Os dias passaram e transformaram-se em semanas antes que se dessem conta. Os encontros entre os dois eram cada vez mais frequentes, começaram a gostar desses momentos e, por parte do Sasuke, a desejá-los. Ter o vínculo calmo era realmente maravilhoso. Viver constantemente á procura de algo ou alguém era horrível e angustiante. Te sentes incapaz, sem puderes concentrar-te em mais nada, nem nas coisas mais importantes.
Porém, nem tudo durante esse tempo podia ser tranquilo. Enquanto um aproveitava esses momentos sem arrependimentos, o outro vivia em constante medo de ser descoberto.
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O que fazer quando te sentes perdida? Presa? Sem saída? A sua presença já não me intimida, comecei a confiar nele, na proteção e conforto que me proporciona sem perceber. Gosto de poder conhecê-lo melhor através destes encontros, mas me sinto horrível por não poder ser honesta, por não poder contar-lhe algo que, no final, também o afeta.
Me sinto presa entre a espada e a parede, presa entre lhe contar tudo e as garras controladoras dos meus pais.
Como poder estar tranquila quando estou com ele, se o medo de ser descoberta me domina e sufoca?”
Sakura simplesmente já não aguentava mais, os seus pais, Sasuke, a marca, a universidade, ser descoberta e as consequências que isso traria... era demais para suportar. Começava a esquecer-se de coisas importantes, como por exemplo, de trabalhos e datas de entrega, apresentações, se tomava os comprimidos do cio ou não, dos quais para prevenir, voltava a tomá-los. Além disso, algumas coisas no seu comportamento tinham mudado, só esperava que ninguém tivesse notado. Não saberia como responder caso perguntassem. Não saberia se conseguiria mentir mais uma vez.
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É normal uma pessoa esquecer-se tão facilmente de algo que acabou de fazer? Ou simplesmente cheguei ao máximo que posso aguentar?
O pior é saber que nada posso fazer para mudar isso, apenas tenho que continuar como se nada estivesse a acontecer.”
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Por estarem a resolver os últimos detalhes da entrega do projeto, marcaram uma simples reunião para acertar alguns detalhes importantes que precisavam da aprovação e consenso de todos. Apesar de todos terem uma convivência e intimidade boa, em certos detalhes sobre o trabalho que beiravam ao irrelevante, mas que eram, no final, de extrema importância, não conseguiam chegar a uma ideia que todos aprovassem.
— Não será tão fácil como imaginamos. — Neji riscou do seu bloco de notas mais uma ideia vetada. Estavam no final, tudo pronto para ser entregue em breve, mas não conseguiam concluir o último tópico.
— Nunca é! — Sasuke sabia que apesar da ideia ser boa e de todos pensarem de forma quase idêntica, trabalhos em grupo nunca eram fáceis, principalmente se valessem nota.
— Acho melhor a gente fazer um intervalo e organizar nossas ideias, depois nos encontramos e discutimos sobre o assunto novamente. A data de entrega aproxima-se e temos de ter tudo pronto e num ponto em que todos achem aceitável.
— Sim. — Cansados de discutir, assentiram, pelo menos nisso conseguiam estar de acordo.
Sasuke esticou os braços sobre a cabeça, estalando os ossos do pescoço e das mãos, um som que era estranhamente satisfatório depois de tantas horas debruçado sobre um portátil, livros ou cadernos. Observou os seus amigos conversarem, e sentiu-se compelido a contar sobre tudo que tinha ocorrido ultimamente e que ainda não tinha revelado. O alpha sabia que podia contar com os conselhos e discrição deles.
— Então... — Sasuke tossiu falsamente e conseguiu chamar a atenção de todos facilmente, que o olharam atentos. Não era de seu feitio iniciar monólogos, porém, nesse momento, diante de todo o caos repentinamente presente em sua vida, precisava do apoio deles. —, há duas semanas que me encontro duas vezes por semana, às vezes três, com Sakura.
— Jura? — Naruto perguntou, surpreso, principalmente depois de o ter ouvido dizer sobre o quão desconfiada e teimosa era.
— Sim, e trocamos mensagens com mais frequência.
— Saíram para onde?
— Os nossos encontros são sempre num parque, numa área pouco frequentada para ter mais privacidade. — respondeu. — No primeiro, levei Akachan para que a nossa primeira conversa fosse mais tranquila e funcionou. Senti que ficou um pouco mais aberta comigo. — sorriu minimamente, feliz com a memória.
— E a Sakura contou sobre algo relevante sobre a vida dela?
— Nada que eu já não soubesse... foram apenas informações básicas e triviais, daquelas que consegues sem muito esforço. No momento, achei mais importante que estivesse disposta a conversar e a responder às minhas perguntas.
— Conversaram sobre a vossa ligação?
— Não, isso não, não acho que se sinta confortável ainda para falar do assunto, sem ficar tensa e sentir necessidade de fugir. Foi e é uma situação complicada para nós, não quero estragar o progresso que fiz até agora.
— Acho que estás a ir bem e concordo com o que dizes, — Neji comentou, pensativo. — A vossa vida não se resume apenas ao que aconteceu. E se pretendem se conhecerem mais, virarem amigos e não simples desconhecidos que partilham uma ligação inquebrável, acho importante conversar sobre outras coisas.
— Sim — concordou. —, mas não é muito aberta. Pensa demasiado e é um pouco tímida.
— Se a personalidade dela for assim, não há muito a fazer além de conseguir ganhar a sua confiança. — Gaara foi quem comentou desta vez. — Porém, também pode ser um receio? Por medo de algo, talvez?
— Pensei nisso também, mas como ainda somos dois desconhecidos, é difícil chegar a uma conclusão. — confessou — Por isso estou a lutar pela nossa aproximação, somente assim conseguiremos avançar e chegar a algo em que ambos estejamos de acordo, entendem?
— Com certeza! É só ter um pouco de paciência.
— Sakura é o tipo de mulher para quem tens que ter toda a paciência do mundo. — Seu comentário fez todos os seus amigos rirem, mas o alpha sequer percebeu. — No entanto...
— O que? — incentivaram-o a continuar.
— Queria poder entender todo esse medo que ela tem. — confessou, o olhar perdido na parede, a mente submergida em lembranças e pormenores dos seus encontros que lhe chamaram a atenção. — Às vezes, parece perder-se nos seus próprios pensamentos, sempre distante da realidade, as mãos tremem apesar dela tentar esconder ao colocá-las dentro dos bolsos dos casacos, e o seu olhar é vazio, como se não sentisse nada, até eu conseguir chamar novamente a sua atenção. E mesmo quando está presente, parece não estar. — Sasuke virou-se para os melhores amigos, a preocupação e o desespero eram evidentes na sua voz e olhar, os outros sentiam-se culpados por não poderem, e nem saberem, como ajudá-lo. O Uchiha era um alpha forte, tanto física como mentalmente, e vê-lo naquele estado era horrível. — Não sei o que está a acontecer, será que eu a incomodo tanto assim? Não entende que tudo que estou a fazer é para o nosso benefício?
— Não acho que seja tão extremo assim... — Naruto poderia entender o porquê de alguém como Sakura não se sentir confortável ao lado do seu melhor amigo, tendo em conta a história entre os dois, mas chegar a tanto?
— Será que não é do tipo que toma alguma droga estimulante? — Sugeriu Gaara, apesar de odiar essa teoria, só de pensá-la. — Às vezes por conta da pressão da universidade, alguns alunos cedem a esse tipo de ajuda. Ou, até mesmo, podem ir mais longe que isso.
— A Sakura? Não, não parece ser desse tipo.
— É melhor prevenir do que remediar. Se fosse tu, ficaria de olhos bem abertos. Algumas pessoas usam droga por diversão, outras porque estão perdidas. Se o que nos dissestes é verdade, sobre não estar a saber lidar muito bem com o que aconteceu, pode se encaixar na segunda opção. — Shikamaru comentou, preocupado que a ômega do amigo estivesse nesse tipo de caminho. Porém, enquanto falavam, lembrou-se de uma terceira opção. — Também pode acontecer, e das três não sei qual será a pior, que ela esteja a tomar comprimidos supressores a mais. Pode ter a receita dos medicamentos do cio errada ou tomar a mais sem perceber. Tem cuidado Sasuke, nenhuma das três são boas e as consequências, apesar de imprevisíveis, são devastadoras.
O alpha permaneceu em silêncio, um pequeno aceno com a cabeça foi a resposta ao aviso do amigo, de quem não quis voltar a discordar. Afinal, apesar de quase ter certeza que não, ainda não a conhecia intimamente para saber todos os seus segredos e nuances. No entanto, só de imaginar que poderia ser possível Sakura estar a colocar em risco a sua própria saúde por causa de alguma droga, o enlouquecia. Os seus instintos exigiam que resolvesse esse problema logo, que a ajudasse.
— Acho melhor a gente agora mudar de assunto. — Naruto aconselhou. — Nada sobre Sakura ou trabalhos da universidade que nos fazem perder a cabeça, certo?
— Sim! — Mesmo que quisesse conversar sobre Sakura o tempo todo, Sasuke sabia que a sua vida não resumia-se apenas a ela ou aos seus problemas. — Como anda a vossa vida? Mais tranquila que a minha espero.
— Complicada. Tudo parece estar numa zona e eu não faço a mínima ideia de como arrumá-la. — Naruto desabafou, frustrado.
— Você nunca foi bom com organização mesmo. — Neji comentou e todos riram da cara ofendida que o loiro fez. — Acho que é só uma fase.
— É, mas sabes o que não é só uma fase? O meu amor pela tua prima. — Ao tocar nesse assunto, Naruto se aproximou de Neji, que revirou os olhos, entediado. Não era segredo para ninguém, nem mesmo para Hinata, a paixão platônica colossal de Naruto por ela. E por mais que estivesse a insistir há meses, até agora não tinha conseguido nada com a ômega, nenhum avanço.
— A minha prima não te quer. — Neji voltou a repetir o que lhe dizia há bastante tempo. — Devias desistir, é bastante óbvio que ela quer conseguir algo melhor. — sugeriu.
— Não posso desistir da mãe dos meus filhos, Neji. Não posso!
— Isso não daria certo por tantos motivos... mas nem vou voltar a repeti-los, nunca me ouves. — Todos sabiam que quando Naruto colocava algo na cabeça, dificilmente alguém a tirava, mesmo que isso o levasse a desastres contínuos e previsíveis.
— Então, vamos mudar de assunto, mais uma vez, Sasuke? — De forma bruta, o Hyuuga interrompeu Naruto, disposto a ignorá-lo completamente, sem querer continuar a ouvir sobre a sua vida amorosa e fracassada, ou a tentativa de ter uma.
— Só tem aquela ômega que ainda não entendeu que a gente não tem nada sério, que foi tudo puramente sexual, e que agora nem isso temos. Sem ser isso, que vocês já sabiam, não há mais nada.
Sasuke tinha-se cansado de sempre ter de esclarecer o mesmo e, por isso, passou a ignorá-la e a deixar que se iludisse sozinha. Afinal, nunca tinha mentido e sempre deixou as coisas bem claras entres eles, principalmente agora que tinha terminado tudo por causa de Sakura.
No entanto, sem o alpha saber, ela se perguntava frequentemente porque eles não foram para a frente. Tudo parecia bem e normal, até transformar-se em algo em que não tinha mais controle. Tinha esperanças de conseguir conquistá-lo durante os encontros sexuais, mas nunca o tinha conseguido e, agora, até isso tinha terminado. Olhava sempre as redes sociais do Uchiha, mas era pouco frequente nelas, olhava até mesmo a dos seus amigos, que raramente publicavam coisas com ele. Nada lhe dava indícios ou informações.
Relutante, pesquisou sobre Sakura, após ter visto o alpha com ela algumas vezes no parque, e obteve os mesmos resultados. Era uma alpha rica e muito bonita, a mulher perfeita. E, além disso ser bem estranho, porque ninguém é perfeito, também não conseguia encontrar nada que pudesse usar contra ela. Não compreendia o porquê de Sasuke estar tão interessado.
Foi tão repentino que até a assustava.
Stalkear as pessoas não a estavam a levar a lugar nenhum, por isso resolveu entreter-se um pouco na internet, gostava de ler alguns blogs de culinária e o de algumas pessoas que contavam o seu dia a dia. Depois desse ressurgimento dos blogs, alguns eram realmente interessantes e pelo menos a ajudavam a passar o tempo. Seus preferidos eram os que pertenciam a meninas da sua idade, sentia-se mais identificada e conseguia colocar-se no lugar delas. Pela aba de preferência, selecionou algumas tags e começou a procurar por novos para poder segui-los.
Um em específico chamou a sua atenção, ao ler o título e a descrição ficou levemente assustada, era sobre uma garota que escondia de todos que era ômega por causa da família e tinha sido marcada por alguém que não conhecia. Era apenas um pequeno resumo, mas sentiu tanta pena que não teve coragem de continuar e ver as publicações. Talvez mais tarde desse uma olhada, mas naquele momento não se sentia forte o suficiente para ler um relato tão triste.
Imagina ser forçado a mentir sobre si mesmo?
Aquilo era, terrivelmente, deprimente.
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