Joss P.o.v.
Decido não ir para a escola. Quer dizer, finjo estar indo, porém no meio do caminho, desvio para a floresta que costumava visitar .
Mesmo hoje, num dia claro, a mata é úmida e a atmosfera fria. Os raios de luz refletem nas folhas e quando percebo que estou sozinha, me transformo no meu eu-animal. E corro. Não caço pois não estou com fome.
Passado um tempo, percebo um movimento por dentre as árvores e é então que avisto um outro lobo. Maior do que eu e cinza. Rosno mas ele não parece se importar. Aproxima-se e sinto que já o vi antes. Não reconheço as patas, a pelagem, os grandes caninos nem o cheiro. Mas os olhos, eles entregam.
Observo por alguns segundos e então percebo. Não esqueceria dos olhos azuis esverdeados de Gale. Fico tão surpresa que deixo escapar um grunhido e depois solto o ar pelo focinho. Mal percebo e já estou na forma humana outra vez. Gale também. Permaneço incapaz de falar qualquer coisa. Apenas me aproximo e dou uma volta ao seu redor.
O silêncio não é quebrado durante um bom tempo. Resolvo me sentar em um tronco quebrado coberto de uma fina camada de musgo. Gale se senta ao meu lado olhando para mim, esperando que fale alguma coisa. Mas não falo. No lugar disso, apenas sorrio. Um sorriso não muito revelador escapa de seus lábios.
- Pano de prato, você deveria estar no colégio! - não consigo conter o riso.
- Você também! - Gale faz o mesmo.
Reparo em sua mão, grande e os dedos grossos e percebo um curativo feito com gase na palma.
- O que aconteceu? - passo a mão levemente por cima do machucado, mas ele não parece incomodado.
- Machuquei ajudando minha mãe lá em casa. Mas não é nada demais - encara o horizonte.
- Posso fazer uma pergunta? - olho em seus olhos, cautelosa.
- Claro! - Gale sorri.
- Você é um comum ou chacal? - recolho minha mão com receio de que o suor transpareça para ele.
- Comum - ele ergue a sobrancelha como se perguntasse de volta.
- Comum - respondo, com muito medo de que fosse fácil perceber que sou chacal.
Assente com a cabeça e agora sou eu quem desvia o olhar para o horizonte.
- Por que matou aula?
- Dormi mal e o senhor, Pano de Prato?
- É, eu também! - dá um sorriso torto.
Decidimos caminhar pela floresta e agora meu estômago já ronca. Caçamos juntos e dividimos a caça. Quando o horário chega próximo ao que acaba as aulas no colégio, nos sentamos humanamente com as pernas mergulhadas num córrego. À esta altura do dia, o sol está lindo e a água cristalina. É possível ver alguma peixinhos passeando em frente a nossos pés
O tempo parece correr e nos preparamos para ir para casa. Pegamos nossas mochilas, cada uma no lugar onde deixamos ao adentrarmos a floresta e partimos juntos, conversando.
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