Narrador
Tereza respirou pesadamente olhando para a pilha de livros no banco do carona. Teria que carregá-los sozinha, já que nenhum dos garotos estava por ali. Até os esperaria, como de costume, mas tinha urgentemente que passar em seu armário antes de ir para aula. Não gostaria de atrasar-se, o que para os meninos não passava de algo rotineiro.
Ela saiu do carro, com a bolsa azul pendurada no ombro direito, pegou a pilha de quatro livros com dificuldade e bateu a porta do carro com um movimento do quadril. Desajeitadamente apertou o botão da chave ouvindo o som do alarme sendo ativado em seguida. Levantou os olhos quando ouviu algumas risadas altas de rapazes e moças. Tratava-se dos jogadores de basquete e suas líderes de torcidas ou, como gostava de chamar, os esnobes.
Aqueles seriam os reis do colégio. Os populares. Mas não na Harvey High School. Ali os corredores eram quem mandavam. Os atletas eram sim populares, mas não tanto quanto Prescot, os rapazes e sua garota — que agora eram duas. Eles eram os donos dos melhores carros, usavam as melhores roupas, tinham as melhores casas, resumindo, eram os mais ricos. O dinheiro naquele colégio ditava as regras e, desde que entraram, os moradores do condomínio eram os mais ricos.
Para Tess isso sempre fora uma bobagem. Em seu quarto e último ano na Harvey, ainda não conseguia entender essa história de hierarquia. Aquilo gerava algumas regalias entre os próprios estudantes, como naquele momento, em que o capitão do time de basquete, Michael Palmer, e três de seus “amigos” notaram sua presença, correndo rapidamente para ajudá-la.
— Precisa de ajuda, princesa? — O garoto moreno abriu um sorriso embriagante, mas Tess nunca caíra sem seu charme barato.
Desde o exato momento em Mike chegara ao colégio, no segundo ano, tentava levar Tereza para sua cama. E não era o único. Boa parte do time de basquete repetia a mesma burrice. Todavia, a garota nunca dera a mínima condição para o rapaz que se sentia ofendido ao ser negado daquela maneira. E nem por isso desistia.
— Oh não, Mike — disse em meio a um sorriso tímido.
— Eu insisto. — O moreno se quer esperou a respostas da garota, tomando a pilha de livros de suas mãos.
— Obrigada — sibilou tímida, encolhendo os ombros enquanto os quatro rapazes estudavam seus traços e curvas.
— Está linda hoje, Martinez — o garoto de cabelos levemente ruivos disse, mostrando as duas belas fileiras de dentes alinhados em um sorriso largo. — Realmente linda.
— Obrigada, Fisher. — Ela balançou a cabeça enquanto começava a caminhar sendo ladeada pelos quatro belos rapazes.
— Escute, Tess — Mike chamou a atenção quando estavam para passar pela porta de entrada do colégio. — Ouvi dizer que Bieber está pegando a carne nova.
— Liv? — Ela ergueu uma das sobrancelhas o encarando. — Não a chame assim, Michael — repreendeu. — Sabe que ela é uma Prescot, não sabe?
— Sim, eu sei. — Ele passou a pilha de livros para o garoto de cabelos castanhos que estava ao seu lado, metendo as mãos no bolso da jaqueta preta que os integrantes do time de basquete gostavam de exibir. — Desculpe. Sabe como os boatos correm por esse lugar. — A garota balançou a cabeça concordando com tamanha verdade. — Por exemplo, sei que anda de caso com Somers.
— Caso? — Ela colocou as mãos na cintura, quebrando-a para o lado. — O beijei uma vez e já temos um caso? — O garoto riu alto acompanhado pelos outros três. — Escute, Mike. Deveria perguntar ao Justin sobre isso. Ele saberia te responder melhor do que eu.
— Estou tentando me manter longe de confusão. — Ele ergueu ambas as mãos.
Tereza sabia exatamente a respeito do que se tratava. Certa vez, no ano anterior, Mike a convidara para uma festa em sua casa. A garota aceitou educadamente e disse que talvez aparecesse por lá. Quando o dia da tal comemoração chegou, Tess colocou uma roupa que julgava bonita e foi assistir Prescot correr antes de partir para a casa de Mike. Ela implorou para que algum dos meninos a acompanhasse, mas todos se negaram, exceto seu amado Justin.
— Jamais a deixaria ficar com aqueles babacas sozinha — ele sempre dizia.
Ao chegar ao local marcado, Tess teve uma grande surpresa. Não se tratava de uma festa convencional. Era algo mais parecido com uma orgia. Garotas seminuas dançavam enquanto alguns rapazes assistiam bebericando bebidas alcoólicas. Ela ficou chocada com aquela cena. Não necessariamente com a cena, mas com a intenção que Michael tinha em convidá-la para aquele tipo de situação. Bieber gostara ainda menos que Tereza. Fechou as mãos em punho, lançando um soco certeiro contra o rosto do anfitrião. O disse para jamais tratar sua garota como ele tratava as vadias dele. Foram embora fazendo com que os dois criassem uma enorme inimizade desde então.
— Você foi um imbecil comigo. — Ela estreitou os olhos ao lembrar-se daquele dia repugnante. — E Bieber é rancoroso.
— Eu só gostaria de saber se eu posso chegar na garota.
— Vai mesmo se aproximar da princesinha do Mattew? — O garoto recuou um passo. Não havia pensado nessa perspectiva. — Como eu disse, a vida do Bieber é a vida do Bieber. Agora me dê os livros que tenho muito a fazer hoje.
— E você e Charles?
— Somos apenas bons amigos, como sempre. — Ela suspirou lembrando-se da noite passada e do desastre que havia sido trabalhar com ele e a belíssima Kate Moore. — Pergunte a Kate se duvidar.
Ela rapidamente tomou os livros das mãos da mão de quem reconheceu ser Owen, caminhando porta adentro pelos corredores. Logo que passou pela porta viu a garota de quem falara a pouco, rindo ao lado de duas amigas igualmente belas e do jornal da escola. Reprimiu a vontade de ir até lá e dar um bom tapa na pele naturalmente rosada do rosto da garota. Engoliu em seco e continuou seu caminho pelos corredores.
— Tessa! — Ela parou quando uma voz familiar atingiu seus ouvidos.
Ela forçou um sorriso vendo o garoto correr em sua direção. Ele parou e apoiou as mãos nos joelhos, ofegante.
— Olá, Charles.
— Bom dia, anjo. — Ele endireitou-se, depositando um beijo estalado na bochecha da garota. — Eu pensei que fossemos vir juntos hoje. O que houve?
— Nada — ela disse lançando um olhar curto para a garota morena que os encarava de longe. Ela a viu acenar sorrindo cinicamente. Vaca, pensou. — Eu só estava com saudades de dirigir.
— Sei… — disse duvidoso virando-se rapidamente a fim de saber para onde os olhos da garota corriam vez ou outra. — Você está seca comigo desde ontem à noite. O que houve?
— Nada, já disse! — ela alterou um pouco o tom de voz chamando a atenção de alguns alunos que estavam por ali. Respirou pesadamente dando as costas para o garoto, dobrando o corredor rapidamente.
— Tess! — Ele correu atrás dela.
O garoto parou quando viu a menina esforçando-se para segurar os livros com apenas uma das mãos. Enquanto a outra virava o botão para um lado e para o outro colocando a combinação. Caminhou até ela em passos largos, pegando a pilha de livros de sua mão.
— Por que está fugindo de mim?
— Não estou, Charles — ela murmurou baixo enquanto enfia os livros que Chaz segurava em seu armário, tirando um fichário de dentro e um livro grande. — Eu só não gostei da sua atitude ontem à noite.
— O que eu fiz, Tereza? — ele franziu o cenho em confusão, vendo a garota olhar duvidosa, desacreditando da ingenuidade dele. — Eu realmente não sei do que está falando.
— Você me deixou fazendo o trabalho sozinha para ficar trocando declarações com a Katherine Dafne Moore! — Ela bateu a porta do armário com força chamando a atenção de alguns alunos. Praguejou-se mentalmente por isso.
— Você está com ciúmes, anjo? — disse jogando seus braços levemente fortes em torno da cintura fina da garota. — Está, não é mesmo?
— Não é isso, Charles! — Ela levantando o rosto para olhá-lo nos olhos. — Esse trabalho vale quase metade da nota do semestre e você parece não ligar. Eu ligo pro meu boletim! Quero fazer advocacia em uma boa universidade e para isso preciso de um exímio histórico escolar.
— Ai, Tereza! — Ele a soltou cruzando os braços. Seu rosto foi tomado por uma expressão de descontentamento. — Você é broxante!
— O quê? — Ela revirou os olhos rapidamente. — Não foi o que pareceu na hora em que estávamos na minha…
— Tá, tá! — Jogou os braços para cima. — Verbo errado. Quis dizer que você acaba comigo.
— Tereza?
Tereza fechou os olhos com força quando aquela voz aguda invadiu seus ouvidos. Se havia uma pessoa desnecessária no mundo, esta era Heather Brooks. A garota loira era o ser mais inconveniente e irritante que Martinez conhecia. Sua presença incomodava. O cheiro, a voz, a imagem, tudo! Ela não gostava de ter pensamentos como este, mas caso Heather nunca houvesse nascido, o mundo agradeceria por isso.
— Brooks. — Ela balançou a cabeça a cumprimentando com um sorriso extremamente falso nos lábios.
— Não vai me apresentar seu amigo? — ela disse correndo os olhos por todo o corpo de Charles.
— Sou Charles, satisfação. — Ele deu dois passos até estar próximo a loira, beijando-lhe a bochecha. — Não me conhece, mas já a vi na casa do tio Jeremy uma vez.
— Então você é o Charles? — Ele assentiu. — Aquela garota, a vadiazinha nova do Jus, citou seu nome em um almoço que fui.
— Me chamo Olivia. — O trio virou-se deparando com a garota acompanhada por Justin.
— Justin! — Heather praticamente saltou sobre o rapaz, lançando os braços em torno do pescoço dele.
Tereza conhecia Justin bem o suficiente para saber que algo estava errado com ele. A carranca era grande em sua face e mesmo tendo os olhos escondidos por óculos escuros, a ausência do sorriso cafajeste típico, denunciava que havia um problema. Ela sorriu de canto e sabia que atrás daqueles óculos Justin revirava os olhos diante da situação com Brooks.
— Menos, Heather. — Ele afastou a garota de si, olhando brevemente para Olívia antes de prosseguir. — Se vai estudar aqui tem que saber que há regras. A primeira delas é: não constranja, implique, ameace, toque ou fira minhas garotas. Entendeu? — A garota assentiu com cara de poucos amigos. — Agora, vá! O fato de termos saído algumas vezes não te torna parte do grupo.
A garota sequer respondeu. Apenas virou as costas para o grupo e saiu marchando indignada com atitude do rapaz.
— Te devo mais uma, Drew. — Tereza suspirou aliviada vendo o amigo finalmente sorri, enquanto puxava os óculos para fora do rosto.
— A loirinha cortou nosso papo, mas eu não esqueci ouviu. — Charles estreitou os olhos para Tereza, mas não irritado e sim de maneira divertida. — Não vou esquecer que prefere suas notas a mim.
— Ai, Charles! — Ela bateu com a mão na testa, revirando os olhos logo depois. — Se não parar de gracinhas, vou pedir para trocar de grupo. Você a Kate só ficam de namorico e não fazem porra nenhuma!
— Ela falou porra? — Justin cruzou os braços olhando para Charles que assentiu. Ambos fizeram uma falsa cara de surpresa. — Irmão, você está fodido! Arranjou uma peguete ciumenta.
— Peguete?! — ela praticamente gritou fazendo a voz soar extremamente aguda. — Vadios! — A garota virou-se, fazendo com que os longos cachos que estavam caídos pelas costas, batessem no rosto de Charles levemente.
Os dois gargalharam vendo a menina marchar em direção à escadaria, não muito longe dali.
— O que houve entre vocês? — Justin perguntou quando conseguiu parar e rir.
— Ontem ela foi lá em casa para estudarmos, assim como Kate e do nada ela levantou e saiu toda irritada — ele começou a falar ajeitando a mochila no ombro esquerdo. — Hoje veio toda irritadinha dizendo que eu a deixei fazendo o trabalho sozinha enquanto trocava declarações com a Moore.
— Você deu em cima da outra na frente dela? — Olivia indagou chocada.
— Em momento nenhum eu cantei a Kate. Só não posso dizer o mesmo dela… — Ele ergueu ambas as mãos deixando um sorriso malicioso escapar pelo canto dos lábios.
— Cara, é a Tess — Bieber o alertou calmamente. Charles estranhou aquela atitude do amigo. Se fosse há dois dias estaria o socando por fazer a amiga se chatear daquela maneira. — Não faça isso com ela. Sabe como ela é fragilzinha. Ela só se faz de durona.
Ele abaixou os olhos para Olivia lembrando-se da longa conversa que tiveram na noite passada sobre suas famílias. Havia descoberto que boa parte da marra da garota, não passava de pose. Ela se fazia de forte quando por dentro era tão intocável quanto qualquer outra. Lembrou-se de como ela chorara a morte em seu pai em seu peito e depois adormecera ali mesmo, alinhada a ele. Como ela parecia com Tess, mas de um jeito diferente.
— Você está estranho. — O amigo o olhou desconfiado.
— Estou me sentindo melhor hoje. — Ele desviou os olhos para a garota que tinha um sorriso tranquilo nos lábios. — Eu entendo que você e Tereza estejam tentando ter algo, mas se as expectativas dela forem maiores que as suas, dê o fora antes que ela se apaixone e acabe machucada.
— Eu gosto da Tereza — Charles confessou baixo. — Ela me enfeitiçou, brow. Juro que tentei resistir, mas aquele sorriso dela me desmonta.
— Então por que dar em cima da Kate na frente dela? — Bieber lhe lançou seu melhor olhar reprovador. — Você está fazendo errado.
— Vamos para a aula, antes que nos atrasemos — Charles disse querendo fugir do assunto.
— Vamos, mas isso não acabou aqui!
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Olívia olhou mais uma vez na folha de papel em suas mãos e para a porta da sala em seguida. Era ali, sua aula de Química. Ao contrário de Matemática, Química a garota sempre dominava muito bem, por isso ao fazer seu horário, fez questão de ter o máximo de aulas possível.
Ao entrar na sala, notou o caos que aquele lugar era. Boa parte daqueles alunos era do último ano: os veteranos. Eles desprezavam os calouros, por isso a garota recebeu alguns olhares estranhos. Não que fosse caloura, pois estava no terceiro ano, mas era novata, que para eles era praticamente o mesmo.
Ela olhou pela sala, buscando um lugar livre para se sentar. Agradeceu mentalmente quando viu Tereza e Charles numa bancada no fundo discutindo. Passou por alguns garotos que vestiam a jaqueta do time, recebendo olhares desagradáveis, logo alcançando o lugar onde o casal estava acomodado.
— Eu não quero saber, Charles! — Tess cruzou os braços debaixo dos seios. — Você disse que eu era broxante!
A garota de cabelos mais claros pressionou a mão contra a boca para não rir do motivo tolo da briga dos dois, sendo logo notada.
— O que faz aqui, Liv? — Tess perguntou abrindo um sorriso para ela. — Perdida?
— Oh, não! — Balançou a cabeça apertando ainda os livros contra os seios. — Eu amo química então fiz questão de fazer química quatro além da três.
— Pois sente-se, Prescotzinha. — Chaz lhe lançou um sorriso meigo. — Temos esse lugar vago. — Ele apontou com o queixo para uma banqueta a sua frente. Havia na mesa ainda dois lugares vagos. — Era do Ryan, mas ele trocou química avançada por cálculo. Vai entender...
— Sou horrível em matemática. — Ela balançou a cabeça desaprovando a atitude de Ryan.
— Aliás, como foi estudar com Bieber? — Tereza apoiou o cotovelo na bancada e o rosto entre as mãos, inclinando-se um pouco, ouvindo atenciosamente as palavras que Charles dirigia a garota. — Fiquei sabendo que dormiram de conchinha.
— De conchinha? — Tereza endireitou-se fechando a cara. — Ele nunca dormiu assim comigo. — Ela juntou os lábios em um bico, o que fez por um segundo Somers e a Prescot mais jovem se assustarem. Estava mesmo com ciúmes de Bieber? — Estou brincando! — Ela gargalhou alto atraindo alguns olhares. — Eu não ligo de dividir Bieber com você. A cara de vocês foi hilária.
— Qual a grande piada? — Justin perguntou aproximando-se sendo seguida por uma garota não familiar a Olívia.
— Eles achando que estou com ciúmes por Liv ter dormido abraçada a você. — Tereza desfez o sorriso logo que seus caíram sobre acompanhante de Bieber: Kate Moore.
— Como todos eles sabem?
— Relaxe, gatinha. — Ela acariciou de leve o rosto dela. Liv olhou por um segundo sem entender, mas logo se lembrou da presença da morena desconhecida. — Quero te levar a um lugar mais tarde.
— Onde?
— Surpresa.
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Tereza adorava aquela sensação. Sentir o vento tocando os cabelos enquanto dirigia a cem por hora sem rumo. Ela afastou uma das mãos do volante, ajeitou o cachecol que insistia em tocar seu rosto, olhando para o lado vendo que a Ferrari vermelha quase a ultrapassar. O rapaz dono do carro alargou o sorriso ao notar que iria ultrapassá-la. Ele piscou e jogou um beijo para a moça.
Tess sempre fora observadora e conhecia aquele tipo de corredor. Gostava de chamá-los de “amantes”. Eram o tipo de caras, raramente mulheres, que amavam a si próprios mais do que tudo, assim como seus pertences e títulos. Notara que ele tinha a Ferrari como um troféu. Antes da corrida o viu xingar uma garota que tentara sentar no capô do carro. Tolo. Ela sabia que precisava ser radical se quisesse vencer o rapaz dono do sorriso bonito. Sabia exatamente como fazer.
A garota o viu ultrapassar, tentou acelerar, mas como já era esperado ele bloqueou, ficando a sua frente. Trocou de marcha, vendo o carro diminuir um pouco a velocidade. Quando tomou uma distância boa do escarlate, pisou no acelerador o mais fundo que conseguia, vendo o ponteiro do velocímetro ir de noventa e cinco para cento e dez quilômetros por horas. O rapaz que estava no máximo a cem quilômetros arregalou os olhos quando viu que o carro da garota se aproximava velozmente de sua traseira.
Quando estava a milímetros do choque, ele virou o volante em um movimento desesperado, tentando evitar o baque. E o conseguiu, entretanto, no processo, acabou levando uma pancada na lateral, do terceiro corredor que diria uma Lamborghini preta.
A garota que dirigia uma BMW em um prata escuro sorriu largamente enquanto avançava sozinha para linha de chegada. Quando passou por essa virou o votante parando o carro com graça, como sempre. Nem precisou abrir a porta, fizeram por ela. Saiu do carro e viu Mattew sorrir satisfeito. Abraçou-o, sendo retribuída sem demora. Depois dele vieram Justin e Olívia. Primeiro o rapaz a deu um beijo estalado na bochecha, dizendo como ela havia sido inteligente. A “namorada” apenas a abraçou, feliz por estar sem um arranhão. Ryan e Chris foram os próximos a mostrar o orgulho que sentiam da garota. Finalmente Charles, não pôde resistir em puxá-la pela cintura selando os lábios em um selinho longo. Nada além disso. Havia muita gente os olhando, o que constrangia a garota.
— Tessa Martinez vence! — ela ouviu o rapaz familiar aos olhos gritar de cima de uma picape com auxílio de um megafone e foi ovacionada. — A equipe Prescot se superou hoje com quatro vitórias em quatro voltas!
Olívia havia perdido a conta de quantas corridas havia assistido. Aliás, prestara atenção em poucas, apenas nas que os novos amigos corriam. No restante do tempo passou dançando com Tereza em cima de da mesma picape que Hussain estava agora, enquanto alguns rapazes a assistiam. Era loucura, talvez, mas depois da tarde agradável que tivera, até havia se esquecido da dor que a perda do pai lhe causara.
Havia tido que prestar atenção em Bieber também. O garoto, vez ou outra, esquecia-se que tinham que fingir um relacionamento e dançava esfregando-se a mulheres que estavam praticamente seminuas, quando ali fazia pouco mais que dez graus.
— Você mandou muito, Tess. — Charles sorriu afagando a pele macia de seu rosto levemente.
— Sua vadia miserável! — o rapaz dono da Ferrari vermelha veio dizendo. Ele tinha uma pequena esfoliação no braço esquerdo, a garota notou. — Você destruiu minha garota!
— Que garota? — perguntou sem entender desfazendo-se do abraço de Charles, que se contentou em apenas passar o braço em torno da cintura da jovem.
— Minha Ferrari novinha, vadia louca!
— Eu não toquei no seu carro — ela dizia tudo calmamente.
Tereza era ardilosa. Sempre vencia as corridas estudando seus adversários e usando seus defeitos contra eles.
— Escuta aqui, garota! — o rapaz começou apontando o dedo no rosto dela.
— Escuta aqui você, meu irmão! — Charles tomou a frente dela com cara de poucos amigos. — Eu não aceito nenhum zé mané ofendendo a minha garota. Se não quiser tomar uma surra é melhor ficar pianinho e vazar!
A garota o olhou de canto estranhando aquela atitude. E não foi a única. Todos o olhavam daquela maneira, ao menos os que o conheciam.
— Sua garota, Charles? — ela disse ficando frente a frente com ele. Ajeitando a gola da jaqueta que vestia.
— Foi só…
— Não se justifique — o interrompeu selando seus lábios em um selinho rápido, aproximando a boca na orelha dele em seguida. — Eu gostei.
Chaz retribuiu o sorriso e quando estava aproximando-se para beijá-la, ouviu um pigarro recuando automaticamente. Era Bieber. Ele tinha os braços cruzados e encarava o casal com a cara fechada.
— Está ficando tarde — Mattew disse antes que Bieber pudesse abrir a boca, coisa que pretendia. — Vamos embora.
Antes que o garoto pudesse se virar, Tereza se jogou em seus braços, passando os seus ao redor do corpo do rapaz. Enterrou o rosto na curvatura de seu pescoço sentindo o cheiro gostoso que Matt tinha.
— Obrigada por ter confiado em mim hoje — proferiu baixo sem olhar para o rapaz. Ele sorriu internamente, retribuindo o abraço, acariciando os cachos castanhos da garota. — Obrigada por ter me deixado provar que sou capaz.
— Tess — chamou-a, afastando um pouco o corpo dela para olhá-la nos olhos. — Nunca duvidei da sua capacidade. Eu só quero mantê-la segura. É minha responsabilidade manter todos seguros. Você ainda não está pronta, querida.
— Mattew! — Ela juntou os lábios carnudos numa linha fina encarando o rapaz. — Eu não sou feita de vidro!
— Não comece, Tereza. — Ele deu as costas para ela caminhando em direção a seu carro.
A morena cruzou os braços debaixo dos seios, enquanto assistia Matt sumir em meio à multidão.
— Eu vou te provar que sou capaz, Prescot! — gritou. — Ou não me chamo Tereza Ali Martinez!
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Mattew encostou a cabeça na parede do elevador vendo, como sempre, Bieber bater o pé impaciente, louco para sair daquele lugar. Justin era claustrofóbico. O rapaz disse isso quando tinham cerca de doze anos. Jade Williams esperava por Justin no quartinho do zelador da escola onde faziam o fundamental. Ao contrário da sala onde ele costuma ficar com algumas garotas — e era louca para levar Liv — no Harvey, essa era minúscula, parecendo mais uma dispensa do que um armário.
Bieber havia se negado a ir até lá com a menina, empurrando Prescot em seu lugar. Ele o fez com gosto, afinal Jade Williams era terceira garota mais atraente da escola fundamental, sendo a primeira Tereza e segunda Marcella Patel, ranking este feito pelos próprios garotos.
— Você está bem, Justin? — Olívia perguntou em sua inocência relacionada ao caso do rapaz.
— Ele é claustrofóbico —Tereza disse mordendo uma barra de chocolates que tinha na mão. O grupo havia passado em uma lanchonete e comido antes de retornar ao condomínio.
— Você não me contou isso. — Ela o olhou o vendo abaixar o rosto e sorrir brevemente.
— Charles — Tereza chamou o rapaz que estava distraído com o celular. — Seu andar acabou de passar.
— Tudo bem. — Ele agarrou a cintura dela colando seus corpos. — Eu vou para sua casa hoje.
— Mas não vai mesmo! — Bieber tentou avançar para cima dele, mas foi impedido por Olívia que se colocou na frente. — Tudo bem vocês ficarem às vezes, mas dormir com ela não! Pensa que eu não me lembro daquela cena que eu vi?! Você estava devorando a Tereza deitado na cama dela! Imagina o que teria acontecido se eu não tivesse chegado lá.
— Nada se ela não quisesse! — Charles tomou a frente dele, o encarando cara a cara. — Me explica a lógica de você poder dormir com a irmã do Mattew, mas eu não poder dormir com a Tess. Sim, porque todos notamos que ela está vestindo uma blusa sua hoje.
— Me tira fora da briga de vocês. — Olivia levantou as mãos sendo a primeira a sair do elevador quando as portas se abriram. — E quer saber de uma coisa? — ela disse recuando dois passos, tornando a virar-se para o grupo. — Eu dormi sim com o Bieber e vou dormir com ele quantas vezes eu quiser!
— Tenha dó, Charles! — Tereza o repreendeu saindo do elevador em seguida.
— Valeu em, amigo. — Charles disse com a voz carregada de rancor, correndo atrás da garota morena.
— O que eu fiz? — Bieber virou-se para Mattew atordoado com tudo que havia acontecido.
— Dá um tempo para ele esfriar a cabeça. — Matt deu dois tapinhas leves no esquerdo ombro do amigo. — Quer jantar lá em casa?
— Não precisa. — Ele encolheu os ombros enquanto os dois saiam do elevador. — Vou dormir pra esse dia louco acabar de uma vez.
— Você fez um bom trabalho em pista hoje.
— Valeu, brow.
— Hey! — Prescot chamou atenção do amigo que girava a chave na porta do apartamento em frente ao seu. — Pega leve com Tess — falou quando se virou.
— Você também.
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Tereza bateria a porta do apartamento se Charles não tivesse a impedido. Ela bufou alto atirando a bolsa pesada — devido à recompensa — no chão. Ela o olhou colocando ambas as mãos na cintura e quebrando o quadril para o lado. Ela estava espumando de raiva naquele momento. Como Bieber ousara mandar na vida dela daquela maneira? Pior do que isso, como Charles tinha coragem de usar Olívia como argumento? Os dois eram belos idiotas! Era isso que ela pensava!
— Eu não quero conversar, Charles!
— Por que, anjo? — Ele deu um passo a vendo recuar dois. — Anjo…
— Pare de me chamar assim! — rosnou e dessa vez foi o rapaz quem recuou um passo. Nunca havia visto Tereza tão irritada, o que o fez pensar que talvez ele sequer tivesse culpa por aquela rebeldia toda. — Quando vocês vão aprender que eu sou dona da minha própria vida?
— Você está chateada por causa da Toronto Street Race? — perguntou avançando um passo em direção a ela que se manteve imóvel dessa vez. — Está chateada porque o Justin está implicando com a gente? — Deu mais um passo vendo os olhos da garota marejarem. — Está incomodada por que eu não cortei a Kate quando ela estava dando em cima de mim?
— Vocês são uns babacas — sussurrou deixando o rosto ser tomado pelo pranto.
Charles puxou-a pela mão direta para um abraço confortável. Tereza afundou o rosto no peito do garoto, molhado sua blusa com lágrimas. Ela era sim frágil e sensibilíssima, como todos eles sabiam. A ausência dos pais durante boa parte da vida a fez extremamente dependente dos amigos e do afeto que eles davam-na. Ela não suportava a ideia de ter raiva de um deles e por isso chorava. Não porque Justin a atrapalhara com os garotos, não porque Mattew era machista e não a deixava correr e, nem mesmo, porque Charles preferia trocar sorriso com Kate Moore a conversar com ela. Mas sim, porque ela estava tomada pelo ódio e não podia odiar as pessoas que a davam todo amor que recebera a vida toda. Chaz sabia disso.
Ele acariciou os cachos negros da garota, ouvindo seus soluços baixos.
— Nunca mais ouse me trocar pela Kate Moore! — a voz da garota soou embargada devido ao chora.
Ela deu um tapa no peito do rapaz que sorriu ao ouvir aquelas palavras. Estava sim com ciúmes. Não havia dado todo aquele chilique apenas porque o trabalho valia quase metade da nota do semestre.
— Vou falar com a professora e pedir para que façamos só nós dois.
— Não precisa — ela disse se afastando por fim, secando o rosto com as mãos. — Eu não posso sentir essas coisas em relação a você só por causa de alguns beijinhos.
— Sabe perfeitamente bem que o que está rolando é mais que beijinhos.
— Mas nem fizemos sexo ainda. — Ela riu nasalmente, entretanto Charles não a acompanhou.
— Eu te quero mesmo, Tereza Ali Martinez — disse após acolher o rosto dela entre a palma das mãos. — Quero você só pra mim.
— Está falando de…
— Sim. — ele sorriu a vendo arregalar os olhos. — Estou falando de namoro.
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