— Você tem nojo de mim?
Sasuke sentiu a esponja parar nas costas. Naruto antes a esfregava com leveza, começou a fazer aquilo depois de ver que os machucados nas mãos de Sasuke nunca curaram completamente. Achava estranho que até nos dias mais quentes o Uchiha usava roupas longas e um dia, quis saber o porquê.
Então chegaram ali, na banheira onde era banhado por Naruto, como uma criança.
No banho era onde repassava todas as vezes que o corpo foi tocado intimamente por alguém. Relembrava desde o primeiro rapaz do ensino médio, até os dias de hoje. E todos os dias fazia a mesma pergunta, antigamente para si mesmo, mas hoje, a fez diretamente para Naruto. Via como um problema porque, por mais que não tivesse nada, ainda era vaidoso. Sabia da beleza que possuía e gostava de todos os cuidados que tomava... O sexo era tão bom porque sentia que estava sendo quem era antes de se perder, e perder aquilo, toda a beleza, foi como perder tudo.
O estado de vulnerabilidade perto de Naruto arrancava toda a imagem que construiu antes.
Se sentia patético.
— Por que está perguntando isso?
Ele era imparcial como sempre. Cuidadoso, sorrateiro…
— Me responde.
— Não — continuou a passar a espuma perfumada na pele branca, muito feliz em ver que os ossos não estavam tão palpáveis quanto antes. — Não tenho nojo de você.
Sasuke pareceu aliviado depois da resposta, entretanto, ainda havia algo nos olhos que passavam a mesma fragilidade do corpo.
— Eu tenho nojo de mim. Não consigo me olhar no espelho desde que aquele homem me tocou.
Naruto entendeu porque todas as noites Sasuke parecia assustado com um abraço ou nos momentos de distração, que o tocava e ele parecia ficar em alerta. Desconfiava do motivo. Era doloroso e não sabia como fazer aquilo passar. Queria poder dividir aquelas dores para deixá-lo respirar por um segundo.
— Por isso esfrega tanto seu corpo?
Ele balançou a cabeça, dizendo que sim.
— Por isso não consigo continuar quando me toca. Desculpa.
Não pode evitar de sentir aquela raiva crescente que sentiu no mesmo dia que tudo aconteceu. Era difícil falar e esconder, porque ver Sasuke daquela maneira, retrocedendo, fazia o coração já um pouco fraco perder as esperanças e tudo que Naruto mais queria era que ele pudesse ser como antes, não que piorasse. Lembrar do rosto daquele homem era sentir as coisas horríveis que sentiu anos atrás. Uma vontade estúpida de machucar alguém que fosse culpado por toda aquela merda.
— Por favor, não se desculpe. Nada disso foi culpa sua.
Naruto enxugou as mãos trêmulas na toalha felpuda que tinha o cheiro de Sasuke. Era reconfortante como tudo que tinha o cheiro dele.
— Não tenho nojo de você, nem do seu corpo. Admiro tudo em você, Sasuke.
—
Depois de alguns dias, viver como Naruto já era natural. Parecia que ele sempre esteve ali.
Hoje, em especial, teve que preparar o almoço para ambos. Naruto se recusou a fazer a comida porque estava explorando todas as coisas da biblioteca, ele adorava coisas velhas, era engraçado. E, além dos dias de exploração dele naquela casa enorme, ainda disse que tinha uma surpresa importante para Sasuke, algo que poderia despertar a vontade de pelo menos olhar pela janela.
Foi como um encontro marcado.
Me encontre na biblioteca as três da tarde.
Agora Sasuke estava lá.
Naruto estava no chão, rodeado de livros e acompanhado de uma garrafa de whisky. Os mais caros que Fugaku guardava ali. Usava uma calça de linho e apenas isso, sem camisa e provavelmente sem cueca. Vê-lo daquele jeito era... Instigante. Não só porque ele se acomodava, tomando os espaços com o cheiro de lavanda e shampoo anticaspa, mas por ser unicamente aquilo. Cru e transparente. Sem o semblante fechado, sem o sarcasmo, sem grosseria. Apenas ele, na meia luz do sol, com a pele dourada, cabelos amarelos e olhos azul ciano. Conseguia lembrar do beijo suave no pescoço, do toque firme, da voz rouca. O coração ficava acelerado e um frio passava pelo corpo, fazendo com que se agarrasse a manga da camisa.
Naqueles momentos se perguntava, o quão sensível era a Naruto a ponto de se abalar com memórias.
— Eu estava esperando um jantar a luz de velas — tentou espantar a sensação do corpo, mas talvez não precisasse, já que estava se sentindo como antes, como se sentia nos dias que via pela janela Naruto atravessar a rua, quando o via parado na porta...
Então era só aquilo que precisava? Confessar para ele como se sentia e depois de alguns dias...
— Ah, você chegou.
Ele se levantou sorridente. Surpreendentemente tinha uma taça e uma garrafa de pinot noir sobre a mesa de mogno, aquilo foi o suficiente para arrancar um sorriso bobo de Sasuke.
Naruto sentou no acolchoado que tinha abaixo da janela extensa e bateu entre as pernas para que sentasse ali também. Sasuke serviu a taça e foi.
— O que você está aprontando? — se aconchegou no peito dele, pronto para relaxar e falar sobre qualquer coisa que ele quisesse. Era ótimo poder ficar daquele jeito sem querer fugir de qualquer toque, porque começava a ser reconfortante de novo.
— Vamos falar sobre os vizinhos.
— Como assim?
Naruto estava com um binóculo na mão, Sasuke sentiu o objeto pesar sobre a ponte do nariz e uma pequena fresta da cortina foi aberta. Automaticamente quis fugir.
— É só um pouco, a janela está fechada — as mãos apertaram suavemente os ombros magros, na tentativa de reconfortar. Sasuke sentiu a ponta do nariz gelado passar pelo pescoço, depois uma sequência de beijos suaves. De repente, estava mole nos braços dele.
Viu a imagem ampliada da janela ampla dos vizinhos, a janela da sala de jantar que era idêntica a do andar debaixo. Decoração moderna, vermelha e tons claros de amarelo. Tinha comida na mesa, mas ninguém a vista. Sasuke ficou confuso.
— O que vamos flagrar exatamente?
— Espera um pouco.
Sasuke esperou.
Alguns goles de vinho e dois garotos apareceram. Ambos com instrumentos nas costas. Estavam falando com um adulto na porta, um homem engravatado. Se lembrava dele vagamente. Quando ele fechou a porta, um dos garotos a trancou. Alguns movimentos na casa, guardando instrumentos, ligando aparelhos e depois, os dois estavam se beijando.
— Naruto! — Sasuke abaixou a câmera, segurando a risada, mesmo que não fosse nada demais. Olhou pela lente de novo e agora eles estavam tirando a roupa, agora era assustador. — Você é terrível. Como sabe disso?
— Você tem muitas janelas, dá pra saber tudo — ele pegou o binóculo, ajustou no rosto e observou. Parecia ser divertido para ele. — A mulher que mora na cobertura, a senhora Prussell — devolveu o binóculo para os olhos de Sasuke, que mirou para cima e viu a mulher. Alta, de cabelos azulados e pele marrom. Era linda. — Ela traí o marido.
— Como sabe disso?
— Já dormi com ela.
Disse como se não fosse nada.
Sasuke olhou de perto, por alguns segundos e Naruto olhou de volta. Sentia o desconforto crescer à medida que conseguia imaginá-los juntos. No fim, apenas fez um som de desinteresse, incapaz de pensar em algo para dizer.
Com certeza ciúmes.
Sentiu mais uma vez os lábios de Naruto tocando-lhe a nuca, mas a carícia não foi o suficiente para afastar da cabeça a imagem dele se deitando com uma mulher, aliás, com mais uma mulher. Se não soubesse daquilo, certamente não estaria sentindo aquela coisa lhe roer o estômago. Uma sensação familiar, que não sentia a anos.
Não sentiu aquilo nem quando soube de Hinata.
Logo, ficou pensando nas vezes que Naruto pedia ferramentas. Como da vez em que ele pediu o estilete e escutou alguém ligar o chuveiro lá embaixo. Talvez, as caixas que ele fosse abrir eram da senhora Prussell, a safada adúltera.
Odiou como ela era bonita.
Se olhasse mais as janelas, saberia onde Naruto estava andando.
—
No café da manhã do dia seguinte, Sasuke ainda estava pensando na mesma coisa.
Tinha Shion no colo, frutas, queijo e farelos de pão italiano sobre a mesa redonda, além é claro, da taça de vinho pela metade e a garrafa cheia. Naruto deixou de tentar regular aquilo, ao menos hoje – Sasuke parecia mais irritado.
A casa tinha um cheiro arejado de ar fresco e sol. Uma breve novidade era a luz amarelada que ultrapassava o vidro da janela da cozinha, as persianas estavam meio abertas e Sasuke ficou feliz por não se sentir incomodado pela cozinha estar tão iluminada, mesmo se sentindo ansioso.
Enquanto pensava, observava Naruto lavar a louça.
As costas definidas, os ombros largos e a pele graciosamente dourada, de uma cor tão linda que parecia ser irreal, adornada por pintas morenas pequenas, algumas sardas que pintavam o início dos ombros e apenas ali, igual as minúsculas que ele tinha na ponte do nariz.
Eram detalhes.
Sasuke se perguntava se todas que já passaram por Naruto tinham notado como o notava. Se o tocaram como o tocou, se chamaram o nome dele como chamou... E caralho, aquilo era mesmo desconfortável.
Tão desconfortável que deixava Sasuke irritado.
Passou o indicador na borda da taça, o vinho balançou, levou a boca e sorveu todo o líquido em alguns goles grandes.
Deixou Shion no chão e se levantou da mesa.
— Vai trabalhar hoje? — perguntou enquanto caminhava até ele. Assim que chegou perto, o tocou. Passou os braços por debaixo dos dele e segurou os ombros. Encostou a bochecha na pele morna e Naruto jogou a cabeça para trás como se quisesse dar um beijo.
— Vou, é um pouco longe e demorado — já haviam falado sobre aquilo, mas Sasuke gostava de fingir que havia esquecido apenas para fazer manha. — E você? Vai fazer alguma coisa hoje?
— Vai me chamar pra sair?
Naruto riu e acompanhou a risada.
— Talvez.
Deslizou o nariz pela pele, suspirando forte para sentir o cheiro dele, de olhos fechados como sempre fazia. Beijou a omoplata, os ombros e teve que ficar na ponta dos pés para beijar atrás da orelha.
Naruto arrepiou.
— A Sakura vai vir, daqui a pouco na verdade — ele enxugou as mãos e se virou. Sasuke sentiu as mãos acentuar sua cintura, aproximando o corpo. Ficou levemente ansioso. — Vamos fazer pilates.
— Hm — mordeu o lábio inferior dele, soltando de leve. Cheirou o pescoço, depois o beijou, deixando alguns chupões que não ficariam marcados. Naruto suspirava respirando pesado. As mãos grandes desceram para a bunda e Sasuke suspirou quando sentiu o aperto firme, pressionando corpo contra corpo, de um jeito que sentia a ereção dele roçar na barriga.
Naquele momento o queria tanto que a mente ficou em branco.
Trocaram beijos leves, sem usar a língua enquanto ainda tentava sentir a ereção ao mesmo tempo que se esfregava nele. Respiravam contra a boca um do outro, às vezes olhando nos olhos, daquela maneira sentia que estava deixando Naruto louco.
Não era a primeira vez que acontecia desde que ele esteve ali todos os dias, mas daquela vez era diferente porque com certeza Sasuke queria.
— O que é isso? — ele perguntou sorrindo. Acariciou as laterais do rosto, passando os polegares nas bochechas rosadas e quentes.
— Tesão?
Naruto balançou a cabeça, concordando. Tomou os lábios em um beijo forte, saudoso, que fez Sasuke arrepiar até o último fio de cabelo. Passou os braços no pescoço dele, ao mesmo tempo que sentiu o braço rodear sua cintura e a mão erguer sua coxa. Foi levantado com a mesma facilidade que havia se esquecido, que era levemente excitante e engraçada. Alguns passos e estava sentado na borda da mesa. Naruto empurrou um pouco a toalha verde, fazendo dois talheres cair.
— Você vai se atrasar... — mesmo falando aquilo, brincava com a barra da calça dele. Sentiu a mão colocar os fios de cabelo para trás, puxando um pouco, fazendo olhar para cima levemente só para vê-lo. Os lábios estavam vermelhos, um pouco inchados.
— Tudo bem.
O polegar passou nos lábios sensíveis, Sasuke beijou a pontinha, distribuindo beijos até a palma da mão. Adorava as mãos de Naruto, eram grandes, um pouco ásperas, com leves veias saltadas e se encaixavam perfeitamente em seu rosto. Como agora.
Os beijos molhados desceram pelo pescoço, passando pelos mamilos por cima da camisa larga, ele se ajoelhou, continuando pela barriga até o cordão da calça. As mãos se encaixaram na barra da calça, descendo ao mesmo tempo que acariciava as coxas.
Sasuke fechou os olhos e respirou fundo.
Estava com vergonha.
Ter Naruto entre as pernas não era uma visão fácil, sentia que estava prestes a ter um infarto.
Mas mesmo morrendo do coração, separou as pernas quando Naruto as afastou delicadamente. Ele olhou para cima, os lábios colados na parte interna da coxa, como uma persuasão perfeita. Em meio aquela visão confusa, entre fios de cabelos preto caídos para frente, acariciou os cabelos loiros os deixando ainda mais bagunçados, só então os beijos voltaram.
Estava tudo bem, tudo ia bem depois de uma eternidade. Sasuke nem conseguia acreditar que estava dando aquele passo por conta de ciúmes.
Mas a campainha tocou, como um sino que vem do inferno para perturbar a paz.
Não ligaram. Poderia ser crianças do bairro, sempre faziam aquilo.
Tocou de novo.
— Sasuke!
Sakura.
Naruto encostou a testa na pele macia da coxa nua, derrotado. Sasuke encarava a porta de longe como se ela pudesse ir embora magicamente.
— Esquece ela — Naruto levantou e mais uma vez estavam com os corpos colados, se beijando lento com as mãos bagunçando completamente os fios pretos. Sasuke quase morreu. — Por favor…
Ele pediu, mais uma vez, chateado com antecedência por saber que não poderiam fazer aquilo.
— Não posso — correu para colocar a calça. — Atende ela pra mim?
Ele balançou a cabeça, com um bico enorme nos lábios. O beijou mais um pouco antes de ir.
Dentro do box, Sasuke tomava um banho rápido. Depois de alguns minutos ouviu os barulhos de Naruto. Roupas sendo tiradas e colocadas. Barulho de cinto, perfume, escova de dentes. Abriu uma pequena fresta e o viu com um olho só. Estava sem camisa, só o jeans velho e o cabelo bagunçado.
— Não demora pra voltar.
Naruto se aproximou para dar um beijinho na testa molhada.
— Não vou.
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