Mais de uma semana se passou. Não foi fácil para ela contar aos pais sobre o relacionamento com o vizinho. Hesitou por vários dias antes de dar a notícia. Pegou-os de surpresa numa manhã chuvosa, antes de saírem para o trabalho.
Ouvira um breve sermão de seu pai, pois Maria havia informado que eles chegariam atrasados se a bronca se prolongasse. Deixaram-na com um frio na espinha ao dizerem: "Mais tarde conversamos". Ela sabia que não teria sossego até a noite.
Após lavar a louça do café da manhã, foi ao quarto se arrumar para encontrar Thiago. Vestiu uma regata preta com detalhes brilhantes no busto, uma legging da mesma cor, um tênis e a jaqueta jeans que o namorado lhe emprestara em outra ocasião.
Sem guarda-chuva nem proteção contra a chuva, chegou à casa de Thiago e tocou a campainha. Esperou uma eternidade até ser atendida. Quando a porta finalmente se abriu, notou que ele estava com os olhos inchados e o rosto marcado pelo travesseiro.
— Senhorita Martins, em que posso ser útil a esta hora da madrugada? — perguntou, irritado.
— Vim ver meu boy, mas se ele não quiser, vou embora... — fez bico, ameaçando se retirar. No entanto, foi puxada para perto dele, que colou seus rostos ao dela.
— Bom dia, Mulher-Maravilha! — beijou-a, com um sorriso estampado no rosto.
— Bom dia, Batman! — riu. — De onde tirou esse apelido? — indagou.
— Ah, você é uma mulher incrível, maravilhosa e tão forte quanto a Diana. — respondeu. — Não quer entrar para tomar uma xícara de café? — brincou.
— Não seria muito incômodo? — continuou com o gracejo.
— Claro que não, venha! — abriu espaço. Ambos gargalharam.
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Enquanto preparava o café, Thiago ouviu Pâmela falar sobre a conversa com Fábio:
— Contei aos meus pais que estamos namorando... — disse, demonstrando nervosismo.
Thiago a olhou repentinamente.
— E aí? — fez um gesto com as mãos.
— Ele disse que você é velho demais para mim, que esse relacionamento não tem futuro e não passa de um sonho bobo. Ainda acrescentou que você tem idade para ser meu pai.
— Por que todo mundo fala isso? — questionou indignado. — Por que a diferença de idade tem que ser um impeditivo?
— Bom, ele não terminou o sermão, então, provavelmente vai pensar em argumentos para rebater tudo o que disser.
— E se eu falar com ele?
— Tá doido? Se nem quis me ouvir, imagina você! Por que os pais são tão confusos? — deu uma pausa. — E os seus, será que me aceitariam melhor?
— Minha mãe provavelmente ia te adorar, mas ela morreu há 10 anos por causa de um câncer.
— Ops, sinto muito! — coçou a cabeça sem graça.
— Não tem problema... Meu pai me abandonou assim que soube que minha mãe estava grávida, então não sei qual seria a opinião dele. — manteve o bom humor. — O Rodrigo vai vir aqui mais tarde, então prepare o estômago para comermos besteiras...
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O advogado chegou à residência de Thiago trazendo três sacos de salgadinhos, dois refrigerantes e um pacote de pão de mel. Pâmela brincou dizendo que estava ganhando peso por causa dele. Depois, se sentaram nos sofás, abriram as embalagens e começaram a comer e conversar.
— Já encontrou alguma informação sobre o tal Ave da Noite? — ela perguntou.
— Ainda não. — exibiu desânimo no semblante.
— Por que não faz uma pesquisa sobre aves noturnas para afunilar a investigação?
— Gata, você é genial! — bateu palmas.
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No dia seguinte, preferiu não arriscar encontrar Thiago, já que seus pais estavam de folga. Tentou ao máximo não cruzar com eles e decidiu ir à casa de Carolina. Fábio tentou lhe dizer algo, mas ela o ignorou, alegando que estava de saída.
Ao chegar na casa da morena, tocou a campainha, que foi rapidamente atendida. O semblante da anfitriã exibia desgosto ao ver quem estava à porta.
— Oi, Carol, tudo bem? Queria conversar com você, pois você está estranha desde a última vez em que esteve em casa...
— Desculpe, Pâmela, não é por nada, mas você é sinônimo de problemas! Por favor, estou tentando manter distância... Ainda nos falaremos quando tivermos nossos trabalhos da faculdade, mas somente nessas ocasiões. — soltou um suspiro pesado. — Espero que fique bem.
— Ok. Ficarei bem. — forçou um sorriso, que foi retribuído.
A porta se fechou e Pâmela permitiu-se chorar. Mesmo desconfiando da garota e estando calejada de decepções com amizades, aquilo doeu. Decidiu ir até Thiago para desabafar, mas não foi atendida. Provavelmente não estava em casa.
Sem mais opções e sem vontade de encarar seus pais, mandou uma mensagem a Daniel perguntando se ele queria as roupas de volta. Sem resposta, voltou para sua residência e percebeu que estava vazia.
Pegou duas sacolas grandes na cozinha, foi ao quarto, abriu o guarda-roupa e colocou as roupas do ex-namorado ali. Colocou seu Bilhete Único no sutiã, foi para o ponto de ônibus e se dirigiu à casa do loiro.
Ao chegar lá, viu Elaine saindo do portão. Assustou-se com sua presença; gaguejou, tentando explicar a situação. Daniel apareceu logo atrás, arregalando os olhos ao ver a cena.
— Ei, relaxem, ok? Vocês são solteiros e independentes. São os causadores dos estragos na minha vida! Olhem só quantas coisas têm em comum... — alfinetou, com um sorriso mordaz. — Eu sabia que você era invejosa, mas não a ponto de ficar com esse lixo! — apontou para Daniel, que tentou retrucar, mas foi interrompido. — Querem saber? Vocês formam um lindo casal! O espancador de mulheres e a talarica invejosa. Sejam felizes!
— Pam... Espera... — o loiro segurou seu braço.
— Tire a mão de mim! — ordenou com os dentes cerrados. — Ah, antes que me esqueça do motivo da minha visita... — jogou as roupas em cima deles, fazendo parte delas cair no chão. — Até nunca mais, filhos da puta!
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Simultaneamente, Thiago estava na casa de Rodrigo, após este ligar avisando que encontrara pistas sobre o Ave da Noite. Com as informações obtidas, animaram-se, pois estavam mais perto de descobrir a raiz do problema na cidade.
Thiago levara seu uniforme de justiceiro e foi de motocicleta até lá. Observando os arredores, percebeu que a rua estava vazia e acelerou rumo à localização fornecida pelo amigo.
No meio do caminho, notou que estava sendo perseguido por um carro preto, com vidros escurecidos. Caíra numa emboscada. Estacionou num beco vazio, tirou o capacete, colocou a máscara e pegou as facas que estavam presas em seu colete.
Foi cercado por cinco homens que tentaram atingi-lo. Acertou um golpe no pescoço de um, fazendo sangue jorrar por todos os lados. Pegou a arma dele e feriu outro no olho. Lutou contra os restantes, levando alguns socos e pontapés. Caiu de joelhos após um soco certeiro no meio da barriga.
Um homem alto, usando óculos escuros, arrancou sua máscara, revelando seu rosto. Tirou uma foto sua e correu para o veículo, enquanto os outros continuavam a espancá-lo. Em um momento de distração, Thiago sacou a arma do coldre de um dos homens e atirou contra suas cabeças.
Acelerou para chegar ao automóvel antes que o homem de óculos pudesse dar partida. Tentou, mas o justiceiro arrancou a chave de sua mão e a atirou para longe. Viu o homem implorar por sua vida e, sem piedade, envolveu seu pescoço com o cinto de segurança e o apertou até ver seu ar se esvair por completo.
Depois, para garantir, deu três tiros em seu rosto. Pegou o celular que estava próximo ao câmbio, desbloqueado. Apagou a foto da galeria, mas entrou nas mensagens, percebendo que a imagem já havia sido enviada para alguém.
Soco o volante, xingou e guardou o aparelho no bolso. Pegou um isqueiro que encontrou no mesmo local onde estava o telefone, ateou fogo no veículo para não deixar rastros. Voltou ao fundo do beco, colocou a máscara, montou na moto e foi para a casa de Rodrigo, com a intenção de descobrir quem era o dono do número que recebera a imagem.
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Daniel e Elaine trocavam beijos enquanto um filme repetido passava na TV. O loiro estava visivelmente agitado após receber uma mensagem no celular de seu trabalho.
— Gato, tá tudo bem? — indaga Elaine, preocupada.
— Eu quero acabar com a Pâmela mais do que nunca! Não merecemos essa humilhação que ela nos fez passar hoje.
— Acalme-se, gatinho... Vamos deixar que ela e o Thiago fiquem íntimos o suficiente. Assim, quando colocarmos nosso plano em prática, eles sofrerão ainda mais. — Ela dá um sorriso maléfico, que é retribuído por Daniel.
Posteriormente, eles voltam a trocar carícias e começam a se despir, se entregando ao momento com uma satisfação sombria.
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