O grupo formado por Shun, Afrodite, Ikki, Sorento, Shion e Saori decidiram se reunir em um dos jardins da Casa de Peixes para terem uma conversa mais reservada. A Deusa e o Grande Mestre não poderiam demorar muito, pois haviam muitas tarefas a serem realizadas no dia, mas não poderiam negligenciar os cuidados que o cavaleiro de bronze necessitava. A jovem não pode evitar de sentir culpa ao olhar o estado do virginiano que sente um carinho fraternal.
— Faz tanto tempo que eu não o vejo, Shun. O que houve contigo? — perguntou Saori.
— Sinto muito em preocupá-la, minha deusa. Algumas coisas aconteceram, principalmente nas últimas semanas que eu não me julgo capaz de explicar com clareza. Parte da confusão tem relação com as minhas memórias.
— Você me parece abatido, ainda mais do que o dia do último incidente que me relataram — observou Shion — Por acaso conseguiu se recordar de mais alguma coisa?
— Sim, eu recuperei mais uma lembrança, mas não sei se isso está sendo bom para mim — olhou para suas mãos que apertavam em sinal de nervosismo — Eu queria recuperar minhas memórias a todo custo, mas isso está afetando mais o meu físico e meu psicológico também — respirou fundo antes de olhar para os demais — Talvez fosse melhor recomeçar tudo de novo, mas seria egoísmo de minha parte, pois deixaria todos que me conhecem e gostam de mim sofrerem.
— Eu temia que suas primeiras lembranças pudessem ser ruins, meu irmão. Afinal, nossas vidas não foram fáceis desde o início, mas vê-lo assim me faz questionar se fizemos o correto em termos omitido detalhes importantes de seu passado por tanto tempo — aproximou-se para abraçá-lo — Esse que está aqui é Sorento, ele é um general marina do exército de Poseidon.
— Permita-me continuar, Ikki — disse Sorento — Nós também já nos enfrentamos no passado, Shun. Você foi um adversário formidável e devo reconhecer que o ocorrido naquela época não foi certo, pois toda aquela guerra foi manipulada, mas deixaremos essa história para outro momento — abanou o ar com a mão esquerda — Eu fui o companheiro de missão de seu irmão e surpreendi-me com o que ele havia me contado quando perguntei sobre ti. Por isso estou aqui para fazer um convite. Eu posso tentar fazer com que suas memórias ressurjam de forma mais ordenada utilizando minhas habilidades especiais. Isso seria feito fora do Santuário, pois não tenho licença de ausentar-me de minhas funções ao lado de Poseidon por muito tempo.
— Eu sou muito grato pelo convite, Sorento. Fico contente ao saber que pude converter antigos adversários em amigos. Seu gesto representa muito para mim — sorriu como não fazia há muitos dias — Afrodite, eu…
— Não precisa se sentir preso a mim — disse o pisciano — Todo esse castigo foi uma baboseira e você sabe bem disso. A única sorte nisso foi que pudemos ficar próximos um do outro — alisou a bochecha do mais novo — Aceite esse convite, será uma ótima oportunidade de fazer isso com segurança. Eu confio na capacidade de Sorento.
— Obrigado.
— Tudo bem, eu aceito. Confio que isso será o melhor para todos nós — abraçou o dourado antes de apertar a mão do austríaco — Senhorita Athena, sobre o meu pedido…
— Eu nunca considerei rebaixá-lo, Shun — respondeu a Deusa — Você entenderá o motivo assim que se recordar totalmente de quem é e suas ações que tanto ajudaram a alcançarmos a paz que temos hoje — abraçou-o em despedida — Sei que mal nos reencontramos e precisamos nos despedir, mas é por uma boa causa.
— Obrigado, obrigado a todos vocês! — tentava secar algumas de suas lágrimas já emocionado — Despertaram em mim a esperança de melhorar e prometo que darei o meu melhor para voltar a trajar a armadura sagrada de Andrômeda vestido de minhas memórias.
— Vamos que eu te ajudo a arrumar suas coisas, tampinha — Ikki bagunçou seus cabelos antes de seguirem para o quarto de hóspedes.
…
Poucas horas depois, Shun e Sorento já se encontravam no Templo de Poseidon. O virginiano mais jovem admirava o local, ainda surpreso sobre como poderia estar respirando normalmente debaixo d’água e ver um “céu” repleto de criaturas marinhas. O General Marina não pode deixar de sorrir vendo aquela cena, apesar da primeira e última vez que haviam se encontrado naquele local, o contexto era completamente diferente. Não havia tempo para contemplar a beleza da Fortaleza Submarina, um inimigo jamais teria esse direito. Agora o Cavaleiro de Andrômeda estava ali como um aliado, mais do que isso, um convidado.
— Vejo que gostou da vista, Shun.
— Esse lugar é maravilhoso e sinto que conheço pouco — olhou para o austríaco — É incrível como podemos transitar por aqui como se estivéssemos na superfície.
— Aqui melhorou depois da reconstrução — disse o Imperador dos Mares — É um prazer revê-lo, Shun. Sorento explicou-me sobre sua situação e espero que tenha uma boa estada por aqui.
— Eu agradeço pela hospitalidade, senhor Poseidon — pela imponência do cosmo, o cavaleiro pode reconhecê-lo como um deus e logo se curvou em respeito.
— Vocês ficarão por aqui em dias alternados, de acordo com os deveres de Sorento, mas poderão acessar a casa de Julian na superfície. Com o acordo de paz entre os deuses, eu e Julian pudemos entrar em um acordo que pudesse nos beneficiar — explicou.
— Então haverão momentos que estarei interagindo com o senhor e outros com o senhor Julian, certo?
— Exatamente — sorriu — Eu os deixarei à sós para que possam ver suas instalações, Andrômeda. Até logo!
— Até logo!
— Venha comigo, eu lhe mostrarei onde você vai dormir. Acredito que esteja bastante cansado ao ter o selo removido, mas é algo necessário para a evolução do seu tratamento — caminhavam pelos corredores do templo.
— Eu entendo, mas ainda sim fico receoso de que algo dê errado como da vez que tive minha primeira memória liberada — apertou forte a alça da mala que carregava — Eu não desejo machucar mais ninguém por descontrole.
— Me disseram que foi um susto, você pegou o Cavaleiro de Peixes de surpresa. Foi normal ter acontecido esse acidente, mas eu estou ciente dos riscos e irei me preparar melhor — abriu a porta do quarto — Naquela outra porta tem um banheiro — apontou — Descanse que eu ou algum servo o chamará para o jantar. Dependendo das condições podemos tentar ainda hoje ou amanhã pela manhã.
— Está bem, muito obrigado por tudo, Sorento.
— Será um prazer.
…
No Santuário, Shun já deixava saudades. Ele não conseguiu se despedir de todos antes de partir com Sorento. Para Afrodite e seus amigos, aquela partida representava também a esperança de que o rapaz voltaria a sua saúde plena. Ikki estava na pequena casa que divide com o irmão e pensava no breve reencontro seguido de despedida.
— Eu sinto que posso confiar nas intenções de Sorento, mas não ter ideia de quanto tempo levará para que retorne para casa me deixa ansioso — pegou o celular — Talvez seja bom conversar um pouco com alguém de fora — abriu a lista de contatos e apertou para chamar — Oi, alô! Tem algum tempo?
“Por sorte eu tenho sim. Já voltou para casa?” — a voz feminina perguntou.
— Sim, eu estou de volta — caminhava com o celular pela casa — Até que o trabalho foi rápido, em equipe até que ajuda mais.
“O lobo solitário aprendeu a trabalhar em equipe?” — alfinetou em meio a risos — “Brincadeiras a parte eu sinto sua voz tensa. Aconteceu algo?”.
— Não aconteceu nada ruim, aliás é até positivo, mas eu não queria ter que me despedir do meu irmão tão cedo.
“Ele recobrou as memórias para partir em missões? Não acha isso um pouco cedo?” — disse a moça preocupada.
— Bom, ele estava recuperando aos poucos, mas o modo que ocorria isso estava sendo destrutivo para ele, pelo o que eu entendi — já bagunçava o próprio cabelo em pensar — Isso é uma das coisas que me preocupa. Nós já passamos por um caminho longo no passado para que ele pudesse se recuperar…
“Eu sei… E pelo o que você me contou, esse sequestro foi muito devastador” — antes que o leonino começasse a falar, ela retomou sua fala — “Você acha que o Shun vai conseguir lidar com o peso dessas lembranças?”.
— Sinceramente, não. O que aquele desgraçado e aquela deusa fajuta fizeram foi de um mal irreparável, o destino foi bonzinho demais com aqueles patifes — seu tom estava agressivo — Desculpe o jeito, Pandora. Eu fico alterado só de lembrar do estado em que o encontramos.
“Não precisa se desculpar por isso, Ikki. E se serve de consolo, a alma do antigo cisne está sendo devidamente punida aqui” — disse aquilo animada — “Seu irmão é uma pessoa muito boa e se seus amigos o encontraram perto da porta significa que sua alma não suportava mais a dor de viver em seu corpo. Talvez relembrar o que aconteceu reative esse sentimento de desespero e…”
— Se for o que eu estou pensando, não diga, por favor — sua voz chegou a falhar no pedido — Se houvesse algum jeito dele não se lembrar disso, com certeza eu correria atrás.
“Eu conheço uma maneira dele esquecer, mas precisamos ser rápidos” — suspirou — “Ele está fazendo tratamento médico em outro lugar?”.
— É um tratamento alternativo com Sorento de Sirene, essa aliança entre os deuses está fazendo com que colhamos bons frutos.
“Concordo. Amizades e até um flerte” — riu — “Acho que temos mais coisas positivas juntos do que batalhando um contra o outro. O acordo de paz em si já era positivo, mas a aliança entre exércitos tornou nossos trabalhos ainda melhores”.
— Realmente. Pode me dizer como pretende fazer o Shun esquecer o que passou naquele lugar?
“As águas do Rio Lete faz com que uma pessoa esqueça o que houve nas vidas passadas, já o Muro das Lamentações possui uma função parecida, deixar todo o lamento que o alimenta” — raciocinava — “Andrômeda teria que estar pleno de seu cosmo para vir ao Submundo e deixar tudo no muro, o que não acredito ser a melhor opção. Ele precisa esquecer rapidamente sobre esse trauma para não colapsar”.
— Só que as águas desse rio o fariam esquecer tudo outra vez. Voltamos à estaca zero — bufou.
“Se pegássemos uma pequena porção e manipularmos com o cosmo, nós podemos conseguir com que ele esqueça apenas o que ocorreu no período de tempo do sequestro” — estava confiante — “Vou pedir ao Senhor Hades, ele sabe que está em débito com vocês”.
— Me avise se conseguir, mas de qualquer forma eu sei que precisaremos contar para meu irmão o que houve. Aprendi da pior forma que omitir coisas importantes é pior para as pessoas afetadas.
“Você tem razão, ele precisa tomar conhecimento do que houve, mas não precisa ter que conviver com essas lembranças o assombrando” — finalizou a moça — “Mande mensagem quando estiver próximo de partir. Caso Poseidon não aceite minha presença, fale com Sorento para irmos a um território neutro. Até breve!”
— Ok. Até breve — se despediu desligando o celular — Pandora está certa, cada passo precisa ser devidamente calculado. Nós conseguiremos, eu acredito nisso.
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