História Inimigos Íntimos - Ran Haitani - Pão e Manteiga

Depois de longos minutos para conseguir recuperar todo o fôlego perdido ao mar (e olha que eu nem saí da areia direito!), finalmente consegui responder [Nome]. 

— E-eu… Eu só queria tentar s-surfar… — Minha cabeça girava, estava totalmente desorientado com tudo aquilo. Imagina só: a sua única lembrança ser a de um beijo à beira mar com TAIJU SHIBA?! Era para destruir a vida de qualquer um! Eu só queria saber porque Deus me odiava tanto!

Agora, pela milésima vez em minha vida, encontrava-me em uma situação embaraçosa com [Nome] por perto. Eu odiava aquela vida!!

— D-desculpa [Nome]... F-foi imprudência nossa, sabíamos que o Ran não sabia nad- — Quando Mitsuya falou aquilo, [Nome] o arremessou na areia. 

— VOCÊS ACHAM QUE O MAR É BRINCADEIRA?! — Ela, como salva-vidas estava furiosíssima. — Como podem ser tão negligentes com a vida do Ran?! Sabiam que ele não conseguia nadar e mesmo assim o colocaram em risco?! — Eu não esperava aquele tipo de reação, mas [Nome] estava vermelha de tanta raiva. 

Taiju tentou defender Mitsuya. Ta aí uma cena estranha. 

— V-veja b-bem [Nome], o R-ran f-fez isso por conta própria! Q-queria que a gente fizesse o quê?! Não é culpa nossa!

Ele também não foi poupado. [Nome] retribuiu o chute na barriga que recebeu há dias do brutamontes. Ela não estava para brincadeira! 

— Se ele fala que vai se jogar de um precipício vocês simplesmente vão juntos?! Era só ter falado para mim, seu babaca marombeiro! — Taiju ficou pessoalmente ofendido com os apelidos de [Nome]. E eu ri levemente. Era até engraçadinho ver ela furiosa. —  E você, sua besta quadrada! Você fica comigo agora. — Levei um susto quando comecei a ser puxado por [Nome] para a areia. Todos estavam olhando para nós, é claro! Eu mal me recuperei de um afogamento e ela já queria me matar de novo?! 

Me levou até as suas coisas, que estavam sobre uma cadeira com guarda-sol. Imediatamente, tirou uma manta de sua mochila e me cobriu, me deu litros e litros de água para beber, tudo com aquele jeito ríspido dela, mas cheio de carinho. Quando eu percebi, [Nome] estava chorando. 

— AHN?! O-O QUE FOI [NOME]?! — Eu nunca a vi chorar! Por que ela estava chorando assim, por nada? 

— V-você me assustou… E-eu pensei que ia se afogar de verdade!! Por que você sempre faz essas coisas idiotas, Ran?! Você não sabe que eu me preocupo com você? Como acha que eu fico quando você se mete em perigo? Como acha que eu fiquei quando vi você apanhando do Taiju? — Ela estava chorando para valer, o que me deixou sem reação alguma. [Nome] se preocupava tanto assim comigo a ponto de sofrer? — Você tem 18 anos e ainda não tomou jeito! Está sempre fazendo coisas que te colocam em perigo! Como acha que eu fiquei vendo você se afogar naquelas ondas? E se eu não chegasse a tempo? 

— [Nome]... E-eu n-não tive a intenção d-de te magoar-

— NÃO É QUESTÃO DE MAGOAR, RAN!!!! — Ela estava muito irritada. Algo que nunca vi antes! Era a pessoa mais fria e calma que eu conhecia, nunca a vi tão alterada! —  Eu me PREOCUPO com você, seu idiota!! Eu não quero te ver machucado ou em perigo! É tão dificil de entender?! 

Vê-la daquela forma me fez ainda pior. Eu só sabia perturbá-la e magoá-la com minhas idiotices e ainda assim, [Nome] sempre se preocupava comigo! 

— D-desculpa [Nome]... E-eu sinto muito! Me desculpa!! E-eu não vou mais te preocupar! Me desculpa por ser tão idiota às vezes e por te dar tanto trabalho! E-eu juro que não vou mais me meter em perigo! Por favor, me perdoa… — A última pessoa que eu queria magoar era [Nome]!

Ela me encarou, ainda séria e irritada, até que suspirou e pasmem! Me deu um longo abraço. Era a última coisa que eu esperava! E foi o melhor abraço que já recebi… 

— Seu idiota… Você não mudou nada… — Ela deu uma risadinha enquanto apertava as minhas bochechas. Se ela soubesse o quanto eu a achava linda… — Continua o mesmo Ran de sempre. É por isso que continuamos juntos desde aquela época… —  [Nome] continuou me surpreendendo aquele dia. Ela simplesmente puxou um pedaço da mantinha (que tinha acabado de me cobrir!) e se deitou ao meu lado. 

— [NOME]!!! O QUE TÁ FAZENDO?! — Foi impossível não ficar envergonhado, afinal estávamos com roupas de praia, ela… Eu nem precisava dizer o quão gata ela estava, não é? Eu não era acostumado a ter contatos tão íntimos com [Nome] daquela forma! É claro que eu queria, mais do que tudo na vida, mas não estava pronto para tamanha felicidade! 

— Ué, tá com vergonha de mim? A gente dormia junto quando as nossas famílias acampavam, lembra? E também no berço… Por acaso se esqueceu que nos nossos álbuns de infância, 100% das fotos estamos juntos? Eu acho que você é mais meu irmão do que a Dakota, e olha que somos grudadas… — Ela dizia aquilo com tanta espontaneidade. Como falar daquelas coisas não eram embaraçosas para ela?! 

Na verdade, pensando bem, fazia um bom tempo desde que não conversávamos tanto. [Nome] ficou desenhando na areia, então resolvi acompanhar o seu desenho com os dedos. 

— O tempo passou, né? — Ela disse, com o ar um tanto melancólico. — Vamos nos formar esse ano. 

— …Você tem razão. — Nesse quesito, apenas nós tínhamos essa característica em comum. Mitsuya era da casa dos quinze, Taiju era o mais velho dos seus irmãos e tinha somente 17. Rindou, idem. Dakota? Bom, o caso de Dakota e [Nome] era um dos mais curiosos desse mundo. Ambas são capricornianas e gêmeas. Mas, curiosamente, nasceram em meses, dias e anos diferentes! Sim, isso era matematicamente raro de se acontecer, mas [Nome] nasceu às 23:50 de  31 de Dezembro 1987 e Dakota em 00:04 de 1 de Janeiro de 1988. Ou seja, ambas nunca estudaram juntas, ainda que fossem gêmeas. Isso é claro, fez [Nome] sempre ter estudado comigo e Rindou estudar com sua irmã. 

— Às vezes, só queria sentir aquele gostinho de bacon na fogueira das férias de verão. A gente sempre passava as férias juntos brincando de esconde-esconde nas montanhas. E depois, dormíamos assim, logo depois de apostar quem ficava mais tempo acordado. Lembra? 

Balancei a cabeça. Eu lembrava de tudo aquilo. E agora que ela falou… Sentia mesmo saudades daqueles tempos. Era tudo tão fácil… 

— [Nome], você sabe o que quer fazer da vida? — Perguntei, como quem não queria nada. Era o tipo de pergunta que eu ouvia todo santo dia de minha mãe. 

Ela negou. E eu ri. 

— Não tenho a menor ideia. 

— Nem eu. — Se isso pudesse confortá-la, estávamos no mesmo barco (ou Titanic…). — Mas de uma coisa eu já tenho certeza. 

— Hm? O quê? — Ela parecia interessada. 

— Eu quero que a gente continue assim. Porque acho que no fim, somos pão e manteiga. Não vivemos sem o outro. Ou melhor, eu não vivo sem você… [Nome]. 

Eu nem sei como eu tive coragem de dizer aquilo, as palavras simplesmente saíram involuntariamente da minha boca. E talvez, aquela tenha sido a minha sentença de morte. Será que ela entendeu? 

Como resposta, [Nome] ficou muito corada, mas não se afastou. Pelo contrário, ela se aproximou ainda mais de mim e me abraçou. Acho que naquele momento, eu morri e fui para o céu. Será que eu havia morrido afogado há poucos e por ter ficado amigo de Taiju, consegui entrar no paraíso? 

— …Não vive mesmo, porque eu tenho que sempre cuidar de você! Hunf… Mas eu adoro cuidar das pessoas que eu amo, Ran.