Confesso extremamente surpreso com o convite da Aiko da noite anterior. Ela queria que o Miyashiro-san fosse embora, deixando Harumi em paz. Com isso em mente marcou uma reunião com ele para discutir sobre isso. Mas eu não percebi onde entrava nisso.
-Deve estar se perguntando por que te chamei para vir comigo. - Ela disse. -Preciso de uma testemunha da festa, e alguém que saiba brigar.
Eu ri.
-Desculpe tirar vantagem do seu amor por mim. Eu sei que é doloroso. Mas sabe que não precisa ir se não quiser. Eu só... tenho um mau pressentimento sobre tudo.
Muito doloroso... mas é o karma, né?
-Eu sei sim. Relaxe. Você vai voltar sã e salva para casa, eu prometo.
Eu disse aquilo, mas nem imaginava o que poderia acontecer.
**
Estacionei no local onde haviam marcado a reunião. Era uma bela casa. Descemos e tocamos a campainha. Logo, a esposa do Miyashiro-san atendeu. Fiquei estático olhando para ela quando um calafrio percorreu meu corpo. Eu conheço esse rosto de algum lugar... Ela sorriu amavelmente e nós entramos e sentamos na sala de estar. Logo ele apareceu.
- Aiko! Que surpresa foi receber sua ligação. - Ele sorria e me cumprimentou com um aperto de mão. -Venham, vamos para minha sala de reuniões.
Aiko o seguiu sem hesitar, mas percebi que ela estava nervosa. Quando passamos perto de uma enorme e luxuosa escadaria, vi no topo, a Ami. Ela estava com alguns curativos e sorria de um jeito macabro. E então, ela fez um sinal de corte no pescoço, mas não tive tempo de raciocinar porque já adentrávamos a sala. Miyashiro-san se sentou do outro lado da mesa imponente de madeira. Aiko se sentou e eu a imitei.
Aiko~
Akira estava desconfortável. Algo eu deixei passar.
- Bem, Miyashiro, o único propósito de eu ter vindo aqui é para lhe propor um acordo. - Falei séria. - Você pode ficar com a casa da minha mãe, Minami, desde que não me procure mais, nem a Harumi ou qualquer outro no nosso círculo de amizades.
Miyashiro sorriu.
- Não me faça rir. - Quando ouvi isso, sabia que estaria perdida. - Inicialmente eu até aceitaria isso. Mas agora eu quero que você pague pelo que fez, minha querida Aiko. Você tem me oferecido apenas seu desprezo e ódio que carregou durante esses anos da minha ausência desde que voltei ao Japão. Você feriu minha filha em sua própria festa. Nisso, Ami agiu sozinha, não entendi onde ela quis chegar, e até deixaria isso passar... mas não sou um pai desnaturado.
Cretino.
Ele se virou de costas e quando dei por mim eu estava sendo erguida pelo pescoço, me sufocando. Olhei de relance para o lado e Akira estava imobilizado na cadeira.
-Ah, Aiko. Poderíamos ter nos entendido melhor. - Ele se aproximou e passou os dedos pelo meu cabelo. - Mas não se preocupe muito. Você é um prodígio na medicina, uma beleza japonesa rara e sangue do meu sangue, juntamente ao da mulher que amei. Não posso desperdiçar a beleza da Minami assim. De jeito nenhum, você tem meus hipnotizantes olhos. Mas você tem sido uma garota tão má. - Ele fez uma cara decepcionada enquanto eu apertava em vão o pulso enorme que segurava meu pescoço. A força era enorme e já estava quase impossível respirar o mínimo que fosse de ar. - Eu decidi tirar de você tudo o que for mais precioso. A começar pela sua amada. - Ele direcionou seus olhos ao rosto coberto do meu agressor, que tirou sua máscara negra
Ah, Deus, por favor, que não seja quem eu estou pensando que é.
Mas era. Hazlehurst Smithsonian me encarava friamente. Nessa hora eu congelei, pasma, inconscientemente deixei meus braços caírem.
- H-Hazel-san... - minha voz saiu estrangulada e eu voltei a me debater. Eu sabia que ele poderia facilmente quebrar meu pescoço com uma mão. A possibilidade me assustava e eu não confiava no Miyashiro. Ele ria e Akira o matava com os olhos.
- Naquele dia, no jantar... quando ouvi o nome do Smithsonian eu não tive dúvidas de que ele me ajudaria no que quer que fosse se soubesse onde sua filha está se metendo. Foi um enorme trunfo quando aquela garotinha linda falou dele para a Sam. - Eu quis chorar. Droga... Ele caminhou até o Akira. - Você. Eu te conheço também. Muito bem. O que você ainda procura com a Aiko? Você estava indo muito bem fazendo fortuna no seu canto. - Akira chutou Miyashiro entre as pernas. Ele gritou alto de dor. Akira se aproveitou da chance para atingir o cara que imobilizava seus braços. Hazlehurst apertou mais meu pescoço e eu já não conseguia respirar. Implorei com meus olhos que me soltasse mas eu estava perdendo tempo. Desculpe, Hazel-san. Concentrei minha força nas mãos e cravei as unhas em seu antebraço, girando seu pulso. Ele urrou e soltou-me, caí sem jeito no chão, e vi que escorria sangue do braço dele. Me coloquei de pé rapidamente, dando um chute em seu queixo. Ele se afastou alguns passos e eu puxei Akira dali. Saímos da sala correndo. Tentei abrir a porta mas estava trancada. Era de madeira, muito grossa pra arrombar. Olhei para Akira em desespero vendo que Miyashiro vinha com Hazel-san. Subimos depressa o lance de escadas e no topo aproveitei pra arrancar dos pés meus saltos. Corri para as muitas portas do corredor que se estendia para a esquerda enquanto Akira correu para a direita. Harumi... Harumi! Pela primeira vez na vida, estou com medo de um homem! Não reparei onde entrei, mas me utilizei dos móveis para escalar e ficar acima de uma das portas duplas de madeira. Abençoadas sejam minhas aulas de ginástica rítmica. Tentei respirar menos ruidosamente e prendi a respiração quando ouvi passos. Hazel-san? Merda. Eu não sou páreo para ele... Meu coração acelerou e eu rapidamente avaliei o quarto em que me encontrava. Camas, um closet, três janelas, uma sacada. Beleza. Observei-o entrar e ele parecia em dúvida sobre a sacada ou o closet. Foi para a sacada. Quando ele deu alguns passos para examinar, saltei para o chão e tranquei a porta de vidro da sacada.
- Eu esperava mais de você, Hazel-san. - Murmurei antes de me virar e sair correndo, com um olhar inevitavelmente decepcionado. Onde está Akira? Olhei o longo corredor e corri por ele. Me distraí com meus pensamentos, mas instintivamente estiquei e uma lâmina passou reto bem na minha frente, ficando presa na porta do outro lado. Merda, merda, merda, merda. Virei meu rosto e vi a maldita Samantha arremessando facas um segundo antes de desviar de outras duas. Olhei para trás. Sem chance! Arranquei um quadro da parede pouco atrás e corri, rolando no chão usando o quadro como proteção. Me levantei ainda segurando e observei as quatro facas ali fincadas com vigor. Puta merda. Praguejei e suspirei.
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