Eu estava correndo pela Seireitei. Eu estava desesperado. A cada passo dado eu ficava mais ofegante, mas corria cada vez mais depressa. Eu olhava para os lados, mas não havia ninguém, nem um sinal de que havia alguém ali. Eu me sentia terrivelmente sozinho. E a cada segundo eu ficava com mais medo.
Por que eu estava com medo?
Por que eu estava correndo?
Parei por um momento para recuperar o fôlego e apoiei ambas as mãos nos joelhos. Eu precisava encontrar alguém. Eu não sabia o que havia acontecido. Eu precisava ajuda-los.
Uma voz surgiu à minha frente, uma particularmente familiar.
─ Você não pode ajuda-los.
Era minha voz.
Um outro eu estava diante de mim.
─ Cala a boca! ─ Respondi ─ Eu preciso ajuda-los...
─ Não ─ Ele retrucou calmamente ─ não é mais seu assunto. Não interfira. Você agora vive uma vida normal, você escolheu isso. Você sempre quis isso...
─ O que aconteceu com eles?! ─ Exclamei.
─ Não é assunto seu.
─ É claro que é, droga!
Atrás dele, metros distante, vi a figura de Rukia, com a cabeça baixa.
─ Rukia...
─ É inútil ─ Ele disse ─ ela não vai te ouvir. Ela nunca mais vai te ouvir. Ela, assim como você, não tem mais tempo para isso. Não é assunto seu.
─ Rukia! ─ Gritei, mas ela não parecia me ouvir ─ Droga, Rukia!
Comecei a correr em sua direção, mas quanto mais eu corria, mais e mais distante ela ficava de mim.
Eu não conseguia alcança-la.
─ Rukia!
Eu estava deitado, na minha cama, no meu quarto. Ainda estava ofegante e meu braço estava estendido para o alto.
Então foi tudo um sonho...
Num instante a porta do meu quarto abre abruptamente.
─ Ichigo! O que aconteceu?
Rukia entrou no quarto, seu rosto estava visivelmente preocupado, mas foi relaxando aos poucos ao mesmo tempo em que meu braço caia novamente na cama.
─ Ah... ─ Suspirou ─ Eu pensei que... Ah... Tá tudo bem?
─ Sim... ─ Sentei na cama, encostando os pés no chão ─ Eu vou ficar bem. Foi só m pesadelo... ─ Olhei para ela ─ Onde você estava?
─ Na cozinha, fui pegar algo para comer.
─ Hum...─ Passei a mão no cabelo, eu estava tremendo um pouco ─ Quanto tempo eu dormi?
─ Uns quarenta minutos ─ Rukia falava cada palavra com cautela, ela ainda mantinha uma feição preocupada.
Me levantei e peguei o relógio da mesa ao lado. 18:01.
Droga. Eu ainda estava com aquela péssima sensação do sonho, tudo ainda estava bem vívido na minha mente. Eu precisava me acalmar, não tinha sido nada tão grave assim, foi só um pesadelo.
Meu cérebro definitivamente me odiava.
Apoiei as mãos na mesa para tentar voltar à realidade e dei um longo suspiro.
─ Ichigo...
─ Rukia... ─ Interrompi ─ Acho que você estava certa. Deveríamos ir ao festival.
Ela permaneceu me encarando por um tempo, como se estivesse me analisando, e logo então concordou com a cabeça.
─ Certo...
─ Só me dá uns dez minutos, eu vou trocar de roupa e te encontro lá embaixo.
─ Tudo bem...
Rukia se virou para a porta, mas, em seguida, voltou-se em minha direção novamente.
─ Ichigo... ─ Ela ainda mantinha uma expressão preocupada.
─ Sim?
─ Seja lá o que aconteceu nesse sonho, ─ Ela deu uns passos e parou à minha frente ─ seja lá o que aconteceu comigo lá, eu estou bem aqui na sua frente, ok? Eu estou bem, você também, foi só um pesadelo. Eu sempre vou estar aqui, você sabe. Por mais que eu esteja longe, sempre que você precisar de mim, eu volto correndo, assim como eu fiz agora, então... Não se preocupe, certo?
Apesar de eu estar me sentindo como uma criança com ela falando daquele jeito, eu me senti melhor.
─ Apenas... ─ Encostei de leve minha mão fechada em sua testa ─ Apenas fique onde eu possa alcança-la.
─ Claro ─ Disse com um sorriso.
Minutos depois, eu e Rukia estávamos indo para o tal festival. As ruas estavam mais movimentadas que costume, e muitos seguiam na mesma direção que a gente. Rukia estava particularmente animada.
─ Então agora que as pessoas estão indo... ─ Disse ela ─ Mas porque que seu pai foi tão cedo?
─ Ele e a Yuzu decidiram armar uma daquelas barracas de comida. Mas conhecendo aqueles dois, com certeza quem tá fazendo todo o trabalho é a Karin.
─ Será que vai ter alguém conhecido lá?
─ Quem sabe...
Andamos por mais alguns minutos e então chegamos ao festival. Havia muitas pessoas por todos os lados. Era isso que eu estava precisando ver: pessoas. Eu precisava esquecer aquela sensação terrível. Passamos algum tempo andando no meio da multidão e então finalmente encontramos uma barraca com uma placa escrita “Comidas incrivelmente saborosas dos Kurosaki”.
Francamente, pai...
─ Ichigo! ─ Exclamou ele, enquanto eu me aproximava ─ Você demorou demais!
─ Foi mal, eu dormi assim que cheguei da escola.
Rukia, que estava ao meu lado, foi logo falar com a Yuzu, que ficou mexendo no cabelo dela. Provavelmente ela não estava em casa quando Rukia apareceu, e o novo visual dela ainda era uma novidade.
─ Ah... Sei... ─ Meu pai me puxou para mais perto e pôs a mão aberta do lado da boca e começou a sussurrar ─ Então você aproveitou e matou a saudade, não é? Com certeza vocês-
─ O que?! Que diabos! Não, não tem nada a ver, seu idiota!
─ Ah, tudo bem filho ─ Ele dizia enquanto dava umas tapinhas em meu ombro ─ Papai entende que você está na idade... Eu sei, porque o papai já teve esses momentos, eu mal conseguia me segu-
─ Cala a boca seu velho idiota! ─ Karin chegou dando um chute em suas pernas ─ Isso não é assunto seu!
─ Onde você estava? Eu estava começando a ficar preocupado... ─ Disse ele.
─ Eu fui pegar mais ingredientes, tinha esquecido? Ah, oi Ichi-nii, oi Rukia-san! ─ Ela acenou para a Rukia que respondeu com um aceno ─ Realmente Ichigo, ela está bonita com esse cabelo novo ─ Karin sussurrava para mim.
Eu só conseguia revirar os olhos. Falar não adiantava nada pelo visto.
─ Mas continuando, Ichigo, papai permite, não se preocupe, principalmente se for a Rukia-chan...
─ Eu? ─ Rukia se virou, dessa vez meu pai havia falado um pouco mais alto.
─ Não é nada. Não liga para eles, eles são doentes...
─ Ichi-nii! ─ Yuzu falou em tom de reprovação ─ Se você falar isso de nós para a Rukia-chan, ela vai ter uma má impressão da gente...
─ Não se preocupe ─ Respondi ─ Ela já tem.
─ Ah, claro que não! ─ Rukia falou com um sorriso.
Logo após ajudarmos com as vendas, eu e Rukia decidimos andar pelo festival para tentar encontrar alguém conhecido. Depois de um tempo encontramos Chad, Keigo, Inoue e Tatsuki, e um pouco mais distante estava Ishida demonstrando estar pouco interessado de ficar ali perto dos outros. Permanecemos por um bom tempo por ali, conversando, rindo, e com todos fazendo milhares de perguntas para a Rukia de como era ser uma tenente. Até mesmo Ishida se envolveu na conversa. E então começou a queima de fogos, anunciando o fim do festival, e todos nós ficamos ali contemplando.
Naquele momento, com todos ao meu redor, eu percebi que, diferente do sonho,
Eu não estava sozinho.
No dia seguinte, Rukia havia decidido então que deveríamos ir ao tal passeio que ela havia proposto. Fomos até debaixo de uma ponte, perto do centro de Karakura. O lugar estava tranquilo e deserto.
─ Por que viemos até aqui? ─ Perguntei irritado.
─ Não quero que ninguém me veja abrindo um Senkaimon, idiota. ─ Em um instante, um grande portal circular havia surgido logo na coluna da ponte.
─ Por que esse é diferente?
─ Porque neste eu mesma coloquei as coordenadas de onde ele deve nos levar. Normalmente, o Senkaimon nos leva para dentro da Seireitei, mas não é lá que nos vamos. Enfim, ─ Ela se virou para mim com um sorriso largo ─ vamos? Vai ser divertido.
─ Não sei se devo confiar...
Rukia me empurrou para dentro do portal antes que eu me desse conta, e quando vi, já estava no Dangai. Rukia chegou logo em seguida tomando a minha frente.
─ Só um detalhe ─ Ela iniciou ─ Nós não vamos estar vestidos desse jeito lá.
─ Tá falando sobre o traje de Shinigami? Por que não? ─ A segui.
─ Sim. Por que vamos para um passeio, e não para um trabalho. Vamos estar vestidos como simples pessoas de Rukongai. Só estamos como Shinigamis agora para não sermos rejeitados pelo Dangai, mas, como eu disse, fiz esse Senkaimon diferente. E essa é uma das diferenças.
─ Ah... ─ Passei a mão pelo cabelo ─ Por que será que eu estou com um mau pressentimento sobre isso?
─ Cala a boca Ichigo, vamos logo.
Andamos por alguns minutos e logo chegamos ao portal iluminado. Logo depois de atravessá-lo, houve um clarão e depois de segundos tudo ao redor foi tomando cor. Estávamos em um grande campo deserto, com algumas poucas árvores ao redor. O vento era realmente agradável, e além de nossos cabelos, balançava também as folhas e o capim no chão.
─ Rukia... Onde é que a gente tá?
─ Oh... ─ Ela permaneceu imóvel.
─ O que foi?
─ Isso... Não estava... Planejado...
─ O que? ─ Perguntei confuso.
─ Ichigo... ─ Ela finalmente olhou para mim ─ Eu... Eu não tenho a mínima ideia de onde estamos.
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