Crowley os guiou para um pequeno quarto aos fundos do bar, mas ao entrar lá se dera conta da péssima escolha, eles teriam de sair dali o mais rápido possível para que seu plano pudesse se concretizar… Nada que um pequeno milagre diabólico não pudesse resolver.
– O que deu em você, Crowley? – Aziraphale gritou balançando as mãos para cima enquanto andava de um lado para o outro – Você some por sabe-se lá quanto tempo…
– Quatro semanas e meia – Crowley o interrompeu com um sorriso de lado e recebeu um olhar furioso em troca.
– Trinta e dois dias! Um mês para se mais exato – Aziraphale disse agora passando a mão pelo rosto – Então você aparece com… Com uma boate de strip. – ele sussurra a última parte, seu rosto queimando de vergonha por estar ali – Qual o seu problema? Não é seguro chamar tanta atenção assim, aposto que tem influência daquela mulher – Aziraphale cuspiu se recusando a dizer o nome dela.
– Ah claro, uma humana corrompeu um demônio – O que estava acontecendo? Não era assim que ele tinha planejado, era para eles estarem se beijando, esmagando seus corpos contra a parede, puxando as roupas um do outro em uma necessidade primitiva de buscar alívio para seu corpo.
Aziraphale jogou seu corpo em um sofá vermelho de couro, suas mãos cobriam seu rosto, ele atingira o ápice de seu desgaste emocional. Não, não, não! Crowley repetia em sua mente, não era para ser desse jeito, era para Aziraphale prendê-lo com algemas mágicas que só o soltariam com os poderes do anjo, quem sabe ele até usaria um chicote ou coisa do tipo. Ótimo, o anjo estava chorando e fazendo Crowley se sentir mal.
– Ei, ei – Crowley se ajoelhou em frente ao anjo – Não chora, anjo. Eu posso te levar para comer no Ritz, esse inferninho está me rendendo muito dinheiro – aquilo não parecia ter melhorado as coisas – Hein, e se a gente fosse para sua casa e eu fizesse um chocolate quente com bastante conhaque para você? – Agora parecia que ele estava começando a chamar a atenção do anjo – Você gostou da ideia, não? – Aziraphale balançou a cabeça e sorriu enquanto Crowley secava suas lágrimas.
Com um estalar de dedos Crowley havia trocado de roupa e estava colocando Aziraphale de pé. Eles caminharam silenciosamente para fora do bar, Crowley fez apenas uma pausa para avisar ao funcionário do bar que sairia, mas logo voltaria. Ele viu como Aziraphale estava não só zangado, mas chateado também.
Como foi que as coisas se inverteram? Onde foi que Crowley errara? Qual era o problema com o anjo? Além de não querer admitir que o am… Que o quer bem, essa palavra ainda era meio pesada para Crowley sequer pensar nela. Oh merda! Era pedir demais por uma noite de sexo intenso e bebedeira?
Enquanto caminhava de forma lenta e silenciosa até a livraria de Aziraphale, o anjo olhava para a noite estrelada de meio de outono, as folhas caiam no chão londrino e podia-se dizer que era uma bela noite, o clima ameno não exigia muito mais que um casaco. No momento em que entraram no quarto privado do bar, Aziraphale soube quais eram as intenções e Crowley, e ele não pôde se sentir mais enjoado, como depois de todos esses anos o demônio ainda tinha coragem de tratá-lo como um pedaço de carne, um corpo que estava ali apenas para satisfazer suas vontades sexuais demoníacas.
Então era assim que o demônio o queria? Um louco descontrolado, entregue à raiva e ao desejo. Era assim que ele o via? Um ser que existia apenas para puni-lo sexualmente… Oh isso era demais para um único dia, por que a Deusa decidira o punir tanto? Melhor não perguntar de novo, muito capaz de aparecer uma lista com milênios de sexo selvagem, bebedeira e um pouco de gula. Ele se rendera a tantos pecados que achava um milagre ainda não ter caído.
Chegando na loja, Crowley precipitara-se para o andar de cima, quem sabe ainda assim pudesse deixar seu anjo feliz e conseguir algo em troca. Ele se sentia tão sujo por isso, mas gostava tanto daquele sentimento, a culpa era toda de Aziraphale, quem dissera que um anjo podia ser tão sexy? Oh e não tinha só isso, não vamos esquecer de que ele era gentil, incrivelmente inteligente, excelente cozinheiro, tinha um perfume incrível, conversar com ele nunca era entediante, e de repente, Crowley se pegou listando tudo o que ele mais gostava no anjo. Como que um demônio tão mau quanto Crowley (ele gostava de pensar que era o mais mau de todos) se entregara tanto a um anjo? Ele chegara a um ponto onde parecia com uma adolescente de colegial apaixonada pelo garoto popular, Crowley o amava tanto que lhe causava náusea, ele jamais perdoaria o anjo por isso.
Quando terminara as bebidas – um pouco mais alcoólica para si, na verdade era apenas uma caneca de chocolate quente e outra cheia de conhaque, mas ninguém precisava saber – Crowley gritou o nome do anjo para saber onde o mesmo estaria, a resposta veio do quarto e ele mal pode conter sua excitação, seu anjo era muito bom para ele, tão bom que Crowley às vezes questionava se realmente era merecedor de tudo aquilo.
Ao chegar no quarto deparara-se com Aziraphale sentado na cama, mas havia algo diferente em seu olhar, algo que Crowley não conseguia saber o que era, porém essa linha de pensamento fora interrompida quando um par de algemas surgiram do teto prendendo as mão do demônio fazendo com que a bandeja com as bebidas caísse no chão, geralmente Crowley acharia isso excitante, mas as correntes estavam altas e apertadas demais.
Aziraphale fez surgir outro par de algemas, dessa vez no chão prendendo os pés de Crowley, que a esse ponto já teria dado um jeito de fazer suas roupas sumirem, porém não dessa vez, ele deu apenas um grito de dor, o que estava acontecendo? Ele estava… Com medo do anjo?
– Aziraphale que merda é essa? – Indagou Crowley enquanto tinha suas mãos puxadas mais para cima e os pés mais para baixo
– É isso que você queria, não é demônio imundo? – Geralmente isso seria o suficiente para que Crowley gemesse e implorasse pelo toque do anjo, porém não era o que estava acontecendo.
– Anjo, por favor, me solta, eu não estou gostando nem um pouco disso.
– Agora não está gostando? Não era isso que você queria? Não era para isso o seu plano? Me deixar irritado para que eu lhe punisse? – o anjo… gritou? Havia um tom tão raivoso em sua voz.
– Sim – Crowley suspirou – Mas você não está sendo você, vamos conversar.
Aziraphale fez um movimento com as mãos fazendo com que as algemas se movessem, puxando mais o corpo do demônio tanto para cima quanto para baixo, Crowley não pôde conter o gemido de dor que escapou de seus lábios. Ele sabia que estava o machucando, mas o anjo queria ouvir que o outro o amava, queria saber que não era apenas uma foda para Crowley.
– O que você quer que eu faça? Quer que eu me livre da boate? Ok, feito, só me tira daqui, por favor, anjo.
– Eu quero que você diga.
– Diga o quê? Eu posso dizer o que você quiser
– Você sabe o quê – o anjo disse passando as costas da mão no rosto secando as lágrimas que insistiam em escapar de seus olhos.
Então foi quando Crowley entendeu do que aquilo se tratava, e ele não pôde se sentir mais injustiçado, o anjo não tinha nem um direito de fazer isso, não quando tudo o que ele sempre fez fora afastar Crowley dizendo que este ia rápido demais para ele, tudo o que o demônio queria era deixá-lo feliz e não era uma tarefa fácil.
– Não, eu não vou – Crowley gritou – Não assim, você não tem o direito de exigir isso, anjo, não depois de dizer que demônios são incapazes de tais sentimentos, de que eu vou rápido demais. Todo esse tempo eu estou dançando ao seu redor, tomando cuidado com cada ato para não magoá-lo, e como você retribui? Dizendo que não existe nosso lado, que está tudo acabado, suas palavras machucam, sabia? Então não, eu não direi merda nem uma, não enquanto você se comportar como uma criança mimada.
Aziraphale estalou os dedos soltando Crowley, que por sua vez saiu de lá batendo a porta, o anjo conseguiu ouvir a campainha da porta de entrada quando o demônio deixara a livraria. Como as coisas haviam chegado a esse ponto? Como ele pudera se apaixonar por um demônio? O anjo se jogou na cama, sentia tudo ao seu redor girando, aquilo definitivamente era coisa demais para um único dia.
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