POV. ROSÉ
SEMANAS DEPOIS...
Acordei mais animada do que nunca, os raios de Sol pareciam ter acariciado meu rosto e levantei num pulo. Fiz tudo que deveria fazer para começar o dia e comecei a arrumar as coisas que precisariamos, passei na clinica antes para resolver qualquer assunto que estivesse pendente porque passaria o dia inteiro fora e é óbvio que Jimin ficou no meu pé, tentando saber o que iria fazer, mas não, nenhuma palavra saiu de minha boca.
Os dias iam passando e a cada semana já era possível perceber mudanças no quadro de Jisoo, tudo parecia estar correndo tão bem. Eu trabalhava tudo com extrema paciência e carinho, Jisoo se esforçava ao máximo estando fora da sua zona de conforto e Sra. Kim ajudava sempre tornando tudo mais fácil para nós duas e funcionava, estávamos enfim caminhando para algum lugar, ainda que em passos bem pequenos. E foi por isso que decidi avançar para um novo nível com Jisoo, uma etapa muito importante mas muito delicada também, tudo deveria ser feito com muito cuidado e calma.
Finalmente parti para o luxuoso condomínio e cheguei o mais rápido possível no apartamento dos Kim.
Ros.: E aí? Como ela está? - pergunto ansiosa -
Sra.Kim.: Tranquila, não comentei sobre o que iria fazer, como me pediu, apenas a arrumei e separei algumas roupas em uma mochilinha, mas já adianto que ela está desconfiada.
Ros.: Mesmo? - pergunto sorrindo - Então acho melhor, falar logo com ela.
Adentro o quarto depois de bater na porta e vejo Jisoo mexendo na mochila com o semblante confuso, mas seu rosto logo se ilumina ao perceber minha presença.
Ros.: Oi Jisoo! - digo animada e ela responde mentalmente ( respondeu sim ) - Como você está? - dá de ombros - Não sabe? - me sento na cama - Bom, não tem problema, sabe por quê? Porque hoje vamos fazer algo muito legal? Sabe o que é?
Jis.: Pintar.
Ros.: Não, não dessa vez. É uma coisa mil vezes mais legal! - me olhava tentando adivinhar - Sabe Jisoo, nós temos feito muitos exercícios, não é? - assente - Estamos sempre trabalhando em alguma coisa e de tanto fazer, isso tem surtido efeitos em você, efeitos bons, o que quero dizer é que... você está melhorando. - arregala os olhinhos - É isso mesmo, meu bem. - falo sem conseguir não sorrir - Você vem se esforçando muito e eu sei que às vezes é difícil, é meio chato né? Mas você está conseguindo, nós estamos, então... eu acho que já podemos passar para a próxima fase dessa nossa jornada.
Me levando e retiro o pequeno quadro que estava preso à parede, voltando a sentar na cama.
Ros.: Lembra disso? - pergunto mostrando a ela a pintura que havia feito para ela nos nossos primeiros encontros -
Jis.: O mundo. - responde assentindo -
Ros.: É, é o mundo. E lembra que você disse que queria conhecer? Que gostaria de ver tudo isso?
Jis.: ... Lembro... - começa esperando que eu explique -
Ros.: Então... o que você acha da gente ir ver o mundo hoje? - paralisa completamente e eu rio - Calma, Jisoo. Seja lá o que for, não é o que está imaginando. Eu vou te levar em um lugar, um lugar muito bom, nós vamos, você vai conhecer mas assim que quiser ir embora nós vamos, entendeu? Basta me dizer, é só falar e eu te levo de volta pra casa.
Jis.: Quero ir embora.
Ros.: Nós nem saímos do quarto!
Jis.: Não, eu não...
Ros.: Ei, achei que confiasse em mim.
Jis.: Confio, mas... - tentava se expressar -
Ros.: Eu entendo, dá um pouquinho de medo, né? - concorda com a cabeça - Mas não se preocupa, eu vou estar com você, eu sempre vou. Vamos ficar o tempo inteiro juntas e te dou a minha palavra de que nada, absolutamente nada de ruim vai acontecer com você, está certo?
Jis.: Vai ficar comigo?
Ros.: O tempo inteiro. E então... aceita?
Jis.: ... Sim, mas só um pouquinho.
Ros.: ISSO! Acredita em mim, meu amor, você vai gostar!
Organizamos algumas coisinhas que faltavam e depois de intermináveis orientações de Sra. Kim nós enfim saímos. Posicionei Jisoo em um dos bancos de trás e percebi que estava realmente nervosa, me aproximei de seu rosto, fiz um breve carinho em sua bochecha e deixei um leve selar em sua testa, isso foi o suficiente para que seus tiques parassem.
Dirigia devagar, tanto para não assustá-la, mas também para que pudesse observar a paisagem. Minutos se passaram e já havíamos chegado, dirigi para a parte mais isolada possível e estacionei lá. Ajudo Jisoo a sair e pego as coisas que estavam na mala, segurando sua mão a levo para a calçada e anucio:
Ros.: Chegamos. Jisoo, quero que conheça... a praia!
Digo olhando para o vasto horizonte a nossa frente. Como era dia de semana e não era um dia muito quente, haviam pouquíssimas pessoas na praia, ainda assim, segui para uma parte onde não tinha ninguém, para que Jisoo não se sentisse desconfortável nem assustada diante de outras pessoas que não fossem as de seu convívio. Olho para ela e vejo que estava estática, com a boquinha aberta.
Ros.: E aí, Jisoo? O que achou?
Jis.: Isso é a praia?
Ros.: É sim.
Jis.: Não tem fim.
Ros.: É, é muito grande mesmo. Vamos entrar?
Mesmo receosa, a coreaninha concorda e seguimos juntas para a areia, era muito engraçado vê-la caminhando sobre a terra arenosa, toda sem jeito, estranhando tudo. Jisoo estava vestindo apenas um shortinho azul, que era praticamente coberto pela camisa de manga comprida branca que usava, e um tênis branquinho. Estirei uma longa canga, passei protetor solar em nós duas mas com atenção maior a ela, que a anos não saía de casa, e me certifiquei de que ela estava confortável.
Ros.: Quer tirar o tênis? - pergunto enquanto ela brincava e se tornava a cada segundo mais íntima da areia -
Jis.: Parece água seca. - diz concentrada -
Ros.: Água seca? - retiro seus tênis sem que ela desse importância - Quer ver uma coisa legal? Nós podemos fazer desenhos na areia, sabia? - traço um coração - Ficou bom, não ficou? Tenta você. - desenha mas sai torto - Uau! Ficou lindo! - eu realmente havia achado lindo -
Jis.: Ficou horrível. - diz emburrada -
Ros.: Não tem problema, quando quiser apagar é só fazer isso. - espalho a areia com as mãos - prontinho.
A mais nova ia descobrindo várias coisas e eu apenas observava enquanto brincava junto e cuidava dela. Ficamos uns bons minutos só na areia, queria que ela se sentisse segura primeiro lá antes de tentar ir para o mar, Jisoo não parava quieta um minuto, eu tinha que ficar toda hora oferecendo água e perguntando se estava com fome. Mas não estou reclamando, de jeito nenhum, era maravilhoso vê-la tão serena e animada com alguma coisa, eu simplesmente adorava cuidar dela, era sempre tão delicada, frágil, muito engraçada às vezes e de uma beleza absurda, parecia um verdadeiro anjinho, ela era o meu anjinho, sentia que poderia passar o resto da minha fazendo isso.
Ros.: Nós já ficamos bastante na areia, Jisoo, não quer conhecer o mar de pertinho? - olha para o mar e faz uma cara não muito boa - Ah não precisa ter medo, minha lindinha. Eu sei que é grande, mas nós vamos ficar só na borda, não precisa nem entrar se não quiser. - me levanto - Vamos? - estendo a mão - Você não vai me deixar sozinha, vai?
Revira os olhos e segura minha mão, caminhamos em direção ao mar e Jisoo já fez uma expressão de incômodo ao sentir a textura estranha da areia molhada. Paramos em frente à água, eu nada disse, apenas esperei por alguma reação dela. Jisoo andou lentamente para a frente mas assim que a onda voltou, saiu correndo para não ser "atingida", e fez isso várias vezes, quando parecia ter tomado coragem, fugia da água tão calma que parecia brincar com a pequena e eu só conseguia rir. Fui até ela, a levei um pouco mais para a frente e segurei firmemente sua cintura por trás.
Jis.: Dra. Chang! - dizia desesperada enquanto a onda ameaçava vir -
Ros.: Confia em mim?
Jis.: Não!
Ros.: Não confia?! - pergunto rindo -
A onde chega e segundos antes de tocar sua pele, a levanto e ela encolhe as pernas, quando passa a ponho de volta no chão e ela me olha sorrindo. Fizemos isso de novo e de novo e cada vez parecia mais engraçada para Jisoo, porque ria como uma criança, a criança mais feliz do mundo. Em uma dessas vezes, eu a coloquei no chão antes da onda passar e enfim pôde sentir a água, ficou meio assustada, tudo o que era novo assustava, mas com muita calma e paciência a convenci a entrar. Começamos molhando os pés, depois entramos até onde a água cobria nossa cintura e foi aí que ela ficou estranha.
De repente a Jisoo que ria à toa havia sumido, estava totalmente séria, fechada, na verdade, aparentava estar confusa, eu diria que até assustada.
Ros.: Jisoo? Está tudo bem? Se quiser nós podemos sair, era só pra você conhecer. Vem, vamos sair.
Jis.: Não.
Ros.: Não?
Não responde nada, entra um pouco mais ainda segurando forte minha mão e de repente mergulha, fico preocupada mas não a impeço, segundos depois levanta com a respiração acelerada e mais assutada do que antes.
Jis.: Doutora... doutora!
Ros.: Calma, meu amor. Eu estou aqui! O que aconteceu? Você quer sair? Tudo bem, eu te levo.
Jis.: Não! Não! Doutora eu... e-eu...
Ros.: Você o que?! - pergunto já aflita -
Jis.: Eu não ouço, não ouço nada!
Ros.: Não está conseguindo me ouvir?!
Jis.: Não é isso, as... as vozes, as vozes elas... não estou mais ouvindo! - sorri confusa -
Ros.: O que? A-as vozes pararam? - assente freneticamente - Elas pararam! Não está ouvindo nada, nem sussurros? - nega com a cabeça - Não posso acreditar! Jisoo! - a abraço e ela retribui fortemente - Mas... sabe que elas podem voltar, não sabe?
Jis.: Aham... mas é que... nunca esteve tão silencioso aqui dentro - diz olhando para a água -
Ros.: Mas o-olha, se elas pararam agora, é provável que parem outras vezes! - digo isso e seu rosto se ilumina - É! Se continuarmos a fazer o que fazendo logo logo você quase não vai ouvi-las mais!
Jis.: Sério?
Ros.: Seríssimo! ... Eu estou tão orgulhosa de você, Jisoo... você não imagina como estou feliz por você, dá até vontade de gritar, gritar para o mundo inteiro ouvir o quanto você é incrível!
Jis.: Não gosto de gritos.
Ros.: É verdade, então eu vou gritar baixinho: Kim Jisoo é a menina mais incrível do mundo! - grito em um sussurro a fazendo rir -
Passamos o resto do dia assim, brincando no mar, na areia, pela praia inteira, jogávamos água uma na outra, eu claro, tomava todo cuidado do mundo, mas Jisoo não tinha pena não, corríamos na areia e fazíamos castelinhos, fizemos tantos que criamos o reino de Jisoolândia e adivinha quem era a rainha? Nos divertimos muito, sempre me preocupando em não ultrapassar os limites dela, mas foi incrível, nunca vi sorriso mais lindo em toda a minha vida e não importa o que aconteça, eu jamais esquecerei dele.
Esse foi sem dúvidas um dos dias mais felizes da minha vida e acho que de Jisoo também, tudo correu perfeitamente bem, cheguei a suspeitar de que fosse um sonho, mas não, era apenas Jisoo. Era engraçado, ela sempre fazia isso, sempre fazia minha vida parecer uma novela, um sonho, como se tudo fosse fantástico demais para ser real, e era mesmo. Nunca tive uma conexão tão grande com um paciente como tenho com ela e em tão pouco tempo, era estranho como meu coração se enchia ao lado dela. Desde que a conheci as coisas têm sido diferentes, como se a vida tivesse ganhado um novo sentido, toda as vezes que pensava no futuro ou fazia um plano qualquer Jisoo estava lá, não conseguia mais me imaginar sem ela e isso é meio assustador, porque não sei até quando ficaremos juntas. É claro que eu quero que melhore, que se torne uma pessoas independente e saudável, é o meu maior sonho, mas se isso acontecer e ela não precisar mais de mim? Bom, seja lá o que o destino guarda para Jisoo, eu espero que seja o melhor, com ou sem mim, mas até ele se revelar, vou aproveitar ao máximo todo o tempo que tenho com ela.
Chegamos em casa, Sra. Kim ajudou Jisoo a tomar banho e tirar toda a areia do corpo e eu tomei no banheiro principal, após isso jantamos todas juntas e eu fiquei um pouquinho com a mais nova até que dormisse, o que levou segundos, devia estar exausta. Conversei com Sra. Kim e lhe contei tudo o que havia acontecido, já podem imaginar o quão emocionada ficou ao saber que as vozes haviam parado por um momento e me encheu de perguntas, enfim voltei para casa e capotei na cama também depois do melhor dia de todos com a minha coreaninha.
Força, minha pequena, estamos conseguindo mais rápido do que esperamos, nada pode dar errado... ou pode?
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