06:03
O dia amanheceu completamente nublado, novamente.
Ontem durante a noite não tive coragem de beber, sempre que isso acontecia, eu fazia besteira. Corri para a casa dos meus pais com certa urgência, precisava que minha mãe me consolasse nesse momento. Kushina não era minha mãe biológica, mas eu não tinha coragem de perguntar a minha história de fato, não tenho muitas lembranças da minha infância, e as poucas que tenho, são com Rin.
Pra minha sorte, ontem quando cheguei Naruto estava no internato onde estudava e Minato estava viajando pois estava visitando nossos avós. Me desmanchei em lágrimas e contei tudo que aconteceu. Passei a noite em claro chorando no colo da minha mãe no sofá da sala onde cresci. Acordei no sofá com duas cobertas sob meu corpo, se fosse em outra época eu teria acordado na cama do meu antigo quarto aqui na casa. Com o barulho dos relâmpagos caindo lá fora, hoje seria o dia ideal pra me manter exatamente como estava durante o dia todo maratonando alguma série.
Mas eu tinha que trabalhar, meus pais também tinham. Me levantei e fui subindo as escadas em direção ao banheiro em passos macios, realizei minhas higienes e desci pra cozinha, onde minha mãe estava passando a água quente da chaleira para o coador com café.
-Bom dia filho… ainda tem tempo pra tomar café antes de ir?
Mamãe perguntou com a voz baixa e sôfrega devido ao sono, ela se vira pra mim com aquele olhar sereno e calmo que me transmitia paz. Todos eles três tinham esse mesmo olhar profundo, que segundo eles, só eu sabia diferenciar os tons de azuis de suas diferentes íris. Diferenças essas, que pra mim eram óbvias, Kushina tem os olhos mais arroxeados, um azul marinho que se misturava com violeta, já Minato tinha os olhos de grandidierite, um azul turquesa esverdeado que ficava mais azul de acordo com o clima ou com seu humor. Por fim, Naruto tem aqueles olhos oceânicos inconfundíveis, um par de safiras da mesma cor do céu. Queria eu ter puxado dessa combinação genética, mas me sinto satisfeito sendo assim.
Tomamos o café tranquilamente sem puxar assunto, quando terminei, peguei minhas chaves que estavam pendurados no chaveiro, voltei à mesa pra dar um beijo na bochecha da minha mãe, me despedi com um “eu te amo” e sai apressado.
(...)
-Se você for promovido pra Interpol ou pro FBI, sabe que vai ter que se mudar pra América?
Nem havia batido meu ponto, não eram nem oito horas e Konan já estava me infernizando com esse assunto, afinal eu havia desvendado um caso dela e desde então todas as organizações policiais superiores estavam me procurando. Eu havia superado Konan e Yahiko como detetive, que eram considerados os maiores da Ásia. Todavia, o caso Tsukuri só estava encerrado para as autoridades.
-Se te serve de consolo, não vou aceitar todas as ofertas de promoções que estão me fazendo.
Konan também deixou a polícia federal quando o caso foi encerrado, agora ela voltou a ser minha infeliz surperintendente. O ramo em que ela entrou não era o melhor para uma estrangeira, lésbica e órfã, vez ou outra ela dizia que iria largar tudo e virar detetive particular, o que também me parecia uma boa ideia.
-Uchiha, acho que será mais produtivo se voltar à arquivar as pastas e parar de olhar roupas de bebê.
-Deixa, ele Konan, provavelmente tá mais ansioso que a própria Izumi.
O que era verdade, Itachi estava sendo pai de primeira viagem e nem se esforçava pra esconder isso, passava o dia comprando roupas de bebê pela internet e pesquisando nomes com significado.
-Não sei se é sintoma da gravidez mas parece que ela perdeu o senso de humor desde que ficou grávida.
Itachi indagou com e se virou pra pilha de pastas entre nossas mesas, arquivar isso tudo era nossa única função hoje.
(...)
11:34
Faltavam poucos minutos pro almoço e eu já queria desmaiar de fome, o volume daquelas pastas parecia não diminuir nunca e Itachi não estava sendo muito prestativo. Se já não estava sendo antes, agora que parou pra atender o celular e me deixou todo o trabalho enquanto eu ouvia a conversa
-Oi, meu amor tudo be-
-Itachi, preciso falar com o Obito
-Aconteceu alguma coisa?
-Preciso dar alta pro garoto que ele vai ficar porque tenho que assumir outro caso.
-Tudo bem e eu e ele vamos aí, depois a gente pode almoçar junto?
-Não, vou deixar a alta do menino assinada e vocês podem vir buscá-los, vou assumir meu outro paciente e entrar numa cirurgia que talvez dure o dia todo.
-tá bem, eu te-
Não conseguiu terminar a frase pois Izumi desligou antes
-Se importa de arquivar o restante enquanto eu distraio o garoto?
-Pra conseguir mais pistas?
-Exatamente.
De fato era, mas me comprometi a cuidar dele também, e minha primeira tarefa seria alegrá-lo pelo menos um pouco, como faria isso? Não tinha a mínima ideia.
(...)
Já estava no corredor do hospital esperando a autorização de Izumi há um certo tempo, e por algum motivo, ela não permitiu que Itachi subisse junto comigo. Mais alguns minutos se passaram até que ela apareceu, estava com um pijama cirúrgico todo ensanguentado e seu cabelo estava preso em um coque alto
-Tá tudo bem?
Perguntei um tanto afoito pelo seu estado, afinal, ela disse que estaria em uma cirurgia de horas e até chegarmos no hospital se passou apenas uma.
-Cirúrgia de trauma… não tive tempo de fazer muita coisa, tive que deixa-lá ir…
-Sinto muito...
Ela suspirou forçando um sorriso e logo fomos até uma bancada que havia no começo do corredor e de lá tirou uma prancheta com diveros papéis.
-Isso são as receitas dos remédios que ele precisa continuar tomando, os horários estão no verso, isso aqui é a receita de uma outra vitamina que ele vai precisar… Por fim, isso aqui é o visto pra ele passar com a Shizune daqui 15 dias.
Disse ela me entregando todos aqueles papéis que fui guardando no bolso.
-Os remédios você consegue na farmácia lá em baixo de graça, agora assina aqui.
Assinei onde ela apontou e fomos até o elevador.
-Izumi, posso te perguntar uma coisa?
-Claro..
-É impressão minha ou você tá evitando o Itachi
-Ele tá sendo muito grudento e preocupado demais comigo sem razão, isso me irrita, não posso fazer nada por estar grávida…. sabe se ele vai ficar de plantão hoje?
-Provável que sim, ele vai assumir minha parte hoje também
-Ah, obrigada Obito….
As portas do elevador se abriram e ela foi me guiando até o quarto.
-Ah propósito, pode levar ele pra comer e de preferência alguma besteira, ele tá deficiente de insulina e glicerina, então faça ele comer um monte de doces pra compensar a comida horrível aqui.
Não consegui conter o riso e acabamos.
-Ah Izumi, os médicos também comem a comida daqui?
-Não por opção
Seu tom era de puro deboche e caímos na gargalhada novamente.
-Mas falando sério, Tobi, ele precisa engordar pra não voltar a ser anêmico, se não vou precisar interna-lo de novo.
Logo ela abriu a porta do quarto onde estava ele, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo baixo, usava roupas velhas e sujas. Sentado na poltrona ao lado do leito da amiga, pareciam conversar sobre algum assunto interessante já que os dois estavam tão entretidos que não nos perceberam ali.
-Deidara..
A voz de Izumi saiu calma e ele logo virou para nós dois, ela foi conversar com ele e nesse momento eu aproveitei para observá-lo. Seu rosto tinha umas olheiras roxas bem fundas abaixo dos olhos, sua pele era mais pálida que o normal e ele tinha vários outros hematomas nas mãos, mas mesmo assim seu semblante parecia feliz, seus olhos azuis cinzentos brilhavam de um jeito que eu nunca tinha visto.
-Bom, agora é com você… Acho que vão se dar bem, vocês dois são malucos.
Falou Izumi e logo ele se levantou e começou a me seguir. A partir dai não tive a mínima ideia do que fazer.
-Você está com fome? Quer almoçar?
Perguntei um tanto quanto afoito, de fato, eu não sabia o que fazer.
-Eu adoraria, mas, seria incômodo se eu pudesse tomar um banho antes?
Pisquei repetitivamente antes de responder me esforçando para não parecer estúpido.
-Ah, claro que pode, vamos, vou te levar pra casa e você pode tomar um banho lá.
Ele me assentiu com um sorriso e seguimos até o estacionamento.
(...)
A estrada estava tranquila, a chuva estava diminuindo. Meu celular estava conectado no rádio e estava tocando uma das minhas músicas favoritas (The Beatles- Ticket to Ride). O loiro ao meu lado mordia os lábios e tremia sua perna no ritmo da música e suas mãos pareciam se segurar para não imitarem os movimentos dos solos de guitarra. Aumentei um pouco o volume e comecei a cantarolar baixinho, estava muito envergonhado mas queria encorajá-lo
-I don't know why she's ridin' so high….
-She ought to do right by me...
Ele completou a canção, nos olhamos sorrindo um pro outro e assim seguimos o caminho cantando e ele sabia todas as músicas que eu colocava.
(...)
Chegando em casa apresentei o lugar brevemente e também mostrei o quarto de hóspedes onde ele ficaria. Antes de mostrar onde era o banheiro procurei por alguma roupa que o servisse, sorte que achei umas roupas do Naruto em meu guarda roupa que ele tinha esquecido quando passou as férias aqui. (Só ele pra querer passar as férias na mesma casa que a professora que quase reprovou ele). Ri alto me lembrando de Rin, nossos retratos ainda estão espalhados pela casa e ainda tem algumas roupas suas aqui. Minha vontade era de queimar aquilo tudo. Mas não podia, ainda, esperaria ela voltar para devolver as roupas e deixaria os retratos no sótão dentro de uma caixa
Sai dos meus devaneios deixando a muda de roupa junto com uma toalha limpa em cima da pia do banheiro e logo guiei o loiro até ali.
(...)
Estavamos à caminho do shopping, pensei em levá-lo pra lá e o deixaria escolher o restaurante, já que não sabia do que ele gostava. Seguimos cantando algumas músicas e conversando sobre assuntos banais.
O almoço foi tranquilo, conversamos sobre diversos assuntos e fiz questão de pedir uma sobremesa reforçada como Izumi disse. Passamos no mercado ao lado do shopping para comprar algumas coisas que estavam faltando em casa, falei pra ele que podia pegar alguma coisa específica que quisesse, trouxe até o carrinho um pacotinho de ostras e outro de mariscos. Quando ele viu meu carrinho, com dois fardos de energético, perguntou
-Por que isso tudo?
-Eu costumo virar os dias trabalhando e preciso me manter acordado… Nem sempre sobra tempo pra dormir
-Sabe que isso faz mal, né?
-Não é sempre...
Seguimos pro caixa normalmente, passamos as compras ainda em meio a garoa fraca que ainda caia, mas estava diminuindo enquanto guardávamos as compras. Ao terminarmos, fui pegar o carrinho para devolver, mas ele me repreendeu. Ergui a sobrancelha confuso, ele se ergueu em frente ao carrinho e entrou dentro do mesmo.
O estacionamento estava vazio, então, pensei: Por que não? Segui correndo levando o carrinho onde ele estava, gritando e rindo um da cara do outro como se fossemos adolescentes. Quando parei por falta de fôlego, ele saiu do carrinho sorrindo pra mim, devolvemos o carrinho e os seguranças que ao invés de nos pararem riram de nós dois.
Quando estávamos no carro, a chuva já havia parado e de longe surgia um arco-íris depois de tantos dias chuvosos. Me senti como os céus nesse momento, chorei muito por Rin nos últimos dias, dias que foram tão escuros e sem cor alguma, mas agora me responsabilizei por um rapaz cujo os olhos eram azuis da cor do céu que se abria junto do sol que surgia no horizonte.
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