Assim que os dois terminaram de tomar café, ambos levaram à pia e Kazutora se propôs a lavar a louça. Estando ao lado dele e o observando realizar esta tarefa, S/n indaga:
— Está aí algo que eu nunca esperava vir de você. — Fala ela admirada.
— Que foi? Achou que eu era um cavalo?
— Sim.
— Credo, S/n. Isto foi como um tapa!
— O que eu posso fazer? A sua antiga personalidade condizia muito com um "cavalo".
— Admito que com 15 anos, eu era um péssimo ser humano.
Ela sorriu e abaixou a cabeça, mas ainda o encarando.
— Que bom que assume. É um ótimo começo.
— Para quê?
— Para eu ver que você está mudado não só por aparência.
Kazutora deu um sorriso involuntário e colocou o copo úmido sob o escorredor de copos. Este era o último que faltava.
— E se eu estivesse como antes?
— Eu já teria o expulsado da minha casa.
Kazutora se aproximou, ficou com o corpo por cima do de S/n, apoiou as mãos no balcão em volta do corpo dela, ficando assim bem próximo, e perguntou:
— Teria coragem?
— Não, mas eu iria criar.
— Estou curioso, me diga o porquê.
O olhando no fundo dos olhos, ela o respondeu.
— O Kazutora de 15 anos me machucou muito. E eu não estou disposta a passar por tudo aquilo novamente.
— Não se preocupe. — A abraçou apertado — Não irei fazê-la sofrer como meu eu do passado fez. Prometo.
Ela o abraçou, segurando suas escápulas.
— Eu estou começando a acreditar que não.
Ela respirou fundo, e disse:
— Você precisa urgentemente tomar um banho, Kazutora. O whisky impregnou no seu corpo! — Se afastou dele com uma expressão um tanto ruim no rosto. — Por favor, vá tomar um banho.
— Ih, nem me dei conta que estou fedendo a álcool! — Ele mesmo se cheirou e fez uma expressão ruim. — Caramba, eu exagerei desta vez.
Um flashback passou na cabeça de S/n e logo ela disse:
— Kazutora, vá para casa, tome banho e volte aqui! Precisamos conversar sobre um assunto muito importante quando você voltar.
— Sobre o que é esse assunto? Quando fala assim, eu fico preocupado.
— Vai saber só quando voltar.
— S/n, eu tenho ansiedade, fale logo, por favor!
— Não! Vá para casa... — O empurrou e conteve o riso. — Volte quando estiver limpo e cheiroso.
— Você vai me fazer tomar um banho de gato.
— Desde que seja bem tomado e não sobre nem um resquício de cheiro de whisky, não há problema.
...
Depois de tanto discutir com ele para ir tomar banho, Kazutora pegou o primeiro táxi que passou ali perto e foi para casa. Ele está desesperado para saber o que S/n vai discutir com ele.
Ela correu para seu quarto, foi até a gaveta do guarda-roupas e pegou todas as cartas que o suposto admirador secreto – Que ela suspeita ser Kazutora – mandava para ela por todo este tempo, pois todas estavam com tulipas amarelas e, com cheiro de bebida alcóolica. Unindo todos os fatos incluindo este ocorrido desta madrugada, só pode ter sido Kazutora. E se não foi, isto vai ser um sério problema, pois ele é ciumento, encabulado e cismado por pouca coisa, e S/n sabe disto.
S/n pegou o telefone e imediatamente ligou para Yuzuha, que na mesma hora atendeu.
— Bom dia, S/n. O que foi?
— O Kazutora estava aqui em casa!
— O que?! — Gritou no telefone — Como assim? Me conta esta história, agora! — Deu ênfase no "agora". — Não eram vocês que nunca tinham trocado contato?
— Por onde eu começo... — S/n se perguntou pensativa.
Do outro lado da linha, Yuzuha já arqueou as sobrancelhas e fez uma expressão de espanto.
— O rebuliço é tão grande assim??
— É que, sabe o cemitério que a minha mãe está enterrada?
Yuzuha, que a esta hora estava penteando o cabelo, imediatamente largou a escova, causando um estrondo tão alto que pôde ser escutado por S/n, que está do outro lado da linha.
— Caramba, Yuzuha! Quebrou alguma coisa aí?
— S/n, por que diabos vocês estavam no cemitério!!?
— Mas foi lá que nos encontramos!
— E não tinha lugar mais decente para se encontrar? Até um posto de gasolina seria mais normal.
— Mas ninguém marcou de se encontrar, eu fui no cemitério de madrugada, e lá estava ele.
— Eu não sei quem é pior nesta história. — Respirou fundo — Você, por ter ido num cemitério de madrugada, ou ele por estar no cemitério a esta hora! Vocês querem o número do terapeuta que trata o Taiju? Ele é ótimo para quem tem parafusos a menos!
— Yuzuha, deixa eu te explicar, com calma.
S/n explicou tudo do começo ao fim e Yuzuha escutou calada. Assim que ela terminou, a Shiba deu sua opinião.
— Eu acho que vou passar o número do meu terapeuta para o Kazutora. Ele parece estar precisando de urgência.
— Não acho que ele irá aceitar, mas se quiser tentar...
— Olha, S/n, eu estou muito feliz que você se reencontrou com o seu maluquinho aí e tudo mais, só que, você não acha que vai ter que considerar algumas coisas?
— Quais?
— A sua vida finalmente está voltando para os trilhos, e o Kazutora, você querendo ou não, te trouxe problemas no passado. Não parou para pensar que essa volta dele, pode trazer mais problemas para você?
— Acho que não.
— Por que?
— Porque ele está mudado. Não é mais o mesmo de antes. Ele até reconhece todas as porcarias que fez no passado.
— Não o conheço, então não irei questioná-la a esse respeito. Mas se você está dizendo, irei acreditar. Ele vai passar o dia aí?
— Não sei, não ofereci a ele.
— Passe esse fim de semana com ele. Para matarem as saudades um do outro. É algo que você quer, não quer?
— Sim. — Riu.
— Essa sua risada entrega mais do que a sua resposta. Eu vou desligar, meu irmão está precisando de mim. Tchau, até mais tarde. E não esquece de me contar todas as novidades depois!
— Pode deixar!
Yuzuha desligou.
S/n guardou colocou o telefone em cima da cômoda e também foi tomar banho.
(...)
- - Kazutora - -
Eu ainda não acredito que eu a reencontrei. Caramba, nunca pensei que uma tumba fosse me unir à S/n novamente.
— Sra. Yamazaki, a senhora é uma santa! — Agradeci enquanto visto uma camisa. Me toquei que ela nem viva está mais, então... — É, posso te considerar uma santa.
Tenho que me lembrar de pegar o número da S/n, para ficar mais fácil conversarmos e também de nos reencontrarmos.
Meu celular notificou e é uma mensagem de um número desconhecido. Que estranho, como essa pessoa conseguiu meu contato?
Ainda de toalha, me sentei na cama, abri a caixa de mensagens do celular e visualizei a mensagem.
— Ué, quem deu meu número para a S/n??
[Contato – S/n]
[S/n] Kazutora, é a S/n, está afim de passar o fim de semana aqui em casa?
Eu preciso saber como que ela conseguiu meu número. Eu nunca dei.
[Eu] Com quem pegou meu número?
[S/n] Acabei de pedir para o Baji.
Tinha que ser aquele esfregão invertido. Pelo menos algo que preste desta vez, ele fez.
[S/n] Kazutora, gostaria de passar o fim de semana aqui em casa?
Eita, eita, eita!
Meu coração acelerou e eu soltei um involuntário sorriso. Não acredito que ela me fez este convite, não acredito.
— Claro que eu aceito! Que pergunta mais óbvia e idiota! — Um toque bateu em minha cabeça. — Ah, é. Não posso falar assim com ela. A S/n não é o Baji!
[Eu] Sim! Vou arrumar minhas coisas e já chego aí!
- - S/n - -
Me joguei na cama e dei uma risada de nervosismo e alegria. Eu sabia que ele iria topar, mas ainda sim, eu fiquei muito feliz que ele quis ficar comigo!
Sei que já sou adulta, tenho 20 anos afinal. Mas me senti uma adolescente apaixonada neste momento.
Estou sendo boba? Estou, eu sei que estou, mas eu amo me sentir assim. É tão bom, tão bom... fazia anos que eu não sentia essa emoção no meu peito.
Kioko está me encarando e deitado ao meu lado.
— Kioko, acho que sou uma boba apaixonada! — Falei entre risadas.
Ele soltou um miado e o abracei.
— Tudo está dando certo novamente, Kioko!
Novamente ele miou.
— Estou parecendo idiota?
Ele olhou para o meu rosto e deu uma lambida no meu nariz, quer dizer que ele concorda comigo.
— Ah... sou uma idiota feliz então!
Não importa o que a sociedade prega, se te faz feliz, abrace sua felicidade, ela é apenas sua, os outros não precisam senti-la.
Letícia Nunes, Blanc — Eu
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