Dezembro chegara, trazendo férias para Pâmela, um descanso merecido após um semestre tumultuado, marcado por uma apresentação difícil para a banca. Por sorte, ela conseguiu notas suficientes para ser aprovada sem precisar pagar nenhuma atividade extra.
A cidade de São Paulo estava toda decorada com luzes cintilantes, bolas vermelhas, bonecos de neve e renas. O clima natalino brasileiro é contagiante, e nesta época, as pessoas parecem estar "de bem com a vida".
O Natal seria dali a quatro dias; no entanto, o clima tenso entre Fábio, Maria e a filha persistia. Eles não aceitavam seu relacionamento com Thiago e, apesar de proibirem-na de vê-lo, não conseguiram fazê-la respeitar suas ordens. Gritos, discussões e xingamentos tornaram-se parte da rotina da casa. Muitas vezes, o ex-policial bisbilhotava pela janela quando via o pai exaltado, socando algum móvel.
Eles trabalhariam até às dezoito horas na véspera de Natal. Com isso em mente, Maria encarregou Pâmela dos preparativos da ceia para receber os tios e primos. Pâmela aceitou a tarefa com a condição de que pudesse levar o vizinho, mesmo que o apresentasse apenas como um amigo da família. Negava-se a deixá-lo sozinho numa noite tão especial.
A princípio, seus pais não concordaram com a ideia, mas acabaram cedendo diante da teimosia da filha. Ela hesitou em aceitar o convite para evitar mais conflitos, mas admirava a atitude de Thiago, sabendo o quanto os últimos natais foram tristes sem a presença de sua mãe querida, que era seu elo com os parentes.
Algumas pessoas parecem estar conectadas de maneira inexplicável. Esta é a única explicação plausível para a proximidade que o casal desenvolveu em tão pouco tempo. Thiago ajudou Pâmela pagando algumas consultas e exames para monitorar sua doença, que, por um milagre, não provocou mais desmaios, apesar de suas astenias serem mais constantes. Enquanto isso, Pâmela iluminava seus dias com sua graciosidade e jovialidade.
Ela abriu os olhos lentamente e o viu observando-a com um sorriso largo. Retribuiu o gesto, espreguiçando-se em seguida.
— Bom dia, amor! — disse Thiago, dando-lhe um beijo rápido.
— Bom dia! — bocejou. — Está tarde?
— Um pouco... — soltou um riso nasal. — Já passou das onze! Você estava dormindo tão fofa que preferi não te acordar.
Pâmela soltou um suspiro apaixonado.
— Você é maravilhoso!
— Você também.
A ruiva se descobriu, levantou-se e fez um movimento com o pescoço para estalá-lo. Observou-se usando apenas lingerie e mordeu o lábio ao lembrar da noite anterior.
— Vou preparar um café para nós! — avisou. — Vista algo porque daqui a pouco o Rodrigo chega.
— Minhas roupas estão molhadas por causa da chuva de ontem. — lembrou-se de ter chegado ensopada à casa dele, após voltar da faculdade, onde havia ido preencher sua rematrícula para o último semestre. — Posso usar aquela sua camisa e bermuda que usei ontem?
— Claro! — deu-lhe mais um beijo antes de deixá-la sozinha.
Pâmela pegou as peças do chão e foi ao banheiro, fechando a porta atrás de si. Antes de se trocar, sentiu algo estranho em sua calcinha. Sentou-se no vaso sanitário e examinou-a, encontrando um pouco de sangue. Assustada, pensou que seu ciclo menstrual estava desregulado. Praguejou por não ter absorventes à mão.
Sentindo o aroma do café que passava no coador, encontrou Thiago, que cantarolava uma música de sua época.
— Amor, você não vai acreditar... Meu ciclo tá bagunçado! Faz pouco tempo que estava menstruada e agora estou de novo.
— Tem certeza que é menstruação? — perguntou Thiago. — Você sabe que as mulheres podem sangrar na primeira vez delas, né?
— Hã... Sério? — ergueu uma sobrancelha. — Minha mãe é católica fervorosa, nunca me explicou nada relacionado a isso...
— Pensei que suas amigas tivessem falado sobre isso! — comentou, rindo. — Mas e como foi a... sensação?
— Foi... Estranho... — tateou as palavras. — Mas foi maravilhoso! Obrigada por ser tão carinhoso e compreensivo comigo nesse momento.
Thiago selou seus lábios nos dela mais uma vez e serviu-lhe um gole de café com um pouco de leite. Colocou pão francês, manteiga e talheres na mesa.
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Eles terminaram de comer quando Rodrigo chegou. Thiago o recebeu com um abraço e o conduziu até a mesa, onde Pâmela ainda estava comendo.
— Bom dia, Pam! Tenho novidades maravilhosas para você!
— Ai, conta! — bateu palmas, ansiosa.
— Seu processo com o Daniel avançou. A audiência está marcada!
— CARALHO, ESSA É A MELHOR NOTÍCIA QUE VOCÊ JÁ ME DEU!!! — enlaçou-o, beijando várias vezes sua bochecha.
— Ei, estou com ciúmes, viu!? — Thiago finge uma expressão brava.
— Ah, fica quietinho, já te beijei muito hoje! — escarneceu. — Aliás, Rô, tenho novidades para você também... Pesquisei algumas coisas sobre aves da noite. Após alguns dias de estudo e avaliação, descobri que a mais famosa de todas é a coruja, que é extremamente observadora, estrategista e inteligente.
— Uau, você descobriu tudo isso com pesquisas no Google ou assistiu documentários no Discovery Channel? — gargalharam.
— Não, besta! É que o Babacaniel amava corujas... Tinha até uma tatuada nas costas! Ele dizia que tinha muito em comum com elas. — comentou.
Os dois homens se entreolharam, engolindo em seco.
— Amor, você lava a louça do café hoje? — Pâmela questionou, após dar um último gole na bebida. — Preciso tomar um banho! Posso?
— Claro! A casa é sua. — riu. — Pegue outra coisa para vestir no meu guarda-roupa.
— Obrigada! — deu-lhe um selinho antes de se retirar.
Quando a notaram longe o suficiente, começaram a conversar em um tom baixo:
— Você pensou no que eu pensei, né? — questionou o justiceiro.
— Não só pensei, como agora temos certeza de que o Daniel é o Ave da Noite. A perseguição com você naquele dia, a tatuagem de coruja... Não pode ser coincidência!
— Conseguiu o endereço dele? — o advogado confirmou. — Ótimo. Vamos preparar uma emboscada para pegá-lo hoje à noite. Que tal?
— Ok. Vou para casa pensar em um plano. Ligo mais tarde para te avisar.
Despediu-se do amigo, que foi lavar a louça.
A garota saiu do banho apenas com uma toalha, os cabelos molhados. Secou-os um pouco com a própria toalha, abrindo o guarda-roupa sucessivamente. Uma peça de madeira caiu quase em cima dela, assustando-a.
Tentou empurrá-la para dentro do móvel novamente, mas outro objeto caiu. Curiosa, pegou na mão e viu que se tratava de um colete e uma máscara com o desenho de uma caveira. Pensou por alguns momentos, ligando os pontos.
Jogou as peças sobre a cama, enquanto vestia suas roupas quase secas que haviam ficado penduradas debaixo da cobertura da janela do quarto. Jogou as toalhas no mesmo lugar dos achados e as pegou novamente.
Voltou à cozinha, encontrando um descontraído Thiago guardando os copos após fazer o que lhe havia solicitado.
— Eu vou te perguntar só uma vez... — chamou sua atenção, fazendo-o se virar para ela. — Que porra é essa? — jogou a máscara em suas mãos e abriu o colete diante de seus olhos.
— Calma, amor, é só uma fantasia...
— Fala a verdade! — suplicou, já com lágrimas nos olhos.
— O Rodrigo vai dar uma festa à fantasia no começo do ano que vem para comemorar o aniversário dele. Eu já comprei a fantasia.
— CALA A BOCA! — bradou. — Para de mentir pra mim! — chorou desesperadamente.
— Ok... Olha, eu ia te contar... Não sei quando, mas ia! Eu sabia que você ia reagir assim, então...
— Eu te amo, mas você precisa parar. Por favor... — disse Pâmela com um tom aflito na voz.
— Sinto muito. O mal se corta pela raiz. — respondeu o justiceiro, decidido.
Ela balançou a cabeça negativamente, pressionando os lábios para segurar o pranto. Jogou o traje no chão, foi em direção à sala e pegou sua bolsa que estava jogada no sofá. Thiago tentou acompanhá-la, falando várias coisas que ela não ouvia. Apenas saiu, batendo a porta.
Sentiu uma falta de ar extrema, enquanto seu coração doía mais do que o normal. Teria mais uma de suas crises. Parou, escorou-se em um muro ali próximo. Inspira, expira, buscando ar.
Repentinamente, um homem surgiu por trás sem que percebesse. Ele tampou sua boca e nariz com um pano molhado com álcool, fazendo-a desmaiar.
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