Sasuke ficou mais tempo no banho do que gostaria. Sentia-se fraco, o coração desacelerando. Uma mistura de ansiedade e excitação, somado a vergonha que emudecia os ouvidos, fazendo parecer que estava entorpecido. De vergonha. Vergonha de sentir vergonha, não sabia porque estava sentindo vergonha, não tinha motivos para sentir. Já havia feito aquilo tantas vezes e com Naruto… sempre foi mais confortável do que com qualquer outro. Estar naquele momento com ele significava muitas coisas… Não que tenha surgido de uma maneira saudável – aquilo foi uma chama de ciúmes sem sentido –, mas ainda assim era uma recuperação, não podia estragar tudo com inseguranças.
Só queria voltar ao normal, o normal não tão péssimo, quem sabe voltando o passos para frente, conseguiria continuar de onde parou. Ou voltar para trás e não seguir o caminho errado.
No andar de baixo com Sakura, a série de pilates ia bem. Os movimentos estavam limpos mesmo depois de meses parado, o que significava que a bacia que antes havia sido triturada, estava totalmente boa agora. Estava envergonhado por ter deixado Sakura esperando por tanto tempo e ela parecia irritada, menos falante, olhar indiferente.
Sabia que ela estava chateada pelo sumiço, a preocupação dela sempre foi tão genuína quanto a de um amigo de verdade e se sentia mal por não ter reconhecido. Sempre a tratou distante, indiferente, apesar de tantas conversas.
— Desculpe por não ter atendido você.
Tentou começar, mesmo a desculpa sendo tosca. Ficou irritado consigo mesmo por usar aquela voz patética, como se fosse fazer ela amolecer. Idiota.
Queria perguntar muitas coisas. O cabelo curto dela com a raiz loira quase branca aparecendo, a aliança prateada no anelar da mão esquerda, a nova tatuagem no braço… Ela parecia renovada.
— Tudo bem, eu gosto do Naruto — ela forçou a perna de um jeito que fez doer. Sasuke arfou. Talvez aquilo fosse uma vingança. Estava mergulhado em suor de tanta dor que ela forçava. — Mesmo ele tendo aquela cara de quem chupou limão.
— Não estou falando de agora — respirou aliviado quando parou de doer. — Falo das vezes que não te atendi, por todo esse tempo. Eu estava passando por um momento difícil.
Ela ficou em silêncio.
— Sakura, eu sinto muito mesmo... — e não era só por isso que a voz estava embriagada, só não gostava de lembrar de tudo que viveu nos meses passados. Perdia o ar só de lembrar o cheiro do ar, quando esteve na porta naquele dia. O vento, o cheiro da grama e o som dos carros, nada era reconfortante do lado de fora, tudo era desesperador. — Eu vivi um inferno muitas vezes, não consigo simplesmente abrir a porta para que me vejam morrer.
Os olhos de Sakura eram verdes. Verdes e duros, sinceros assim como a boca que não pensava muito antes de falar e, apesar de ser tão diferente, aquele olhar por um segundo, lembrou Itachi.
— Não posso dizer que sei como isso é difícil, porque eu não sei, mas não posso deixar de ficar chateada.
Quase um minuto de silêncio se passou, sem saber o que dizer. No final, Sasuke apenas disse o que gostaria de dizer. O que conversou com Naruto alguns dias atrás, sobre dar uma chance para as pessoas fazerem parte de sua bolha pequena.
— Quero que sejamos mais do que antes — queria que Sakura fosse mais do que a fisioterapeuta com quem fala sobre homens, mulheres e decepções amorosas. Queria que ela fosse uma amiga, saber da história dela, sentir-se próximo a alguém que não fosse um alicerce como Naruto era.
— Não vou ser sua namorada, nem adianta implorar.
—
A companhia de Sakura se perdurou durante horas.
Riram, ela chorou e beberam vinho. Pela primeira vez ela não reclamou por estar bebendo, uma coisa que sempre fazia. Parecia ter uma leve repulsa por bebidas alcoólicas e Sasuke entendia, o pai dela era alcoólatra.
Sakura falou como a faculdade estava sendo difícil, toda a demanda do curso e o trabalho para manter, porém não ia desistir pois sempre achou que é sua real vocação cuidar das pessoas e ainda quer dar uma boa vida para a mãe. Estava quase noivando com a namorada Ino, e tinha uma ótima relação com o filho dela, Inojin, embora as coisas com o pai do garoto não fossem tão fáceis, conseguiam aos poucos lidar com os problemas.
Não parecia fazer o tipo dela, mas conseguia visualizar o leve vestido de noiva. Nada extravagante, Sakura era simples. Pensar naquilo fez uma súbita tristeza surgir de repente, porque gostaria de estar lá para vê-la formar uma família e um lar.
Mas teria que esquecer.
Também contou sobre sua vida – particularmente infernal – e a todo momento, em sua mente, pensava como gostaria de ter os problemas financeiros de Sakura. Todo dinheiro que tinha não valia quando não se podia fazer nada, apenas definhar em casa e fazer compras inúteis pela internet. Contou também sobre Naruto e como não estava tendo nenhuma evolução, a não ser as cortinas abertas e o hábito desagradável de observar os vizinhos através da lente da câmera.
— Uau! — Sakura deu risada. — Desde quando você é um espião?!
Sasuke sentiu a bochecha esquentar levemente, finalizou o vinho para disfarçar o constrangimento da verdade. Mesmo querendo não dizer, acabou falando, o álcool já estava correndo no corpo.
— O Naruto me mostrou uma mulher — gesticulou com as mãos, não evitando o revirar de olhos. — Uma mulher bonita que ele transou e eu meio que fiquei... Fissurado.
Fechou as mãos no ar como se pudesse agarrar o pescoço dele e torcer. Talvez o dela.
Sakura gargalhou.
— Ele gosta de você — ela disse, finalizando a taça de vinho. — Dá pra ver, pelo jeito que cuida de ti — ela gesticulou com as mãos apontando para o rosto tentando imitar as expressões neutras de Naruto. — Você também gosta dele, dá pra ver pelos olhos.
Sasuke passou os dedos na testa, sorrindo sem graça.
— Queria conversar com ele, mal escuto a voz imagine a risada.
— Ele não gosta de falar — não agora, estava aos poucos se apegando ao diálogo, antigamente era completamente calado.
Sakura se levantou, enquanto falava que ficou mais tempo que deveria, catando seus pertences aqui e ali. Levantou do sofá para acompanha-la.
No mesmo instante que ia abrir a porta, Naruto o fez do lado de fora.
O som do destrave pareceu mais intenso, talvez porque estivesse muito ansioso para escutá-lo.
Os olhos baixos, jaqueta velha, jeans surrado e o gorro verde musgo.
Completamente exausto.
Ele olhou Sakura um pouco a frente, com a sobrancelha franzida como se perguntasse o que ela ainda estava fazendo ali. Sasuke quase riu. Eles tinham isso em comum, não sabiam esconder as expressões.
— Boa noite.
Naruto acenou e sumiu escada acima.
— Obrigado por hoje, foi ótimo — Sasuke falou. Realmente se sentia mais leve. Sakura foi embora ainda com o sorriso leve nos lábios.
Recolheu as três taças de vinho e levou para a cozinha. Guardou a comida na geladeira, lavou as louças e limpou o balcão. Organizando tudo, colocando cada coisa em seu lugar. Gostava de deixar tudo daquele jeito. Na verdade, aprendeu a deixar depois que Naruto chegou. No café da manhã ele fazia uma bagunça por cima da outra e não conseguia ficar um segundo olhando as coisas se acumulando.
Até que gostava. Rendia umas discussões bobas que deixavam Naruto irritado e Sasuke amava irritá-lo.
— Pelo visto o papo foi bom.
Pensando no diabo...
— Tá sorrindo até agora.
Naruto passou, pegando um cerveja na geladeira. Parecia quente do banho e mesmo estando frio, ele continuava a não usar camisa, usando apenas uma samba canção que Sasuke sabia ser sua.
— Isso é ciúmes? — ele sorriu, maquiando o desconforto com o cinismo cafajeste.
Encostado no balcão, fresco do banho, cabelo molhado… Sasuke encostou do outro lado, na pia. Mordeu os lábios enquanto o observava e foi como se o episódio da manhã voltasse para o mesmo lugar.
Depois o sorriso mudou, e era Naruto sendo ele novamente, ou como ele era quando estava prestes a falar uma coisa absurda que deixaria Sasuke excitado.
— Não… Eu sei do que você gosta.
Levantou a sobrancelha, curioso.
— É? E do que eu gosto?
Naruto sorriu torto, o som anasalado que saía do nariz soou arrogante. Ele roçou a latinha na boca e depois de um longo gole, sorriu mostrando todos os dentes perfeitos..
— Disso.
Não parecia nada. Porque não estava naquele ângulo, nem no meio dele e sim abaixo, no que a mão dele segurava descaradamente e sem vergonha. O pau marcado pelo tecido leve da samba canção, delineado, meio ereto…
Sasuke ficou surpreso e quando Naruto percebeu que não teria resposta, gargalhou.
Sentia o rosto esquentando.
— Quantos anos você tem? Dezesseis?
— E você? Saiu de uma casa noturna?
A quantidade de sacanagem que Naruto falava se igualava a de um gogo boy.
Ele deu de ombros, com a tranquilidade irritante de sempre finalizou a latinha em dois longos goles, o que fez Sasuke se lembrar que não era o único com problemas com álcool.
— Sabe — ele andou, até chegar pertinho, de um jeito que conseguia sentir o calor do peito e a ereção cutucando sua cintura. — Eu tô tentando criar um clima aqui.
— Ah, um clima? Desde quando você tá de pau duro?
— Eu só pensei em você enquanto tomava banho, aconteceu — deu de ombros, de novo — Pelo visto, aquela mentira serviu mesmo.
Ele riu, para si mesmo.
Sasuke sentia os lábios gelados com cheiro de cerveja roçando nos seus, junto com o sorriso sacana. Mas antes que o beijo acontecesse, segurou o rosto dele. Porque não podia acreditar que ele havia feito de propósito.
— Cretino.
O meio sorriso sumiu entre a careta de dor quando apertou as bochechas com mais força.
— Te conheço melhor do que imagina.
— Me solta.
Naruto revirou os olhos.
— Sasuke…
— Eu vou tomar um banho.
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