nos explicar direito o que aconteceu? - perguntei encarando o garoto.
Ygor: Eu já disse. Eu fui até a cantina, ela estava escura, as portas estavam encostadas. Abri as portas, entrei no local e então eu encontrei o... corpo. - disse baixinho. - Era um garoto, acredito que seja aluno do 1º ano. Tem sangue pelo chão da cantina, eu saí correndo no instante que o vi. Não fui eu quem o atacou! - exclamou sério.
Calum: Então, quem? - perguntou confuso.
Ygor: Me perguntei exatamente a mesma coisa. E me fez pensar que quem ou o que o atacou, pode ter sido a mesma coisa que nos atacou na noite de lua cheia! - exclamou sério.
Laura: Do que vocês estão falando, lua cheia? Isso é algum tipo de brincadeira? - perguntei completamente confusa.
Calum: Laura, é.. complicado. Te explico depois, eu prometo. Agora estamos sem tempo!
Laura: Tudo bem. Ér.. Ygor, você avisou alguém responsável sobre o corpo na cantina? - perguntei encarando o mesmo.
Ygor: Na-não. Eu precisava falar com Calum.. antes que a escola se alarmasse.
Laura: Certo. Vamos até a secretaria, o diretor precisa saber o que está acontecendo e chamar a polícia. O responsável ainda deve estar rondando pelos corredores da escola!
Calum: Então vamos logo. Não podemos perder tempo!
[...]
Pov’s Ross
Eu esperava realmente que o sangue do urso me ajudasse a saciar minha sede. A última vez que me senti enjoado com o sangue animal foi quando havia me revelado e provado o sangue humano pela primeira vez desde que havia me tornado um vampiro. 10 anos se passaram antes que eu decidisse voltar a viver com meus pais e meus irmãos, eu não posso mais voltar a ser o que eu era antes, não posso dar-me por vencido, não posso deixar o sangue me controlar.
Eu não queria mais ser o vampiro que sentia demais, que estava apaixonado por uma humana mas também não queria voltar a ser o monstro que eu era. As decisões que tomei, as coisas que eu fiz, não me orgulho de nada disso.
Já havia prendido e aniquilado minha presa, só me restava agora beber todo seu sangue até não restar uma gota em seu corpo grande e peludo. Por fim cravei meus dentes em seu pescoço ja quebrado, mas no momento em que seu sangue tocou meus lábios senti nojo novamente. O sangue do esquilo não era o problema; eu era o problema.
Ross: Mas que.. droga! - murmurei irritado assim que havia cuspido fora o sangue do urso que tinha em minha boca. A neve em volta do urso que antes era branca agora era vermelha - Não! Isso não está acontecendo! - exclamei entredentes ajoelhado em frente ao urso.
Sofia: Interessante.. - disse a loira saindo das sombras.
Ross: Argh, você não cansa de me perturbar Sofia? - perguntei indignado.
Sofia: Fica calmo loirinho. No momento só estou querendo saber o que está acontecendo com você para te ajudar.
Ross: Eu não preciso da sua ajuda! Sai daqui! - vociferei levantando-me do chão e a agarrei pelo pescoço, sustentando-a no ar. - Vai embora logo, antes que eu te mate aqui e agora! - exclamei furioso e por fim a joguei no chão. Ela riu.
Sofia: Eu não vou embora! - exclamou levantando-se do chão. - E você não vai me matar pois sou a única aqui que entende você. - aproximou-se de mim devagar. - Nem Tyler aguentou ficar aqui por muito tempo, obedecendo as regras e fazendo a dieta da sua família.
Ross: Aonde quer chegar com isso? - perguntei encarando a mesma.
Sofia: Acontece que você foi um tolo de ter voltado pra cá. Ter que viver a base de regras é um tanto... entediante. Todos os dias fazemos a mesma coisa e eu sinto o gosto do pelo dos animais quando me alimento de seus sangues. É nojento! - disse enojada.
Ross: Pare de falar sobre isso!! - disse com repugnância.
Sofia: Eu sei como se sente. Acho que já encontrei o problema, você está com intoxicação a sangue de animais. Se é que isso existe. - ela riu. - E você está bem forte também, andou furando sua dieta Ross? - perguntou me analisando. - Fique calmo, não estou aqui para julgar você.
Ross: Cala essa boca. Você não sabe de nada! - exclamei entredentes.
Sofia: Tudo bem, continue sendo arrogante comigo. Acredito que vai querer pedir a ajuda da Rydel com isso. - disse apontando para o urso. - Ah, não, ela não entenderia e faria você beber o sangue dos animais de qualquer forma. Pois se não o fizer irá dissecar e morrer antes que possa ver novamente a face da sua amada Laura. - disse séria.
Ross: PARA JÁ COM ISSO! PARA DE FALAR DA LAURA! - gritei avançando em direção a mesma. Ela dava largos passos para trás.
Sofia: O que foi? Não suporta nem ouvir o nome dela? O que foi que aconteceu, me conta! - exclamou séria encarando-me diretamente nos olhos.
Ross: Ela me mandou embora. Tá legal? - disse ainda alterado. - Satisfeita? Era isso que queria ouvir? - perguntei derrotado e logo caí de joelhos na neve. Sofia aproximou-se e ajoelhou-se a minha frente.
Sofia: Não era exatamente o que eu esperava ouvir mas.. já é parte da história. Há algo mais que queira me contar? - perguntou curiosa. Virei o rosto.
Ross: Não! - disse apenas. - O que sugere que façamos a respeito da minha alimentação? - perguntei encarando o urso morto logo ao lado.
Sofia: Pensei que talvez você pudesse se rebelar mais uma vez, e então fugimos pra longe daqui. - comentou ela. Acabei rindo da ideia.
Ross: O que a faz pensar que eu fugiria com você? - perguntei agora encarando a loira.
Sofia: Você não tem muita escolha. Foge comigo ou fica aqui esperando a morte bater na sua porta!
Ross: Não posso abandonar meus pais e meus irmãos de novo, não posso voltar a ser o monstro que eu era. Você não entende, não dá!
Sofia: Você está com medo! Tem medo de que a humana se arrependa de ter te mandado embora e já não tenha sobrado mais nada humano em você. - disse me encarando. Ela não estava absolutamente errada. - Podemos ir a Londres, podemos nos divertir e viver a vida sem regras. Podemos fazer o que quisermos. Não acha a ideia tentadora? - perguntou sorrindo maliciosamente.
Ross: Está sugerindo que abandonemos de vez a dieta, para nos alimentar do sangue de humanos? - perguntei preocupado. - Isso está errado! Sabe quantos humanos se tornariam vampiros em um dia? Está maluca! - exclamei sério. - Eu me pergunto o quanto de vampiros você deixou para trás em todos esses anos passados.
Sofia: Ah, não sobrava nenhum para contar história. Depois de me alimentar eu simplesmente arrancava suas cabeças e enterrava os corpos na floresta. Sem novos vampiros, sem rastros! - exclamou orgulhosa.
Ross: Jack Estripador? - perguntei confuso.
Sofia: Não, eu não sou nenhum Jack Estripador. Eu tinha que fazer isso, era uma garantia de que não iria ter um bando de vampiros atrás de mim por vingança. - ela riu.
Ross: Como você consegue se orgulhar disso? - perguntei curioso.
Sofia: Digamos que eu não me importava na época, e ainda não me importo. Sou o que sou e ninguém pode mudar isso! - exclamou séria. - Vivi sozinha por 50 anos depois que seu irmão me matou, tive que aprender a me virar com as próprias mãos. E sabe o que mais me incomodou no início? - perguntou olhando no fundo dos meus olhos. No fundo de seus olhos azuis eu via a mágoa dela.
Ross: Eu vou querer saber? - perguntei preocupado.
Sofia: Vai sim. Há 50 anos atrás..
>>> Flashback On <<<
Meus pais eram pessoas de bem, chamavam-se Sebastian Sanders e Elizabeth Watson. Nós éramos uma família feliz, eu era filha única mas minha mãe estava planejando ter outro filho mais a frente. Acredito que com a minha morte ela tenha desistido da ideia de ter outro bebê, considerando que todos da cidade ficaram alarmados, preocupados e com medo de quem ou o que havia me matado.
Quando finalmente havia conseguido sair daquele caixão debaixo da terra me sentia fraca e faminta. Eu não sabia muito bem do que eu precisava para que aquela fome insuportável passasse; estava me dominando.
Eu não sabia em que dia do ano estávamos, não sabia que horas eram, mas não pensei em ninguém mais para recorrer se não meus amados pais. Eu sabia desde o início que seria um choque e tanto para eles quando me vissem novamente, mas achei que eles pudessem me compreender e tentar me ajudar.
Ao chegar à porta de entrada de minha casa pude ouvir nitidamente meus pais conversando à cozinha. Eles falavam sobre finalmente ter outro filho, pois já havia se passado três meses e eles não poderiam ficar sofrendo e se lamentando para o resto da vida. Então por um momento eu senti uma imensa raiva e inveja da criança que ainda nem havia nascido. Por ela ter a chance de viver e ser amada enquanto eu havia ressurgido dos mortos e não podia aparecer para ninguém na cidade. Toquei a campainha rapidamente antes que desistisse e partisse dali. Ouvi alguns passos dentro da casa, era minha mãe; logo a mesma abriu a porta.
Elizabeth: Ah meu... ahhhh! - ela gritou freneticamente. Logo meu pai veio ao encontro dela e seu olhar me encontrou.
Sebastian: Sofia? - perguntou apavorado.
Elizabeth: Não pode ser. Ela está morta! Sebastian, ela é uma assombração. Temos que nos mudar, não podemos ter outra criança enquanto vivermos aqui.
Sofia: Mãe, pai.. sou eu. Eu estou aqui! - forcei um sorriso.
Eles ainda me encaravam frenéticos. No mesmo instante aquela fome voltou e dessa vez com mais intensidade. Eu ouvia o bater descompassado de seus corações e o pulsar de suas veias espalhadas pelo seus corpos. A fome, a sede só começou a passar quando ataquei e alimentei-me do sangue de minha mãe. Enquanto meu pai ficava assistindo àquela cena horrenda, mas não demorou muito para que então fosse a sua vez. A partir daquele dia eu soube que nada mais seria igual, e que eu havia me tornado um monstro que se alimentava do sangue dos humanos.
Então, pensei:
“Por que eu deveria me importar com o resto do mundo? Por que não fazer o que eu fui criada para fazer?
Por que eu deveria sentir quando eu tinha a opção de simplesmente desligar minha humanidade e viver a vida como eu bem queria?”
Eu resolvi aproveitar um pouco da minha nova vida, foram longos e divertidos 50 anos e depois, como sabe, comecei minha busca por vocês.
>>> Flashback Off <<<
Ross: Então, você matou seus pais? - perguntei encarando a mesma.
Sofia: É, foi exatamente isso. Mas agora eu considero isso algo bom. - ela riu.
Ross: Como isso pode ser bom? Você matou a única família que tinha!
Sofia: Na hora eu me senti muito mal, depois que me transformei, senti como se toda a dor tivesse sido ampliada e de certa forma havia sido. Eu não queria mais sentir nada, eu não tinha mais nada a perder, então me obriguei a não sentir mais dor. Desliguei minhas emoções e deixei que o monstro sedento por sangue tomasse o seu lugar. E eu nunca me senti mais forte! - exclamou séria. - Somos mais parecidos do que pensa, Ross!
Ross: Se com esse discurso você achou que iria me convencer a fugir com você, sugiro que se esforce mais da próxima vez! - disse tentando conter o riso.
Sofia: Você é mesmo um idiota. Já vi que você gosta de se sentir fraco, inútil e vulnerável àquela humana sem graça! - disse com desgosto.
Ross: Você não tem o direito de falar assim dela! - esbravejei.
Sofia: Engraçado, ela te chutou e mesmo assim você se nega a desistir dela. Você gosta mesmo de sofrer.. eu hein!
Ross: Ela se tornou tudo pra mim em tão pouco tempo.. e enquanto ela viver eu vou lutar por ela. Se você amasse alguém além de si mesma saberia como é!
Sofia: Me poupe, eu não preciso de nada disso. De qualquer forma, estou partindo hoje ao anoitecer. Minha proposta ainda está de pé; você, eu e Londres. - disse levantando-se do chão. - Ah e quanto ao transformar os humanos, não se preocupe, seu pai nos disse que se não tivermos a intenção de transformar alguém então não transformamos. Basta ter força de vontade e prática, afinal, como acha que seu pai conseguiu retirar o veneno do sangue da humana sem ingerir mais do nosso veneno no sangue dela? - perguntou me encarando. - Pense nisso, e se precisar fale com o seu pai. Ele tem todas as respostas! - piscou para mim e novamente sumiu nas sombras da floresta.
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