Thiago nunca foi um homem de muitos relacionamentos. Haviam sido poucas as garotas com quem se envolveu, e até tentou um relacionamento sério com uma mulher que morava em uma cidade vizinha, mas o relacionamento terminou devido à distância.
Ele nunca acreditou nos romances típicos de filmes; na verdade, esse gênero sempre o desinteressou. Preferia histórias reais, palpáveis, como os filmes de Quentin Tarantino e, claro, os dramas policiais que o influenciaram a seguir a carreira de policial.
Há sete anos, tudo estava prestes a mudar. O sargento pediu que ele e mais dois colegas fizessem uma ronda em uma escola na região da Brasilândia*, um bairro que vinha acumulando casos de violência.
Estava próximo ao portão de saída das salas de aula quando avistou uma mulher atraente acompanhando uma criança que chorava copiosamente. O garoto havia caído de uma escada que dava acesso à sala de aula.
O menino estava com um dos joelhos ralado, alguns cortes no braço esquerdo e um arranhão no direito.
— Moça, aconteceu alguma coisa? — aproximou-se.
Ao ver aqueles olhos castanhos escuros fitando-o, sentiu uma eletricidade percorrer sua espinha, fazendo suas pernas fraquejarem. Recuperando-se, tomou fôlego e respondeu:
— Ele estava indo embora quando percebeu que havia esquecido seus materiais na classe. Decidiu voltar, mas acabou escorregando e rolou no chão de concreto. — O aluno ainda chorava. — Estou tentando ligar para a mãe dele, mas ninguém atende. — esclareceu.
— Ei, garoto... — o policial se abaixou à altura do pequeno. — Onde você mora?
— Duas ruas para baixo da escola. — respondeu tímido.
— Ótimo! Sabe se sua mãe está em casa? — confirmou com a cabeça. — Então, vamos andar no carro da polícia! — pegou sua pequena mão. O menino olhou-o surpreso, radiante.
A mulher os acompanhou até uma viatura, onde um dos policiais levaria o garoto até sua residência.
— Muito obrigada, policial! Nem sei como agradecer! — já distantes dos outros, agradeceu ao homem.
— Não foi nada, moça... — fixou-a com um olhar demorado, gravando em sua mente cada traço, cada movimento da beleza diante dele. — Mas então... Você é professora? — tentou iniciar uma conversa.
Ela riu fraco.
— Sou sim. Mas apenas da segunda série, mais especificamente da sala daquele rapazinho que acabamos de socorrer.
— Deve ser um trabalho cheio de amor! — comentou, notando que ela parecia desconfortável. — Ah... Me desculpe... Não quis ofender...
— Não foi nada! — interrompeu. — Também não deve ser fácil trabalhar na polícia! — deu de ombros. — Preciso ir buscar meus materiais na sala. Obrigada novamente! — acenou com a mão, voltando ao mesmo lugar onde o encontrou.
A partir daquele dia, Thiago sempre pedia ao sargento para ser o responsável pela segurança daquela escola específica. Até que a polícia percebeu uma diminuição no perigo da região, e seu pedido foi aceito.
Tentava de várias formas cortejá-la, mas sempre que se aproximava, o máximo que conseguia dizer era um “boa tarde!”. Não sabia seu nome, endereço, telefone, mas já sonhava com o dia em que pudesse vê-la dando aula.
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Um dia, soube que seria sua última vez responsável pela segurança daquela escola. Sua equipe seria transferida para outro bairro. Era a oportunidade final de se aproximar da mulher que vinha atormentando seus sonhos.
Esperou o sinal de saída tocar e se dirigiu até a sala dela; bateu na porta, apesar de estar aberta. Ela o orientou a entrar.
— O que faz aqui, senhor? — indagou curiosa.
— Bem, moça... É que... Eu... — coçou a cabeça. Olhou para ela. Ela estava de braços cruzados, esperando que ele terminasse a frase. — Não sei como dizer isso, mas... — fez uma pausa para respirar. — Você é muito linda!
Ela gargalhou alto, colocando as mãos na frente da boca para abafar o som.
— Isso é sério? — assentiu nervoso. — Oh, obrigada! Senhor...? — tentou ler seu distintivo.
— Thiago. Pode me chamar apenas de Thiago! — estendeu a mão direita para cumprimentá-la.
— Prazer, Thiago. Meu nome é Bruna! — retribuiu o gesto.
Ambos se olharam em um instante silencioso.
— Bem, Bruna, — destacou seu nome. — finalmente descobri o nome da mulher mais linda do bairro! — exclamou. Ela enrubesceu e abaixou o olhar. — Será que, apesar de sua vida corrida e superocupada, há alguém especial nela? — apoiou as mãos na mesa, sobre seus materiais.
— Não, não tenho ninguém. Mas não seria nada mal ter um policial na minha vida! — disse, passando as mãos sobre as dele, afastando-as de seus materiais.
— Oh, sério? Então acho que cheguei na hora certa! — disse, sorrindo.
— Que tal me convidar para um jantar amanhã à noite?
— Não é uma má ideia! Às 20 horas?
— Ótimo! Rodízio de pizza?
— Fechou! Onde te encontro?
— Na minha casa! — pegou um papel e uma caneta, escreveu rapidamente seu endereço. — Não chegue atrasado! — deu uma piscadela e saiu sem olhar para trás.
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Bruna estava deslumbrante. Usava um vestido branco com uma renda leve na altura do busto. Seus cabelos curtos estavam soltos, balançando ao vento. Sua maquiagem era um pouco escura, mas nada que destoasse da roupa.
Thiago, por sua vez, optou por uma camisa preta de manga curta e calças da mesma cor. Seus cabelos curtos estavam penteados em um topete, o que lhe dava um ar mais jovem.
Ao se verem, trocaram elogios simultâneos, o que os deixou ambos um pouco envergonhados.
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Na pizzaria, comeram, conversaram, riram e se conheceram melhor. Já estavam indo embora quando descobriram que uma forte chuva os deixaria ensopados até chegar ao carro, estacionado na rua de baixo, devido à falta de vagas.
Concordaram que a noite estava perfeita e que um banho de chuva não faria mal. Já próximos ao carro, ela estava abrindo a porta do passageiro quando sentiu seu braço ser tocado. Ao virar-se, viu-o a poucos centímetros de distância.
As respirações quentes e descompassadas revelaram o desejo que sentiam um pelo outro. Assim aconteceu o primeiro beijo do casal, da maneira mais clichê e romântica possível, algo que ele nunca imaginou que viveria.
Aquele foi o começo de um relacionamento duradouro, repleto de alegrias, romantismo, carinhos e paixões.
***
Três anos se passaram até que uma tragédia os atingisse: Bruna era infértil devido a um problema no útero.
Ao receber a notícia, sentiu-se devastada e vazia. Disse ao namorado que, se ele quisesse, poderiam romper, visto que ela nunca poderia lhe dar uma família. No entanto, Thiago recusou. Ela era a pessoa que ele amava e com quem queria passar o resto de seus dias. Poderiam recorrer a outros métodos, mas ele não podia imaginar viver sem sua presença.
Pouco tempo depois, pediu-a em casamento durante um jantar no Terraço Itália**. Ela aceitou prontamente, parecia que nada poderia abalá-los.
Até que, há um ano e meio, a felicidade deles foi abruptamente interrompida quando Bruna foi fatalmente atingida por três tiros.
Thiago não queria, não sabia, não achava possível viver sem ela. No entanto, teve que superar, ser forte e recomeçar sua vida.
Ao terminar de contar sua história com Bruna, seu rosto estava coberto de lágrimas. Algumas gotas caíam sobre as fotos reveladas que segurava, enquanto mostrava para Pâmela, que bebia sua água com açúcar sem saber o que dizer. Rodrigo estava sentado na poltrona em frente, apenas observando.
— Algumas pessoas estão fadadas a não terem seu “felizes para sempre”. — Thiago expõe entre soluços. — Mas você pode mudar isso, garota! É muito jovem, sonhadora, perspicaz. Precisamos ligar para o seu pai para avisarmos o que Daniel está fazendo. Creio que o Fábio não admitirá essa atitude babaca dele!
— Além disso, Pâmela... — Rodrigo complementa. — Você pode processá-lo! Precisará apenas de algumas testemunhas.
Ela consente.
— Ligue para o seu pai! — o vizinho entrega seu celular para ela. — Vamos te ajudar a se livrar de Daniel!
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